Nome do Projeto
Estéticas da resistência
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
11/11/2020 - 11/11/2022
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Linguística, Letras e Artes
Resumo
A estética, tal como a compreendemos (BRUM, 2015), está diretamente relacionada a um regime histórico de pensamento próprio do âmbito das artes, conforme teorização de Rancière (2009a). Como regime histórico, difere de regimes anteriores, a saber, segundo Rancière (2009a), o regime ético das imagens e o regime poético ou representativo. O regime estético das artes, fundado a partir do romantismo alemão, é um modo de pensamento específico do campo das artes que tem por característica um pensamento estranho a si mesmo, uma identidade entre pensamento e não-pensamento, que, inclusive, segundo o autor, deu ensejo à concepção freudiana de inconsciente. Para Rancière (2009b), esse modo de ser estranho a si mesmo, que tem origem no campo das artes, excede-o e passa a valer como o fundamento da política - o que o autor chama de estética primeira -, na medida em que, não identificando-se mais as artes com as "belas artes", existe uma indiferença entre as coisas da arte e as coisas da vida, modificando a oposição entre história e ficção. Segundo o autor, tanto testemunho como ficção fazem parte de um mesmo regime de sentido. Para Pêcheux (1990), tanto o humor, como a poesia não se caracterizam por um funcionamento excepcional do discursivo, de modo que pertencem aos “meios fundamentais de que dispõe a inteligência política e teórica” (p. 53). Assim, podemos dizer, em AD, que o funcionamento do discurso artístico não suspende as determinações inconscientes e ideológicas que caracterizam a produção discursiva. Se o que caracteriza o discurso artístico no regime estético é a sobreposição entre contrários, especialmente no que diz respeito à identidade entre pensamento e não pensamento, que faz implodir as evidências, podemos dizer que o que preside esse regime é o equívoco. Se esse modo de produzir sentidos não é o que costuma se apresentar no ordinário, ele pode muito bem acontecer, dado que o sujeito é desde sempre sujeito desejante. Em AD, costuma-se reservar a categoria da “resistência” a um modo específico de relação dos sujeitos com a Formação Discursiva a que estão submetidos, a identificação (BECK e ESTEVES, 2012). No entanto, neste projeto, a resistência diz respeito a toda produção discursiva que questione as evidências e, assim, deixe antever, ainda que “no tempo de um relâmpago”, como diz Pêcheux (1988), o desejo. Nosso interesse é identificar processos de produção de sentidos não estabilizados logicamente, no âmbito das artes mas também do cotidiano, através dos processos simbólicos de nomeação, onde residem as falhas discursivas sobre as quais o sentido se edifica (CASSANA, 2016, p. 31). Interessamo-nos pelos processos polissêmicos, em que têm lugar, mais do que a pura repetição, o múltiplo e o heterogêneo. Para tanto, nosso corpus empírico será composto por diversas produções, artísticas, humorísticas ou não, e do corpo como materialidade significante, em que sujeito desejante faça sua aparição, ainda que fugidia.

Objetivo Geral

Identificar e analisar processos de produção de sentidos em que o equívoco seja tomado como modo primeiro de significar, a partir de diferentes materialidades discursivas.

Justificativa

Em análise de discurso, é comum tomarmos o discurso dominante como objeto de análise a fim de identificar as formas como a evidência e a “verdade” são construídas, dissimulando a natureza equívoca da produção discursiva. Assim, o que Pêcheux (1990) chama de mundos semanticamente normais ou logicamente estabilizados, ou seja, aqueles que se constroem majoritariamente no âmbito da paráfrase e da repetição, são amplamente objeto de pesquisa em diversos projetos. Entretanto, os discursos não estabilizados logicamente, isto é, aqueles que, em seus modos de significar, instauram a polissemia e a consequente possibilidade de transformação das redes discursivas, restam, ainda, sem grandes estudos, o que autoriza o escopo do presente projeto.
Ademais, no que concerne ao discurso artístico especificamente, são poucas as pesquisas que o tomam como objeto na Análise de Discurso. Por isso, é um campo a explorar, o que pretendemos fazer neste projeto, seja no que diz respeito à literatura, ao cinema, ao humor, ao corpo e a outras manifestações que possam ser tomadas como do campo discursivo das artes. Quanto a isso, cabe salientar que os estudos que agregam as áreas da linguística e da literatura, no campo específico das letras, são poucos, o que abre, também, um campo a explorar.
Dados esses aspectos, este projeto tem potencial para fazer avançar a pesquisa em Análise de Discurso e, também, na área de linguagens.

Metodologia

Serão realizadas atividades orientadas de leituras, a fim de dar subsídios teóricos às e aos estudantes participantes do projeto, assim como coleta de material passível de análise em redes sociais, em bibliotecas, bancos de dados, nas ruas – em caso de análise de material de graffite, por exemplo –, acervos etc.
Quanto aos procedimentos analíticos, em Análise de Discurso, não se tem uma metodologia fixa. O estabelecimento dos procedimentos de pesquisa se dará a partir de um movimento pendular (ERNST, 2009) entre a teoria e o corpus.
A pesquisa bibliográfica será constante e será discutida semanalmente pelos integrantes do grupo em dia e horário a serem marcados conforme disponibilidade dos participantes do projeto.
Os dados recolhidos serão discutidos pelo grupo de pesquisa sob a luz dos textos teóricos previamente disponibilizados, montando-se, se necessário, distintos grupos de trabalho a fim de dar conta do corpus.

Indicadores, Metas e Resultados

- produzir artigos científicos a partir da análise de corpora;
- participar de congressos regionais, nacionais e internacionais a fim de divulgar o andamento e os resultados da pesquisa;
- desenvolver projetos de extensão sobre o tema voltados à comunidade em geral;
- desenvolver projetos de ensino sobre o tema voltados à comunidade acadêmica da Universidade Federal de Pelotas.

Esperamos que, no desenvolvimento da pesquisa, seja possível identificar processos discursivos de produção de sentidos recorrentes que tenham por característica a polissemia e o equívoco. A partir da divulgação dos resultados, pretendemos contribuir para o conhecimento teórico e metodológico da Análise de Discurso.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ANGEL ALVES HILIAN
BARBARA DE LIMA SOBRAL
BRENDA DA SILVA NAPARO
BRUNA MEDEIROS SILVA DE PINHO
CARLA ESCOUTO DE VARGAS
DÉBORA THAIS REPANAS
Evelin Nascimento Lima
GABRIELA CHAVES MARRA
GIULIA DE LIMA SKIERES PEREIRA
HELENA CORREA DOMBROSKI
JANAINA CARDOSO BRUM14
JEFFERSON AJALA GONÇALVES
Jenifer da Silva Dias
MARIA EDUARDA AZEVEDO SOARES
MARIANA SOARES DA FONSECA
MÔNICA FERREIRA CASSANA9
YAGO BADARO SANTINO RIBEIRO

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