Nome do Projeto
COMPORTAMENTO SEXUAL DE ADOLESCENTES ESCOLARES DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/08/2021 - 28/11/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
A adolescência é o período dos 10 aos 19 anos (OMS, 2014), caracterizada por uma série de mudanças físicas, psicológicas e sociais do sujeito, onde tende ao início das relações sociais, experimentações sexuais e percepção da autoimagem, fundamental para a construção da identidade. Entretanto, devido ao surgimento da pandemia de COVID-19, as relações sociais e de formação dos pares sofreram transformações pelo distanciamento social. Assim, surgiu a necessidade de investigação do comportamento sexual dos jovens durante a pandemia. Será realizado um estudo transversal com adolescentes do ensino médio de 14 a 18 anos, residentes do município de Pelotas, através de um formulário online, na plataforma Google Forms. Serão investigadas as informações sobre comportamento sexual durante a pandemia de COVID-19, com as seguintes variáveis: sexo; idade; religião; comportamento sexual antes e durante a pandemia; acesso à educação sexual; uso de aplicativos de relacionamento; comportamento de risco; uso de preservativo ou métodos contraceptivos; comportamento autoerótico. Os dados serão coletados nos computadores e transferidos para o software STATA versão 12,0. Será feita uma análise descritiva, bivariada e multivariada realizada por meio de regressão de Poisson com variância robusta.

Objetivo Geral

Analisar o comportamento sexual dos adolescentes do ensino médio durante a pandemia de COVID-19 de escolas públicas e privadas de Pelotas.

Justificativa

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004) compreende a adolescência como o período do desenvolvimento que se estende dos 10 aos 19 anos, havendo distinções entre sua fase inicial (10 a 14 anos) e final (15 a 19 anos). Para além da descrição linear da fase, o Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano entende tal etapa como marcada por mudanças biopsicossociais intermediárias à fase da infância e à maioridade (Bronfenbrenner, 2011).
As transformações na adolescência se dão nos níveis biológico, psicológico e social. Isto é, inicia-se a partir da maturação biológica, intitulada como puberdade, caracterizando-se pela mudança do corpo infantil em um um corpo adulto, englobando fenômenos como o surgimento de pêlos, aumento da estatura e desenvolvimento dos órgãos sexuais. Além disso, tal fase é marcada por dinâmicas psicológicas como a formação da identidade, construção de valores de vida e escolha profissional, contextualizada com conjunturas sociais como a trajetória escolar e convívio social com pares (Papalia, 2013). Ainda, e de acordo com o Ministério da Saúde (2018), dependendo da qualidade do grupo, seu sentido de grupalidade, essa busca é altamente protetiva como pode ser vulnerabilizante.
Para Bronfenbrenner (2011), idealizador do Modelo Bioecológico, a vivência da adolescência não é compreendida a partir da instabilidade emocional como característica inerente. Ao contrário, o Modelo Bioecológico considera o sujeito como produto e, também, construtor de seu ciclo vital, viabilizando múltiplas possibilidades de desenvolvimento (Senna; Dessen, 2012).
Dentre as muitas questões dominantes no período da adolescência, evidencia-se o aumento da influência dos pares e a formação da identidade, atravessando por aspectos como desenvolvimento de autonomia, percepção da auto imagem, experimentações sexuais e outros (Cerqueira-Santos, Neto & Koller, 2014). Assim, considerando o importante papel das relações sociais e da auto percepção na adolescência, o presente artigo concentra-se na sexualidade, como componente fundamental tanto na formação da identidade, quanto na relação com o outro.
Segundo o Ministério da Saúde (2018), a sexualidade é uma das dimensões inerentes à vida e à saúde do ser humano que se manifesta desde o seu nascimento. Constitui-se como um fenômeno multifatorial, com aspectos biológicos, psicológicos, culturais, históricos e sociais, que influencia na sua maneira de ser, de compreender e de viver no mundo como homem ou mulher. A partir dessa série de mudanças corporais, de maturação e desenvolvimento sexual e emocional, infere-se a necessidade de se entender acerca dos comportamentos sexuais e comportamentos sexuais de risco que atravessam a fase da adolescência. Uma pesquisa feita com adolescentes em escolas de uma cidade do sul do Brasil constatou que a média de idade da primeira relação sexual foi 14,53 anos para as meninas e 14,13 para os meninos, dos alunos que afirmaram já ter tido relação sexual, 81,0% utilizaram preservativos na primeira relação, e na última relação sexual, o número cai para 78,8% (Dallo; Martins, 2018).
O grande aumento de mortes e contaminações provocadas pelo coronavírus (COVID-19) levou à interrupção da rotina, medo da infecção pelo vírus e distanciamento social de amigos, o que acarretou crescentes incertezas entre os adolescentes (Imran; Zeshan; Pervaiz, 2020). Em vista disso, e sabendo que a adolescência é uma fase de transformações biopsicossociais e de forte relação com os pares, entende-se que a pandemia de coronavírus foi e é um fator implicador no desenvolvimento dos jovens.
O presente projeto busca compreender a forma como as relações afetivas e sexuais na adolescência acontecem e de que modo essas relações influenciam no comportamento sexual, de risco à saúde e a si próprios na continuidade na pandemia de COVID-19.

Metodologia

Delineamento:
O estudo terá um delineamento transversal com jovens escolares de 14 a 19 de escolas da rede pública e privada da cidade de Pelotas/RS.

Cálculo de amostra:
Segundo o IBGE, na cidade de Pelotas em 2018, haviam 10.309 jovens matriculados no ensino médio. Considerando os seguintes parâmetros: prevalência esperada para iniciação sexual de 47,3% (prevalência de desfecho com maior amostra necessária), nível de confiança de 95%, erro aceitável de 2pp, estimou-se uma amostra de 370 jovens escolares e, acrescentando-se 10% para perdas, obteve-se um total de 407 escolares de ensino médio (VIEIRA et al., 2021).

Coleta de dados:
As escolas públicas serão contactadas através da Secretaria Municipal de Educação para solicitar permissão para realizar as entrevistas com os alunos matriculados e as escolas particulares serão contactadas separadamente, uma a uma, para solicitação de contato com os pais.
Após a autorização da secretaria municipal e das escolas particulares, será enviado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos pais para que deem autorização para os menores de idade participarem da pesquisa. Aos maiores de idade, o contato será direto. Se houver autorização dos pais, os alunos receberão o link através do email da escola para que possam preencher o termo de assentimento para que possam participar da pesquisa após serem esclarecidos quanto à justificativa, objetivos, procedimentos, riscos e benefícios da pesquisa. E, por fim, responderão ao questionário na plataforma google forms. Todos os entrevistados terão a opção de desistir da pesquisa a qualquer momento.

Instrumento:
O estudo será realizado por meio de um questionário digital que será aplicado pela plataforma digital Google Forms. O instrumento de coleta de dados caracteriza os aspectos sociodemográficos e de comportamento sexual da população estudada.
O instrumento abrangerá as seguintes variáveis:
Sexo - Será analisado o sexo biológico dos participantes, a partir de parâmetros anatômicos de sexo masculino, feminino ou intersexo.
Gênero - O gênero se refere aos aspectos culturais, históricos e sociais de como se classificaram as pesssoas a partir das diferenças percebidas entre os sexos (SCOTT, 1990) e que categoriza as pessoas como femininas ou masculinas (cisgêneros), transgêneros (trans-homem, trans-mulher) ou não binárias e que também se relaciona com o que tem sido chamado de “expressão” ou “papel” sexual, ou seja, como as pessoas performatizam ou representam seu gênero.
Orientação sexual - a orientação sexual, refere-se à atração sexual do sujeito em termos de heterossexualidade, bissexualidade, pansexualidade e homossexualidade. A orientação sexual relaciona-se aos desejos de intimidade e sensibilidade dos sujeitos (Organização Pan-Americana da Saúde. Ministério da Saúde).
Idade - a idade dos entrevistados deverá se enquadrar na faixa etária dos quatorze anos aos dezenove anos, período definido como amostra deste projeto.
Cor de pele - segundo as categorias preconizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (BRASIL, 2013)
Série Escolar: compreende a etapa da escolarização em que os entrevistados se encontram.
Reprovações escolares - número de vezes que os escolares reprovaram na escola.
Classe Socioeconômica - a Classe Socioeconômica será baseada na estratificação socioeconômica pelo Critério de Classificação Econômica Brasil adotado pela Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (ABEP) (KAMAKURA; MAZZON, 2013)
Religião - A religião é um sistema de crenças que determina a relação de grupos sociais com um ser transcendente (Ribeiro; Minayo, 2014). Nesse sentido, será investigada qual religião, doutrina, crença ou não crença o entrevistado se enquadra.
Acesso à Educação Sexual - neste ponto serão analisadas as formas de acesso à educação sexual dos entrevistados e, da mesma forma, será investigada a qualidade dessa educação.
Idade da Primeira Relação - será investigada a idade da primeira relação sexual dos adolescentes entrevistados, bem como a realização do uso de preservativo nesta relação.
Frequência de Relações Sexuais- será investigado a partir da quantidade de relações sexuais durante a pandemia do COVID-19, representando uma amostra atual da frequência da prática sexual dos entrevistados.
Quantidade de parceiros sexuais - será avaliado a partir do número de parceiros sexuais na pandemia do COVID-19, apresentando uma amostra representativa do comportamento sexual atual dos entrevistados.
Presença de parceiros fixos ou esporádicos - será avaliado a partir da percepção do indivíduo sobre ter tido, ou não, parceiros fixos.
Proteção durante a relação sexual - será investigada a utilização de métodos de proteção à ISTs preconizadas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2006) nas três últimas relações sexuais.
Métodos contraceptivos utilizados nas relações sexuais - irá se investigar quais métodos contraceptivos foram utilizados na última relação sexual, baseando-se nos métodos contraceptivos recomendados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2009)
Exposição de risco ao contágio de COVID-19 em prol de encontros afetivos ou práticas sexuais - Mesmo diante da vulnerabilidade social que a pandemia tem gerado, um ponto chave para seu enfrentamento é a diminuição da circulação de pessoas nas ruas e nos espaços públicos coletivos (BEZERRA, A. ET AL., 2020). Será analisada a exposição dos adolescentes da amostra coletada, no que concerne à práticas sexuais e/ou afetivas durante a pandemia de COVID-19, na cidade de Pelotas.
Sexting - irá ser avaliado a correspondência de mensagens de texto, de voz de cunho sexual, além do envio de nudes, que se refere a um fenômeno da era digital que consiste no registro, e possível compartilhamento, da imagem de uma pessoa com pouca ou nenhuma roupa (PRIMO ET. AL., 2015)
Relação sexual sob influência de substâncias lícitas e ilícitas - será analisado o comportamento de risco ligado à prática sexual sob uso de drogas lícitas ou ilícitas.
Comportamento autoerótico - será investigado a adesão, ou aumento, do engajamento em comportamentos auto eróticos, como a masturbação e consumo de material pornográfico, desde o início da pandemia de COVID-19.
Uso de aplicativos de relacionamento - nesse ponto será analisada a adesão, ou aumento no uso, dos adolescentes entrevistados aos aplicativos de relacionamentos nos celulares, bem como a finalidade desse uso.
Uso de chat de redes sociais, jogos e plataformas educativas - será analisado o uso de plataformas digitais com o fim de relacionamentos íntimos.
Entrevistadores:
As alunas do Projeto "SE TOCA" do Curso de Psicologia da UFPEL farão o contato com as escolas e solicitarão a intermediação com os pais dos alunos para que exista a autorização para participar da pesquisa. Após, será enviado aos alunos o link do questionário a ser respondido.



Plano de Análise dos Dados:
Os dados serão transferidos para os computadores e, posteriormente, para o software STATA versão 12.0.
O perfil dos estudantes será descrito através das medidas de tendência central e de dispersão para variáveis contínuas e da análise das proporções e intervalos de confiança das variáveis dicotômicas.
A significância das associações entre as exposições e os desfechos será analisada através dos Testes de Qui-quadrado e de Wald para Heterogeneidade de variáveis categóricas e Teste de Tendência Linear para variáveis contínuas.
A análise multivariável será realizada por meio da regressão de Poisson com variância robusta, seguindo um modelo conceitual que tem no primeiro nível as variáveis sociodemográficas e comportamentais e no segundo nível as variáveis de comportamento sexual na pandemia de COVID-19. A análise utilizará seleção para trás a fim de estimar as razões de prevalência (RP) e os intervalos de confiança (IC95%). As variáveis com p-valor menor ou igual a 0,20 serão mantidas no modelo para controle de confusão e, quando o p-valor for menor ou igual a 0,05 a associação será considerada significativa.

Questões Éticas:
A proposta de pesquisa envolve entrevistas por meio da aplicação de questionários, tornando o estudo de risco mínimo, segundo os parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde.
A participação dos indivíduos no estudo ocorrerá através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos pais, autorizando a participação na pesquisa, e após os jovens também assinarão um termo de assentimento, onde serão plenamente garantidos a confidencialidade da informação individual e o direito de recusa em participar da investigação ou desistir a qualquer momento.
O projeto de pesquisa será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas, com objetivo de se adequar às Normas e Diretrizes Regulamentadoras da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos – Resolução CNS 510/2016.



Indicadores, Metas e Resultados

Após a análise de dados teremos indicadores idade de iniciação sexual dos adolescentes e uso de preservativos ou métodos contraceptivos na primeira relação sexual. Durante a pandemia de COVID-19, obteremos indicadores de número de parceiros sexuais nos últimos 3 meses, uso de preservativo nas últimas 3 relações sexuais dos adolescentes. Também, o consumo de pornografia e masturbação no período de pandemia, além de informações sobre a iniciação e curso de relações afetivas, a aderência e o uso de aplicativos de relacionamentos no período pandêmico, o uso de chats de redes sociais, jogos e plataformas educativas, formas de proteção durante a relação sexual, métodos contraceptivos utilizados nas últimas 3 últimas relações, entre outros assunto de extrema importância para o desenvolvimento de programas de orientação aos adolescentes.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ANA LAURA SICA CRUZEIRO SZORTYKA4
EDUARDA MARTINS MALÜE
ISABELLA STRELOW FONSECA
MARIANA DA COSTA CASTRO

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