Recentes avanços na análise computadorizada de imagens médicas proporcionaram o surgimento de métodos e técnicas que auxiliam o radiologista no diagnóstico precoce de uma série de doenças. O desenvolvimento tecnológico proporciona uma melhoria na qualidade de vida dos seres vivos devida, principalmente, à facilidade, rapidez e flexibilidade no acesso à informação.
Na especialidade médica veterinária de radiologia, o profissional se depara constantemente com a necessidade de tomada de decisões frente a uma quantidade muito grande de informações, obtidas principalmente com a análise das imagens.
Os seres humanos, em geral, possuem grandes limitações em sua habilidade visual, o que pode prejudicar a análise e extração de informações pela inspeção de imagens. O estudo com Machine Learning (ML), no caso específico médico de aprendizado profundo com redes neurais (RN) vem acompanhado de grande interesse e seu desenvolvimento tem modificado vários aspectos do nosso dia-a-dia e, com certeza, vai revolucionar também a área da saúde.
A ideia de que o impacto será grande, com provável transformação da prática clínica do dia-a-dia em algumas áreas como radiologia, patologia, oftalmologia e diagnósticos oftalmológicos tem sido corroborada por publicações científicas. Na dermatologia, um algoritmo para uso no celular foi desenvolvido para a diferenciação de melanomas de outras lesões cutâneas com a mesma acurácia que um grupo de dermatologistas humanos (ESTEVA et al., 2017). Na patologia, o uso de algoritmos no estudo de Liu e colaboradores (2017) demonstrou maior sensibilidade na detecção de células tumorais em amostras histopatológicas. Na oftalmologia, trabalhos sobre a detecção e classificação da retinopatia diabética demonstram a aplicação clínica de LM no diagnóstico de lesões da retina (USMAN et al., 2014).
Outra questão que merece destaque, segundo Choy e colaboradores (2018), é o fato de que o diagnóstico do radiologista é normalmente baseado em uma interpretação fundamentalmente qualitativa dos dados, que sofre influência de diversos fatores externos, como por exemplo, a baixa qualidade e/ou problemas no método de aquisição da imagem, sobreposição de estruturas, e fatores pessoais, como fadiga visual, distração, entre outros.
Esses fatos corrobam com o estudo de Massad (2008), que mostra que em 20% das vezes dentro do estudo os radiologistas discordavam entre si ao perguntar se uma imagem era normal ou não, e ainda chama isso de “variabilidade Inter observacional” que seria a variação de opinião entre aqueles que observam a imagem. E ainda relatou que quando um mesmo radiologista revia a mesma imagem no outro dia, entre 5 a 10% das vezes se contradizia a sua primeira análise.
Na radiologia, tanto as competições de uso de ML do congresso anual da Radiological Society of North America em 2017 para definição de idade óssea e 2018 para o diagnóstico de pneumonia, como o lançamento de um jornal específico de ML em radiologia (RSNA, 2019), demonstram a preocupação da participação das sociedades de radiologia no desenvolvimento de instrumentos de ML para o diagnóstico por imagem.
A mudança está aí e nós, radiologistas, que sempre tivemos nossa atuação intimamente relacionada a evolução tecnológica, não ficaríamos alheios à ML, que possivelmente permitirá uma medicina de precisão e personalizada. Artigos de revisão como este de Koenigkam-Santos e colaboradores (2019) introduzem conceitos que permitem o aprofundamento do entendimento dessa nova era.
O diagnóstico médico é um processo em que a tomada de decisões está diretamente associada. Para que o processo de diagnóstico atinja seus objetivos, o profissional deve analisar e processar rapidamente uma grande quantidade de dados e informações.
Nesse sentido, a tecnologia surge como uma poderosa ferramenta auxiliar para o tratamento dessa informação, facilitando e dinamizando sua coleta, armazenamento, filtragem, processamento, transmissão e disponibilização no momento necessário.
Já que as redes neurais vêm apresentando resultados promissores em múltiplas áreas da medicina, se faz necessário o estudo das mesmas no ramo da radiologia veterinária, estando sempre em busca de avanços em nossas áreas de estudo.