Nome do Projeto
DINÂMICA DAS INOVAÇÕES SUSTENTÁVEIS NO AGRONEGÓCIO ORIZÍCOLA DO RIO GRANDE DO SUL, URUGUAI E PORTUGAL
Ênfase
PESQUISA
Data inicial - Data final
09/08/2011 - 09/08/2013
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Sociais Aplicadas - Administração - Administração de Setores Específicos
Resumo
1. Caracterização do Problema O agronegócio está sendo desafiado a contribuir progressivamente para uma maior quantidade e qualidade de alimentos (MAPA, 2008; OECD/FAO, 2008). A análise retrospectiva da oferta de alimentos tem mostrado que o agronegócio tem conseguido aumentos de produtividade e de produção. A produção de alimentos dobrou nos últimos 40 anos. Parte desse incremento foi atribuída ao crescimento de 12% da área, mas os principais ganhos são oriundos da inovação tecnológica, como do uso de variedades de alto rendimento, fertilizantes químicos, mecanização, uso de agrotóxicos e irrigação (TILMAN et al., 2001; FOLEY et al., 2005). Por outro lado, a degradação dos recursos socioambientais também tem sido associada predominantemente às mesmas tecnologias. Problemas como erosão do solo, contaminação da água (TILMAN et al., 2001; FOLEY et al., 2005), contaminação dos alimentos e das pessoas (FILHO, 2001) e mudanças climáticas (IPCC, 2007) são exemplos de degradação socioambiental associadas ao agronegócio. Essas constatações criam uma situação paradoxal. Temos ao mesmo tempo um contexto que indica a necessidade de aumento na produção de alimentos, porém, esse crescimento tende a degradar os recursos necessários para sustentar essa produção. Sobre esse paradoxo, a produção agrícola pode estar trocando incrementos em produção no curto prazo por perda de serviços ambientais que são importantes para a manutenção do agronegócio no longo prazo (FOLEY et al., 2005). Vários autores defendem uma tomada de decisão e ações políticas em múltiplas escalas geográficas para a mudança de foco no desenvolvimento das inovações, reivindicando que sejam incorporados elementos de sustentabilidade (TILMAN et al., 2001; HART, 2004; FOLEY et al., 2005; SACHS, 2005; LOVINS et al., 2007; FAO, 2008b; a; CARACA et al., 2009). Nesse contexto, um dos principais desafios a serem superados pelas organizações é a necessidade de incorporar em suas estratégias a perspectiva de práticas inovadoras com vistas à sustentabilidade. Para isso, as organizações devem implementar estratégias que integrem inovação e desenvolvimento sustentável, de modo a atender simultaneamente às pressões sociais, ambientais e econômicas. Esta mudança não é irreconciliável com o crescimento econômico (HART e MILSTEIN, 2003). Ao mesmo tempo, outro fenômeno importante da economia moderna, que se soma às demandas por mais sustentabilidade e identificado nos estudos em estratégia, é a mudança ocorrida na natureza da velocidade das inovações. A competição tradicional, caracterizada pelo equilíbrio no desempenho das empresas e no ambiente estável, tem sido alterada por inovações disruptivas, comportamento competitivo agressivo, globalização, desregulamentação, indicando uma mudança para um novo tipo de comportamento organizacional, que exige necessidade de reposicionamento rápido das organizações pela inovação (D'AVENI, 1999; THOMAS e D'AVENI, 2009). 1.1 PROBLEMA TEÓRICO Segundo Hobday (2005), há uma lacuna para estudos com o propósito de entender o processo de mudança, e neste sentido, mais atenção deveria ser dada ao estudo da variedade de processos dentro e entre setores e organizações, o que contribuiria também para o entendimento dos fatores chave que determinam a evolução da inovação (HOBDAY, 2005). Quando se analisa a demanda por mais sustentabilidade nas inovações e com mais velocidade, a partir da teoria neoclássica tradicional, constata-se pequena relação. Esta teoria, pertencente ao campo da economia, é estabelecida a partir dos modelos de equilíbrio geral e parcial. Dentre as várias razões que podem ser invocadas, citam-se (POSSAS, 1989; TIGRE, 2005): • o caráter estático da teoria econômica dominante, a neoclássica, cuja abordagem predominantemente atemporal, relativa a situações hipotéticas de equilíbrio, é particularmente inadequada para lidar com os processos de mudança e quando muito é capaz de focalizar duas posições distintas sob a ótica da estática comparativa, em que o processo de transição é deixado de lado; • a organização é vista apenas como uma caixa preta, que combina fatores de produção disponíveis no mercado para produzir produtos comercializáveis; • a mudança tecnológica recebe referências secundárias, quase sempre sob rótulo sugestivo de escolha de técnicas e as tecnologias estão disponíveis no mercado, através de bens de capital ou no conhecimento incorporado pelos trabalhadores; • as possibilidades tecnológicas são usualmente representadas pela função de produção, que especifica a produção correspondente a uma combinação de fatores; e • é assumida a racionalidade perfeita dos agentes, diante de objetivos da firma de maximização de lucros. A Teoria Neo-Schumpeteriana busca obter um domínio desses fenômenos dinâmicos da realidade econômica. Nesta teoria, a concepção meso-econômica é um importante nível de análise a ser considerado, em que mudanças estruturais e qualitativas ocorrem e podem ser observadas. Para entender os processos que ocorrem neste nível, estas teorias colocam forte ênfase sobre conhecimento, inovação e empreendedorismo no nível microeconômico, em que a inovação, principalmente a tecnológica, é identificada como a força maior que propulsiona a dinâmica econômica, que associada à incerteza, considera que num conjunto de possibilidades esperadas é possível que ocorram mudanças inesperadas (HANUSCH e PYKA, 2007). Entretanto, Hanusch e Pyka (2007) criticam a Teoria Neo-schumpeteriana por entenderem que o desenvolvimento dos sistemas econômicos modernos incorpora a inovação tecnológica, assim como também a inovação organizacional, institucional e social, por isso, a Teoria Neo-Schumpeteriana, segundo Hanusch e Pyka (2007), deveria acrescentar estes elementos como mais um princípio normativo, possibilitando desta maneira contemplar mais facetas de desenvolvimentos dos sistemas econômicos abertos e incertos num mundo cada vez mais complexo (HANUSCH e PYKA, 2007). Partindo da premissa de que os sistemas são abertos e incertos, Hanusch e Pyka (2007) complementam a crítica à Teoria Neo-Schumpeteriana, pois esta teoria não contempla efeitos em todos os níveis da economia oriundos de mudanças qualitativas, mudanças estas oriundas da remoção dos limitantes que restringem a evolução do status quo; não considera que as mudanças qualitativas possuem períodos de desenvolvimento regular, assim como períodos de mudança radical; não contempla que os processos de mudança possuem forte não linearidade e efeitos de feedback e, desta maneira, são responsáveis pela formação de padrões e outras formas espontâneas de estruturação (HANUSCH e PYKA, 2007). Mudanças qualitativas, períodos regulares e radicais de mudança, efeitos de feedback, formação de padrões são algumas características de problemas complexos (LE MOIGNE, 2000; MORIN, 2003), o que sugere uma orientação complexa para as novas proposições da Teoria Neo-Schumpeteriana que pretendem incorporar mais facetas ao estudo dos fenômenos econômicos. Problemas complexos são mal estruturados, suas causas e efeitos são extremamente difíceis de identificar e de modelar, são influenciados por muitos fatores da dinâmica social, política e biofísica e, muitas vezes, estão conectados, ou são sintomas, de outros problemas (BATIE, 2008). Acrescenta-se que muitas vezes podem ter diferentes entendimentos por diferentes interessados e estão associados a elevado grau de incerteza (BATIE, 2008). Em função das críticas feitas à teoria Neo-Schumpeteriana, Hanusch e Pyka (2007) recomendam incorporar outras teorias relevante a esta teoria. Para fazer a seleção destas teorias, os autores orientam para um retorno às cinco raízes intelectuais da Teoria Neo-schumpeteriana, que, segundo eles são: o reconhecimento da importância da inovação no processo de desenvolvimento econômico e a necessidade de revalorizá-la nas novas proposições teóricas; a Teoria da Economia Evolucionária, que trata dos desenvolvimentos dinâmicos ao longo do tempo e considera a dependência de caminho (path dependence) e a irreversibilidades, tendo, como o maiores focos, a emergência e a difusão de inovações direcionadas por forças de criação, seleção e retenção; a Complexidade Econômica, pois segundo eles, os sistemas sociais participam de muitas comunalidades com as ciências da complexidade; as teorias de mudança e desenvolvimento, presentes na ideia do equilíbrio pontuado, no sentido da existência de períodos de desenvolvimento incremental e períodos de mudança radical; e a abordagem de sistemas econômicos, pois o aprendizado é considerado um processo coletivo que envolve firmas, universidades e outras instituições públicas, assim como estruturas de governança, em nível nacional, setorial, regional e corporativo (HANUSCH e PYKA, 2007). Apesar da sugestão de retorno às cinco raízes, Hanusch e Pyka (2007) não fazem, efetivamente, o retorno as raízes, não dizendo quais seriam as teorias e os seus respectivos conteúdos com vistas a propor um framework interteórico e complexo que possibilitam compreender como as organizações estão inserindo as novas demandas contextuais em seus processos de inovação. A necessidade de retorno às raízes da Teoria Neo-Schumpeteriana identificada por Hanusch e Pyka (2007) para o estudo dos fenômenos dinâmicos da atual realidade econômica subentende a exigência de práticas interteóricas, dada a diversidade de teorias e campos teóricos proposta por estes autores para as novas construções teóricas vinculadas ao campo da Teoria Neo-schumpeteriana. Práticas interteóricas implicam a geração de mudanças estruturais, reciprocidade, enriquecimento mútuo, com uma tendência à horizontalização das relações de poder entre teorias selecionadas (VASCONCELOS, 2007). A adoção de práticas interteóricas exige a identificação de uma problemática comum, como a proposta por Hanusch e Pyka (2007), com a construção de uma axiomática teórica, colocando em comum os princípios e conceitos fundamentais de cada teoria original e um esforço conjunto de decodificação e de tradução, identificando as diferenças, convergências e permitindo uma comparação contextualizada (VASCONCELOS, 2007). Uma crítica a práticas interteóricas é a tese de incomensurabilidade, ou seja, de que teorias alternativas não poderiam ser comparadas diretamente. Entretanto, Weaver e Gioia (1994) argumentam que se a comparação das teorias forem apoiadas em observações empíricas, que seguem regras e definições operacionais providas por uma plataforma para uso interteórico, supõe-se que as alterações de significado e as referências aos termos da teoria não pareçam uma ameaça à cumulatividade do conhecimento. 1.2 PROBLEMA METODOLÓGICO As características relativas à mudança e complexidade presentes na problemática sobre como as organizações estão inserindo as novas demandas presentes no contexto atual em seus processos de inovação remetem também a um desafio metodológico. A característica de complexidade não presume linearidade, sendo geralmente menos contemplada nos métodos de pesquisa social. Na complexidade, assume-se multi-dimensionalidade, que sgnifica a existência de relações complexas de causalidade entre estas dimensões, além de efeitos complementares e de imposição, de tal forma que as dimensões funcionam como redes de interação. Complexidade assume também que há possibilidade de existência de grupos de dimensões com resultados diferentes do sistema como um todo. Considera que o sistema não é estático, mas que evolui ao longo do tempo (MORIN, 2000). Por isto, a pesquisa em ciências sociais, contemplada nos métodos geralmente aceitos, pode ser pobre e inadequada se buscar compreender estes fenômenos sociais mais complexos (MASON, 2006). Essas críticas remetem a uma lacuna sobre como poderia ser estruturada uma metodologia que possibilite compreender como as organizações estão inserindo as novas demandas contextuais mutantes e complexas em seus processos de inovação. 1.3 PROBLEMA EMPÍRICO A discussão sobre como as organizações estão inserindo as novas demandas contextuais em seus processos de inovação merece atenção no agronegócio orizícola, que será analisado mais especificamente no Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA, que é a principal organização de pesquisa sobre arroz no Rio Grande do Sul. O agronegócio orizícola mundial convive com crescimento do consumo muito ajustado à produção. Este crescimento é fundamentalmente baseado no crescimento vegetativo da população, pois o consumo per capita mundial apresenta tendência de redução (IRRI, 2009). O movimento do consumo per capita decrescente ocorre em função de uma natural migração para produtos energéticos mais nobres e de maior valor agregado, como os biscoitos (GIORDANO e SPERS, 1998). Além disso, a redução do consumo ocorre também em função das alterações do estilo de vida da população que, não dispondo de tempo para preparo de refeições mais demoradas, não consome esta commodity, passando a consumir outras formas de carboidrato de maior conveniência (LAGO et al., 2007). Em termos de comércio internacional, a maior parte do que é produzido é consumido nos mesmos países produtores, desta forma, o comércio internacional é pequeno, proporcionalmente à produção, e representou 6,68% em 2006 (IRRI, 2009). O agronegócio orizícola do estado do Rio Grande do Sul, maior produtor brasileiro, encontra-se inserido dentro deste contexto mundial e também enfrenta pressões contextuais próprias do Brasil e do estado. O Brasil sempre teve a tradição de importação de arroz de países do Mercado Comum do Sul - Mercosul, principalmente do Uruguai e da Argentina, pois sempre teve um consumo maior que a produção. Entretanto, com o crescimento da produção brasileira, o país têm conseguido auto-suficiência desde a safra 2003/2004 (CONAB, 2010). Este novo contexto tem criado a necessidade de busca de novas soluções, entre elas a exportação e o desenvolvimento de novos produtos. Além disso, o agronegócio convive com pressões para aumento da produtividade agrícola, busca de alternativas para aumentar a renda do produtor rural, assim como de praticar uma agricultura ambientalmente mais segura. Este contexto de profundas mudanças e transformações tem levando inclusive as indústrias orizícolas a buscar maior competitividade através da formação de redes de cooperação visando, com a adoção dessa estratégia, aprimorar os resultados alcançados por esse setor (ESTIVALETE et al., 2006). Neste contexto de muitos desafios e mudanças no ambiente entra o Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA, principal organização de pesquisa em arroz do Rio Grande do Sul, organização criada com o intuito de dinamizar a cultura no Estado do Rio Grande do Sul, pelo desenvolvimento da pesquisa e assistência técnica aos produtores, trabalhando atualmente em temas ligados ao melhoramento de plantas, manejo da cultura, processos industriais, meio ambiente, mercado e socioeconomia. Trata-se de uma organização que constantemente se vê pressionada por produtores, políticos, indústria e órgãos de controle por respostas aos desafios enfrentados pelo setor. Neste sentido, o entendimento sobre como o IRGA está inserindo as novas demandas contextuais em seus processos de inovação pode permitir gerar conhecimento para o entendimento sobre como se dá esta dinâmica evolutiva, assim como pode também gerar conhecimento que possibilite auxiliar na tomada de decisões para implementar mudanças ou não na trajetória desta organização. Complementarmente, ele pode contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas. Quando se analisa o contexto do agronegócio orizícola português, verifica-se que este passou por mudanças significativas. Portugal é o país que possui o maior consumo de arroz per capita da Europa, com 15 kg/habitante (GPP, 2007). As empresas e os agricultores começam a inserir-se num contexto de menor protecção económica, resultantes dos diversos acordos comerciais que a União Européia realizou com outros blocos económicos. Esta abertura comercial tem produzido forte concorrência de produtos importados, que tem favorecido a mudança de consumo do arroz subespécie Japônico (Tipo Carolino) produzido em Portugal para o arroz subespécie Indica (Tipo Agulha) importado, e paralelamente no aumento da procura por tipos exóticos de arroz (basmati, selvagem, thai, entre outros) e ainda por refeições pré-preparadas. Ao mesmo tempo, estes elos do agronegócio têm sido exigidos e incentivados, considerando as preocupações com as questões ambientais e sociais 1.4 JUSTIFICATIVA TEÓRICA Considerando que a inovação é um fenômeno de fundamental importância para a manutenção de vantagens competitivas e do reposicionamento das organizações numa economia moderna (D'AVENI, 1999; THOMAS e D'AVENI, 2009), que necessita manter ou aumentar seus níveis de produtividade, orientado pela sustentabilidade (TILMAN et al., 2001; HART, 2004; FOLEY et al., 2005; SACHS, 2005; LOVINS et al., 2007; FAO, 2008b; a; CARACA et al., 2009), que é uma problemática comum a muitas teorias (HANUSCH e PYKA, 2007), e por isso exige a adoção de práticas interteóricas (HANUSCH e PYKA, 2007; VASCONCELOS, 2007), e que as teorias envolvidas devem conter características de complexidade (LE MOIGNE, 2000; MORIN, 2003; HANUSCH e PYKA, 2007), esta tese quer contribuir mais globalmente com a proposição teórica de um framework interteórico e complexo das inovações, e aplicando-o numa organização de pesquisa do agronegócio orizícola do estado do Rio Grande do Sul. Dois avanços teóricos mais específicos puderam ser obtidos no processo de elaboração do framework interteórico. O primeiro deles diz respeito à identificação de possíveis teorias que preenchem as raízes da Teoria Neo-Schumpeteriana e que possuem as características demandadas por Hanusch e Pyka (2007) para a Teoria Neo-Schumpeteriana, com vistas à novas proposições. O segundo deles teve origem na identificação de elementos comuns e complementares entre estas teorias selecionadas. Especificamente sobre este segundo avanço, emergiu, principalmente, o conceito teórico de sistema econômico, entendido como uma estrutura multinível de regras complexas que se relacionam ao longo do tempo, em que os processos pelos quais novas regras se originam, são adotadas e difundidas dentro do sistema econômico, constituem o direcionador econômico da evolução, fazendo surgir as inovações e o sistema evoluir (DOPFER et al., 2004; DOPFER, 2005). Regras é um termo analítico que pode ser aplicado em vários contextos teóricos, mas em sistemas econômicos, regras são definidas como um esquema dedutivo que permite as operações econômicas acontecerem (DOPFER et al., 2004; DOPFER, 2005). (DOPFER et al., 2004; DOPFER, 2005)(DOPFER et al., 2004; DOPFER, 2005) A ideia de estrutura multinível foi associada ao conceito de configurações. Configurações são definidas como uma constelação multidimensional de características distintas que ocorrem juntas (MEYER et al., 1993). Neste sentido, ao comparar as teorias selecionadas, esta tese avançou na identificação sobre quais regras, tanto internas, quanto externas, poderiam compor esta configuração e como as configurações de regras evoluem ao longo do tempo. Este avanço possibilitou estudar a história econômica de um sistema, não da perspectiva operacional, mas da perspectiva das regras genéricas e de suas regras de menor nível associadas e da evolução dinâmica das configurações que se sucedem, focado em inovações. Possibilitou avançar na explicação de que a inovação não pode ser explicada por fatores isolados, mas por configurações multidimensionais de fatores de múltiplos níveis da realidade. Estas duas contribuições principais é que subsidiaram o título da tese e do novo framework que passou a ser denominado de dinâmica de configurações de regras para inovação. Neste sentido, daqui para frente, cada vez que se referir a este framework, mesmo que ainda não se tenham subsídios teóricos suficientes, será utilizada a denominação: framework da dinâmica de configurações de regras para inovação. 1.5 JUSTIFICATIVA METODOLÓGICA A lacuna identificada sobre como poderia se estruturar uma metodologia que possibilite compreender como as organizações estão inserindo as novas demandas contextuais em seus processos de inovação remete à utilização da Teoria dos Métodos Combinados. A Teoria dos Métodos Combinados encoraja a pensar diferente metodologicamente, no intuito de entender a complexidade da realidade social ao permitir acrescentar métodos que possibilitem criar padrões de medida; acrescentar métodos para identificar quais dimensões são realmente importantes para um determinado fenômeno de pesquisa e como elas evoluem ao longo do tempo e identificar quais destas dimensões são comuns em diferentes contextos (MASON, 2006). A ideia central da Teoria dos Métodos Combinados está no uso de cada método e forma de dado com o objetivo de trazer conhecimento sobre uma parte específica ou de um ângulo específico no intuito de produzir um conhecimento integrado do fenômeno que está sendo pesquisado (MASON, 2006). a partir da premissa teórica que a dinâmica de inovação é complexa e assumindo também as premissas da Teoria dos Métodos Combinados, buscou-se estudar os métodos utilizados para o estudo de configurações, pois se identificou que eles possuem características de complexidade, tais como interação de elementos, evolução, complementaridades e emergência, e a partir deste estudo teórico, contribuir, identificando como eles poderiam se combinar para melhor capturar o fenômeno da dinâmica interteórica e complexa das inovações e assim propor uma metodologia. Na aplicação da metodologia proposta, uma novidade, foi a previsão de utilização de uma lógica abdutiva (Charreire e Durieux, 2003), em que se buscou desenvolver a pesquisa com constantes “idas e vindas” entre os conceitos teóricos construídos a priori e as informações advindas do campo empírico. Em termos metodológicos, a perspectiva abdutiva permitiu, principalmente, identificar a necessidade de adicionar uma representação gráfica da dinâmica das regras adotadas pelo IRGA, que foi denominada de cluster de regras genéricas na metodologia previamente proposta, tendo esta inclusão facilitado o estudo das dinâmica das configurações. Portando, há um imbricamento entre aspectos metodológicos e teóricos nos resultados. Na aplicação, um avanço que se buscou realizar foi a utilização do método de análise qualitativa comparativa (QCA) (RAGIN, 2007; GRECKHAMER et al., 2008) no estudo das dinâmicas de configurações ao longo do tempo. O método tinha até então sido aplicado numa abordagem estática. Nesta mesma lógica, buscou-se avançar na representação e análise das configurações através do método de análise de redes (WASSERMAN, FAUST, 1994). 1.6 JUSTIFICATIVA EMPÍRICA A produção mundial de arroz é uma atividade econômica que tem tido crescimento contínuo nas últimas décadas. Em 1961, foram produzidos 150,8 milhões de toneladas de arroz (sem casca), passando a 417,8 milhões em 2006. Cresceu 177,02% entre 1961 e 2006, ou a uma taxa de 2,24% a.a. (IRRI, 2009). Na América do Sul, observou-se o mesmo comportamento. A produção sul-americana de arroz cresceu entre 1990 e 2007, 40,24%. Em 1990, foram produzidos 9,905 milhões de toneladas de arroz em casca, passando a ser produzidas 14,02 milhões de toneladas em 2007, ou seja, cresceu a uma taxa de 2,06% a.a.. O aumento maior de produção do que do consumo tornou a América do Sul de deficitário no comércio internacional de arroz para superavitária. Em 1990, havia um déficit de 642 mil toneladas e, em 2007, conseguiu-se um superávit de 410 mil toneladas. Dessa forma, a balança comercial cresceu no período a uma taxa de 5,69%. Na América do Sul, o Brasil é o maior produtor. Em 2007 foram produzidos no Brasil 11,08 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul é o estado com a maior produção no Brasil, com 1.049,60 hectares de área plantada de arroz em 2004/2005, sendo responsável por 45% do arroz em casca colhido no país (MAPA, 2008). No Rio Grande do Sul, esse agronegócio é responsável por, aproximadamente, 230 mil empregos diretos, envolvendo produtores, beneficiadores e trabalhadores (BARATA, 2005). Com base nos problemas e nas justificativas teóricas, metodológicas e empíricas discutidas, essa tese se concentra na seguinte questão de pesquisa: como uma organização pode inserir as contínuas demandas contextuais em seus processos de inovação, com base em configurações de regras?

Objetivo Geral

Propor um framework interteórico e complexo sobre a dinâmica configuracional das regras para inovação e fazer a aplicação nos institutos de pesquisa orízicola do Rio Grande do Sul, Uruguai e Portugal. Propor um framework interteórico e complexo sobre a dinâmica configuracional das regras para inovação e fazer a aplicação nos institutos de pesquisa orízicola do Rio Grande do Sul, Uruguai e Portugal. Objetivos Específicos

a) Identificar quais teorias preenchem as cinco raízes propostas por Hanusch e Pyka (2007), visando propor framework interteórico e complexo sobre a dinâmica das inovações;
b) decompor e juntar as teorias identificadas, a partir das comunalidades e complementaridades;
c) identificar, teoricamente, métodos que contemplem as características de complexidade e propor uma metodologia de pesquisa com os métodos escolhidos; e
d) aplicar o framework teórico.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
10
10

Fontes Financiadoras

Sigla / NomeValorAdministrador
CNPqR$ 20.000,00

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