Nome do Projeto
A PROBLEMÁTICA DA ATIVIDADE DE CAÇA DE ANIMAIS SELVAGENS E SEU RISCO PARA A SAÚDE ÚNICA
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/01/2022 - 30/01/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Agrárias
Resumo
A interação humana com os animais selvagens (animais da fauna nativa e de espécies exóticas) ocorre há milhares de anos, fazendo parte da história da humanidade. Nos últimos anos, diversos pesquisadores vinham alertando sobre o risco do surgimento de pandemias devido à degradação dos ecossistemas, às ações antrópicas de impacto negativo ao planeta, às condições precárias de higiene e bem-estar na produção animal, bem como o comércio de produtos de origem animal sem inspeção. Este trabalho tem como objetivo fazer um levantamento, através de um questionário online, sobre a percepção que os alunos de graduação da UFPEL (com matrícula ativa no ano de 2021) em relação as interações com os animais e os riscos de adquirir ou propagar doenças zoonóticas, principalmente por meio das atividades de caça dos animais selvagens. Além disso, visa a produção de um material didático que dissertará de forma reflexiva, com base técnico-científica, sobre diversos temas que permeiam a interação entre humanos e animais. Isso se dará através da confecção de material audiovisual visando a Educação em Saúde e considerando os aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais do público alvo. Posteriormente, o material audiovisual será disponibilizado no Canal do YouTube do Núcleo de Estudos em Saúde Única da UFPEL (NESU-UFPEL), com legenda, onde ficará disponível de forma pública por tempo indefinido.

Objetivo Geral

O presente projeto tem como objetivo investigar e analisar, através de questionários online, a problemática acerca do consumo de carne de caça e o risco para a saúde única na percepção de graduandos da Universidade Federal de Pelotas.

Objetivos Específicos:
1. Realizar um levantamento sobre o esclarecimento dos alunos de graduação sobre a manipulação e a ingestão de carnes não inspecionadas de animais selvagens.
2. Fazer um levantamento sobre o esclarecimento dos estudantes universitários sobre o potencial zoonótico ao manusear espécies selvagens sem equipamentos de proteção individual.
3. Conhecer aspectos acerca das necessidades, dos mitos e das crenças as quais podem levar à manutenção cultural das atividades de caça.
4. Realizar atividades de educação em saúde em relação ao risco do consumo de carnes e subprodutos de origem animal não inspecionados, bem como a respeito do possível impacto da atividade de caça sobre a fauna silvestre e o equilíbrio dos ecossistemas.

Justificativa

A indissociabilidade entre a saúde do ser humano, da fauna e do meio ambiente se tornou umas das pautas mais comentadas entre pesquisadores e profissionais da saúde por conta do surgimento da pandemia da COVID-19. Temas relativos às precárias condições higiênico-sanitárias e de bem-estar a qual são submetidos animais selvagens e também domésticos, assim como o comércio e o consumo de carne e subprodutos de origem animal ilegais e não inspecionados, foram levantados.
Diversos são os agentes zoonóticos, podendo ser vírus, bactérias, fungos, protozoários ou endoparasitos. Segundo a OIE (antiga Organização Internacional das Epizootias e atual Organização Mundial de Saúde Animal), 60% das doenças infecciosas humanas tiveram origem zoonótica e pelo menos três a cada quatro patógenos e enfermidades infecciosas emergentes, que vem acometendo o ser humano, são de origem animal. A exemplo podemos citar o sarampo, a caxumba, a leishmaniose visceral, a influenza A, a malária, a febre amarela, a dengue hemorrágica, o HIV, o ebola (na África), o nipah (na Ásia), a chikungunya, o zika, o MERS, o SARS, as gripes (influenzas humana, aviária e suína) e mais atualmente a COVID-19 (WOLFE et al., 2007; ACOSTA et al., 2020).
A superpopulação humana, a expansão das áreas de pastagens e plantações e a consequente fragmentação de habitats naturais estão levando ao declínio da diversidade ecológica como a “conhecemos”. Assim como a proximidade e o adentramento de humanos e de animais domésticos em ambientes de matas, mangues e banhados, propicia o contato de patógenos com novas espécies potencialmente hospedeiras, denominado por Confalonieri (2010) de “oportunidade ecológica”. Ocorrendo o processo de infecção por esses patógenos emergentes, o mesmo pode adquirir capacidade para infectar novos hospedeiros, dependendo das características fisiológicas e genéticas de ambos. Sendo capaz de incorrer em uma epidemia, caso aconteça transmissão inter-específica do agente, ou seja, um evento de emergência infecciosa (CONFALONIERI, 2010).
A atividade de caça ilegal da fauna silvestres está presente em todo território brasileiro, mesmo sendo qualificada como crime, previsto no art. 29 da Lei 9.605/1998 (conhecida como Lei de Crimes Ambientais). Sua pena prevê a detenção de seis meses a um ano, e multa. A pena pode ser aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional (BRASIL, 1998). Já a Instrução Normativa do Ibama n°12/2019, autoriza o controle populacional do javali (Sus scrofa) pelo abate utilizando armas brancas e de fogo (IBAMA, 2019). Nessa prática as interações entre animais selvagens, domésticos e humanos podem se tornar mais frequentes, podendo ocorrer o “transbordamento patogênico” (termo da língua inglesa “Spillover”). Pois, nas atividades de caça, aparenta ser comum o contato com sangue e secreções dos animais caçados sem a utilização de equipamentos de proteção individual.
Em seu artigo, Jacob et al. (2020) disserta sobre diferentes motivações, em algumas regiões brasileiras, para o consumo da carne de caça. Os autores sugerem que na região amazônica haveria uma forte dependência da carne de caça, já no semiárido os mesmos sugestionam que esses hábitos parecem estar relacionados apenas com os aspectos culturais, sem relação com a Segurança Alimentar e Nutricional. Em um trabalho realizado por Sampaio (2011), o valor investido nas atividades de caça nas regiões estudadas, situadas no estado do Rio de Janeiro, foi de R$ 2.058,66 em média (sendo o menor valor de R$ 40,00 e o maior de R$ 9.862,00). Nessa mesma pesquisa foi constatada que a caça praticada na localidade visava fins comerciais e não de subsistência.
Jacob et al. (2020) defendem, ainda, que as políticas públicas em relação a carne de caça devem levar em consideração a vulnerabilidade socioeconômica que afeta diversas famílias. E que todos os sistemas alimentares baseados em animais colocam em perigo a seguridade alimentar. Desse modo, os países mais ricos deveriam considerar a diminuição do consumo de carne em geral, o que poderia gerar benefícios à Saúde Única.
Diversas espécies de animais podem ser potenciais hospedeiros reservatórios de zoonoses. Para CHOMEL et al. (2007) a vida selvagem constitui em um grande reservatório de doenças infecciosas e parasitárias frequentemente desconhecido.
A nível mundial, o aumento da procura por “alimentos exóticos” tem sido um grande fator de risco para o surgimento de doenças zoonóticas. Como exemplo podemos citar a triquinelose e a lagochilascaríase, causadas por nematoides, que têm sua transmissão associada ao consumo de carne malcozida de animais selvagens. No Japão, casos graves de hepatite E acometeram caçadores que comeram carne crua de veado e javali. Na África ocidental, surtos de Ebola foram relacionados ao consumo de carne de chimpanzés. A MERS-Cov foi associada ao consumo de carne e leite de camelos (CHOMEL, 2007; ZANELLA, 2016; TRINDADE, 2019).
No Brasil, três ordens da classe Mammalia apresentam uma maior prevalência de patógenos zoonóticos, são elas: Chiroptera, Primates e Rodentia (OLIVAL et al., 2017). Segundo Sampaio (2011), as espécies mais caçadas em sua área de estudos foram: tatu-galinha e tatu-mirim (Dasypus novemcinctus e D. septemcintus) paca (Agouti paca), capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), cateto (Tayassu tajacu), cutia (Dasyprocta sp.), lagarto teiú (Tupinambis sp.) (sic) e a ave jacupemba (Penelope superciliaris). Espécies como veado (Mazama spp.) e anta (Tapirus terrestres) não foram mais avistadas na localidade.
Além das práticas de caça, há outras atividades que exercem o contato estreito com os animais selvagens. Pessoas que possuem animais exóticos de estimação, por exemplo. Profissionais como tratadores, criadores e médicos veterinários, que trabalham em instituições de manutenção e de atendimento da fauna, também estão expostos ao risco ocupacional de contrair alguma zoonose durante seu exercício profissional.
Para Chomel et al. (2007) é necessário que as pessoas sejam educadas sobre os riscos associados a vida selvagem, a carne de caça e ao comércio de animais de estimação exóticos, tendo em vista reduzir o risco de zoonoses emergentes.
O médico veterinário se apresenta como um profissional capacitado e habilitado para colaborar e atuar em campanhas de saúde pública, assim como para realizar ações de educação em saúde. Ao longo da graduação os estudantes cursam disciplinas de diversas áreas da saúde, desde as básicas como biossegurança, bioestatística, farmacologia, genética, microbiologia, imunologia, epidemiologia, virologia, patologia, radiologia, saneamento, toxicologia, até as específicas como doenças infecciosas, parasitárias e zoonóticas, as clínicas médica e cirúrgica, as inspeções de produtos de origem animal e a administração sanitária em saúde pública. Isso tudo abrangendo diversas espécies de animais. Além disso, há matérias das ciências humanas voltadas para atender a população das áreas rurais, como sociologia, economia, administração e extensão.
Isso evidencia a completude e a aptidão do médico veterinário frente a diferentes desafios referentes a Saúde Única, podendo atuar na prevenção, no controle e na resposta a surtos e pandemias, seja por meio da vigilância em saúde, do monitoramento de fauna, da defesa sanitária e inspeção de produtos de origem animal (CRMV-SP, 2020).
Para elaborar ações de educação em saúde é necessário levar em consideração os aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais do público alvo. Assim, se faz necessário o presente trabalho.

Metodologia

1. Coleta de dados
Visando avaliar diferentes percepções acerca dos riscos à saúde através da ingestão da carne de caça e da manipulação desses animais selvagens abatidos, será formulado um questionário e o mesmo será distribuído para os alunos de graduação da Universidade Federal de Pelotas, com matricula ativa no ano de 2021, divididos em quatro grupos: área 1 - Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde; área 2 - Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; área 3 - Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; e área 4 - Lingüística, Letras, Artes e Multidisciplinares.
O projeto será enviado para o Comitê de Ética em Pesquisas da UFPEL (via Plataforma Brasil). Após a aprovação, ser dará a fase de aplicação do questionário e coleta de dados.
O questionário será disponibilizado de forma online, devido às recomendações de realizar distanciamento social durante a pandemia do COVID-19, no período de dezembro a janeiro de 2021.
O formulário eletrônico será enviado aos estudantes universitários de diversos cursos de graduação da UFPEL através de e-mail institucional, de redes sociais voltado a esse público e de aplicativos de mensagens.
Serão excluídos da coleta respostas de cunho ofensivo ou discriminatório de qualquer natureza.
A fim de evitar que os participantes respondam o questionário mais de uma vez, será solicitado que o participante esteja logado em um e-mail.
Quanto às ações de Educação em Saúde, os temas abordados serão os mesmos presentes nos questionários e descritos no item 3.3 “atividades de Educação em Saúde”. O público alvo serão os estudantes universitários da UFPEL.

2. Dados
Conforme informações fornecidas pela Pró-Reitoria de Gestão da Informação e Comunicação (PROGIC) da UFPEL, o número total de graduandos foi adquirido no Portal Institucional UFPEL, na opção cursos, aba alunos. Foi criada uma tabela com o número de alunos por curso de graduação, com matrícula ativa em 2021, agrupando cursos em quatro grupos: área 1 - Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde; área 2 - Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; área 3 - Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; e área 4 - Lingüística, Letras, Artes e Multidisciplinares (anexo I).
O cálculo do tamanho amostral foi realizado pelo programa OpenEpi - Versão 3, calculadora de código aberto-SSPropor através da seguinte equação: n = [EDFF*Np(1-p)]/ [(d2/Z21-α/2*(N-1)+p*(1-p)]. Onde: tamanho da população (para o fator de correção da população finita ou fcp) (N): número de alunos; Frequência % hipotética do fator do resultado na população (p): 50%+/-5; Limites de confiança como % de 100 (absoluto +/-%)(d): 5%; Efeito de desenho (para inquéritos em grupo-EDFF): 1.
O tamanho da amostra para a o primeiro grupo “área 1” é de 361 graduandos, para “área 2” é de 350, para “área 3” temos 351” e para a “área 4”, 337 alunos (tabela 1). O número amostral de cada grupo foi calculado para um grau de 95% confiança na média amostral.

Tabela 1 – Divisão dos quatro grupos de diferentes áreas dos cursos de graduação, seguidos de seus respectivos números de alunos e o tamanho amostral, respectivamente.
Grupos dos cursos superiores Número de alunos Tamanho da amostra
Área 1: Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde 5963 361
Área 2: Ciências Exatas, da Terra e Engenharias 3900 350
Área 3: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 3954 351
Área 4: Lingüística, Letras, Artes e Multidisciplinares 2716 337


3. Atividade de Educação em Saúde
A atividade de Educação em Saúde se dará de forma remota, considerando a recomendação de suspensão das atividades presenciais devido à pandemia de COVID-19. Será confeccionado um material audiovisual, com base técnico-científica, sobre os temas que permeiam a interação entre humanos e animais, abordados no questionário aplicado nos alunos de graduação da UFPEL, como: conceito de One Health, o papel dos profissionais da saúde na comunicação em saúde, classificação das zoonoses, doenças infecciosas e parasitárias zoonóticas, consumo de carne não inspecionada, Direito Animal e Ambiental, Teoria do Elo e a caça como forma de violência e como podemos melhorar nossa relação com a fauna silvestre.
O material audiovisual terá de 15 a 30 minutos de duração e será disponibilizado no Canal do YouTube do Núcleo de Estudos em Saúde Única da UFPEL (NESU-UFPEL), com legenda, onde ficará disponível de forma pública por tempo indefinido. A divulgação do vídeo será feito por meio das redes sociais @veterináriapreventiva.ufpel, @nesu.ufpel, grupos parceiros e e-mails de colegiados dos cursos de graduação da UFPEL.

Indicadores, Metas e Resultados

Como resultado, espera-se compreender o entendimento dos estudantes universitários acerca de doenças transmitidas pela manipulação e pelo consumo ilegal de carne de animais silvestres e exóticos. Assim como o conhecimento dos mesmos sobre o aparecimento de doenças emergentes e reemergentes de importância para a saúde pública.
Presume-se entre os estudantes universitários algumas áreas de estudo tenham maior conhecimento sobre o risco de manipular animais silvestres sem EPIs e de consumir carnes e órgãos de animais silvestres não são submetidos ao sistema de inspeção de produtos de origem animal. Esta questão poderá ser melhor elucidada pelo presente estudo.
Tendo em vista que a cultura da caça de animais silvestres para posterior consumo seja considerável para a saúde pública, espera-se que as atividades de educação em saúde tenham impacto positivo sobre essa temática, diminuindo riscos e doenças inerentes a essa prática.
Diante da literatura sobre esse tema, o presente trabalho poderá servir de referência bibliográfica para programas sanitários de políticas públicas de saúde, para políticas ambientais e para atividades de Educação em Saúde.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
BIANCA CONRAD BÖHM
CLARA LÚCIA SILVEIRA SUSINI
DANIELE BONDAN PACHECO
DÉBORA RODRIGUES SILVEIRA
FABIO RAPHAEL PASCOTI BRUHN2
FERNANDA DE REZENDE PINTO3
FERNANDO DA SILVA BANDEIRA2
MARTA FERNANDA FEHLBERG3
UILA SILVEIRA DE MEDEIROS

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