Nome do Projeto
Impacto da Covid-19 nos atendimentos odontológicos realizados no SUS
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
30/06/2020 - 28/02/2021
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
A pandemia da COVID-19 vem preocupando as autoridades em vista da alta taxa de contágio e o impacto causado aos sistemas de saúde. Ainda que a ciência tenha avançado muito, ainda não existem medicamentos específicos ou vacinas para prevenção ou tratamento da COVID-19; assim, medidas coletivas e individuais de distanciamento e isolamento social, testagem em massa para detecção dos casos e estímulo a hábitos de higiene de mãos, objetos e ambientes foram propostos pela Organização Mundial da Saúde para diminuir as taxas de contágio. Na Odontologia, protocolos foram estabelecidos, considerando a necessidade de distanciamento social e a maior suscetibilidade dos cirurgiões-dentistas ao contágio, devido ao contato com secreções orais e nasais e aerossóis produzidos nos atendimentos. Uma das recomendações relacionadas aos atendimentos foi que apenas aqueles de urgências odontológicas, como dor, infecções em espaços faciais e traumas dentários fossem realizados. Em vista disso, o objetivo deste projeto será avaliar o efeito da pandemia pela COVID-19 nos procedimentos e consultas odontológicas no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) do Brasil. Será conduzido um estudo ecológico, de série temporal, utilizando dados de domínio público fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Sistemas de Informação do Sistema Único de Saúde do Brasil. Serão coletados dados, dos meses e anos de 2019 a 2020, referentes à oferta de procedimentos odontológicos, tais como exodontias, procedimentos restauradores e preventivos, realizados em todos os municípios brasileiros na APS, e acesso, referente à primeira consulta odontológica programática. Ainda, serão coletados dados referentes ao porte populacional, cobertura pela Estratégia de Saúde da Família e Equipes de Saúde Bucal, Índice de Gini e Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios brasileiros e regulamentação dos decretos estaduais quanto ao isolamento social e realização de procedimentos odontológicos. Será feita análise descritiva do número de procedimentos odontológicos e consultas odontológicas realizados e reportados pelo município, de janeiro de 2019 a dezembro de 2020, e destes de acordo com as variáveis independentes. Para avaliar a tendência das taxas dos procedimentos e consultas será utilizada a regressão linear ponderada pelos quadrados mínimos da variância, considerando significativos os valores p< 0,05. Da mesma forma, a associação entre as variações nas taxas e as variáveis relacionadas ao município será verificada através de regressão linear, estimando os coeficientes da regressão e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%). Todas as análises serão conduzidas no pacote estatístico Stata 14.0.

Objetivo Geral

Avaliar o efeito da pandemia pela COVID-19 nos procedimentos e consultas odontológicas no âmbito da Atenção Primária à Saúde do Brasil.

Justificativa

A Covid-19 (Coronavírus Disease 2019) surgiu na cidade de Wuhan (China) e - quase 6 meses após os primeiros casos - se encontra presente nos cinco continentes infectado mais de 5 milhões e 500 mil pessoas. Sendo declarada pandemia pela Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020; HUANG et al., 2020), a Covid-19 preocupa diferentes autoridades pela elevada taxa de contágio, grandes populações susceptíveis, falta de tratamento específico e considerado número de indivíduos que necessitam de internação hospitalar, o que tende a colapsar a capacidade de atendimento dos sistemas de saúde (CHATTERJEE et al., 2020; GORBALENYA et al., 2020; HUANG et al., 2020; JIN et al., 2020). As formas de controlar a pandemia, implementadas por diferentes países e recomendada pela OMS, são determinar medidas coletivas e individuais de distanciamento e isolamento social, testagem em massa para detecção dos casos e, estímulo a hábitos de higiene de mãos, objetos e ambientes (MENG; HUA; BIAN, 2020; MORADI; VAEZI, 2020). Recentemente uma revisão sistemática apontou para a efetividade da quarentena e isolamento social, com redução de 44% a 81% de contaminados e 31% a 63% do número de mortes, sendo maior quando combinado com outras medidas de distanciamento social (NUSSBAUMER-STREIT et al., 2020). Outra meta análise constatou que o distanciamento de um metro protege contra o contágio e, essa proteção aumenta com dois metros, sendo o uso de máscaras e óculos também associados com um aumento na proteção (CHU et al., 2020).
No Brasil o primeiro caso foi confirmado no fim de fevereiro (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2020) e, três semanas após, com mais de mil casos confirmados o Ministério da Saúde Brasileiro determina que o país se encontra em transmissão comunitária do vírus (BRASIL, 2020b). A partir de então, decretos estaduais e municipais são intensificados com medidas de distanciamento social e de isolamento ou quarentena para casos confirmados da doença. Quatro meses após o primeiro caso, o Brasil já é o segundo país do mundo com maior número de pessoas infectadas, ultrapassando a marca de 500 mil casos e 30 mil mortos pela doença, segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2020c). Uma pesquisa epidemiológica brasileira visa observar a evolução da Covid-19, considerando uma amostra de 25% da população (HALLAL et al., 2020). Os resultados da primeira rodada de testes, realizada em 133 cidades das 27 unidades federativas brasileiras de 14 a 21 de maio, observou uma estimativa de 760 mil casos, contra 106 mil das estimativas governamentais no período (HALLAL et al., 2020). Neste estudo, observa-se que existem diferentes prevalências da Covid-19 em todo o país, maiores na macrorregiões norte e menores nas macrorregiões sudeste e sul (HALLAL et al., 2020).
A maior população de cirurgiões-dentistas no mundo pertence ao Brasil, e, o maior empregador destes é o Sistema Único de Saúde (SUS) (PUCCA JR et al., 2015; SAN MARTIN et al., 2018). Segundo gráfico de bolhas calculado pelo O*NET® Database que utilizou dados do Departamento de Trabalho dos EUA, existem ocupações que estão muito susceptíveis ao contágio pela Covid-19 e, no topo encontra-se a odontologia (Gamio, 2020). Os motivos para isso são claros, a proximidade com o paciente, a exposição e contato direto a secreções orais e nasais, além de utilização de instrumentos que amplificam a disseminação de aerossóis no ar e superfícies potencializando a contaminação cruzada (VAN DOREMALEN et al., 2020; MENG; HUA; BIAN, 2020; PEREIRA et al., 2020). Diversos protocolos (BURGER, 2020; AGÊNCIA NACIONAL DE VIGIL NCIA SANITÁRIA, 2020) e revisões (BIZZOCA; CAMPISI; MUZIO, 2020; FINI, 2020; MENG; HUA; BIAN, 2020; PEREIRA et al., 2020) sobre o atendimento odontológico foram lançados, sendo, principalmente recomendado apenas o atendimento de urgências odontológicas como dor, infecções em espaços fasciais e traumas dentários (DAVE; SEOUDI; COULTHARD, 2020).
Obviamente as medidas de distanciamento social impõem a parada de atendimentos odontológicos eletivos ou totais e até a realocação de dentistas para a linha de frente ao combate a Covid-19 no SUS. Sendo um dos maiores sistemas de saúde do mundo, por muito tempo o SUS operava no limite de recursos humanos e materiais, quadro que se agravou com a demanda imposta pela Covid-19 (DANTAS, 2020). O Brasil é um dos poucos países do mundo que possui dentistas atuando na Atenção Primária à Saúde - APS, sendo atualmente 29.661 dentistas atuando na APS do SUS (BRASIL, 2020a). Apesar disso, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2013) apenas 23,7% dos brasileiros possui algum plano médico ou odontológico privado e, apenas 5,2% relatou ter um plano de saúde privado somente odontológico (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013). Um estudo que entrevistou 3,1 mil dentistas brasileiros observou que os profissionais estão atendendo cerca de 30 pacientes a menos por semana (MORAES et al., 2020). Assim, com a baixa demanda de consultas eletivas supridas e redução de atividades educativas, existe a preocupação de que a procura por atendimentos odontológicos tenderá a subir no período pós-COVID-19 e que a saúde bucal, principalmente de pessoas vulneráveis irá piorar (FINI, 2020; KALASH, 2020; MALLINENI et al., 2020). Esse comprometimento poderá ser visível com piores indicadores em saúde bucal e também pelos prejuízos de repasses financeiros que muitas instituições poderão sofrer pela redução do número de atendimentos e pela crise econômica a nível nacional e internacional (DANTAS, 2020).
Na literatura odontológica não existe estudo que avalie a associação entre a covid-19 e impacto na quantidade e qualidade dos procedimentos e consultas, considerando a totalidade do país no seu sistema público de saúde, o SUS. Grande maioria da evidência presente até este momento se concentra em aspectos como medo e ansiedade do cirurgião-dentista (AHMED et al., 2020; CONSOLO et al., 2020), adesão dos pacientes a tele odontologia (GIUDICE et al., 2020), além de revisões sobre medidas de biossegurança válidas contra o SARS-CoV-2 e modificações em protocolos clínicos (FINI, 2020; MENG; HUA; BIAN, 2020; PEREIRA et al., 2020). Desta forma, é necessário acompanhar os números de atendimentos e procedimentos odontológicos antes, durante e após a pandemia a fim de detectar o impacto qualitativo e quantitativo nos atendimentos realizados no Sistema Único de Saúde, no repasse de investimentos para a saúde pública e na saúde bucal dos brasileiros que utilizam o SUS.


Metodologia

Estudo de desenho ecológico, longitudinal, de série temporal. Consiste na comparação temporal, em nível nacional, em dois períodos: 1 - Janeiro a Dezembro de 2019; 2 - Janeiro a Dezembro de 2020, dos procedimentos e de consultas odontológicas realizados na Atenção Primária à Saúde no Brasil. O período representa um recorte de um ano antes da pandemia causada pelo COVID-19, e um ano de pandemia.

Fonte de dados
Os dados serão extraídos de bancos de dados secundários de livre acesso, disponibilizados pelo Ministério da Saúde e outros órgãos federais, dentre eles: SIA/SUS, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Todas as informações serão extraídas em nível municipal, de unidades federativas e/ou grandes regiões e os bancos serão reunidos utilizando-se os códigos do IBGE para identificação dos municípios.

Procedimento amostral
Serão utilizados os dados de todos os municípios brasileiros que alimentam com regularidade o SIA/SUS (DATASUS). Os procedimentos serão eleitos de acordo com a tabela SIGTAP de procedimentos do SUS (Sistema de Gerenciamento da Tabela Unificada de Procedimentos do SUS (http://sigtap.datasus.gov.br/tabela-unificada/app/sec/inicio.jsp).

Variáveis de interesse e operacionalização das variáveis
Variável dependente
Serão coletados dados referentes ao acesso aos serviços odontológicos na Atenção Primária à Saúde e, representada pelo indicador cobertura de primeira consulta odontológica programática, caracterizado pelo percentual (%) de pessoas que receberam uma primeira consulta odontológica programática no Sistema Único de Saúde (SUS). A oferta de serviços (de atenção básica e especializados) será avaliada através de dados coletados sobre os procedimentos odontológicos registrados no SIA/SUS. Esses dados serão investigados através do SIA/SUS, item informações de saúde. Apenas procedimentos aprovados durante o período serão considerados no presente estudo. Serão calculadas as taxas dos referidos procedimentos por 100 mil habitantes. O indicador proporção (%) de exodontia entre procedimentos odontológicos selecionados será também avaliado. Este indicador é calculado a partir da divisão do número de extrações dentárias realizadas no município pela soma de procedimentos individuais e coletivos preventivos e curativos selecionados. O indicador proporção (%) de atendimentos de urgências será calculado a partir da divisão do número de procedimentos de urgência no município pela soma de procedimentos individuais e coletivos preventivos e curativos. Ambas proporções serão comparadas antes e durante o início da pandemia.
Variáveis independentes
As variáveis independentes que serão: porte populacional do município (até 5.000 habitantes; 5.001 a 10.000 habitantes; 10.001 a 20.000 habitantes; 20.001 a 50.000 habitantes; 50.001 a 100.000 habitantes; 100.001 a 500.000 habitantes; mais de 500.000 habitantes) e cobertura pela Estratégia de Saúde da Família e Equipes de Saúde Bucal (Proporção - %), indicadores socioeconômicos e demográficos dos municípios e estados (Índice de Gini e Índice de Desenvolvimento Humano) dos municípios brasileiros e regulamentação dos decretos estaduais quanto ao isolamento social e realização de procedimentos odontológicos. O Índice de Gini (GINI) mede o padrão de distribuição de renda em uma população e o Índice de Desenvolvimento Humano é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O IDH será coletado a partir dos bancos de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Índice de Gini através dos bancos de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Os decretos estaduais serão avaliados e deles serão obtidos dados referentes à extensão do isolamento social recomendada, por período, e oferta de serviços odontológicos (qualquer procedimento seja ele de urgência ou eletivos, somente urgências e emergências ou nenhum tipo de procedimento odontológico recomendado).

Análise Estatística
Será feita análise descritiva das taxas de procedimentos odontológicos e consultas odontológicas realizados e reportados pelo município por 100 mil habitantes, de janeiro de 2019 a dezembro de 2020, e estes de acordo com as variáveis independentes. Para avaliar a tendência das taxas dos procedimentos e consultas será utilizada regressão linear ponderada pelos quadrados mínimos da variância, considerando significativos os valores p< 0,05. A associação entre as variações nas taxas no período avaliado e as variáveis relacionadas ao município será verificada através de regressão linear, estimando os coeficientes da regressão e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%). Além disso, uma análise complementar de regressão linear multinível com modelos fixos será realizada para investigar a associação das taxas de procedimentos ao longo dos meses avaliados e os fatores de exposição. Valores de p< 0,005 serão considerados como significativos.
Todas as análises serão feitas usando-se o software Stata 1340 (https://www.stata.com).

Indicadores, Metas e Resultados

Espera-se encontrar uma significativa diminuição do acesso e da oferta de serviços de saúde bucal para todos os grupos de procedimentos de saúde bucal existentes no SIA/SUS (Acesso, restauradores, exodontias, procedimentos preventivos, procedimentos coletivos, periodontia, urgencias, prótese dental, endodontia, PNE).

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
FLAVIO FERNANDO DEMARCO1
FRANCINE DOS SANTOS COSTA
LETÍCIA REGINA MORELLO SARTORI
LUIZ ALEXANDRE CHISINI
MARCOS BRITTO CORREA1
OTAVIO PEREIRA D AVILA1

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