Nome do Projeto
Morcegos do Extremo Sul: Distribuição, Diversidade e Biologia das Espécies
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/07/2021 - 30/06/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Biológicas
Resumo
A ordem Chiroptera é a segunda maior ordem de mamíferos atuais e suas espécies estão distribuídas em praticamente todo o planeta em todos os tipos de habitats. As espécies do grupo são componentes fundamentais na estruturação de comunidades, existindo espécies insetívoras, que controlam populações de insetos, e espécies frugívoras e nectarívoras, que são polinizadoras e dispersoras de sementes. Por outro lado, algumas espécies de morcegos podem em situações específicas ter relações conflituosas com humanos, inclusive utilizando como abrigo construções, o que potencializa o contato com pessoas e seus animais domésticos. Morcegos podem ser reservatórios e vetores de doenças de mamíferos e mais de 200 vírus de 27 famílias já foram isolados de diferentes grupos de morcegos, embora pouquíssimos destes vírus sejam responsáveis por doenças em animais domésticos e humanos. No estado do Rio Grande do Sul, ocorrem 40 espécies de quatro diferentes famílias de morcegos. O estado, principalmente sua porção oeste, é considerado uma lacuna no conhecimento da diversidade de morcegos e o Pampa é o menos amostrado de todos os Biomas brasileiros. Este projeto está estruturado em torno de três objetivos gerais: 1. avaliar e monitorar a diversidade de morcegos (Mammalia, Chiroptera), do extremo sul do Estado do Rio Grande do Sul; 2. caracterizar morfologicamente as populações das espécies de morcegos na região; e 3. Obter dados sobre a biologia dessas espécies. O projeto de pesquisa terá duração de 48 meses e será executado de julho de 2021 até junho de 2025. O estudo será realizado em municípios do sul do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil, no Bioma Pampa, em áreas urbanas e rurais de propriedades públicas e privadas e em Unidades de Conservação. O projeto engloba uma série de métodos distintos, incluindo a revisão de exemplares em coleções científicas, a busca por abrigos e a avaliação e monitoramento de colônias de morcegos, a coleta com redes de neblina em habitats que concentrem atividade intensa e análises morfológicas. O resultado esperado com a execução do projeto é a construção de um banco de dados sobre a diversidade e biologia desse grupo no Bioma Pampa, já que estas informações não estão disponíveis atualmente. Nesse sentido, o projeto contribuirá para a seleção de espécies para estudos populacionais de longa duração e para o estabelecimento de um programa de captura-marcação-recaptura de quirópteros. O conjunto do conhecimento que será disponibilizado através do projeto terá duas aplicações práticas: 1. elaboração de estratégias de conservação de populações de quirópteros e elaboração de listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção; e 2. auxiliar na elaboração de planos de manejo de quirópteros insetívoros em cidades e zonas rurais, com a finalidade de impedir ou minimizar o conflito com humanos, seus animais domésticos e o risco de de transmissão de doenças.

Objetivo Geral

O projeto está estruturado em torno de três objetivos gerais amplos:
1. Avaliar a diversidade de morcegos (Mammalia, Chiroptera) do Bioma Pampa do extremo sul do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil;
2. Caracterizar quanto à morfologia as populações de espécies de morcegos com distribuição geográfica no extremo sul do Brasil;
3. Obter dados sobre a biologia de espécies com ocorrência no extremo sul do Brasil.

Justificativa

A elaboração deste projeto de pesquisa justifica-se pela necessidade de manter-se um programa permanente de levantamento de diversidade e monitoramento de populações de morcegos e de criar-se uma coleção de referência para a fauna de Chiroptera do estado do Rio Grande do Sul, especialmente da metade sul e oeste onde estão centradas as atividades do meu grupo de pesquisa. Essa região do Estado é domínio do bioma Pampa, que é considerado altamente diverso e ameaçado por atividades antrópicas. Esses dados esclarecerão aspectos sobre a diversidade de morcegos dessa região e embasarão estudos e diretrizes para programas de conservação, manejo e reformulações de futuras listas de espécies ameaçadas do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Metodologia

Período e área de estudo
O projeto de pesquisa terá duração de 48 meses e será executado de julho de 2021 até junho de 2025.
O estudo será realizado nos municípios do sul do Estado do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil. A área de estudo está situada no Bioma Pampa, na fitofisionomia das Formações Pioneiras (IBGE, 2010) e pode ser descrita como um mosaico que inclui campos nativos, pastagens, banhados, fragmentos de Mata de Restinga, plantações de arroz e eucaliptos e áreas urbanizadas. O clima da região é Subtropical Mesotérmico Brando Superúmido (IBGE, 1997). Segundo a Estação Agroclimatológica de Pelotas (Capão do Leão), de 1971 a 2000, a precipitação pluviométrica média estacional no município foi de 289,7mm no outono, 356,3mm no inverno, 286,1mm na primavera e 333,5mm no verão. As temperaturas médias estacionais foram de 16,4ºC no outono, 13,2°C no inverno e 19,0ºC na primavera e 22,9ºC no verão.
Os municípios onde será realizado o trabalho estão inseridos no Bioma Pampa, que engloba 176.496 Km2 ou 2,07% do território do Brasil. No Rio Grande do Sul, este Bioma está presente em toda a metade sul e oeste, o que representa 63% da área do Estado, havendo estimativas que 50% da cobertura vegetal deste Bioma já esteja comprometida.

Revisão de exemplares em coleções científicas
Para a elaboração da lista de espécies de morcegos de ocorrência no Bioma Pampa, serão visitadas e revisadas as coleções científicas instaladas em instituições do Estado do Rio Grande do Sul. Inicialmente será examinado o material depositado na Coleção Científica de Chiroptera do Laboratório de Ecologia de Aves e Mamíferos do DEZG/IB/UFPel.
Também serão visitadas as seguintes coleções científicas: Coleção do Museu da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), coleção científica da Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Coleção do Laboratório de Mamíferos do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Coleção do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Estado do Rio Grande do Sul (FZB-RS); e Coleção de Mamíferos do Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Os morcegos serão examinados e medidos na própria instituição a qual pertencem ou será solicitado o seu empréstimo, quando necessário. Serão obtidas as seguintes informações dos exemplares provenientes de coleções científicas: local de coleta, incluindo município, distrito, localidade de coleta e estado, coordenada geográfica, data de coleta, espécie, sexo, idade e medidas externas e cranianas.

Procedimento de Campo
Durante todo o presente projeto de pesquisa será realizada a localização de abrigos e colônias de quirópteros nos municípios incluídas no estudo. Os abrigos de morcegos serão localizados por observações crepusculares e noturnas e por visitas as propriedades e entrevistas aos moradores realizadas pela equipe do projeto. As observações crepusculares e noturnas serão realizadas em edifícios altos e com raio de visão ampla ou em pontos que possibilitem a visualização de construções humanas ou outras estruturas com possibilidade de servirem de abrigos. Áreas rurais e urbanas serão selecionadas para visita às propriedades, com inspeção de todas as construções humanas e outros potenciais abrigos de quirópteros, como ocos em árvores e furnas, e os moradores serão entrevistados quanto à presença de quirópteros. Serão elaborados mapas com a localização de abrigos e colônias de morcegos para análise de estrutura espacial das populações utilizando como base imagens de satélite.
Os abrigos localizados nos dois municípios receberão um número e será elaborada uma ficha de campo para controle da colônia. Os abrigos localizados serão visitados e monitorados, no mínimo, uma vez para captura, identificação da espécie e contagem do número de indivíduos. Na ficha de campo constarão as seguintes informações: nº da colônia, localização ou endereço, coordenada geográfica, tipo e descrição do abrigo, espécie(s) de morcegos e número de indivíduos.
A metodologia de coleta dos morcegos em seus abrigos diurnos dependerá das características do próprio abrigo ou da colônia e várias técnicas poderão ser utilizadas conforme a situação. As principais técnicas utilizadas serão: coleta com redes “mist net” armadas na saída dos abrigos, coletas com armadilhas tipo saco ou funil montadas em pequenas saídas dos abrigos diurnos (segundo Kunz & Kurta, 1988), coletas com redes de mão (utilizadas para coleta de insetos) e coletas manuais com pinças ou luvas.
A estimativa do tamanho de cada colônia dependerá das características do abrigo e da colônia. Em abrigos em que as colônias não possam ser visualizadas, a estimativa do número de indivíduos será realizada por contagem no momento em que os morcegos deixam o abrigo diurno ao anoitecer. Caso necessário, o processo de contagem será realizado mais do que uma vez para se confirmar o tamanho da colônia. Quando as colônias estiverem alojadas em abrigos que possibilitem a sua visualização, os indivíduos serão contados diretamente por dois diferentes observadores com o auxílio de lanternas cobertas com papel celofane vermelho para não perturbar os animais (Thomas & La Val, 1988). Caso necessário, as contagens serão repetidas em diferentes dias para melhorar as estimativas de tamanho da colônia. Quando as colônias forem formadas por uma grande quantidade de indivíduos, o que torna a contagem direta muito imprecisa, as colônias serão fotografadas para a contagem posterior.
Para complementar o levantamento de espécies e a análise de diversidade, serão realizadas coletas em locais onde for detectada a atividade de morcegos em deslocamento ou forrageando. Serão utilizadas para a captura de duas até seis redes de neblina (mist nets) que permanecerão armadas de duas até seis horas após o por do sol.
Para cada morcego capturado, serão obtidos os seguintes dados: local de coleta, coordenada geográfica da coleta, tipo de abrigo, espécie, sexo, massa (g), comprimento do antebraço (mm), idade (jovem, subadulto e adulto), condição reprodutiva de machos (escrotado ou não escrotado) e condição reprodutiva de fêmeas (inativas, grávidas e lactantes). Serão coletados no máximo 10 exemplares adultos (5 machos e 5 fêmeas) de cada espécie, nunca mais do que um macho e uma fêmea por colônia. A coleta deste material possibilitará a análise taxonômica e morfométrica de cada espécie.

Procedimento no laboratório
Os morcegos coletados serão mortos por inalação de éter, fixados em formol 10% e posteriormente conservados em álcool 70%. Durante esse processo, será examinada a pelagem de todos os indivíduos coletados para a obtenção de ectoparasitos, que serão acondicionados em recipientes individuais com álcool 70%. Os ectoparasitos serão enviados para especialista para a identificação.
As fêmeas coletadas serão dissecadas para exame do aparelho reprodutivo e detecção da presença de embriões para o estudo da biologia reprodutiva e complementação de informações obtidas em campo. Os embriões serão medidos com paquímetro digital com precisão de 0,01 mm, o que possibilitará a estimativa de época de cópula e nascimento e duração de gestação. Serão examinadas as mamas das fêmeas para complementação das informações reprodutivas (lactante, não lactante e pós-lactante).
No laboratório, serão retirados os crânios de todos os exemplares de morcegos coletados durante as atividades de campo e dos exemplares das espécies de interesse provenientes de coleções científicas. Os crânios serão retirados pela boca pelo método de rebatimento da pele e posteriormente limpos com bisturi e pinça sob microscópio estereoscópico. Os crânios serão examinados quanto à fórmula dentária e a existência de anomalias e patologias dentárias. Uma parcela dos crânios examinada será fotografada em lupa com máquina fotográfica digital acoplada.
Os exemplares coletados e obtidos em coleções científicas terão suas medidas cranianas obtidas com paquímetro digital com precisão de 0,01 mm e as externas com paquímetro com precisão de 0,05 mm. Os dados morfométricos serão obtidos conforme sugerido por Gregorin & Taddei (2002), com algumas adaptações.

Indicadores, Metas e Resultados

A meta é a construção de banco de dados sobre diversidade de quirópteros da região do Bioma Pampa do Rio Grande do Sul, fornecendo um panorama sobre riqueza e abundância de espécies e suas variações sazonais, utilização de habitats, seleção de abrigos e reprodução, além da caracterização morfológica das populações das espécies mais abundantes. Esse conhecimento científico básico dará embasamento para programas de conservação de quirópteros e podem ser utilizados para planos de conservação de espécies e no momento da elaboração de listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção. Pretende-se também avaliar a problemática de morcegos em áreas urbanizadas e rurais com fins de elaboração de planos de manejo, que por um lado impliquem na preservação de colônias e de espécies nesses habitats, mas por outro lado minimizem as interações negativas e conflitos entre morcegos e humanos. Essa base de dados sobre diversidade de morcegos da região dará embasamento para a elaboração de futuros projetos de meu grupo de pesquisa abordando ecologia das populações, parasitismo, dieta e papel do grupo como reservatórios de zoonoses.
Outra meta do projeto é a formação de mão de obra especializada para estudos de biodiversidade, incluindo metodologias de campo e análises de dados. O projeto terá a participação de alunos do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal do DEZG/IB/UFPel e dos Cursos de Ciências Biológicas da UFPel.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ANA MARIA RUI4
JANRYÊ KLOPPEMBURG CHAGAS
JULIANA CORDEIRO2
MARCOS CESAR FAUSTINO

Fontes Financiadoras

Sigla / NomeValorAdministrador
PROAP/CAPES / Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível SuperiorR$ 10.000,00Coordenador

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