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A pandemia de COVID-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que nos assola desde o início de 2020 vem acumulando impactos em escala global em diversos setores. Todos são afetados e, de distintas formas, não há quem saia ileso. Vivemos numa grande instabilidade, no meio de muitas incertezas e questionamentos. A crise sanitária repercute no campo econômico, cultural, político e social. A frase ‘podemos estar no mesmo mar, mas com certeza não estamos no mesmo barco’ reflete as diferenças como cada nicho da sociedade é afetado. No Brasil, bem como se apresentou ao redor do mundo, as questões econômicas e sociais estão diretamente relacionadas a taxa de transmissão e severidade da infecção por coronavírus. Pires, Carvalho e Xavier (2020) dizem que independente do motivo (menor acesso a saúde, dificuldade de manter o isolamento, renda ou falta de saneamento básico), a pandemia de COVID-19 irá afetar desproporcionalmente os mais pobres.
A pandemia impactou, também, as políticas públicas e seus usuários. O projeto Vida Ativa é uma ação da Prefeitura Municipal de Pelotas que existe desde 2014 e atende cerca de 2.250 pessoas de todas as idades. Diversas atividades físicas são oferecidas neste projeto, como ritmos, ginástica, treinamento funcional, dança, futebol, handebol, iniciação esportiva, lutas, entre outras. No ano de 2019, mais de 80% dos participantes tinham renda familiar de até dois salários mínimos. No corrente ano, com a pandemia, o projeto sofreu alterações, mas não interrompeu totalmente a oferta de atividades para a população.
A mudança necessária imposta pelo distanciamento social em muitas rotinas gera impacto em diversos setores da vida, como uma reação em cadeia que se retroalimenta, muitas vezes, causando desequilíbrio em nosso organismo, podendo levar a comportamentos prejudiciais à saúde. Seja pelos novos hábitos e restrições no que tange a atividade física, seja pela ansiedade/depressão causada pelo medo e pelas inseguranças de forma geral, e ainda, econômicas e que, por consequência, podem refletir no consumo alimentar e massa corporal.
Todas essas mudanças afetam a vida das pessoas. Exercício físico, alimentação e fatores psicossociais estão intimamente associados à qualidade de vida. Identificar e compreender quais os impactos destas mudanças na vida destas pessoas fazem-se necessário. O mundo acadêmico vem desdobrando esforços para descobrir quais os impactos disto tudo nos diversos setores da sociedade. Avaliar o impacto da pandemia de COVID-19 nos usuário do projeto Vida Ativa contribuirá com um melhor mapeamento do impacto da pandemia de forma geral, bem como possibilitará ao poder público a realização de ações mais assertivas para anular ou minimizar esses efeitos, fomentando estratégias na democratização de acesso à vida e ainda poderá servir de exemplo, como balizador para outros projetos com objetivos e público semelhante. Finalmente, poderá contribuir para uma maior estruturação e consolidação do projeto Vida Ativa como política pública permanente.

3 Materiais e métodos
3.1 Delineamento
O estudo caracteriza-se como transversal descritivo de acordo com Thomas e Nelson (2012). Os dados serão obtidos a partir das respostas a um questionário respondido em forma de entrevista via ligação telefônica.
3.2 População e amostra
A população do estudo será todos adultos participantes das atividades presenciais do projeto Vida Ativa até março de 2020, integrantes dos grupos de WhatsApp, o que representa a grande maioria (próximo de 90%). Este projeto será do tipo censo, onde todos participantes serão convidados a fazer parte do estudo. A estimativa é de 1400 participantes.
3.2.1 Critérios de elegibilidade
3.2.1.1 Critérios de inclusão e exclusão
Será considerado elegível à pesquisa os participantes do PVA com mais de 18 anos, que participam dos grupos de WhatsApp de turmas do projeto. Desta forma, menores de 18 anos serão automaticamente excluídos.


3.2.1.2 Perdas e recusas
Caso a pessoa, em um primeiro contato, não aceite participar do estudo será solicitada a autorização para ligar em outro horário mais propício, se ainda assim houver recusa será solicitada autorização para enviar o questionário via WhatsApp, para que em outro momento ela responda, se assim desejar. Caso haja negativa, o indivíduo será contabilizado como recusa à participação na pesquisa.
3.3 Coleta de dados
3.3.1 Logística
Para a realização do estudo será solicitada a autorização da Secretaria Municipal de Educação e Desporto (SMED). Após a autorização, será feito contato com o departamento de Desporto e Lazer, posteriormente com a coordenação do PVA para explicar os objetivos do estudo e combinar as ações a serem realizadas. Dadas as explicações e autorizações necessárias, será feito o contato com os sujeitos via telefone, solicitando formalmente a participação no estudo e fornecendo as orientações sobre o termo de consentimento livre esclarecido e sobre a pesquisa (objetivos, sigilo das informações, preceitos éticos, etc.)
A coleta de dados será por telefone, em forma de entrevista. Um primeiro contato será sempre realizado em horário comercial, com a possibilidade do indivíduo indicar um outro dia/horário para responder o questionário. Os dados serão digitados em formulário eletrônico previamente preparado.
3.3.2 Instrumentos e variáveis
Será elaborado um questionário especificamente para este projeto. O questionário será baseado em instrumentos previamente validados, quando disponíveis, e adaptado para a necessidade do projeto, de investigar aspectos antes e durante o período da pandemia de COVID-19.
As variáveis principais são:
 Atividade física - frequência semanal, o tempo de prática da AF, tipo de AF, modo de prática;
 Sintomas de depressão e estresse - serão medidas com base na escala “Hospital Anxiety and Depression Scale” (HAD). As questões serão adaptadas para contextualizar o momento (antes e durante a pandemia). Esta escala é formada por 14 questões de múltipla escolha, dividida em duas subescalas com 7 itens cada. Em cada item a pontuação vai de 0 a 3, sendo a pontuação global em cada subescala vai de 0 a 21. A análise dos escores das duas subescalas serão analisadas de forma independente. Escores entre 0 e 7 serão considerados normais, 8 e 10 como presença sugestiva dos sintomas e pontuação igual ou maior a 11 será classificada como provável presença de ansiedade ou depressão (SNAITH, 2003);
 Aspectos nutricionais - número de refeições, consumo de alimentos açucarados, gordurosos e industrializados, índice de massa corporal baseado na estatura e massa corporal autorrelatados;
 Renda familiar e per capita - mensurada em Reais;
 Autorrelato de diagnóstico médico de COVID-19.
3.4 Controle de qualidade
Como controle de qualidade, será refeito 5% das ligações aos participantes, definidos aleatoriamente, e solicitar que respondam apenas algumas perguntas-chave do questionário, a fim de verificar a validade das respostas.
4 Aspectos éticos
O trabalho foi submetido e aprovado pelo CEP da ESEF.

Apresentação de trabalhos em eventos científicos com os resultados;
Apresentação dos resultados à Prefeitura, de modo a planejar ações efetivas do Projeto Vida Ativa;
Publicação de artigos em periódicos científicos
Formação de recursos humanos (mestrado)
Especificamente sobre os objetivos do projeto, as hipóteses são:
 Durante o período da pandemia, a prática de atividade física no lazer será de mais difícil acesso e restrita. O tempo total de prática estará diminuído e as atividades praticadas serão diferentes do período pré-pandemia;
 Os usuários relatarão mais sintomas de ansiedade e depressão no período da pandemia;
 O consumo alimentar será negativamente afetado, com aumento do consumo de alimentos considerados não-saudáveis, e também terão o índice de massa corporal aumentado;
 A maioria dos usuários apresentarão alteração na renda familiar durante a pandemia de COVID-19;
 A maioria dos usuários não relatarão diagnóstico de COVID-19.