Nome do Projeto
Do Macro ao Micro: Diagnóstico e Mapeamento da Poluição Plástica em Ecossistemas Aquáticos
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
11/04/2025 - 31/12/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Engenharias
Resumo
A poluição por plásticos em praticamente todos os corpos hídricos, desde pequenos riachos até oceanos, é hoje uma das questões ambientais mais urgentes do planeta. Esses resíduos ameaçam ecossistemas aquáticos e representam riscos cada vez mais preocupantes à saúde pública. A origem dessa contaminação é múltipla: deriva do descarte inadequado de resíduos sólidos urbanos, da atividade industrial, da lavagem de roupas sintéticas, da degradação de plásticos maiores lançados na natureza, além do uso direto de microplásticos em cosméticos e produtos de higiene. Esses fragmentos possuem elevada persistência no ambiente e podem ser facilmente ingeridos por organismos aquáticos.O impacto ambiental dessa poluição é vasto. Espécies como peixes, moluscos, aves e mamíferos confundem partículas plásticas com alimento, levando à obstrução do trato digestivo, desnutrição e até morte. Além disso, plásticos e microplásticos podem adsorver substâncias tóxicas presentes na água, como pesticidas e metais pesados, funcionando como vetores de poluentes químicos ao longo da cadeia alimentar. Essa bioacumulação compromete o equilíbrio ecológico e pode atingir inclusive os seres humanos, por meio do consumo de alimentos contaminados. A presença de microplásticos já foi identificada em peixes, frutos do mar, sal de cozinha, água potável e até no ar que respiramos, o que amplia ainda mais o grau de exposição humana. Do ponto de vista da saúde pública, os riscos associados aos impactos dos plásticos para a saúde pública estão sendo amplamente investigados e apontam para efeitos preocupantes. Substâncias químicas liberadas pelos plásticos, como o bisfenol A e os ftalatos, são reconhecidamente disruptores endócrinos, capazes de interferir no funcionamento hormonal e reprodutivo. Há evidências de que partículas microscópicas podem atravessar barreiras biológicas, se acumular em tecidos humanos e provocar inflamações, reações imunológicas e possíveis alterações celulares a longo prazo. A ingestão contínua de microplásticos, mesmo em pequenas quantidades, levanta alertas importantes sobre possíveis implicações para a saúde gastrointestinal, neurológica e metabólica. Além dos danos ecológicos e dos riscos à saúde, a presença de plásticos nos corpos hídricos agrava desigualdades sociais. Populações que dependem diretamente de rios, lagos e zonas costeiras para alimentação, abastecimento ou trabalho são especialmente vulneráveis. A precariedade no acesso a saneamento básico e à coleta de resíduos sólidos intensifica ainda mais o problema em comunidades marginalizadas. Diante desse cenário, é urgente repensar a relação da sociedade com o plástico. Políticas públicas eficazes, tecnologias de filtragem, incentivo à economia circular e educação ambiental são ferramentas essenciais para mitigar os impactos já em curso. Somente com esforços coletivos e mudanças estruturais será possível reduzir a presença de plásticos nos corpos d’água, proteger a biodiversidade aquática e garantir a saúde das populações humanas expostas.

Objetivo Geral

O objetivo principal deste projeto é desenvolver e/ou adaptar métodos para identificar e quantificar a presença de macro e microplásticos nas águas de corpos hídricos sócio e economicamente importantes da região de Pelotas. Desta forma, o grupo pretende elaborar estratégias e procedimentos de coleta de micro e macro plásticos em diferentes cursos d’água, realizar amostragens em diferentes regiões e corpos hídricos, assim como estabelecer protocolos de análise para identificação e quantificação dos polímeros presentes nessas amostras.

Justificativa

A crescente presença de resíduos plásticos em ambientes aquáticos tem se tornado uma preocupação ambiental global, com impactos diretos na biodiversidade, na qualidade da água e na saúde pública. No contexto do município de Pelotas, essa problemática adquire relevância particular devido à proximidade com diversos corpos hídricos que desempenham papel fundamental nos ecossistemas regionais e nas atividades econômicas locais. A ausência de dados sistematizados sobre a quantidade e o tipo de macro e microplásticos presentes nesses ambientes dificulta a formulação de políticas públicas eficazes e estratégias de mitigação. Nesse sentido, justifica-se a realização deste estudo, que busca não apenas quantificar e qualificar os resíduos plásticos encontrados, mas também estabelecer protocolos metodológicos que possam ser replicados em futuras iniciativas de monitoramento ambiental.

Metodologia

A estratégia e frequência de amostragens serão verificadas e otimizadas ao longo do primeiro semestre do projeto. Em um primeiro momento as amostragens serão feitas no canal São Gonçalo junto ao campus Porto, com frequência mensal. No início do segundo semestre haverá uma avaliação das condições de ampliação geográfica e temporal das coletas, baseada no ritmo de análises do material previamente coletado. O intuito é ampliar a amostragem para outros corpos hídricos ao redor do município, como a Lagoa dos Patos, Arroio Pelotas e Canal São Gonçalo junto à barragem eclusa.
O local destinado aos preparativos para a saída de campo deve estar devidamente higienizado e fechado, a fim de evitar o fluxo de ar. Os materiais utilizados em campo devem ser obrigatoriamente lavados com detergente neutro, utilizando esponja biodegradável e escovas, sendo posteriormente imersos por 24 horas. Após esse período, devem ser enxaguados em água corrente, serem asseptizados com o auxílio de pisseta contendo acetona no interior e agitados para melhor aproveitamento do solvente, evitando desperdícios. Em seguida, o material deve ser novamente enxaguado em água corrente, passado em álcool etílico (95%) com o auxílio de pisseta no interior, enxaguado em água corrente e, posteriormente, em água destilada filtrada, para eliminação de resíduos de solvente. O material deve ser seco em estufa a 28 °C durante 24 horas.
No laboratório, as amostras de plástico e microplásticos passam inicialmente por um processo de filtração para retenção dos sólidos em membranas de celulose ou filtros de fibra de vidro. Toda a água destilada a ser utilizada no processamento das amostras, bem como o reagente a ser adicionado (peróxido de hidrogênio – H₂O₂ ou hidróxido de potássio – KOH), deve ser previamente filtrado. As amostras coletadas em campo são transferidas para um béquer, onde é realizada a medição do volume de água presente. Para cada 10 mL de amostra, adiciona-se 1 mL de reagente filtrado, visando à digestão da matéria orgânica e ao isolamento dos plásticos e microplásticos. A amostra permanece em estufa a 40 °C durante 48 horas para completar a digestão da matéria orgânica presente. Após a digestão, realiza-se a filtração das amostras processadas em sistema de filtração a vácuo. O material residual é transferido para placas de Petri (identificadas por amostra), juntamente com o filtro, sendo armazenado em estufa a 40 °C por, no mínimo, 24 horas antes da análise em estereomicroscópio, para triagem, contagem visual e classificação preliminar quanto à cor, forma (fragmentos, fibras, esferas, filmes) e tamanho. Os plásticos maiores já são separados para a realização da identificação. O sistema de filtração a vácuo é montado dentro de um aquário e mantido fechado, mesmo sem amostras, ou coberto com papel-alumínio, para evitar contaminação. São utilizados filtros de fibra de vidro ou de celulose de 47 mm, armazenados em placas de Petri de vidro identificadas para filtragem.
A identificação dos plásticos e microplásticos é realizada por espectroscopia na região do infravermelho (IR). A IR baseia-se na frequência das vibrações das moléculas que absorvem energia na região do infravermelho. Essas vibrações correspondentes a níveis de energia em que ligações químicas dependem da forma da superfície de energia potencial da molécula, da geometria molecular, e das massas dos átomos ao receber radiação eletromagnética com a mesma energia dessas vibrações. Para que ocorra a vibração da ligação química e apareça no espectro infravermelho, a molécula precisa sofrer uma variação no seu momento dipolar devido a essa vibração. A forma de análise e de pré-tratamento de amostra será otimizada conforme o andamento do trabalho baseado em trabalhos da literatura.

Indicadores, Metas e Resultados

- Identificação e quantificação dos tipos de plásticos e microplásticos presentes: Classificação por tipo (PET, PEAD, PP, PS, etc.), cor, forma (fragmentos, fibras, esferas) e tamanho (macroplásticos > 5 mm, microplásticos < 5 mm). Determinação da concentração de plásticos e microplásticos (número de partículas por litro ou metro cúbico) em diferentes pontos de amostragem.
- Mapeamento espacial e/ou temporal da poluição por plásticos: Geração de mapas de distribuição espacial dos resíduos plásticos ao longo de diferentes pontos do corpo hídrico; Comparação sazonal (seca versus chuvosa) ou entre diferentes profundidades, quando aplicável.
- Relação com fontes potenciais de contaminação: Identificação de correlações entre as concentrações de plásticos/microplásticos e a proximidade de áreas urbanas, industriais, portuárias, de recreação ou lançamento de efluentes.
- Avaliação da eficiência de métodos de amostragem e análise laboratorial: Validação ou comparação de técnicas de coleta (rede manta, frascos, bombas peristálticas) e análise (IR, Raman, microscopia, filtração).
- Indicadores de risco ambiental: Análise do potencial impacto ecológico com base nos tipos e concentrações de microplásticos detectados. Possível presença de contaminantes associados (metais pesados, poluentes orgânicos persistentes) adsorvidos às partículas.
- Proposta de protocolos padronizados para futuras investigações na região: Criar um banco de dados que auxilie a comunidade a ter uma melhor compreensão quanto a qualidade da água que consumida;
- Contribuição para políticas públicas e educação ambiental: Elaboração de material informativo ou cartilhas educativas com os resultados. Propostas de medidas de mitigação e controle da entrada de plásticos nos ambientes aquáticos.
- Formar recursos humanos, em nível de graduação e pós-graduação, com habilidades para desenvolver estudos em engenharia hídrica e química analítica;
- Publicações científicas e comunicação dos resultados: Produção de artigos em revistas científicas, resumos para congressos ou relatórios técnicos. Divulgação dos resultados para a comunidade local, órgãos ambientais e gestores públicos.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
BRENDA LIMA
DIOGO LA ROSA NOVO2
JHULYANA CAMPOS CARDOSO
LEONARDO CONTREIRA PEREIRA2
SAMUEL ALVES PEREIRA
SANDRA BEATRIZ PEREIRA DA SILVA
WILIAM BOSCHETTI2

Página gerada em 03/07/2025 13:41:11 (consulta levou 0.169202s)