Nome do Projeto
ASSOCIAÇÃO ENTRE EVENTOS ESTRESSORES E COMPORTAMENTO SUICIDA EM PERTENCENTES À COORTE DE NASCIMENTOS DE PELOTAS DE 1993
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
09/11/2021 - 28/02/2023
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Eventos estressores, também chamados de eventos estressantes ou
adversos, são definidos como ocorrências durante a vida que alteram o ambiente,
interno e externo, que provocam estresse e tensão, interferindo no comportamento
dos indivíduos (POLETTO et al., 2009).
A relação entre indivíduos e eventos estressores varia de acordo com a
frequência de ocorrência e coocorrência, intensidade, duração e severidade. O
impacto ocasionado pelos eventos estressores está determinado pela sua
frequência, modo que ocorrem, quem gerou e a forma como são percebidos pelos
indivíduos, levando a prejuízos emocionais e sociais no desenvolvimento quando
estes acontecem desde a infância e/ou adolescência (POLETTO et al., 2009).
Uma revisão sistemática de literatura, que incluiu 28 estudos observacionais
com participantes entre 10 e 25 anos, mostrou que durante a infância e adolescência
alguns eventos estressores (como assédio ou abuso sexual, abuso físico, maustratos, negligência infantil, disfunção familiar, violência doméstica, divórcio dos pais e
morte dos pais) possuem uma relação com o comportamento suicida. Ademais, foi
observada uma relação de dose-resposta entre o número de eventos estressores
experienciados e o comportamento suicida (SERAFINI et al., 2015).
Eventos estressores ocorridos na infância e adolescência (abuso emocional,
abuso físico, abuso sexual, negligência, entre outros) estão associados ao
comportamento suicida. O comportamento suicida consiste na ideação persistente,
planejamento e tentativa de suicídio (WHO, 2014). A ideação suicida engloba
desejos de querer morrer, planejamentos sobre como, quando e onde será feito e
considerações a respeito do impacto que o ato de suicídio pode causar a terceiros
(CID, 1997), não antecedendo necessariamente a tentativa de suicídio. A tentativa
de suicídio é classificada como uma forma de lesão autoinfligida com o objetivo de
tirar a própria vida sem sucesso (CID, 1997). Apesar das subestimativas, sabe-se
que o comportamento suicida e, mais especificamente o suicídio, continua sendo
uma das principais causas de morte no mundo entre jovens de 15 a 29 anos (PAHO,
2021). Nas Américas, em 2019, cerca de 97 mil pessoas cometeram suicídio e não
há dados registrados sobre as tentativas e o número de vezes que elas ocorreram
(PAHO, 2021)
Objetivo Geral
Analisar a relação entre eventos estressores ocorridos na infância e
adolescência e comportamento suicida aos 22 anos entre jovens pertencentes ao
estudo de coorte de nascimentos de 1993, Pelotas (RS).
adolescência e comportamento suicida aos 22 anos entre jovens pertencentes ao
estudo de coorte de nascimentos de 1993, Pelotas (RS).
Justificativa
As taxas de suicídio e tentativa de suicídio têm aumentado rapidamente ao
longo das últimas décadas, sendo uma das principais causas de morte no mundo e
a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, tornando estas
condições de grande preocupação à saúde pública mundial (WHO, 2014; PAHO,
2021). No Brasil, entre 1996 e 2017, a taxa de ocorrência deste problema passou de
4,18 para 6,14/100 mil habitantes, representando um aumento de 46,9% nesse
período. Na média, na mesma série temporal, o estado do Rio Grande do Sul (RS)
lidera as taxas de suicídio no país, com 10,3 ocorrências do comportamento mais
estremado (suicídio) para cada 100 mil habitantes, ficando próximo da média global,
em 2016, de 10,5 casos/100 mil habitantes (FILHO, 2019). Os números de casos de
ideação, planos e tentativas de suicídio podem ser muito maiores do que os dados
oficiais apresentam para o suicídio, impedindo ações preventivas focadas em
indivíduos que possuem uma série de características que podem levá-lo a esse
comportamento.
Segundo dados do DATASUS (Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde), em comparação a outros estados do país, a situação do RS, não
se modificou até 2019, quando foram registrados 13 casos de suicídio/100 mil
habitantes. Em relação à cor da pele, 48,7% dos óbitos por suicídio ocorridos no
Brasil em 2019 ocorreram entre a população negra (pretos e pardos), enquanto em
2010 esse percentual foi um pouco menor (42,8%), representando um aumento de
13,8% entre estes anos. No que se refere às tentativas de suicídio, avaliado a partir
de dados sobre lesões autoprovocadas, os adultos jovens (20 e 29 anos)
apresentaram a maior ocorrência de lesões autoprovocadas no RS em 2019,
representado 23,2% entre os 12.111 casos registrados no estado (DATASUS, 2021).
Entre os fatores de risco e/ou mediadores conhecidos para o comportamento
suicida, transtornos psiquiátricos como o bipolar, depressivo e de ansiedade
apresentam evidências mais robustas de sua associação com o desfecho
(BALDAÇARA et al., 2020). Outros fatores como sexo, escolaridade, situação de
trabalho, nível socioeconômico e a ocorrência de eventos estressores na infância ou
adolescência também se mostraram importantes para o desfecho comportamento
suicida (FRANKLIN et al., 2017; NOCK et al., 2008; SERAFINI et al., 2015).
A maioria dos estudos sobre o tema foi realizada em países de renda alta,
cujas diferenças culturais, sociais e políticas são significantes quando comparadas
ao Brasil, dificultando a extrapolação dos resultados para países de baixa/média
renda. Além disso, grande parte dos estudos nacionais coletou informações sobre as
exposições somente na idade adulta, aumentando a possibilidade de subestimação
dos resultados, com limitações metodológicas que os impossibilitou de estabelecer
causalidade ou extrapolação dos resultados para a população em geral. Muitos
deles possuem delineamento transversal ou foram feitos com amostras de pacientes
psiquiátricos, que costumam ter maiores prevalências de exposições a eventos
estressores na infância e adolescência (BRODSKY; STANLEY, 2008; HOWARTH et
al., 2020; SERAFINI et al., 2015).
Enquanto algumas crianças ou adolescentes são capazes de enfrentar e
contornar os eventos estressores com maior facilidade e em menor tempo e sem
prejuízos, outras experienciam os efeitos de forma mais negativa e severa no
momento ou com repercussão em um tempo maior na vida, com ao seu
desenvolvimento e interação social e familiar. Portanto, diante da diversidade e
inevitável ocorrência de eventos estressores ao longo do ciclo vital, torna-se
importante identificar quais os eventos estressores ocorridos mais precocemente
podem levar ao comportamento suicida no início da fase adulta.
O presente trabalho poderá contribuir com a literatura existente sobre o tema,
ao avaliar prospectivamente a associação da ocorrência de eventos estressores na
infância ou adolescência e o comportamento suicida em adultos jovens.
longo das últimas décadas, sendo uma das principais causas de morte no mundo e
a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, tornando estas
condições de grande preocupação à saúde pública mundial (WHO, 2014; PAHO,
2021). No Brasil, entre 1996 e 2017, a taxa de ocorrência deste problema passou de
4,18 para 6,14/100 mil habitantes, representando um aumento de 46,9% nesse
período. Na média, na mesma série temporal, o estado do Rio Grande do Sul (RS)
lidera as taxas de suicídio no país, com 10,3 ocorrências do comportamento mais
estremado (suicídio) para cada 100 mil habitantes, ficando próximo da média global,
em 2016, de 10,5 casos/100 mil habitantes (FILHO, 2019). Os números de casos de
ideação, planos e tentativas de suicídio podem ser muito maiores do que os dados
oficiais apresentam para o suicídio, impedindo ações preventivas focadas em
indivíduos que possuem uma série de características que podem levá-lo a esse
comportamento.
Segundo dados do DATASUS (Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde), em comparação a outros estados do país, a situação do RS, não
se modificou até 2019, quando foram registrados 13 casos de suicídio/100 mil
habitantes. Em relação à cor da pele, 48,7% dos óbitos por suicídio ocorridos no
Brasil em 2019 ocorreram entre a população negra (pretos e pardos), enquanto em
2010 esse percentual foi um pouco menor (42,8%), representando um aumento de
13,8% entre estes anos. No que se refere às tentativas de suicídio, avaliado a partir
de dados sobre lesões autoprovocadas, os adultos jovens (20 e 29 anos)
apresentaram a maior ocorrência de lesões autoprovocadas no RS em 2019,
representado 23,2% entre os 12.111 casos registrados no estado (DATASUS, 2021).
Entre os fatores de risco e/ou mediadores conhecidos para o comportamento
suicida, transtornos psiquiátricos como o bipolar, depressivo e de ansiedade
apresentam evidências mais robustas de sua associação com o desfecho
(BALDAÇARA et al., 2020). Outros fatores como sexo, escolaridade, situação de
trabalho, nível socioeconômico e a ocorrência de eventos estressores na infância ou
adolescência também se mostraram importantes para o desfecho comportamento
suicida (FRANKLIN et al., 2017; NOCK et al., 2008; SERAFINI et al., 2015).
A maioria dos estudos sobre o tema foi realizada em países de renda alta,
cujas diferenças culturais, sociais e políticas são significantes quando comparadas
ao Brasil, dificultando a extrapolação dos resultados para países de baixa/média
renda. Além disso, grande parte dos estudos nacionais coletou informações sobre as
exposições somente na idade adulta, aumentando a possibilidade de subestimação
dos resultados, com limitações metodológicas que os impossibilitou de estabelecer
causalidade ou extrapolação dos resultados para a população em geral. Muitos
deles possuem delineamento transversal ou foram feitos com amostras de pacientes
psiquiátricos, que costumam ter maiores prevalências de exposições a eventos
estressores na infância e adolescência (BRODSKY; STANLEY, 2008; HOWARTH et
al., 2020; SERAFINI et al., 2015).
Enquanto algumas crianças ou adolescentes são capazes de enfrentar e
contornar os eventos estressores com maior facilidade e em menor tempo e sem
prejuízos, outras experienciam os efeitos de forma mais negativa e severa no
momento ou com repercussão em um tempo maior na vida, com ao seu
desenvolvimento e interação social e familiar. Portanto, diante da diversidade e
inevitável ocorrência de eventos estressores ao longo do ciclo vital, torna-se
importante identificar quais os eventos estressores ocorridos mais precocemente
podem levar ao comportamento suicida no início da fase adulta.
O presente trabalho poderá contribuir com a literatura existente sobre o tema,
ao avaliar prospectivamente a associação da ocorrência de eventos estressores na
infância ou adolescência e o comportamento suicida em adultos jovens.
Metodologia
O delineamento do estudo será do tipo coorte. O estudo utilizará dados da
coorte de nascimentos da cidade de Pelotas no ano de 1993. Neste ano, todos os
nascidos vivos de partos ocorridos em hospitais na zona urbana do município de
Pelotas, cujas famílias residiam no local, foram elegíveis para participar de um
estudo longitudinal com o objetivo avaliar alguns aspectos da saúde da população
elegível para o estudo. As cinco maternidades da cidade foram visitadas diariamente
durante 1993 em busca das crianças (VICTORA et al., 2008).
Foram elegíveis 5.265 crianças nascidas vivas, mas com a recusa de
participação de 16 mães (0,3% de recusas), a amostra do estudo é composta por
5.249 participantes. Subamostras de crianças desta coorte foram visitadas com um
mês, três e seis meses e com um, quatro, seis e nove anos de idade.
Acompanhamentos mais recentes aconteceram aos 11, 15, 18 e 22 anos de vida,
quando todos os participantes foram procurados e entrevistados.
No acompanhamento dos 11 anos, do total, 4.452 adolescentes foram
entrevistados, correspondendo a uma taxa de acompanhamento de 87,5%. Foram
entrevistados aos 15 anos 4.325 adolescentes, aos 18 anos 4.106 jovens e aos 22
anos 3.810, com taxas de acompanhamento de 85,7%, 81,3% e 76,3%,
respectivamente (GONÇALVES et al., 2018).
Estudar longitudinalmente os jovens de cidade de porte médio como
problemas semelhantes a grande parte dos municípios nacionais, pertencentes a
uma coorte de nascimentos, cuja qualidade de coleta da exposição e desfecho de
interesse são reconhecidas nacional e internacionalmente, possibilitará um melhor
entendimento de como essa relação se comporta em um país de renda média, que
possui diferenças socioeconômicas distintas dos demais estudos sobre o tema com
este delineamento.
coorte de nascimentos da cidade de Pelotas no ano de 1993. Neste ano, todos os
nascidos vivos de partos ocorridos em hospitais na zona urbana do município de
Pelotas, cujas famílias residiam no local, foram elegíveis para participar de um
estudo longitudinal com o objetivo avaliar alguns aspectos da saúde da população
elegível para o estudo. As cinco maternidades da cidade foram visitadas diariamente
durante 1993 em busca das crianças (VICTORA et al., 2008).
Foram elegíveis 5.265 crianças nascidas vivas, mas com a recusa de
participação de 16 mães (0,3% de recusas), a amostra do estudo é composta por
5.249 participantes. Subamostras de crianças desta coorte foram visitadas com um
mês, três e seis meses e com um, quatro, seis e nove anos de idade.
Acompanhamentos mais recentes aconteceram aos 11, 15, 18 e 22 anos de vida,
quando todos os participantes foram procurados e entrevistados.
No acompanhamento dos 11 anos, do total, 4.452 adolescentes foram
entrevistados, correspondendo a uma taxa de acompanhamento de 87,5%. Foram
entrevistados aos 15 anos 4.325 adolescentes, aos 18 anos 4.106 jovens e aos 22
anos 3.810, com taxas de acompanhamento de 85,7%, 81,3% e 76,3%,
respectivamente (GONÇALVES et al., 2018).
Estudar longitudinalmente os jovens de cidade de porte médio como
problemas semelhantes a grande parte dos municípios nacionais, pertencentes a
uma coorte de nascimentos, cuja qualidade de coleta da exposição e desfecho de
interesse são reconhecidas nacional e internacionalmente, possibilitará um melhor
entendimento de como essa relação se comporta em um país de renda média, que
possui diferenças socioeconômicas distintas dos demais estudos sobre o tema com
este delineamento.
Indicadores, Metas e Resultados
Os dados utilizados para a elaboração deste trabalho foram coletados em
acompanhamentos da Coorte de 1993 de Pelotas, que foram devidamente
aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da
Universidade de Pelotas. Todos os participantes do estudo e/ou seus responsáveis
concordaram em participar do estudo, sob garantia da confidencialidade dos dados,
e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Nos
acompanhamentos realizados aos 11 e 15 anos, a participação foi autorizada pelos
pais ou responsáveis pelo TCLE.
Todos que pontuaram como tendo comportamento suicida, receberam
orientação para procurar um atendimento psicológico durante conversa com uma
psicóloga, supervisora das entrevistadoras graduadas em Psicologia.
acompanhamentos da Coorte de 1993 de Pelotas, que foram devidamente
aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da
Universidade de Pelotas. Todos os participantes do estudo e/ou seus responsáveis
concordaram em participar do estudo, sob garantia da confidencialidade dos dados,
e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Nos
acompanhamentos realizados aos 11 e 15 anos, a participação foi autorizada pelos
pais ou responsáveis pelo TCLE.
Todos que pontuaram como tendo comportamento suicida, receberam
orientação para procurar um atendimento psicológico durante conversa com uma
psicóloga, supervisora das entrevistadoras graduadas em Psicologia.
Equipe do Projeto
Nome | CH Semanal | Data inicial | Data final |
---|---|---|---|
GABRIEL CALEGARO | |||
HELEN DENISE GONCALVES DA SILVA | 1 | ||
PEDRO SAN MARTIN SOARES |