A soja (Glycine max (L.) Merril) é um dos principais produtos agrícolas do Brasil, sendo o país atualmente o maior produtor mundial dessa oleaginosa. A produção média nacional nos últimos 10 anos foi superior aos 110 milhões de toneladas, sendo que na safra 2021/22 sua produção correspondeu a mais de 125 milhões de toneladas em área equivalente a 41 milhões de hectares (CONAB, 2023).
Os bons níveis produtivos são resultado, em grande parte, das tecnologias aplicadas nas lavouras, mas ainda existem diferentes desafios a serem superados e que podem elevar ainda mais esses valores. Dentre eles, o controle insatisfatório de plantas daninhas na lavoura, que afetam o desenvolvimento da cultura e, consequentemente a sua produtividade final (GALON et al., 2017).
Uma das principais plantas daninhas infestante na cultura da soja é o Amaranthus spp., conhecido como caruru. O gênero Amaranthus, pertencente à família Amaranthaceae possui cerca de 70 espécies, e destas em torno de 10 são consideradas plantas daninhas incidentes em culturas agrícolas (HOLM et al., 1997; KISSMANN; GROTH, 1999).
Essas plantas possuem ciclo fotossintético do tipo C4, o que lhes confere alta habilidade competitiva, uma vez que essa característica proporciona metabolismo mais eficiente através da maior fixação de carbono em comparação com plantas de metabolismo C3 (TAIZ; ZEIGER, 2017). Também apresentam ciclo anual e alta prolificidade, podendo chegar a produzir de 200 a 600 mil sementes por planta (KISSMANN; GROTH, 1999; NETTO et al., 2016). Estas sementes são facilmente dispersas por animais, pessoas e, principalmente por implementos agrícolas, por conta do seu tamanho reduzido (BRAZ; TAKANO, 2022). Devido a esses fatores, esta planta daninha é considerada altamente prejudicial às culturas, competindo por água, luz, nutrientes, podendo a chegar a 80% de danos nas culturas da soja e milho, quando em competição (SOLTANI et al., 2017; PENCKOWSKI et al., 2020).
O controle de Amaranthus spp. em áreas agrícolas é geralmente realizado com a utilização de herbicidas, como inibidores da ALS e da EPSPs, com destaque para o glifosato em pós-emergência, por conta das vantagens desse produto. O uso do glifosato foi intensificado nas últimas décadas, principalmente por apresentar baixo custo de aquisição, eficiência e amplo controle de plantas daninhas, além da possibilidade da aplicação em cultivares de soja resistentes a esse mecanismo de ação (DILL, 2005; AGOSTINETTO et al., 2009). Porém, o uso contínuo e, muitas vezes em altas dosagens desse herbicida nas lavouras resultou na ocorrência de biótipos de caruru resistentes, como no caso de A. hybridus, que teve seu primeiro registro em 2018 no Brasil, para resistência múltipla ao glifosato (inibidor da EPSPS) e ao chlorimuron-ethyl (inibidor da ALS) (PENCKOWSKI; MASCHIETTO, 2019; HEAP, 2023).
Aliado ao uso constante do mesmo mecanismo de ação, a resistência de biótipos na lavoura pode estar relacionada com o local-alvo ou não-alvo de ação do herbicida ou pode envolver mecanismos que diminuem a quantidade de moléculas de herbicida que chegam ao local-alvo nas plantas (GAINES et al., 2020; RIGON et al., 2020). Nesse sentido, se torna interessante integrar novos mecanismos de controle, pelos quais o caruru apresente sensibilidade, a fim de manter a cultura livre da interferência desde seu estágio inicial.
Os herbicidas pré-emergentes vêm ganhando cada vez mais destaque para este propósito, justamente por conta de suas características, que relacionam poder residual no solo, possibilidade de aplicação na pré ou pós semeadura da cultura e controle de plantas daninhas em estágios iniciais aumentando o período anterior à interferência (PAI) (KRÄHMER et al., 2021). Ainda, a evolução da resistência das plantas daninhas a esses herbicidas é mais lenta em comparação com pós-emergentes, uma vez que a mortalidade sazonal é reduzida já que a aplicação é realizada no início da safra e as plantas daninhas tendem a emergir de forma gradativa, além de atuarem em diferentes locais-alvo (SOMERVILLE et al., 2017; KRÄHMER et al., 2021).
A atividade dos herbicidas pré-emergentes, assim como seu poder residual, depende de suas características e propriedades físico-químicas, como coeficientes de partição octanol-água (Kow) ou constante de equilíbrio de ionização do ácido (pKa), mas também do volume de pulverização, e de aspectos edafoclimáticos do local, como características do solo, cobertura de palhada, temperatura e umidade do solo (MANCUSO et al., 2011; WALKER et al., 1992).
Levando em consideração que existem diferentes formulações comerciais para aplicação em pré-emergência na cultura da soja, a possibilidade da combinação de diferentes dosagens e modos de ação, além da aplicação isolada e rotacionada, também pode ser um fator chave para viabilizar maior eficiência e espectro de ação desses produtos frente suas interações com o ambiente (WALSH et al., 2014).
Interações sinérgicas e uso de doses reduzidas, quando da utilização de misturas, podem proporcionar controle eficiente e, consequentemente reduzir custos de produção, além de minimizar a pressão de seleção de plantas daninhas (SOUZA, 1985; WRUBEL; GRESSEL, 1994).
Sendo assim, o estudo de novas associações de herbicidas pré-emergentes, bem como o uso de outros mecanismos de ação e suas interações com o ambiente, além da seletividade a cultura da soja é de extrema importância a fim de viabilizar e otimizar ferramentas de manejo para o controle de caruru na cultura da soja.