Procedimento de coleta
O estudo será realizado através de um formulário online (o link está disponível no anexo III) divulgado para mulheres de todo Brasil. Através do formulário serão solicitados dados sócio demográficos das participantes e também a construção de narrativas sobre as suas vivências durante a pandemia de COVID-19. Alguns questionamentos serão utilizados como disparadores para a construção das narrativas.
Cada participante será convidada (através de orientação escrita) a construir as narrativas sobre suas vivências durante a pandemia de COVID-19 por meio da associação livre . Visamos favorecer a construção de narrativas significativas, que nos permitam conhecer as repercussões subjetivas das vivências durante a pandemia de COVID-19. Além disso, consideramos que a possibilidade de relatar tais vivências pode guardar um potencial elaborativo das experiências vividas. Assim, aos moldes de uma pesquisa intervenção, cuidaremos para não dissociarmos a produção de conhecimento do benefício imediato dos participantes:
(...) tornam-se desejáveis procedimentos de pesquisa que não apenas permitam a detecção de dados como também propiciem ou facilitem mudanças a partir de elaboração reflexivo-vivencial dos próprios sujeitos, de acordo com o paradigma clínico. A clínica psicodinâmica permite a expressão subjetiva, a interpretação e a transformação. Traz, assim, ensinamentos que podem ser transpostos para o âmbito sociodinâmico, articulando vinculadamente investigação e intervenção (Aiello-Vaisberg, 1995, p. 114).
Todas as mulheres maiores de 18 anos que se dispuserem a participar da pesquisa serão incluídas na coleta de dados. As mulheres que não se dispuserem a participar da pesquisa e as menores de 18 anos serão excluídas da pesquisa.
V.3 Procedimento de análise
As narrativas produzidas pelas mulheres serão lidas e re-lidas diversas vezes, viabilizando reflexões clínico-teóricas. Além disso, as pesquisadoras redigirão narrativas transferenciais (Aiello-Vaisberg, Machado, Ayouch, Caron & Beaune, 2009) registrando aquilo o que lhes foi evocado, a partir das narrativas das participantes. Desse modo, as pesquisadoras incluirão, nas narrativas transferenciais, os sentimentos que nelas foram evocados, bem como suas associações livres, despertadas pelas narrativas das participantes, incluindo a sua própria singularidade, tão imprescindível na produção de conhecimento numa investigação psicanalítica.
A partir da leitura e releitura das narrativas produzidas pelas participantes e das narrativas transferenciais redigidas pelas pesquisadoras, o passo seguinte será o de analisar esse material seguindo o método psicanalítico. Assim, do mesmo modo que adotamos o método psicanalítico para a construção das narrativas pelas participantes, quanto na redação das narrativas transferenciais, seguiremos fazendo uso do método psicanalítico na análise do material. Para tanto, em reuniões científicas, nos debruçaremos sobre esse material buscando compreendê-lo interpretativamente, isto é, identificando os múltiplos sentidos que atravessaram os discursos das participantes do estudo. A estratégia, nesse momento, será a de adotarmos a atenção flutuante, assumindo uma postura de desprendimento em relação à teoria pré-existente sobre o tema, a julgamentos e valores pessoais:
Todo o processo é presidido pelo cultivo da atenção flutuante. As mesmas recomendações psicanalíticas, no sentido de permitir ao paciente que o que venha à mente seja comunicado de modo solto, livre e sem censura, conhecidas como associação livre, tem sua contrapartida na assunção deste especial estado chamado de atenção flutuante por parte do analista. Um bom jeito de pensar nisso é lembrar de jogos do tipo “Olho mágico”, nos quais uma nova figura pode se formar se deixarmos de focalizar do modo como normalmente o fazemos (Aiello-Vaisberg, 1999, p. 256).
Analisaremos, desse modo, o material constituído pelas narrativas produzidas pelas participantes e as narrativas transferenciais das pesquisadoras deixando-nos impressionar pela intensidade de uma expressão, palavra ou ausência de expressão que nos desperta a atenção, como um tom desafinado aos nossos ouvidos, ao invés da quantidade de vezes em que um tema qualquer foi mencionado pelas participantes (Ferreira, 2006). Esses aspectos serão pensados e analisados de forma articulada aos atravessamentos sociais (raça, classe, orientação sexual, maternidade, etc) que atingem as mulheres em nossa sociedade.
Considerações e aspectos éticos
Em nossa pesquisa seguiremos as determinações da Resolução do Conselho Nacional de Saúde, nº 510, de 07 de abril de 2016 que normatizam as condições das pesquisas que envolvem seres humanos. Será considerado a ética, a preservação da identidade dos participantes e a proteção dos mesmos quanto a riscos ou perdas. Os participantes serão informados sobre o tema da investigação e suas implicações, sendo esclarecidos seus direitos enquanto participantes de pesquisa, estando disponível no formulário online enviado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os formulários serão preenchidos de forma anônima. Os arquivos dos formulários serão preservados pela coordenadora da pesquisa por até cinco anos após o término da pesquisa sendo posteriormente destruídos. Além disso, as participantes serão informadas sobre a possibilidade de em qualquer momento desistir de sua participação na pesquisa sem que isso represente nenhum prejuízo para as mesmas.