Nome do Projeto
Padrão de Uso do Metilfenidato por Estudantes da Área da Saúde de uma Universidade Federal do Sul do Brasil: Prevalência, Finalidade, Percepção de Efeitos e Conhecimento dos Riscos Envolvidos.
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
12/06/2020 - 12/06/2024
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Atualmente, o consumo de metilfenidato entre os estudantes de graduação com o objetivo de melhorar o desempenho acadêmico é mundialmente conhecido. O objetivo principal deste estudo é descrever o padrão de uso de metilfenidato entre os acadêmicos da área da saúde da UFPel matriculados nos anos 2019, 2020 e 2021 e que ainda freqüentem as dependências da Universidade. Será feito um estudo quantitativo observacional do tipo transversal. Após consentimento, os participantes responderão um questionário padronizado de autopreenchimento adaptado com questões sobre características sócio-demográficas e sobre o uso de metilfenidato e outras substâncias psicoestimulantes incluindo prevalência, finalidade e percepção de efeitos. Nenhum risco será oferecido aos participantes do estudo. Após análises estatísticas adequadas, os dados serão utilizados para originar trabalhos de conclusão de curso dos alunos do curso de Farmácia com posterior divulgação em congressos e artigos científicos.

Objetivo Geral

Avaliar o padrão de uso de metilfenidato entre os estudantes dos cursos da saúde da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Justificativa

Atualmente, o uso de substâncias estimulantes cerebrais entre estudantes universitários já é reportado na literatura mundial de forma importante (Jain et al., 2017; Fallah et al., 2017; Bilitardo et al., 2017; Majori et al., 2017; Weyandt et al., 2016). Entre as substâncias mais utilizadas está o Metilfenidato (metilfenil (piperidin-2-il) acetato), que atualmente é indicado licitamente para o tratamento clínico do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de déficit de atenção (ADD) e narcolepsia (Leonard et al., 2004; ANVISA, 2012). O metilfenidato age aumentando a neurotransmissão dopaminérgica devido à redução da recaptação de dopamina, bloqueando o transportador de dopamina (Leonard et al., 2004). Desde 2003, o Metilfenidato tem sido um dos medicamentos mais prescritos nos Estados Unidos da America (USA; Bachmann et al., 2017). Na Europa, particularmente na Alemanha, Dinamarca, Holanda e Reino Unido, o consumo deste medicamento também aumentou consideravelmente: por exemplo, na Alemanha seu consumo entre 1999 e 2008 aumentou de 8 milhões de doses diárias definidas para 52,3 milhões (Bachmann et al., 2017). No Brasil, O boletim de farmacoepidemiologia publicado pela ANVISA em 2012 mostra o consumo de metilfenidato entre 2009 e 2011 nas diferentes regiões do país. Nesse contexto, cabe ressaltar que o sul do país foi uma das regiões com o maior consumo deste medicamento em todos os anos analisados (ANVISA, 2012).
Apesar do aumento do uso de metilfenidato estar relacionado com o uso lícito e feito sob prescrição médica, freqüentemente esses medicamentos são utilizados por estudantes universitários com a intenção promover uma melhora em funções mentais como memória, atenção, concentração, vigília e/ou inteligência (Chaterjee 2004; da Graça 2013). Um estudo realizado em 2001, relata as taxas de prevalência e correlatos de uso não médico de estimulantes entre os estudantes universitários dos EUA, em uma amostra representativa de 109.04 estudantes que foi selecionada aleatoriamente, a prevalência em tempo de vida foi de 6,9%, 4,1% no ano de 2000, e 2,1% no mês do estudo. Análises de regressão multivariada indicaram uso não médico maior entre os estudantes homens, brancos e membros de fraternidades, as taxas também foram mais altas em universidades localizadas na região nordeste dos EUA e faculdades com maiores padrões competitivos para admissão. Também foi relatado que usuários de estimulantes não prescritos eram mais propensos a relatar o uso de álcool, cigarros, maconha, ecstasy, cocaína e outros componentes de risco (McCabe et al., 2001). Outro estudo transversal mais recente analisou os padrões de uso de estimulantes de estudantes de bacharelado e mestrado de uma universidade no norte da Itália. Os autores relatam que 11,3% dos estudantes usam estimulantes sem prescrição sem predomínio de gênero, sendo que 73,8% são estudantes de 18 a 22 anos. Dos que usam estimulantes,51% relatou que faz esse uso para melhorar a concentração durante o estudo. O uso de estimulantes sem prescrição foi maior entre estudantes trabalhadores, sugerindo o uso de estimulantes para lidar com o estresse (Marjoni et al., 2016).
Os estudantes de medicina são um grupo bastante estudado com relação ao uso de substâncias que estimulam a cognição. Finger e colaboradores (2012) realizaram uma revisão sistemática com objetivo de abordar os efeitos do metilfenidato no aprimoramento cognitivo, memória e desempenho em estudantes de medicina. A prevalência de uso entre os estudantes atingiu 16% sem diferença entre os sexos. A maioria dos estudantes começou a usar depois de entrar na universidade, com o intuito de melhorar o desempenho acadêmico. Relataram também que não há evidencias que o uso de metilfenidato seja benéfico em termos de memória ou aprendizado, ele apenas aumentaria o estado de vigília e alerta, reduzindo o tempo de sono (Finger et al., 2012). Outro estudo transversal com 560 estudantes de medicina e residentes clínicos mostrou que 11% dos estudantes relataram uso de anfetamina e metilfenidato, e destes, 59% relatou usar para melhorar a concentração, 32% iniciaram o uso destes medicamentos por conselhos de amigos e apenas 24% iniciaram o uso prescrição médica (Fallah et al., 2018). Jain e colaboradores (2016) realizaram um estudo transversal com objetivo de investigar a prevalência do uso não médico de metilfenidato e o conhecimento destemedicamento entre os estudantes. Os autores reportaram que 11% dos estudantes estavam utilizando metilfenidato no momento, com diferentes motivações: 67,9% usa ou usou para fins acadêmicos, 70,6% receberam de um profissional de saúde. Menos de um terço dos usuários foi diagnóstico com TDAH. Os usuários de metilfenidato apresentaram conhecimento mediano sobre o medicamento e este foi maior do que os não-usuários, sendo maior em estudantes do segundo ano ao quinto (Jain et al., 2016).
Os estudos brasileiros também possuem foco em estudantes universitários, particularmente os do curso de medicina. Em 2017, foi realizado um estudo transversal com aplicação de questionários em um curso de pré-vestibular e nos três primeiros anos do curso de medicina na universidade de Mogi das cruzes (SP). O objetivo foi avaliar a prevalência de uso de estimulantes e os efeitos colaterais em 48 vestibulandos e 154 universitários. A média de idade foi de 20,7 anos, e a prevalência de uso foi de 13,3%, porém houve relatado de outros estimulantes como café, sibutramina e ecstasy. 63% dos estudantes que utilizaram metilfenidato não possuíam TDAH, e utilizaram para melhorar o desempenho acadêmico. Também foram relatados efeitos colaterais e aumento de dose com o uso continuo (Bilitardo et al., 2017). Outro estudo sobre o uso de estimulantes no geral – entre eles o metilfenidato - e realizado com estudantes da medicina da FURG, mostrou uma prevalência de 57,5%, sendo que 51,3% destes começaram o uso durante a faculdade. O uso de psicoestimulantes no momento da pesquisa foi de 52,3%, sendo que 16,6% consumiam mais de uma substancia psicoestimulante. 38% dos estudantes utilizavam bebidas energéticas, 27% utilizam cafeína mais de 5 vezes na semana, com este uso sendo maior em estudantes das séries iniciais do curso. 47,4% utilizavam para compensar a privação do sono e melhorar o raciocínio, 31,8% para atenção e memória. Em relação aos efeitos percebidos, 81,2% relataram redução de sono, 70,8% perceberam melhora na concentração, 58% redução de fadiga, 56,1% melhora no raciocínio, e 54% melhora do bem estar (Morgan et al., 2016).
Sobre os possíveis efeitos negativos dessa medicação, o metilfenidato pode causar dependência química e síndrome de abstinência, além de sintomas como insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e em casos mais graves, suicídio (Clemow& Walker, 2015).Em um estudo prospectivo, foi observado que, apesar do grande número de intoxicações por metilfenidato estar relacionada com doses superiores às doses terapêuticas do medicamento, nenhum dos pacientes expostos apenas a este medicamento desenvolveu sintomas graves, como rabdomiólise, convulsões, parada cardíaca, hemorragia cerebral ou coma. Os sintomas mais freqüentemente relatados foram agitação, sonolência e taquicardia (Hondenbrink et al., 2015). Entretanto, o aparecimento de sintomas mais graves, por exemplo danos cardíacos (Martinez-Raga et al., 2013; Bailey et al., 2015) e até a morte (Markowitz et al., 1999; Maskell et al., 2016) se mostram muito mais prevalentes quando há associação com etanol. É importante ressaltar que as conseqüências do abuso dessa medicação a longo prazo são extremamente escassos na literatura, de modo que não se podem prever as possíveis implicações futuras aos usuários.
Apesar de estudos referentes ao uso de metilfenidato entre os estudantes universitários brasileiros terem aumentado nos últimos anos (Andrade et al., 2018; Morgan et al., 2016; Bilitardo et al., 2017), ainda há um número insuficiente para delinear um perfil nacional destes usuários. A realização de pesquisas feitas pela universidade neste âmbito e a intervenção no consumo de metilfenidato entre os acadêmicos são ações de extrema importância na construção de políticas e estratégias focadas na prevenção do uso prejudicial deste medicamento.

Metodologia

1. Delineamento: Estudo quantitativo observacional do tipo transversal.
2. Sujeitos do estudo: Estudantes de graduação em cursos da área da saúde da UFPel (enfermagem, educação física, farmácia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, psicologia e terapia ocupacional) matriculados nessa instituição no anos de 2019, 2020 e 2021. Não haverá cálculo de tamanho amostral, uma vez que todos os alunos que não se encontram em período exclusivo de estágio e ainda freqüentam as dependências da universidade serão elegíveis para participar do estudo. Os alunos em período exclusivo de estágio serão excluídos devido às dificuldades logísticas para a coleta de dados, assim como os acadêmicos que estiverem realizando suas atividades em outras universidades. Não é possível no momento, precisar a quantidade de alunos de graduação que serão atingidos, uma vez que é impossível prever quantos destes se disponibilizariam para participar do estudo, quantos alunos ingressam em cada curso semestral ou anualmente e em virtude deste estudo ter uma duração de quase 3 anos. Apesar deste fato e baseado em quantos alunos estão matriculados nos cursos citados atualmente, estima-se que sejam atingidos em torno de 3.050 alunos de graduação da área da saúde.
3. Critérios de inclusão: Estar matriculado em um dos cursos de saúde listados acima da UFPel nos anos de 2019, 2020 e 2021 e ter mais de 18 anos de idade.
4. Critérios de exclusão: Alunos em período exclusivo de estágio que não freqüentam regularmente as dependências da UFPel.
5. Coleta de dados: Antes da coleta de dados, todos os participantes deverão assinar um termo de consentimento livre e esclarecido que conterá todas as informações e riscos de participação no estudo (ANEXO I). Após consentimento, os participantes responderão um questionário padronizado de autopreenchimento com questões objetivas adaptado a partir do instrumento proposto por Morgan e colaboradores (2016) sem necessidade de identificação (ANEXO II). Todos os professores e alunos do grupo de pesquisa poderão realizar a coleta de dados. Para manter o caráter sigiloso e resguardar a identificação dos participantes, os questionários serão guardados em uma urna após respondidos.
6. Variáveis a serem estudadas
Variáveis sócio-demográficas: a primeira parte do questionário consiste de perguntas sobre as informações sociais e demográficas dos participantes, tais como idade, sexo, curso que frequenta, semestre do curso que está matriculado atualmente, se houve alguma reprovação ou exame durante a graduação
Variáveis relacionadas ao padrão de uso de psicoestimulantes, álcool, nicotina e Metilfenidato: Em um segundo momento, os participantes responderam perguntas simplificadas sobre o uso de algum psicoestimulante (cafeína, bebidas energéticas, erva-mate, medicamento e no caso deste último, qual seria), além do uso e freqüência de etanol e nicotina. Posteriormente, as perguntas serão direcionadas ao padrão de uso do Metilfenidato. A primeira pergunta será se o participante utiliza o medicamento e, em caso de resposta positiva, este deverá prosseguir respondendo o questionário. As perguntas a seguir serão relacionadas com a apresentação farmacêutica que o usuário utiliza (Ritalina®. Ritalina LA® ou Concerta®), posologia (uma ou mais vezes ao dia), dosagem (quantas miligramas possui o comprimido), motivos para a utilização (para tratamento de TDAH/narcolepsia, para melhorar o rendimento acadêmico ou para outro fim, no caso desta última alternativa o participante deverá apontar a motivação), A idade em que o paciente começou a fazer uso deste medicamento e qual grau de escolaridade ele tinha na época. A seguir, as perguntas são simplificadas e direcionadas aos efeitos percebidos em relação à melhora na concentração e memória e na redução do sono, estresse e apetite. As três perguntas finais dirão respeito aos efeitos adversos apresentados após a utilização do medicamento (com as alternativas ansiedade, boca seca, taquicardia, tremores nas mãos e outro(s), sendo que na alternativa outro(s) o participante deverá citar qual foi o efeito adverso), como o usuário obteve o metilfenidato (com as alternativas amigos em festa, conhecidos, amigos na faculdade, familiares, compra com receita médica ou outra forma não descrita nas alternativas acima) e se o participante ainda utiliza esse medicamento (sim ou não e em caso negativo, com que idade cessou a utilização).

7. Análise estatística
Os dados serão duplamente digitados no programa EpiData 3.1 por digitadores distintos. Para a limpeza e análise do banco de dados, será utilizado o pacote estatístico Stata 11.2. Para a descrição dos dados, serão apresentadas frequências absolutas e relativas. Variáveis numéricas serão descritas por média e desvio-padrão (DP). Para a prevalência de uso de substâncias psicoestimulantes, será reportado o intervalo de confiança de 95% (IC95%). As análises bivariadas entre uso de psicoestimulantes de acordo com as variáveis independentes será feita mediante o teste exato de Fisher. O nível de significância estatístico empregado será de 5% para testes bicaudais.

Indicadores, Metas e Resultados

A principal meta deste projeto é auxiliar no esclarecimento sobre o perfil de uso de metilfenidato entre os acadêmicos dos cursos da área da saúde da UFPel. Após a obtenção e análise dos dados, o grupo de pesquisa visa divulgar esse estudo entre os discentes da universidade e realizar uma ação de conscientização sobre os possíveis riscos e toxicidade perante o uso deste medicamento e suas associações com outras substâncias (psicoestimulantes/álcool/nicotina). Cada curso analisado dará origem a um trabalho de conclusão de curso de alunos formandos do curso de Farmácia e posteriormente, pelo menos 2 artigos científicos para publicação em revistas indexadas.

De acordo com a literatura sobre o tema, existe prevalência de uso de metilfenidato entre estudantes universitários que varia entre 3 e 16%. Acredita-se que a prevalência encontrada fique muito próxima a da literatura. Além disso, a maior razão para a utilização deste medicamento é a obtenção de melhora cognitiva que impacte positivamente no aproveitamento acadêmico ao longo do curso de graduação. Vários estudos têm demonstrado que esse possível benefício é observado apenas nos primeiros usos e é perdido se o uso do metilfenidato for crônico. Portanto, em nosso estudo, pretendemos encontrar relatos semelhantes com relação às motivações de uso e possíveis benefícios observados pelos estudantes que fazem uso do metilfenidato. Espera-se que este projeto dê origem a Trabalhos de Conclusão de Curso dos acadêmicos do Curso de Farmácia, assim como apresentações de resultados parciais em congressos e pelo menos duas publicações de artigos científicos em revistas indexadas.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ANDRESSA DE MOURA FABRA
GIANA DE PAULA COGNATO2
JULIANA BIDONE2
JULIANE FERNANDES MONKS DA SILVA2
MARYSABEL PINTO TELIS SILVEIRA2
PAULO MAXIMILIANO CORREA1
ROZANA LOPES IZOLABELLA
THANISI BORGES CORRÊA

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