Nome do Projeto
Organização dos trabalhadores de empresas-aplicativo no contexto de fetichização da liberdade
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
23/05/2020 - 23/05/2024
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Sociais Aplicadas
Resumo
A fetichização da liberdade é um fenômeno ideológico que tem suas raízes no liberalismo econômico clássico e se renova e assevera no neoliberalismo. Assume-se que é ideológico porque, seguindo Lukács (2013), apresenta um caráter prático-operacional já que orienta a ação do ser social no processo de resolução de seus problemas e alivia conflitos sociais e tensões entre as classes (LUKÁCS, 2013). Suas manifestações contemporâneas abarcam, entre outras, noções interdependentes como empreendedorismo e homem empreendedor, economia de compartilhamento, gig economy e uberização do trabalho, sendo estas potencializadas pelo surgimento das empresas-aplicativo e, consequentemente, pela expansão de um proletariado predominantemente vinculado aos serviços. Por meio de pesquisa documental, observação não-estruturada e entrevistas semi-estruturadas procura-se caracterizar as organizações de luta de trabalhadores de empresas-aplicativos existentes ou em formação e compreender o conteúdo dessas lutas em face da fetichização da liberdade.

Objetivo Geral

Realizar a crítica ontológica da organização de luta dos trabalhadores das empresas-aplicativo no contexto de fetichização da liberdade como fenômeno ideológico.

Justificativa

Entende-se a necessidade de realizar uma crítica ontológica à organização das lutas dos trabalhadores de empresas-aplicativo no contexto de fetichização da liberdade, a fim de resgatar o solo ontológico em que essas lutas se descortinam, a historicidade das relações aí estabelecidas, bem como explicitar as contradições e conflitos dessa práxis de luta. Trata-se, portanto, de uma crítica ao modo de produção capitalista, que encontra no contrato de trabalho assalariado o fenômeno originário da fetichização da liberdade e no trabalho via aplicativos, que escamoteia a figura do contrato e alça o trabalhador a posição de empresário de si, uma de suas expressões contemporâneas.
Diante desse cenário, algumas temáticas e conteúdos já se fazem notar no que se refere à organização da luta dos trabalhadores das empresas-aplicativo com relatos e experiências com diferentes perfis e finalidades nos Estados Unidos, em países da Europa, na Austrália e, principalmente, na América do Sul, o que demonstra a necessidade e urgência na análise desses movimentos.
Esse perfil multifacetado das lutas dos trabalhadores das empresas-aplicativo corresponde a diversidade de mediações decorrentes das reflexões sobre a concretude do processo de vida, das relações que os seres humanos estabelecem com a natureza e com os seus iguais, em suas relações sociais. Tornam-se, portanto, mais complexas e emaranhadas a medida em que a divisão do trabalho se expande quantitativa e qualitativamente. Sob o domínio do capital, o trabalho como modelo de toda práxis social perde sua função mediadora entre natureza e ser humano, reduzindo-o a mera individualidade ao executar trabalhos cada vez mais desprovidos de sentido para a sua vida.
No entanto, a história como um processo de mediações humanas não pré-determinadas tem na luta de classes o movimento concretizador da generidade humana, independente de quando e onde ocorram essas lutas. Essa compreensão da realidade a partir das mediações particulares permite captar a totalidade do real e, com isso, descortina contradições, limitações e possibilidades para a organização das lutas dos trabalhadores das empresas-aplicativo.

Metodologia

O método, aqui entendido como procedimento metodológico, se submete a matriz epistemológica que guia essa pesquisa: o materialismo histórico dialético que, ao considerar o homem em sua ontologia de ser de social, é, portanto, ontológica. Logo, “não há uma questão de método no pensamento marxiano”. O que existe é uma questão ontológica. “Se por método é entendido uma arrumação operativa, a priori, da subjetividade, consubstanciada por um conjunto normativo de procedimentos, ditos científicos, com os quais o investigador deve levar a cabo seu trabalho, então, não há método em Marx” (Chasin, 2009, p. 89).
Para o materialismo histórico dialético, o conceito de totalidade é fundamental. Os fatos só alcançam significado quando referidos ao todo. Nada pode ser definido isoladamente. A totalidade é um todo, porém um todo ordenado. O todo está em processo, ele é esse conjunto de mutações. A ordenação das partes constituintes do conjunto é que possibilita o alcance do significado, isto é, o sentido real da coisa vem pelo conjunto interligado. Se a totalidade é esse conjunto, o conhecimento é a reprodução deste conjunto (CHASIN, 2009).
Além disso, “a forma (lógica) do método deve subordinar-se ao conteúdo, ao objeto, à matéria estudada” (LEFEBVRE, 2009, p. 34), o que implica levar em consideração a agenda prática e teórica das organizações de luta dos trabalhadores de empresas-aplicativo. Ela ocorre no e com essas organizações sociais, desde e não sobre elas. Muito além de coletar informações, a pesquisa se coloca à disposição da luta, por convicção, por uma participação ativa e engajada, comprometida com os objetivos e estratégias desses grupos, compartilhando questões éticas e políticas, crenças e experiências.
Ademais, cada experiência de luta demanda e produz seus próprios recursos e procedimentos. Não há um priori na investigação, é a organização da luta quem conduzirá o trajeto da pesquisa. A chave está nas operações reais que os procedimentos ajudam a gerar. O importante não é a escolha por esse ou aquele instrumento, mas o que eles produzem, que modificações geram, aonde levam (MALO, 2004). Um instrumental que tenha, portanto, valor de uso para esses trabalhadores e suas organizações de luta.
Nesse sentido, não há como definir os procedimentos de coleta de dados sem uma inserção no campo e uma compreensão mais profunda da sua organização. Assim, é a partir da análise dessas vivências de organização da luta associadas com as táticas e estratégias dos grupos, que a pesquisa busca identificar e analisar representações, conflitos, contradições e possibilidades que implicam na práxis dos ativistas e trazem significado e rumo à luta.
Para além disso, reitera-se o pressuposto de que unicamente pela perspectiva de trabalhadores que se organizam coletivamente e que se relacionam com o mundo social do qual fazem parte é que se poderá compreender as contradições da lógica de organização capitalista no contexto dessas lutas.

Indicadores, Metas e Resultados

INDICADOR: número de organizações de trabalhadores identificadas.
META: identificar organizações de trabalhadores na América Latina.
RESULTADOS: mapeamento da existência de organizações de luta nos países latino-americanos.

INDICADOR: conteúdo das lutas das organizações de trabalhadores.
META: coletar dados de organizações brasileiras e de mais cinco países da região.
RESULTADOS: relatório com o conteúdo da coleta de dados, publicações em periódicos, orientações de trabalhos de graduação e pós-graduação finalizadas.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
FABIANO MILANO FRITZEN5
JULIANO FERNANDES DE MEDEIROS
RUANA PEREIRA ARAUJO

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