Nome do Projeto
Relação entre o processamento de informação social e agressividade aos 4 anos em crianças pertencentes à coorte de nascimentos de 2015 de Pelotas/RS
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
20/10/2021 - 28/02/2023
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Segundo o modelo SIP, quando a criança enfrenta uma situação de interação social, ela passa por 6 etapas que a conduzem no exercício de processar as informações recebidas. No final do processo, a criança atua de acordo com a resposta que ela julgue mais adequada para a situação (CRICK; DODGE, 1994). Nas etapas (1) e (2), os indivíduos focam seletivamente em pistas sociais particulares e, com base nessas pistas, interpretam o contexto da situação (ZIV, 2012). Nas etapas (3), (4) e (5), os indivíduos acessam as respostas possíveis de experiências anteriores armazenadas na memória de longo prazo, avaliam essas respostas e, em seguida, selecionam uma para executar (CRICK; DODGE, 1994). Neste modelo, respostas comportamentais a situações sociais estão baseadas em um conjunto de passos de processamento (GODLESKI; OSTROV, 2020). Com base na teoria do SIP, as perspectivas sociais cognitivas infantis estão baseadas em experiências sociais prévias (GODLESKI; OSTROV, 2020) e crianças mais agressivas, por exemplo, apresentam um padrão de SIP distorcido ao longo das etapas (ZIV, 2012). Após decodificar as pistas sociais, a criança precisa interpretar essas pistas. O foco do modelo SIP é na possibilidade de interpretar pistas sociais como hostis ou não. Se a criança erroneamente faz a interpretação de uma situação com hostilidade, mesmo quando a situação é ambígua, dizemos que esta criança apresentou um viés de atribuição hostil (VAH) (CHOE et al., 2013). O VAH é tido como um fator de risco para comportamentos antissociais e agressivos (LEE et al., 2019). De fato, crianças com comportamentos agressivos fazem mais comumente atribuições impulsivas ou hostis nas interações sociais com os pares, mesmo quando a intensão hostil não existe. Após a atribuição de intenção das pistas recebidas, na próxima etapa do modelo, a criança seleciona o objetivo que ela deseja frente a uma dada situação. Uma vez que o objetivo tenha sido estabelecido, uma ou mais respostas comportamentais são geradas ou acessadas a partir da memória de longo prazo. De maneira geral, crianças com comportamentos agressivos tem uma grande variedade de respostas agressivas e uma escassez de alternativas competentes não agressivas disponíveis na memória (DODGE et al., 2002). Caso a situação seja nova, a criança pode construir novos comportamentos em resposta a pistas sociais imediatas (CRICK; DODGE, 1994). Devido aos resultados tardios negativos de agressividade alta e prolongada, entender os mecanismos de agressividade infantil precoce tem importantes implicações para elaboração de programas de prevenção e intervenção (HELMSEN; KOGLIN; PETERMANN, 2012). Além disso, a primeira infância é um período de mudança rápida no desenvolvimento social e, portanto, uma janela oportuna para intervenção (LEE et al., 2019).

Objetivo Geral

Investigar o papel do processamento de informação social (atribuição hostil /
geração de resposta positiva / avaliação de resposta positiva) na agressividade de
crianças em idade de 4 anos, pertencentes à Coorte de 2015 de Pelotas/RS.

Justificativa

Visto que crianças com problemas de comportamento no início da vida estão
em risco de desenvolver habilidades menos adaptativas na fase escolar e em
momentos posteriores do desenvolvimento, o principal objetivo de pesquisas sobre
desenvolvimento infantil na primeira infância é aumentar o entendimento sobre os
fatores que fazem algumas crianças mais vulneráveis a problemas comportamentais;
como, por exemplo, padrão de SIP distorcido (ZIV, 2012). Há evidências de que
alterar o SIP infantil pode de fato levar a reduções no comportamento agressivo. Isto
indica que as mudanças discretas nas etapas do SIP estão relacionadas às
mudanças nos comportamentos de externalização ao longo do tempo (LANSFORD
et al., 2006).
Examinar a cognição social em crianças jovens é um acréscimo importante
para a compreensão das relações com os pares, porque a maneira como as
crianças interpretam e respondem a situações sociais na primeira infância pode
moldar seu estilo de interação e reputação comportamental com pares ao longo dos
anos (MAYEUX; CILLESSEN, 2003). Apesar de grande parte dos estudos focar em
cenários de provocação de agressividade física, poucos se preocuparam em estudar
sobre o modelo SIP e viés de atribuição hostil nas situações de provocação
relacional. Portanto, é de extrema importância estudar os fatores de risco para
agressão relacional e comportamentos associados (GODLESKI; OSTROV, 2020).
Além disso, do ponto de vista da psicopatologia do desenvolvimento, é
importante entender como comportamentos e estilos emocionais interagem para
prever futuros problemas e resultados positivos. Ainda, compreender a variação do
desenvolvimento típico aumenta nossa compreensão de como esses processos
podem funcionar para aqueles no extremo do espectro, e para onde os esforços de
intervenção podem ser direcionados (PERHAMUS; OSTROV, 2020). Como o
modelo SIP descreve processos específicos que podem ser ensinados por meio da
prática e demonstração, ele poderia ser direcionado a pré-escolares socialmente
desajustados (ZIV, 2012).
Apesar de sua associação com resultados clínicos e de desenvolvimento
importantes, o viés de atribuição hostil é um tópico relativamente pouco estudado.
De uma perspectiva desenvolvimental, é particularmente importante entender o
desenvolvimento precoce da forma como as intenções alheias são percebidas
(GODLESKI; OSTROV, 2020). Visto que o VAH pode bloquear o aprendizado de
alguns comportamentos favoráveis socialmente, conhecer as diferenças individuais
no VAH infantil pode ser útil para a prevenção do comportamento problemático e a
promoção do desenvolvimento positivo infantil (LEE et al., 2019). Portanto, identificar
fatores que aumentam o risco de as crianças jovens desenvolverem viés de
atribuição hostil, assim como compreender os fatores que protegem contra este
desenvolvimento é de importância prática e teórica (CHOE et al., 2013).
Ademais, pouco se sabe sobre o processamento da informação social em
crianças com e sem tendência de conduta agressiva em idade pré-escolar
(DENHAM, S. et al., 2002; ZIV, 2012), visto que muitos estudos avaliaram crianças
em idade escolar. Os anos pré-escolares são caracterizados por uma série de
desafios, uma vez que as crianças nesta idade precisam se integrar ao grupo de
pares, seguir regras, tolerar a separação dos pais e lidar com a frustração e
desapontamentos a serviço dos objetivos de associação com os pares. Ao mesmo
tempo, esta fase da infância é um período de grande crescimento no
desenvolvimento cognitivo, social e emocional, tornando-se um período importante
para a pesquisa (HELMSEN; KOGLIN; PETERMANN, 2012).
DENHAM, et al. (2002) afirmam que o aprendizado das emoções e a
competência social não deveriam ser deixados ao acaso. Programas de
identificação e intervenção precoces deveriam ser realizados para baixar a
incidência e a prevalência da agressividade e para aumentar a probabilidade de
sucesso no manejo das habilidades socioemocionais. Para isso, se faz necessária a
identificação precoce dos indivíduos em risco. As avaliações do SIP na infância são
particularmente interessantes para estudar o desenvolvimento infantil, dadas as
mudanças dramáticas na compreensão das crianças sobre conceitos mentais como
a intencionalidade (RUNIONS; KEATING, 2007).
A partir da idade pré-escolar o viés de atribuição hostil das crianças as coloca
em risco de desenvolver problemas de comportamento agressivo. Vieses de
atribuição hostis podem predispor as crianças a agirem agressivamente e evocar
interações adversas com seus pares que - ironicamente - confirmam suas
atribuições hostis e promovem suas disposições agressivas. Esse efeito de
autoperpetuação de vieses de atribuição hostis ressalta a importância da
intervenção precoce. Para conceber uma intervenção eficaz, no entanto, precisamos
entender melhor os processos psicológicos que estão por trás dos vieses de
atribuição hostis na primeira infância (VAN DIJK et al., 2018). Soma-se a isso o fato
de que um estudo que usou dados do Estudo de Assistência Infantil do NICHD
(Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano) descobriu que a
atribuição hostil medida durante os anos pré-escolares é um melhor indicador de
comportamento problemático na primeira série do que a atribuição hostil medida
simultaneamente na primeira série (RUNIONS; KEATING, 2007; ZIV; SORONGON,
2011).
Os programas de intervenção devem prevenir e reduzir a agressão na primeira
infância promovendo habilidades sociocognitivas e de regulação emocional, pois as
crianças não podem resolver os problemas se estiverem dominadas pela raiva. Na
verdade, muitos programas de prevenção de agressividade visam fortalecer as
habilidades de crianças pequenas para reconhecer e controlar suas emoções e para
resolver problemas sociais (HELMSEN; KOGLIN; PETERMANN, 2012). Em vista
disso, o presente estudo se faz necessário para somar informações sobre o
processamento de informação social, com foco no VAH, na idade pré-escolar, na
esperança de contribuir teoricamente para a criação de programas de intervenção
que diminuam a prevalência de comportamentos agressivos na infância.

Metodologia

Este estudo é de base populacional, tendo um delineamento longitudinal.
Para os objetivos da pesquisa, as informações sociodemográficas serão
consideradas no momento do nascimento, a parentalidade medida aos dois anos e
as informações sobre o processamento de informação social, VAH materno e
agressividade infantil serão extraídas aos 4 anos de idade das crianças.
O delineamento longitudinal é o mais adequado para se estudar a
epidemiologia do ciclo vital, a qual se baseia na hipótese de que é importante não
apenas conhecer as atuais características dos indivíduos, mas também as
ocorrências das características ao longo da vida, desde o nascimento até o
momento atual. O estudo se caracteriza pelo acompanhamento de indivíduos
durante determinado tempo e permite avaliar a temporalidade da possível
associação entre desfecho e fatores de risco, diminuindo o viés de causalidade
reversa.
Duas análises serão feitas com dados colhidos transversalmente. A relação
do VAH materno com o SIP infantil e este com a agressividade infantil. Porém,
considera-se que existe uma relação unidirecional entre VAH e SIP infantil. Tendo
como base a teoria a ser testada neste estudo, o processamento da informação é o
que leva ao comportamento e não o oposto. Assim, pode-se pensar que a
causalidade reversa se torna menos provável, mesmo para estas análises.

Indicadores, Metas e Resultados

HIPÓTESES

1. Padrões de processamento de informação social menos competentes
serão mais frequentes entre crianças:

I. De sexo masculino, com características socioeconômicas familiares
menos favoráveis (menor renda familiar, maior densidade familiar e
menor nível de escolaridade dos pais), e filhos de mães mais
jovens;
II. Mais expostas à violência;
III. Cujas práticas parentais foram coercivas aos dois anos de idade da
criança;
IV. Cujas mães apresentam maior pontuação de viés de atribuição
hostil materno.

2. Comportamentos agressivos serão mais frequentes entre crianças:
IV. De sexo masculino, com características socioeconômicas menos
favoráveis (menor renda familiar, maior densidade familiar e menor
escolaridade dos pais), e filhos de mães mais jovens;
V. Mais expostas à violência;
VI. Cujas práticas parentais foram coercivas aos dois anos de idade da
criança;
VII. Cujas mães apresentam maior pontuação de viés de atribuição
hostil materno.
3. Crianças com padrão de processamento de informação social
menos competente apresentarão mais comportamentos agressivos.

DIVULGAÇÃO DOS DADOS E PRODUTOS ESPERADOS

Os resultados encontrados serão divulgados na apresentação final da tese e
em artigo(s) publicado(s) em revista(s) científica(s) indexada(s) e com corpo
editorial. Será também elaborada uma síntese dos principais resultados do estudo
para veiculação na imprensa local.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
Andreas Bauer
JOSEPH MURRAY1
LUCIANA RODRIGUES PERRONE
SUÉLEN HENRIQUES DA CRUZ

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