Nome do Projeto
Da gramática ao discurso – estudo do aposto sob o viés discursivo
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
30/04/2020 - 15/08/2022
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Linguística, Letras e Artes
Resumo
Neste projeto, propomos estudar o funcionamento da língua na sua relação com o discurso, bem como o funcionamento do discurso na construção de práticas históricas de disputa e estabilização de sentidos. Tomaremos como objeto de estudo textos produzidos em suportes midiáticos – rádio, televisão, blogs e redes sociais. Interessa ver especificamente como as estruturas apositivas (função sintática de aposto), tratadas como um termo acessório pela Gramática Tradicional, compõem o universo discursivo e como se comportam no interior dos diferentes dispositivos, conformando as práticas que nos constituem como sujeitos históricos.

Objetivo Geral

Objetivo Geral
Compreender o funcionamento das estruturas apositivas em diferentes discursos.

Objetivos específicos
Verificar as diferentes formas de inserção de estruturas apositivas nos discursos.
Comparar os estudos da tradição gramatical sobre o aposto com uma visão linguístico-discursiva.
Identificar, por meio das estruturas apositivas, as posições-sujeito colocadas em cena no discurso.
Analisar a relação entre os apostos e a configuração das diferentes formações discursivas.

Justificativa

Este projeto se justifica pela proposta de estudar o fenômeno sintático de aposição sob a perspectiva discursiva.
A função sintática de aposto é descrita pela tradição gramatical como um termo acessório no interior da oração. Segundo Cunha e Cintra (1985, p. 151), o aposto “é o termo de caráter nominal que se junta a um substantivo, a um pronome, ou a um equivalente destes, a título de explicação ou de apreciação”. Almeida (1999, p. 435), ao definir aposto, embora não fale em termo acessório, em suas explicações diz da posição do aposto em relação ao “fundamental”. A relação de subordinação (sintática e semântica) norteia a totalidade de definições.
Contraponto a essa abordagem vem da Linguística. Azeredo (2007), numa perspectiva pragmática, problematiza a ideia de termo acessório. Para ele, o discurso significa num intertexto, com outros discursos com os quais compartilha a responsabilidade do sentido. Questiona a ideia de simples co-referenciação, corrente nas abordagens tradicionais, em frases como “Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas, nasceu em Alagoas”, em que “Graciliano Ramos” e “autor de Vidas Secas” têm o mesmo referente. Segundo o autor, “a utilidade discursiva dessas expressões não está no fato de apontar para o mesmo referente do nome próprio, mas no de adicionar uma informação relevante na situação comunicativa” (Azeredo, 2007, p. 147). Nessa perspectiva, o fenômeno da aposição na língua deixa de ser visto como marginal – e, não raras vezes, em situações de ensino, o aposto é apresentado como dispensável na oração –, para ser o lugar do imprescindível do dizer, sem o qual a própria coerência do enunciado ficaria comprometida.
Partindo da ideia de que a estrutura aposta pode carregar o mais do sentido do enunciado, ou seja, vinculado à argumentação, tem muitas vezes, a função de sustentação dos sentidos, propomos neste projeto uma abordagem discursiva.
O estudo de questões geralmente identificadas como gramaticais, se vistas discursivamente, perdem o seu caráter formal estrutural e passam a tratar de como o linguístico constitui o discurso e é por ele constituído e que efeitos de sentido resultam desse funcionamento. Estamos pressupondo que as relações de poder que se instituem nas interações sociais têm nas estruturas apositivas uma fundação importante para garantir seus ajustes, suas reconfigurações, sua legitimação e sedimentação. Interessa ver como funciona e como se movimenta o aposto em diferentes discursos.
Os textos – mesmo aqueles que dão forma a interações mais espontâneas – materializam discursos, não são, pois, objetos autônomos sustentados tão somente pela competência linguística dos falantes. Dessa forma, nos estudos discursivos, as questões de uso da língua, antes de se apresentarem como escolhas linguísticas que estão à disposição dos falantes no eixo paradigmático, passam a responder sobre os efeitos de sentido que dali ecoam e sobre o lugar da constituição dos sentidos.
Para a Análise do Discurso, conforme Pêcheux (1988) as sequências linguísticas estão ligadas a formações discursivas que as fazem dotadas de sentido, uma vez que a formação discursiva é o lugar de constituição do sentido. A formação discursiva tem como regra de sua constituição as contradições unidade-diversidade e coerência-heterogeneidade e se organiza em dois níveis: interdiscursivo – ideológico – e o intradiscursivo – da formulação (Courtine, 1981). O discurso se constrói na articulação desses dois eixos indissociáveis, ou seja, “a forma sintática não é indiferente ao conteúdo léxico-semântico do discurso, e reciprocamente" (Courtine, 1981, p. 84). Assim, diz Pêcheux (1988, p. 160), "o sentido de palavras, proposições, etc., não existe em si mesmo, [...] mas, ao contrário, é determinado pelas posições ideológicas que estão em jogo no processo sóciohistórico no qual as palavras, expressões, proposições são produzidas". Nesta pesquisa interessa ver como funciona e como se movimenta o aposto nos discursos caracterizados como polêmicos. Iremos trabalhar com textos que expõem a disputa pelos sentidos e ver as diferentes relações que se estabelecem entre as posições sujeito colocadas na cena discursiva de enunciados marcados pela presença do fenômeno de aposição da língua.
Destaco ainda a contribuição que os estudos discursivos têm a dar ao ensino de língua materna para qualificar o trabalho de análise linguística, leitura/interpretação e escrita, porque, sem prescindir de estudar a forma como o texto é construído, busca compreender como a língua funciona socialmente, de modo a formar o aluno/cidadão crítico, atento às questões de uso da língua, buscando entender como a língua funciona para fazer sentido.

REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1999.
AZEREDO, José Carlos. O aposto e o intertexto. In: AZEREDO, José Carlos. Ensino de português: fundamentos percursos, objetos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2007. P. 129-143.
COURTINE, Jean-Jacques. Analyse du discours politique. Paris: Larousse, Langages 62, 1981.
CUNHA, C. & CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso. Uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução Eni Pulcinelli Orlandi [et al.] Campinas: Editora da Unicamp, 1997.

Metodologia

Constituição do corpus
O corpus deste trabalho será formado por textos de diferentes gêneros coletados de suportes midiáticos – rádio, televisão, blogs e redes sociais –, conforme os critérios a seguir:
1. Textos públicos.
2. Textos sobre temas polêmicos em que haja disputa pela prevalência de sentidos.
3. Textos com ocorrência de estruturas apositivas.

Procedimento de análise
1. Formação de arquivo - serão coletados textos da Internet com ocorrência de estruturas apositivas e anexados textos necessários à contextualização dos textos de referência. Posteriormente, serão selecionados recortes dos textos, que serão organizados em sequências discursivas para análise.
2. Seleção de sequências discursivas com ocorrência de aposto. A noção de sequência discursiva (SD) é tomada de Courtine (1981, p. 25), que afirma que as SDs são delimitações feitas no corpus para os propósitos da análise.
3. Identificação dos diferentes tipos de aposto conforme os estudos gramaticais e linguísticos.
4. Análise do funcionamento do aposto em diferentes discursos - nas sequências discursivas selecionadas serão analisados a) a relação entre os apostos e os saberes das formações discursivas; b) a relação entre o aposto e as posições-sujeito colocadas em cena; c) as marcas de heterogeneidade presentes nos discursos.

Indicadores, Metas e Resultados

Metas
1. Constituir banco de dados de estruturas com ocorrência de aposto em textos .
2. Produzir artigo acerca do tema da pesquisa.
3. Incentivar acadêmicos dos cursos de Letras a refletir sobre a relação entre gramática e discurso.
4. Orientar alunos de trabalho de conclusão de curso na área de gramática e discurso.
5. Apresentar resultados da pesquisa em eventos científicos da área de Letras e Comunicação.

Indicadores
1. Ter o um banco de dados de estruturas apositivas presentes me discursos.
2. Ter orientado, no mínimo, dois trabalhos a acadêmicos na área de texto e discurso.
3. Ter apresentado resultados pela equipe da pesquisa em, no mínimo, dois eventos científicos.
4. Ter publicado, no mínimo, um artigo sobre a pesquisa.

Resultados esperados
Espera-se contribuir com a área específica de estudos sobre texto e discurso, trazendo à discussão questões relacionadas à produção de sentido e a relação entre gramática e discurso.
Espera-se também que a pesquisa motive novos trabalhos e publicações no curso de Letras e Jornalismo acerca do discurso em sua relação com a língua.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
Amanda Castro Afonso
MARCIA DRESCH6
MARIA DE CÁSSIA SPECHT PINTANEL

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