Nome do Projeto
Qual o impacto da violência familiar na saúde bucal de mulheres e crianças da coorte de nascimentos de Pelotas de 2015?
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/06/2021 - 01/05/2024
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
A violência é um fenômeno social multifacetado que atua diretamente sobre questões de gênero, raça e etnia, capacitistas e de classe. No mundo e no Brasil, um montante especialmente subnotificado de episódios violentos e adversos advém da violência interpessoal familiar, que têm como principais vítimas mulheres e crianças. Para as mulheres, no ambiente familiar a principal violência sofrida é a violência física, sexual, emocional ou comportamento de controle por parceiro íntimo. Para as crianças, além da exposição à violência por parceiro íntimo sofrida pela mãe e episódios de disfunção familiar elas podem ser vítimas de maus-tratos infantis físicos, sexuais, psicológicos ou negligência, que em conjunto são denominadas de adversidades na infância. Além dos efeitos diretos e imediatos, exposições infantis a adversidades podem influenciar em alterações crônicas de saúde física e mental na vida infantil, adulta e entre gerações. A cárie dentária é uma doença biofilme-açúcar-dependente, crônica e cumulativa influenciada por diferentes fatores de risco proximais e distais, como condições socioeconômicas familiares, estrutura familiar e práticas e cuidados parentais que, podem ser impactadas por episódios de violência, sendo que todo o conjunto de fatores pode continuar impactando na cárie na vida adulta. Desta forma, o objetivo desta tese será avaliar o impacto da violência familiar relatada, sofrida pela mãe e pela criança, na prevalência de cárie dentária materna e infantil em uma coorte de nascimentos de base populacional na cidade de Pelotas. Para compor esta tese, será desenvolvido um artigo de revisão sistemática de literatura que buscará avaliar a possibilidade de associação entre experiências infantis adversas e impactos na saúde bucal na idade adulta e idosa. Cinco artigos originais serão desenvolvidos considerando a amostra de mães e crianças que participaram dos levantamentos de saúde bucal pré-natal e 48 meses e que estão incluídas na coorte de 2015 de Pelotas. O primeiro artigo de desenho longitudinal irá avaliar a exposição infantil à maus-tratos e o testemunho infantil de violência interparental, ambos até 48 meses coletados pelo Juvenile Victimization Questionnaire, e impacto na cárie dentária infantil aos 48 meses. O segundo artigo de desenho transversal irá avaliar a exposição a adversidades até 18 anos da mãe coletada pelo instrumento Adverse Childhood Experiences International Questionnaire e cárie dentária materna na gestação. Adicionalmente, três artigos longitudinais irão avaliar, respectivamente, exposições a adversidades até 18 anos da mãe, violência por parceiro íntimo sofrida pela mãe entre 36 e 48 meses de vida da criança, coletado pelo Violence Against Woman – World Health Organization e, o possível efeito cumulativo de ambas as exposições considerando como desfecho cárie dentária na infância dos filhos aos 48 meses de vida. Variáveis de exposição, desfecho e covariáveis específicas de cada artigo serão analisadas de forma descritiva com frequências absolutas e relativas e, medidas de tendência central ou dispersão, com nível de confiança de 95%. Análises de associação serão realizadas utilizando diferentes modelos estatísticos, considerado ainda modelos de regressão multivariados para fatores de confusão e análises de mediação entre variáveis de exposição, desfechos e covariáveis relacionadas.

Objetivo Geral

Avaliar o impacto da violência familiar relatada, sofrida pela mãe e pela criança, na prevalência de cárie dentária materna e infantil em uma coorte de nascimentos de base populacional na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.

Justificativa

o desenvolvimento desta tese busca contribuir para o entendimento da possível associação indireta entre exposições a violência na vida de mães e crianças e os impactos na saúde bucal adulta e infantil. É importante considerar dentro de qualquer campo de estudo que aborde a violência ou seus impactos, que, a violência é uma afronta aos direitos humanos. Adicionalmente, a violência, principalmente familiar, é assustadoramente presente na vida dos brasileiros e promove profundas marcas individuais, familiares e coletivas. Desta forma, além de buscar fortalecer o debate sobre violência familiar e suas consequências na saúde bucal, esta tese busca atuar como mais um esforço no reconhecimento dos impactos mensuráveis e imensuráveis da violência contra a mulher e contra a criança na saúde individual (CLARK et al., 2020; GARCÍA-MORENO et al., 2015; MINAYO, 2007). Adicionalmente, entender os fatores distais que contribuem para o desenvolvimento da doença cárie é fundamental em um contexto de planejamento, monitoramento e desenvolvimento de políticas públicas que visem melhorar a qualidade de vida de diferentes populações (PERES et al., 2019). Desta forma, usar desenhos longitudinais e transversais, considerando modelos teóricos para mães e filhos em uma coorte prospectiva de base populacional é um passo importante para avaliar os impactos da violência interpessoal familiar na saúde bucal.

Metodologia

Neste estudo serão incluídas as díades mães-filhos entrevistadas nos acompanhamentos da Coorte de Nascimentos de Pelotas 2015 e que fazem parte do Estudo de Saúde Bucal, tendo exames de saúde bucal realizados na gestação e aos 48 meses. Considerando o modelo teórico desenvolvido, diversas variáveis coletadas nos questionários aplicados nas entrevistas do acompanhamento pré-natal, perinatal, 12 meses e 48 meses das crianças serão utilizadas. Adicionalmente, variáveis obtidas dos exames de saúde bucal realizados nas mães no acompanhamento pré-natal e de saúde bucal infantil feito aos 48 meses das crianças também serão utilizadas. Neste estudo serão consideradas duas variáveis de desfecho, cárie dentária materna na gestação e cárie dentária infantil aos 48 meses. Considerando os artigos que serão desenvolvidos e as hipóteses levantadas por este estudo, quatro variáveis de exposição que refletem um contexto de exposição a violência familiar serão exploradas: Relato materno de experiências adversas na infância e adolescência, relato materno de violência por parceiro íntimo entre os 36 e 48 meses da criança, relato do cuidador de maus-tratos infantis ocorridos com a criança até os 48 meses e relato do cuidador de testemunho infantil de violência interparental até os 48 meses.
Todas as variáveis de interesse do estudo serão analisadas de forma descritiva, sendo obtidas frequências absolutas e relativas de variáveis categóricas e medidas de tendência central e dispersão para variáveis numéricas, observando nível de confiança de 95%. As análises de associação serão realizadas por meio de diferentes modelos estatísticos a depender da variável de exposição e desfecho. Serão utilizados modelos de regressão multivariados para ajuste de fatores de confusão. Em caso de relações de causalidade ou onde se busque analisar o papel de fatores mediadores, serão elaborados Direct Acyclic Graphs (DAGs) para ilustrar as relações entre exposição, desfecho e fatores mediadores.

Indicadores, Metas e Resultados

[1] A literatura revisada sistematicamente irá demonstrar que ter vivenciado pelo menos uma experiência adversa até os 18 anos de vida será significativamente associado à pior saúde bucal na vida adulta e idosa, considerando um maior número de dentes perdidos, maior número de dentes cariados e/ou restaurados, maior número de problemas periodontais e menor uso dos serviços odontológicos, com maior tempo desde a última consulta odontológica e menos consultas para procedimentos preventivos e orientações que não ter vivenciado alguma experiência adversa até os 18 anos de vida.

[2] Crianças que sofreram maus-tratos infantis ou testemunharam violência interparental até os 48 meses terão maior prevalência de cárie dentária aos 48 meses que crianças que não sofreram maus-tratos infantis ou testemunharam violência interparental até os 48 meses. Adicionalmente, crianças que passarem por mais de um tipo de maus-tratos infantis e/ou testemunho de violência interparental terão maiores prevalências de cárie dentária aos 48 meses que crianças que passaram por um tipo ou nenhum tipo de maus-tratos infantis.

[3] Mães que relataram ter vivido experiências adversas até os seus 18 anos terão maior prevalência de cárie dentária mensurada na gestação, em comparação a mulheres que não viveram experiências adversas até os seus 18 anos. Adicionalmente, mães que apresentarem vivência de duas ou mais experiências adversas até os seus 18 anos de vida terão maiores prevalências de cárie dentária que mães que vivenciaram uma experiência adversa.

[4] Filhos de mães que relataram ter vivido experiências adversas até os 18 anos de idade materna terão maior prevalência de cárie dentária aos 48 meses que filhos de mães que não viveram experiências adversas. Adicionalmente, filhos de mães que viveram duas ou mais experiências adversas terão maiores prevalências de cárie dentária que filhos de mães que vivenciaram uma experiência adversa.

[5] Filhos de mães que relataram ter vivido violência por parceiro íntimo entre os 36 e 48 meses de vida das crianças terão maior prevalência de cárie dentária na infância que filhos de mães que não sofreram nenhum tipo de violência por parceiro íntimo, considerando o mesmo período de tempo.

[6] Ainda, de forma cumulativa, filhos de mães que relataram ter sofrido violência por parceiro íntimo entre os 36 e 48 meses da criança e que também relataram ter vivido pelo menos uma experiência adversa até os 18 anos terão maior prevalência de cárie dentária infantil aos 48 meses, em comparação com crianças que possuem mães que não viveram nenhuma das exposições até 18 anos ou na vida adulta ou viveram alguma das duas isoladamente.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
DANIELA HAUBMAN PEREIRA
FLAVIO FERNANDO DEMARCO1
LETÍCIA REGINA MORELLO SARTORI
MARCOS BRITTO CORREA2

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