Nome do Projeto
Monitoramento da desigualdade socioeconômica na ocorrência de cárie dentária não tratada na primeira infância
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
28/10/2020 - 28/02/2024
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
A ocorrência de cárie na primeira infância varia em diferentes populações e isso se deve às diferenças socioeconômicas, desigualdades no acesso à educação e aos serviços de saúde. No Brasil, no último inquérito nacional de base populacional realizado no ano de 2010, observou-se que 53,4% das crianças de cinco anos de idade tiveram uma média de 2,3 dentes com experiência de cárie, e aproximadamente 80,0% desses casos não foram tratados. Crianças na primeira infância ainda não possuem autonomia para realização da higiene bucal, sendo essa de responsabilidade dos pais. Além dessa dependência, algumas necessidades de tratamento na dentição decídua podem ser negligenciadas e isso pode estar associado a fatores socioeconômicos, contextuais e culturais. A causalidade social está intimamente relacionada tanto ao estado de saúde em si quanto ao processo saúde/doença e seus determinantes. A modificação do ambiente socioeconômico familiar em que a criança vive, ou a implementação de políticas públicas que são determinantes estruturais, podem vir a intervir na saúde bucal infantil. Por isso a importância do uso de dados longitudinais para análise da magnitude do efeito que a mobilidade social intergeracional pode exercer na ocorrência e polarização da cárie dentária na primeira infância. Neste contexto, o presente estudo analisará a associação entre a mobilidade social familiar e a ocorrência de cárie não tratada aos 4 anos nas crianças pertencentes a coorte 2015. Além disso, será realizado um monitoramento das desigualdades socioeconômicas na prevalência de cárie não tratada em diferentes períodos no tempo, utilizando dados de saúde bucal de crianças de 4 a 6 anos pertencentes aos acompanhamentos de saúde bucal nas coortes de 1993, 2004 e 2015 de Pelotas.

Objetivo Geral

Avaliar a influência das desigualdades socioeconômicas e da mobilidade
social familiar na ocorrência de cárie dentária não tratada na primeira infância.

Justificativa

A cárie dentária é mundialmente reconhecida como um problema de
saúde pública devido a sua alta prevalência (KASSEBAUM et al., 2017; PERES,
M. et al., 2019). Além disso, existe uma distribuição desigual da cárie não
tratada, onde maiores prevalências são encontradas em crianças pertencentes
a famílias economicamente desfavorecidas (PERES, M. et al., 2019;
SCHWENDICKE et al., 2015). Essa desigualdade faz com que consequências
da cárie dentária não tratada, como a dor e o sofrimento, atuem de forma mais
evidente na qualidade de vida das crianças de populações marginalizadas
(ABANTO et al., 2018; CORREA-FARIA et al., 2018; LIMA et al., 2018).
A saúde bucal das crianças na primeira infância é de extrema importância,
é no inicio da vida que o indivíduo adquire hábitos e comportamentos que
poderão permanecer durante toda a vida (BROADBENT et al., 2016;
HALLERÖD; GUSTAFSSON, 2011). Os hábitos e comportamentos relacionados
à saúde bucal são influenciados pelas condições socioeconômicas, pelo
ambiente familiar e pela decisão dos pais (ADAIR et al., 2004; CASTILHO et
al., 2013). Mensurar a distribuição da cárie dentária em relação a fatores
socioeconômicos permite identificar a necessidade de atenção por parte das
autoridades em saúde. A avaliação das desigualdades socioeconômicas sobre
desfechos em saúde bucal pode contribuir para o planejamento de ações
preventivas já nos primeiros anos de vida da criança (AGUIAR et al., 2018;
ANTUNES et al., 2006; PERES, K. G. et al., 2012; PIOVESAN et al., 2010).
Apesar dos inúmeros estudos que associam questões socioeconômicas
com a experiência de cárie dentária (PERES, M. et al., 2019; SCHWENDICKE
et al., 2015; THOMSON et al., 2004), alguns aspectos que serão abordados
neste projeto ainda não foram trabalhados na literatura. A revisão sistemática
realizada por Schwendicke et al. (2015) avaliou a relação entre cárie dentária e
características socioeconômicas em indivíduos em todas as faixas etárias,
compreendendo as dentições decídua e permanente, além de avaliar
experiência de cárie e não cárie não tratada, com a última representando
condição mais preocupante e que reflete as lacunas no acesso e utilização dos
serviços de saúde na infância. Além disso, questões metodológicas e
características dos locais onde os estudos foram conduzidos podem influenciar
a magnitude das associações, podendo ser mais bem explorados. Por estas
razões, a realização de uma revisão sistemática com meta-análise que
investigue a associação entre cárie não tratada na primeira infância e fatores
socioeconômicos se justifica. O uso de dados longitudinais de três gerações para
avaliação da mobilidade social são difíceis de ser obtidos e poucos estudos os
têm disponíveis, principalmente com a confiabilidade e qualidade de coleta que
os estudos de coorte conduzidos em Pelotas possuem (DELGADO-ANGULO;
BERNABÉ, 2015; FLOR et al., 2014). Além disso, os registros de saúde bucal
na primeira infância em coortes e períodos distintos permitem avaliar o efeito do
período, diferença de cerca de uma década entre os exames odontológicos, na
prevalência da cárie não tratada e sua distribuição entre os fatores
socioeconômicos. Alguns períodos de avaliações de saúde bucal nas Coortes
de Pelotas coincidem com a implementação da Política Nacional de Saúde Bucal
em 2003, responsável pela ampliação dos serviços de saúde bucal e geração de
uma maior visibilidade para área (CHAVES et al., 2017). A maior oferta de
serviços odontológicos, permitiu um maior acesso à atenção odontológica e, com
isso, espera-se uma diminuição da ocorrência de doenças bucais e das
consequências destas para a criança.
Não há estudos na literatura que utilizem dados longitudinais
socioeconômicos e de cárie dentária não tratada, em crianças na primeira
infância, que descrevam a polarização da doença e a desigualdade de sua
distribuição ou mesmo o efeito da mobilidade social na ocorrência da doença em
crianças. Logo, para que ações sejam eficazes e efetivas no enfrentamento das
iniquidades em saúde bucal, é essencial entender como as desigualdades
econômicas e sociais se organizam em nossa sociedade. Em vista disso, o uso
de dados de base populacional para a mensuração do efeito da desigualdade
existente na distribuição de carie não tratada possibilita ter-se uma maior visão,
uma ampla reflexão, e um maior conhecimento sobre o tema para uma posterior
discussão em busca de soluções.

Metodologia

Uso de dados longitudinais para análise da magnitude do efeito que a mobilidade
social intergeracional pode exercer na ocorrência e polarização da cárie dentária
na primeira infância. Neste contexto, o presente estudo analisará a associação
entre a mobilidade social familiar e a ocorrência de cárie não tratada aos 4 anos
nas crianças pertencentes a coorte 2015. Além disso, será realizado um
monitoramento das desigualdades socioeconômicas na prevalência de cárie não
tratada em diferentes períodos no tempo, utilizando dados de saúde bucal de
crianças de 4 a 6 anos pertencentes aos acompanhamentos de saúde bucal nas
coortes de 1993, 2004 e 2015 de Pelotas.

Indicadores, Metas e Resultados

Artigos planejados

Artigo de revisão: Inequalities in the distribution of untreated dental caries in
early childhood: a systematic review and meta-analysis.

Artigo original I: Trends in social inequalities related to untreated dental caries
in preschool children: results from three birth cohorts in Southern Brazil

Artigo original II: Influence of social mobility on untreated dental caries at age
4: An intergenerational analysis.

Hipóteses


[1] A revisão de literatura apontará a distribuição desigual de cárie dentária não
tratada, com maior prevalência de cárie não tratada nas crianças pertencentes a
famílias com menor nível socioeconômico;
[2] A prevalência de cárie dentária não tratada na amostra estudada será maior
em crianças de famílias com menor renda familiar e com mães menos
escolarizadas;
[3] A diferença absoluta na prevalência de cárie não tratada será maior entre
indivíduos pertencentes ao menor quintil de renda e com mães de menor nível
de escolaridade. Essa diferença será observada independente do ano do exame
clínico, porém ocorrerá uma diminuição dessa diferença entre os diferentes
períodos, sendo maior nas coortes anteriores (1993 e 2004) em comparação a
coorte de 2015;
[4] Mães que apresentarem uma mobilidade social ascendente terão filhos com
menor prevalência de cárie dentária não tratada em comparação às mães com
nível socioeconômico descendente ou que se mantiveram sempre no menor
estrato socioeconômico.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
FLAVIO FERNANDO DEMARCO2
SARAH ARANGUREM KARAM
THIAGO MACHADO ARDENGHI

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