Nome do Projeto
Avaliação da passagem dos nutrientes pelo sistema solo-planta-animal sob condições de campo natural em quatro tipos de solo do Estado do Rio Grande do Sul
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
15/09/2021 - 15/09/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Agrárias
Resumo
A área do Estado do Rio Grande do Sul abrange cerca de 266.000 km². Desta área, cerca de 60% (158.600 km²), ou seja, cerca de 16 milhões de hectares, são compostos por campos naturais, os quais representam a principal fonte alimentar do rebanho bovino de corte e ovino gaúcho. Assim, a exploração da bovinocultura de corte no Estado, com cerca de 13 milhões de cabeças, e a ovinocultura com cerca de 3,5 milhões de ovinos, é realizada no sistema denominado tradicional, em que predomina a criação extensiva de animais sobre campo natural, cuja característica de produção é uma marcada sazonalidade na oferta de alimentos, ocorrendo assim ciclos de abundância e carência alimentar, mesmo em épocas consideradas como de maior produção. Em decorrência da estacionalidade na produção das pastagens naturais os animais criados no sistema extensivo apresentam baixos índices de produtividade. Devido à impossibilidade da transferência de conhecimentos de região para região, em função das distintas características (fertilidade do solo, vegetação, clima), é necessário o desenvolvimento de estudos sobre o sistema solo-planta-animal em diferentes microrregiões. Assim, o presente projeto tem por finalidade dar continuidade a uma série de avaliações em solos não perturbados, vegetação e desempenho animal em áreas de campo natural, já realizadas nas regiões da Campanha Meridional, Serra do Sudeste e Litoral – Sul. Serão avaliadas quatro áreas nas regiões da Campanha Central e Meridional, com distintas características de solo e vegetação, quanto à produção e qualidade sazonal da pastagem, composição florística, bem como a dinâmica da passagem de macro e microminerais na cadeia solo-planta-animal.

Objetivo Geral

Os objetivos do presente projeto são:
1. estudar a dinâmica anual de desenvolvimento (produção e
disponibilidade) da forragem de campo natural;
2. caracterizar a composição florística das áreas estudadas;
3. avaliar a qualidade nutricional da forragem de campo natural;
4. estudar a dinâmica sazonal dos macro e microminerais no sistema solo-planta-animal;
5. avaliar a produtividade dos animais em pastejo nas áreas estudadas.

Justificativa

A área do Estado do Rio Grande do Sul (RS) abrange cerca de 266.000 km² (MOHRDIECK, 1993). Desta área, cerca de 60% (158.600 km²), ou seja, mais ou menos 16 milhões de hectares, são compostos por campos naturais (MEDEIROS e FOCHT, 2007), os quais representam a principal fonte alimentar do rebanho bovino de corte, ovino e equino gaúcho (GONÇALVES, 1999).
No Rio Grande Sul (RS) o segmento pecuário destaca-se pela sua importância. Segundo dados do Inf. NESPros & EPS (2018) o Estado possuía em 2016 cerca de 13,9 milhões de bovinos, sendo que desta população 7.872.830 milhões (60%) eram raças de bovinos de corte. Ainda importantes no segmento pecuário do Estado são as criações de ovinos, com 3,2 milhões, o segundo maior rebanho ovino do país, bem como equinos, com 528 mil cabeças, conforme o censo agropecuário de 2018 (IBGE, 2019).
A exploração destes animais no Estado, é realizada no sistema denominado tradicional, no qual predomina a criação extensiva de animais sobre campo natural (SAPPER, 1995), cuja característica de produção é uma marcada sazonalidade na oferta de alimentos, ocorrendo assim ciclos de abundância e carência alimentar, mesmo em épocas consideradas como de maior produção (ALFAYA et al., 1997a).
Em decorrência da estacionalidade de produção das pastagens naturais os animais criados no sistema extensivo apresentam índices de produtividade bastante baixos. Isto fica claro quando se observam dados estatísticos levantados por CACHAPUZ (1995) no Rio Grande do Sul, que indicam alguns índices zootécnicos referentes à bovinocultura de corte, tais como: taxa de natalidade (50%); repetição de cria em vacas adultas com cria ao pé (20-25%); idade ao 1º. acasalamento (36 meses); idade à 1ª. cria (48 meses); idade ao abate (54 meses), deixam muito a desejar. O mesmo autor aponta ainda a falta de adoção de novas tecnologias por parte dos produtores como razão da baixa produtividade deste setor. Corroborando, BERETTA et al. (1999) indicam que, apesar de estas atividades utilizarem uma grande área de campo natural, o retorno econômico é de apenas 6,29 % da receita global do Estado.
Alguns destes índices de produtividade no Rio Grande do Sul, tais como taxa de prenhez, idade ao acasalamento, idade ao abate, etc., evoluíram muito pouco nos últimos anos (BERETTA et al., 1999). Esta afirmativa fica confirmada, quando se observa que, do ano de 1985 a 1994, o rebanho bovino de corte do Rio Grande do Sul cresceu apenas 6,45% (ANUALPEC/FNP, 2016), ou seja, na razão média de 0,64%/ano. Também VELHO (1996), relatando dados médios de produtividade em nível de rebanho de corte nacional, refere que estes parâmetros de produtividade ainda permanecem os mesmos: a idade média ao 1º. entoure é de 36 meses, a idade à 1ª. parição situa-se entre 42 - 48 meses, a idade ao abate gira em torno dos 60 meses, e que esta baixa produtividade ocorre devido a sazonalidade na oferta de alimento.
No contexto da estacionalidade de produção das pastagens naturais, ALFAYA et al. (1997b) indicam que a eficiência de produção, obtida no período de melhor oferta alimentar, se perde parcial ou totalmente nos períodos de carência e que, a perda de peso dos animais exterioriza-se, principalmente, naqueles que se encontram em fase de crescimento, como as novilhas. Os mesmos autores observam ainda que, nesta categoria, ocorre um retardamento no desenvolvimento corporal dos animais, o qual tem como consequência uma demora das fêmeas em atingir a puberdade, idade ao 1º. acasalamento e, portanto, vida produtiva menor. Esta, porém, não é urna situação exclusiva de fêmeas criadas neste sistema, também os machos criados em regime de pastejo contínuo em campo natural, principalmente os castrados, apresentam lentidão no seu desenvolvimento (QUINN et al., 1968; KRUGER & MEYER, 1968; GEAY, 1984). Dos diversos fatores que influenciam a produtividade dos animais aparecem a nutrição, o manejo e a sanidade dos animais como os principais (ENSMINGER, 1990; KIRCHGESSNER et al., 2014). Destes, são considerados como mais importantes, em se considerando o sistema tradicional de criação, a nutrição e a sanidade animal (PINHEIRO, 1981; VELHO, 1996). Associados a estes, embora em menor escala, também o clima exerce certa influência, já que pode afetar não só a produtividade dos animais, como principalmente a produção e a qualidade dos alimentos por eles consumidos (FITZPATRlCK & NIX 1970; MOTA et al., 1981).
Contemplando o principal fator influente na produtividade dos animais, a nutrição, deve-se considerar que, ao lado de grupos importantes de nutrientes, como carboidratos, lipídios, proteínas e a própria energia deles proveniente, existem outras inúmeras substâncias e elementos que concorrem para a manutenção energética a e formação de substâncias imprescindíveis ao organismo e, consequentemente, à produção animal.
Neste contexto, também aparecem os elementos minerais (macro e micronutrientes), que assumem um importante papel nas mais diversas funções vitais do organismo animal. Assim, eles fazem parte de órgãos, enzimas, vitaminas, etc. Alguns estão envolvidos no metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas, outros servem como ativadores e/ou transportadores de substâncias. Também existem aqueles que são responsáveis pela regulação das relações ácido-base e da pressão osmótica do corpo (BURGSTALLER, 1986; CARVALHO et al., 2003; ENSMINGER et al., 1990; SUTTLE, 2010; KIRCHGESSNER et al., 2014).
Assim, é de suma importância o estudo dos fatores que influenciam a produtividade dos animais mantidos em áreas de campo natural em regime de pastejo extensivo contínuo.
Os principais fatores responsáveis pela oscilação na qualidade da pastagem são: localização das plantas (solos, pH), capacidade de absorção e retenção de nutrientes das plantas, clima e influência atmosférica, composição florística da pastagem e estádios de desenvolvimento da vegetação (ENSMINGER et al., 1990; KIRCHGESSNER et al., 2014). O ambiente natural é sobremaneira suscetível a fatores antrópicos, que quando negativos resultam na degradação dos recursos naturais e, consequentemente, na queda da produção e da qualidade da forragem.
A falta de conhecimentos mais profundos das características e condições dos solos e plantas, nas diferentes épocas do ano, bem como a impossibilidade de transferência de conhecimentos já adquiridos, de regiões com características diferentes, induz a práticas errôneas de manejo animal e da vegetação, práticas estas que provocam transformações no "clímax" da vegetação. Com isso ocorre o aparecimento de espécies indesejáveis e invasoras, que geralmente apresentam baixo valor forrageiro. Mesmo em vegetações "clímax", na primavera, quando há maior oferta de alimentos, os teores dos nutrientes básicos, como proteína, lipídios e carboidratos, são muitas vezes suficientes somente para as categorias animais menos exigentes (ALFA YA et al., 1997b).
Muito embora, existam levantamentos dos teores de minerais em solos e pastagens naturais em distintas regiões do Estado (AGOSTINI e KAMINSKI, 1976; CAVALHEIRO e TRINDADE, 1987; CAVALHEIRO e TRINDADE, 1992; GAVILLON e QUADROS, 1970; GAVILLON e QUADROS, 1973; TRINDADE e CAVALHEIRO; 1990; TRINDADE et al., 1987), eles são muito generalizados, uma vez que baseiam-se: 1º. em um pequeno número de amostras; 2º. poucos restringem-se no máximo a quatro coletas anuais (estações climáticas); 3º. muitos foram realizados com amostras de áreas excluídas (beira de estrada), as quais não representam a realidade das áreas pastejadas (composição florística, nutrientes disponíveis).
Estudos sobre a deficiência destes elementos na função solo-planta-animal, nas diferentes épocas do ano, são poucos em nível de Brasil (TOKARNIA et al. 1999). No Rio Grande do Sul só recentemente foram divulgados alguns resultados de pesquisas realizadas em três tipos de solos representativos do município de Bagé, na região da Campanha, de forma mais abrangente (ALFAYA et al., 1998abcd; ALFAYA et al., 2000ab; SANTOS, 1997; REIS, 2005; SANTOS et al. 2010), os quais contemplaram um número maior de amostras e épocas de coleta.
A importância de estudos desta natureza encontra-se no fato de que a função solo-planta-animal é bastante complexa e deve ser vista de maneira crítica, já que nem toda a quantidade de nutrientes existentes no solo está disponível às plantas. Levando-se em consideração que o mesmo ocorre na relação planta-animal, infere-se que uma grande parte dos nutrientes disponíveis nas plantas não são assimilados pelos animais.
Outro estudo abrangente foi conduzido na região agroecológica Serra do Sudeste-RS, para caracterizar a influência de fatores edafo-climáticos sobre a dinâmica estacional: (a) da produção de pastagens de campos naturais; b) da qualidade nutricional da forragem; (c) da disponibilidade de minerais na cadeia solo-planta-animal; (d) do desenvolvimento dos animais (ALFAYA et al., 1997ab; ALFAYA et al., 1999; ALFAYA et al., 2003ab; ALFAYA et al. 2006; DIAS, 1998; DIAS et al., 1999; EICHELBERGER et al., 1998; OLIVEIRA, 2003, REIS et al., 1999; REIS et al., 2001; REIS, 2005; REIS et al., 2008ab; SANTOS 1997; SANTOS et al., 2006).
Com base nos resultados obtidos nestes estudos concluiu-se que, em função da variabilidade dos parâmetros climáticos durante o ano e entre anos, tanto a produtividade quanto a qualidade da forragem de campo natural são afetadas fortemente. Assim, é importante que este tipo de estudo seja conduzido por pelo menos 6-8anos, a fim de que se possam estabelecer médias mais realistas dos parâmetros estudados, as quais serviriam de comparação para que se possam traçar estratégias de manejo da forragem e da nutrição dos animais em pastejo.
No âmbito do desenvolvimento de estudos desta natureza o presente projeto propõe-se a avaliar outras áreas de campo natural sobre quatro tipos de solo representativos da região agroecológica da Campanha – RS, durante 8 anos.

Metodologia

Durante o período de execução da pesquisa os animais não receberão nenhuma suplementação de nutrientes, contando apenas com os nutrientes da forragem disponível.
A coleta de amostras será efetuada durante um período de 12 meses, com periodicidade mensal, durante quatro anos. A cada coleta serão amostrados o solo, a forragem e o sangue dos animais.
As amostras de solo e de planta serão coletadas da seguinte maneira: em cada área serão determinados 16 pontos fixos de coleta que serão distribuídos de maneira a abranger toda a área. Esses pontos de coleta serão demarcados por estacas numeradas, de modo a constituir 4 pontos. As amostras serão analisadas para a determinação de macro e micronutrientes. Serão realizadas correlações entre os nutrientes na cadeia solo-planta-animal, para a determinação da relação dos nutrientes dentro e entre os elos da cadeia.

Indicadores, Metas e Resultados

Durante a execução do projeto ocorrerão dias de campo com a participação de alunos, produtores e técnicos, a fim de apresentação de resultados parciais.
Difusão de resultados obtidos para agricultores e pecuaristas, de modo a se estabelecer a correta adubação fosfatada em solos não perturbados.
Durante o projeto, serão divulgados os resultados parciais, através de resumos expandidos para os anais da Sociedade Brasileira de Zootecnia.
Ao final do projeto será confeccionada uma tese de doutorado e os resultados serão publicados em trabalhos completos em periódicos com corpo editorial.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
HERO ALFAYA JUNIOR8
JOAO GILBERTO CORREA DA SILVA
José Carlos Leite Reis
LAURETT DE BRUM MACKMILL
LUIZ ADILSON DOS SANTOS
MAURO PAZ PINTO
RUBEN CASSEL RODRIGUES

Recursos Arrecadados

FonteValorAdministrador
EMBRAPA-CPACTR$ 9.670,00Coordenador

Plano de Aplicação de Despesas

DescriçãoValor
339030 - Material de ConsumoR$ 9.670,00

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