Nome do Projeto
Multimorbidade, simultaneidade de fatores de risco à saúde e capital humano: relações a partir da adolescência até a vida adulta
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
22/12/2020 - 27/02/2024
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Capital humano é um conjunto de capacidades individuais e que agregam, no futuro, retornos tanto sociais quanto econômicos, sendo que a saúde do indivíduo pode impactar no capital humano. A ocorrência concomitante de múltiplas doenças em um mesmo indivíduo é um problema de saúde global, sendo observado cada vez mais cedo na população. A multimorbidade, ocorrência de pelo menos duas doenças crônicas ao mesmo tempo em um indivíduo, está associada com pior qualidade de vida, maior uso de serviços de saúde, e mortalidade. Fatores de risco como inatividade física, tabagismo e consumo de álcool são os maiores responsáveis pela alta carga de doenças crônicas, e consequentemente multimorbidade. É limitado o número de estudos longitudinais sobre multimorbidade, simultaneidade de fatores de risco e capital humano, principalmente entre jovens. Com estudos longitudinais, é possível estimar efeitos no longo prazo da multimorbidade e de fatores de risco sobre o capital humano, um referencial de crescimento econômico e social. As evidências iniciais sugerem que conforme aumenta o número de fatores de risco ao qual um indivíduo está exposto e a velocidade do acúmulo de doenças, piores são os indicadores de capital humano. Entretanto, ainda há uma carência de mais estudos sobre a temática. Com o presente projeto de tese, pretende-se avaliar a prevalência de multimorbidade e de simultaneidade de fatores de risco à saúde, bem como a associação entre a ocorrência destes na adolescência com capital humano no início da vida adulta. Para isso, serão avaliados fatores de risco à saúde e morbidades aos 11, 15, 18 e 22 anos e capital humano aos 22 anos, em diferentes variáveis, entre membros da Coorte de Nascidos Vivos de 1993 de Pelotas/RS. Desde o nascimento, os membros da coorte são periodicamente avaliados quanto a saúde física, mental, características sociais, demográficas entre outras. No acompanhamento mais recente (aos 22 anos) 3.810 indivíduos foram acompanhados. A presente tese pretende contribuir para o preenchimento de lacunas observadas na literatura científica e pode servir de base para intervenções em adolescentes, a fim de reduzir os impactos econômicos e sociais de múltiplas doenças e fatores de risco.

Objetivo Geral

Avaliar o impacto de fatores de risco à saúde e da multimorbidade no capital
humano aos 22-23 anos entre membros da coorte de nascimento de 1993 de Pelotas,
Rio Grande do Sul, Brasil.

Justificativa

O capital humano é um conjunto de capacidades individuais inatas,
conhecimento, contatos pessoais, formação profissional e educacional (LAROCHE;
MERETTE; RUGGERI, 1999). Contudo, a condição de saúde do indivíduo pode
impactar negativamente no processo de formação deste capital (KANE et al., 2018).
Conhecer condições de saúde ao longo do ciclo vital e como estas se relacionam com
o capital humano é fundamental para que políticas voltadas para este grupo etário
sejam implementadas.
Altas prevalências de multimorbidade são observadas em todo mundo
(NGUYEN et al., 2019). É justificável estudar multimorbidade entre adultos e idosos,
como retratado pela maior parte da literatura, uma vez que nestes períodos a
ocorrência de doenças crônicas é maior (AFSHAR et al., 2015), porém, tão relevante
quanto, é entender os indícios do seu início. Poucos estudos são amostrados com
crianças, jovens e jovens adultos, o que permitiria uma noção mais precisa das
primeiras aparições de multimorbidade. Além disso, estudos sobre multimorbidade
permitem conhecer fatores de risco, prevenir e gerenciar melhor os cuidados à saúde
(JACKSON et al., 2016). Ainda são modestas as estimativas relacionadas a estes
períodos, mesmo este sendo um bom momento para identificar e prevenir o avanço
da multimorbidade (CHAU; BAUMANN; CHAU, 2013).
Existem indícios de que o início da multimorbidade é registrado cada vez mais
precocemente na vida, cerca de 8-10 anos quando são comparadas à estudos de
coortes subsequentes e cujos membros de coortes mais recentes apresentam mais
multimorbidade do que os membros da coorte anterior (CANIZARES et al., 2018). Em
outras palavras, multimorbidade é um problema de saúde pública em crescimento.
Estes achados indicam que o cada vez mais estudar multimorbidade em idades mais
jovens é importante. Apesar dos indícios de multimorbidade precoce, são muitos os
desafios de mensuração de morbidades com longo período de latência em uma
amostra de jovens e jovens adultos. Por isso, estudar marcadores de multimorbidade,
como fatores risco à saúde, torna-se uma alternativa.
A multimorbidade apresenta altos custos. Estima-se que entre idosos com cinco
ou mais morbidades os gastos em saúde são cinco vezes maiores do que seus pares
saudáveis (THAVORN et al., 2017) e que os gastos com cuidados em saúde vão
aumentar exponencialmente nas próximas décadas entre pacientes com
multimorbidade (RIVERA-ALMARAZ et al., 2019). Cerca de 95% dos recursos
utilizados no tratamento de doenças crônicas são usados com a multimorbidade
(CHEN; CHEN; CUI, 2018). Evidências apontam que um maior número de doenças
está associado a maiores custos e que os ele aumenta por conta das intervenções
necessárias para tratar pacientes com multimorbidade (KUO; LAI, 2013). Ainda,
pessoas com multimorbidade são mais propensas a estarem fora do mercado de
trabalho (SCHOFIELD et al., 2013), receberem menos de renda privada e mais
benefícios do governo (SCHOFIELD et al., 2013) e terem menos ativos geradores de
renda (SCHOFIELD et al., 2015). Entre crianças e jovens os gastos em saúde
aumentam conforme aumenta o número de condições presentes, sendo quase 12
vezes maiores entre aqueles com cinco ou mais condições do que aqueles com
apenas uma doença. Neste caso, cerca de 1,0% das crianças e jovens apresentam
cinco ou mais fatores de risco, contudo, representam aproximadamente 13,0% de
todos os custos (ZHONG et al., 2015). Por outra perspectiva, os 6,5% mais doentes
(de três a cinco doenças) representam quase um terço dos gastos totais em saúde.
Para crianças e jovens sem nenhuma doença estima-se um custo de
aproximadamente 1.500 dólares por ano, e entre aqueles com duas condições
crônicas quase 7.000 dólares (ZHONG et al., 2015).
Além dos custos para tratamento, a multimorbidade apresenta impacto em
termos de capital humano (FABBRI et al., 2016). Kane e colegas em 2018 alertam
para o desafio em estudar as vias em que saúde e renda se cruzam, em especial na
transição da adolescência para a vida adulta (KANE et al., 2018). Aqui, entende-se
renda como uma dimensão do capital humano. Apesar da importância, não foram
encontrados estudos sobre multimorbidade e capital humano nessa população. A
literatura sobre a associação entre simultaneidade de fatores de risco à saúde e
multimorbidade, bem como com capital humano ainda é modesta. Possíveis
explicações para o baixo número de trabalhos podem ser as dificuldades
metodológicas de um estudo longitudinal com jovens, o longo período de latência das
doenças e dos desfechos em capital humano. Ambos as hipóteses podem ser
testadas através de uma coorte de nascimentos. Com relação ao capital humano,
medidas ao longo da infância e adolescência podem elucidar a associação entre
múltiplos fatores de risco à saúde e desfechos educacionais (capital humano)
(ADELANTADO-RENAU et al., 2019; WRIGHT et al., 2018).
Portanto, a presente tese justifica-se na medida de que: 1) dimensões como
escolaridade, coeficiente de inteligência e função executiva são influenciadas pela
condição de saúde; 2) multimorbidade é um problema de saúde pública crescente; 3)
o início da multimorbidade tem sido cada vez mais precoce, sendo os fatores de risco
para doenças crônicas possíveis marcadores desta condição; 4) poucos estudos
foram conduzidos com crianças, jovens e jovens adultos; 5) identificar o impacto da
exposição a simultaneidade de fatores de risco e da multimorbidade em desfechos de
capital humano ao longo do ciclo vital; 6) existe uma lacuna na literatura quanto a
identificação do impacto da simultaneidade de fatores de risco a saúde na ocorrência
de multimorbidade e, consequentemente, em desfechos em capital humano. Com
base nisso, a presente tese busca contribuir com os conhecimentos sobre
multimorbidade, simultaneidade de fatores de risco à saúde e capital humano, mas
destacando-se por utilizar de um estudo de coorte de nascimento, com uma amostra
de crianças, adolescentes e jovens adultos, e utilizando multimorbidade e
simultaneidade de fatores de risco à saúde como exposição para problemas tão pouco
explorados como capital humano.

Metodologia

Delineamento

Para o presente projeto de tese, será utilizado dados já previamente coletados
na Coorte de Nascidos Vivos de Pelotas/RS de 1993. Trata-se de uma coorte
longitudinal e prospectiva com todos os nascidos vivos em 1993 nos hospitais da
cidade entre mulheres residentes na zona urbana de Pelotas. Este projeto será
conduzido utilizando dados dos acompanhamentos dos 11, 15, 18 e 22-23 anos.

População alvo

Indivíduos nascidos vivos na zona urbana da cidade de Pelotas, no ano de 1993
que pertencem a Coorte de Nascimentos de Pelotas, 1993.

Critérios de inclusão

Ter participado dos acompanhamentos aos 11, 15, 18 e 22-23 anos da Coorte
de Pelotas de 1993.

Critérios de exclusão


Em todos os acompanhamentos, serão excluídos indivíduos com alguma
limitação física ou mental que impossibilite de responder ao questionário e aqueles
com alguma limitação física que o impeça de praticar atividade física.

Metodologia da Coorte de Nascimentos de Pelotas/RS de 1993


A coorte de Pelotas de 1993 é um estudo conduzido pelo Centro de Pesquisas
Epidemiológicos da Universidade Federal de Pelotas/RS. Trata-se de um estudo
longitudinal com todos os nascidos vivos em Pelotas no ano de 1993. A partir de 1º
de janeiro até o último dia de dezembro, diariamente, os nascidos vivos das cinco
maternidades da cidade foram convidados a participar do estudo. No total, 5.249
recém-nascidos foram considerados elegíveis, destes, 5.249 aceitaram participar da
pesquisa e atualmente no último acompanhamento realizado em 2015, aos 22 anos
da coorte, 3.810 membros foram entrevistados, representando uma taxa de
acompanhando de 76,3% da coorte original.
No primeiro acompanhamento desta coorte (perinatal), as mães responderam
questões demográficas, socioeconômicas, reprodutivas, comportamentais entre
outras. Já os bebês tiveram medidas antropométricas aferidas. Outros
acompanhamentos com sub-amostras foram realizados. Com um e três meses de
idade, 13,0% da coorte foi sistematicamente amostrada. Aos seis meses, um ano e
quatro anos o acompanhamento foi conduzido apenas com aqueles nascidos com
baixo peso, ou seja, com menos de 2.500g. Aos seis e nove anos, através de uma
amostragem aleatória, os membros selecionados foram avaliados quanto a saúde
pulmonar e saúde bucal. Acompanhamento com toda a coorte foram realizados aos
11, 15, 18 e 22 anos. Em especial, um dos objetivos do acompanhamento realizado
em 2015 (22 anos) foi investigar com maiores detalhes o capital humano
(GONÇALVES et al., 2018)

Indicadores, Metas e Resultados

Hipóteses


• Espera-se que 10,0% dos membros da coorte apresentem multimorbidade;
• Os agrupamentos mais prevalentes de multimorbidade serão de hipertensão +
depressão, hipertensão + diabetes e asma + depressão;
• Cerca de 80,0% dos membros da coorte apresentará ao menos um fator de risco;
• Os agrupamentos mais prevalentes de fatores de risco serão compostos por
inatividade física + excesso de comportamento sedentário; inatividade física +
tempo inadequado de sono, excesso de comportamento sedentário + tempo
inadequado de sono e inatividade física + tabagismo;
• A ocorrência de multimorbidade aos 11, 15 e 18 anos estará associada a pior
capital humano aos 22 anos;
• Será observada uma relação positiva entre número de fatores de risco à saúde aos
11, 15 e 18 anos e piores condições de capital humano aos 22 anos;

ARTIGOS PLANEJADOS

Três artigos estão previstos: um de revisão e dois originais.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
BRUNO PEREIRA NUNES1
FERNANDO CESAR WEHRMEISTER2
PEDRO AUGUSTO CRESPO DA SILVA
THAYNÃ RAMOS FLORES

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