A equinocultura, área da zootecnia que estuda a criação de equinos (Almeida, 2013), tem se destacado em países desenvolvidos e nos que estão em constante desenvolvimento, como o Brasil, que possui o quarto maior rebanho equino do mundo, com mais de 5 milhões de cabeças, movimentando mais de 16 bilhões de reais anualmente e gerando aproximadamente 610 mil empregos diretos e 2.430 mil empregos indiretos (Lima e Cintra, 2016).
Os equinos se destacam em diversas atividades relacionadas com esporte, lazer e trabalho. No Brasil estima-se que, do total do rebanho equino, aproximadamente 3.900.000 sejam animais para esporte, lazer e criação, enquanto que em torno de 1.100.000 sejam de cavalos para trabalho (Lima e Cintra, 2016). Minas Gerais é o estado brasileiro com a maior população de equinos, com 828 mil animais, seguido pelo Mato Grosso, que apresenta um rebanho de 547 mil animais, e Rio Grande do Sul, que ocupa o terceiro lugar no ranking nacional com mais de 520 mil equinos (IBGE, 2021). O rebanho equino do estado gaúcho é formado principalmente por animais da raça Crioula, considerada símbolo cultural do estado desde 2002, sendo uma das 26 raças presentes no território nacional.
De acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), a região sul é responsável por 95% da população de cavalos Crioulos do Brasil, sendo que destes, 85% estão no Rio Grande do Sul (ABCCC, 2011). O Cavalo Crioulo foi inicialmente utilizado como instrumento de trabalho nas propriedades e atualmente desempenha funções diferentes das atribuídas no começo de sua criação, se tornando um cavalo atleta.
As medidas corporais obtidas individualmente vêm sendo amplamente utilizadas na mensuração do crescimento dos animais. Na raça Crioula, três medidas corporais são utilizadas como padrão para fins de registro de machos e fêmeas, sendo elas a altura, o perímetro de tórax e o perímetro de canela. De modo geral, a definição do crescimento dos potros de acordo com o padrão de cada raça é importante devido a relação existente entre o crescimento e a ocorrência das doenças ortopédicas (Thompson, 1995). De acordo com Pimentel et al. (2018), tanto o resultado funcional, como o morfológico, nas provas do Freio de Ouro, considerada uma das principais provas de seleção da raça, são influenciados por características morfológicas sendo, portanto, necessário que os potros tenham um desenvolvimento adequado desde o seu nascimento.
A utilização de modelos matemáticos em pesquisas com animais tem sido cada vez mais comum, já que o conhecimento da curva de crescimento de cada indivíduo permite ajustar práticas de manejo, priorizando cada fase do desenvolvimento, conforme suas necessidades nutricionais. De modo geral, com o uso de curvas de crescimento é possível descrever o processo de desenvolvimento em poucos parâmetros de interpretação biológica. Dessa forma, em diversas espécies de animais, os modelos não lineares são utilizados na descrição das curvas de crescimento, facilitando a interpretação e compreensão do desenvolvimento animal, já que permitem que um conjunto de informações, como peso por idade, seja resumido em um pequeno número de parâmetros (Oliveira et al., 2000).
De modo geral, os modelos não lineares indicados como melhores no ajuste da curva de crescimento em determinada espécie e/ou raça podem não ser adequados para outras. Entre os modelos considerados na avaliação de curvas de crescimento em animais, os de Gompertz, Logístico, Bertalanffy, Brody e Richards são os mais comumente utilizados. Em bovinos da raça Hereford, Mazzini et al. (2005) descreveram a evolução do peso do nascimento aos 720 dias com o uso de modelos não lineares de Brody, Gompertz, Logístico e Von Bertalanffy, sendo que entre eles, os modelos de Gompertz e Von Bertalanfy apresentaram os melhores ajustes. Utilizando pesos do nascimento aos dois anos de idade e modelos não lineares de Brody, Von Bertanlanffy, Richards, Logístico e Gompertz para avaliar o crescimento de bovinos da raça Nelore, Malhado et al. (2009) reportaram ajustes mais adequados com o uso dos modelos Logístico e Gompertz.
Na literatura são reportados poucos estudos utilizando modelos não lineares na avaliação de curvas de crescimento em equinos. Estudando a curva de crescimento de potros da raça Crioula do nascimento aos 24 meses de idade, Suñe (2017) reportou que 74% dos animais avaliados atingiram a altura adulta nos dois primeiros meses de vida, indicando que nem todos os animais da raça Crioula conseguem atingir a altura exigida pela ABCCC aos 24 meses de idade. Ao estudar a curva de crescimento do cavalo Pantaneiro, Santos et al. (2007) avaliaram o ajuste de cinco modelos não lineares (Brody, Richards, Gompertz, Logístico e Weibull) para medidas de peso e altura da cernelha mensurados do nascimento até a idade adulta. Os autores indicaram o modelo de Richards como o melhor para se estimar a altura da cernelha e o modelo de Weibull para o peso. De modo semelhante, Onoda et al. (2011) reportaram o modelo de Richards como o de melhor ajuste para o peso corporal de machos da raça Puro Sangue Inglês. Por outro lado, avaliando a curva de crescimento para a altura da cernelha mensurada aos 24 meses de idade em cavalos do Exército Brasileiro, Dorneles (2017) indicou os modelos de Brody (1924) e Bianchini Sobrinho como os melhores.
Considerando assim, o reduzido número de estudos com equinos e a importância das medidas morfométricas na padronização de animais da raça Crioula, o presente trabalho se torna relevante, com a possibilidade de uso dos resultados obtidos em decisões de seleção e manejo diário realizado nos criatórios, visando aumentar a produtividade, minimizar os erros de manejo na fase inicial de vida dos potros e nos setores nutricional e sanitário, contribuindo positivamente com o bem-estar e permitindo que os animais apresentem um desempenho satisfatório ao longo da vida.