Nome do Projeto
KANT E A ‘ANALÍTICA DA RAZÃO PRÁTICA PURA’: O FACTUM DA RAZÃO E A JUSTIFICAÇÃO DA MORALIDADE
Ênfase
PESQUISA
Data inicial - Data final
12/11/2012 - 13/11/2013
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas - Filosofia - Ética
Resumo
Ao fazer apelo a um Factum da razão (Factum der Vernunft) para a justificação tanto da liberdade (Freiheit), quanto da lei moral (moralische Gesetz), Immanuel Kant (1724-1804) suscitou desconfianças por parte de inúmeros de seus principais comentadores. Kant mesmo havia considerado este Factum como inexplicável (unerklärliches). Em decorrência desta posição, tornou-se bastante corrente a opinião de que, com o mencionado apelo ao Factum, houve não somente aquilo que parece ter sido um significativo abandono de sua tarefa crítica – na passagem da Grundlegung zur Metaphysik der Sitten (GMS, 1785) à Kritik der praktischen Vernunft (KpV, 1788) – mas também, dada a dimensão desta mudança, uma possível recaída num dogmatismo, tal qual aquele que o próprio autor havia já execrado veementemente em sua obra seminal Kritik de reinen Vernunft (1781; KrV). Lewis White Beck mesmo ressaltando a dualidade apresentada pelo uso do Factum alternando-se entre consciência da lei, e lei moral mesma; ou ainda, autonomia (BECK,1984,p.167), interpreta o Factum como “fact of reason” (BECK, 1984, p.168), considerando a razão pura como efetivamente prática, que a partir de si mesma pode ser capaz de apresentar uma determinação à vontade, corroborando assim a tese kantiana de que esta razão prática efetivamente se prova pelo ato (BECK, 1984, p.168). Dieter Henrich introduz a expressão sittliche Einsicht (algo como um insight moral), e, embora Kant não tenha feito uso desta expressão especificamente, ela pode nos ser bastante útil na tentativa de uma melhor compreensão da doutrina do Factum, que para Henrich, mesmo que o uso do Factum aponte para o notório fracasso da dedução de Kant (HENRICH, 1960, p110), sugere uma interessante perspectiva de que mediante tal doutrina há uma mudança significativa em relação a um elemento emocional, a saber, uma nova perspectiva acerca do respeito pela lei, único elemento capaz de validar de forma legítima uma vontade como propriamente moral (HENRICH, 1960, p.112). Ainda Henry Allison alerta para o descrédito com o qual o recurso ao Factum da razão na segunda Crítica foi recebido pelo consenso geral, e que esta perspectiva, não obstante, aponta para a GMS como sendo o lugar onde talvez mais próximo Kant tenha chegado de uma dedução (ALLISON, 1990, p.230). Nos interessa particularmente sua consideração, contrária a de Beck, de que mesmo considerando a expressão Factum da razão como um fato ‘da’ razão, não decorre que ele prove que a razão pura é efetivamente prática (ALLISON, 1990, p.233), para Allison, recorrer ao Factum como prova desta efetividade, seria assumir o próprio abandono daquilo em que consiste propriamente a tarefa da segunda Crítica, qual seja, “...demonstrar que há uma razão prática pura...” (KANT. KpV, A 3). A partir de tais considerações pretende-se investigar como se pode afirmar, ademais, a manutenção crítica da argumentação kantiana na segunda Crítica, mesmo que o apelo ao Factum possa parecer, num primeiro momento, um recurso insuficiente e extremamente problemático.

Objetivo Geral

A pretensão deste projeto visa a uma investigação da figura do Factum inserido na argumentação da Analítica da razão prática pura (Analytik der reinen praktischen Vernunft) e sua função nesta passagem específica da obra, pois parece oferecer subsídios bastante sólidos para não só refutar os equívocos cometidos em relação a real significação do Factum dentro da Kant-Forschung, como também subsidiar uma reflexão acerca da vultosa representatividade crítico-sistemática desta figura enquanto elemento imprescindível e definitivo para o estabelecimento e justificação de toda a fundamentação da moralidade proposta por Kant. O mais coerente parece ser a tentativa de sustentar a tese de que se trata de um Factum sui generis, que tem fundamentalmente o objetivo de justificar a realidade do uso prático da razão pura.

Equipe do Projeto

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