A problemática relacionada à presença da mulher no desenvolvimento da ciência e tecnologia envolve uma rede complexa de fatores, e este tema vem sendo discutido mundialmente. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu como um dos Objetivos do Milênio a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres, incentivando a organização de campanhas para estimular e encorajar jovens e mulheres a buscarem seus desenvolvimentos socioeconômico, por meio da educação e do trabalho.
Conforme apontado por estatísticas de gênero, realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018), no Brasil a maioria das mulheres não consegue visualizar a sua própria presença em certas áreas do conhecimento, uma vez que o número de outras mulheres que atuam nessas áreas é escasso e elas são, de forma geral, menos reconhecidas que os homens. Nesse sentido, destaca-se a importância do desenvolvimento de ações que oportunizem a interação de mulheres pesquisadoras e desenvolvedoras de tecnologia, a fim de possibilitar, não somente o contato, mas também o reconhecimento da atuação de mulheres na área, e que propiciem o empoderamento das estudantes e profissionais participantes quanto a sua capacidade e poder de escolha.
Nos últimos anos muitas ações vêm sendo feitas ao redor do mundo no sentido de reduzir a desigualdade de gênero, mas as discrepâncias ainda são enormes (Bian et al., 2017; Lima, 2017; Royal Society of Chemistry, 2018). De acordo com um levantamento feito pela UNESCO, no cenário global, as mulheres representam apenas 28% dos pesquisadores, e apenas 3% dos ganhadores do prêmio Nobel (UNESCO, 2017). Em um estudo publicado pela editora Elsevier “Gender in the Global Research Landscape” (Elsevier, 2018) foi apontado que o Brasil é o país mais desigual quando se trata de gênero na ciência, superando os Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. Todavia, ainda existem áreas como as ciências exatas, engenharias, computação, entre outras, em que os números ainda são bastante discrepantes. Além disso, quando se trata da ascensão na carreira, representatividade em cargos de destaque e participação em comitês científicos, o cenário é ainda mais desigual. Outro estudo, publicado pela revista Science (Bian et al., 2017), demonstrou que vieses de gênero estão presentes em idades bastante precoces (como 6 e 7 anos de idade) e que "As meninas crescem acreditando que essas áreas não são para elas”. Assim, fica evidente que a participação das mulheres não é unicamente um problema nacional, e tem sido caracterizada pela sub-representação feminina em algumas áreas do conhecimento, a exemplo das exatas e engenharias (exclusão horizontal) e nos postos mais prestigiosos da carreira (exclusão vertical) (Lima, 2017).
No que diz respeito ao âmbito educacional, a execução de eventos para discussões e reflexões sobre o tema estimula a troca de experiências entre as profissionais. Aliado a isto, o uso da estratégia de mesas redondas é capaz de estabelecer discussões e reflexões entre os participantes, relacionando temas vinculados ao cotidiano universitário. Estas reflexões além de enriquecerem a construção do conhecimento, são capazes de despertar nos participantes a consciência sobre a atuação da mulher na ciência, bem como traçar as perspectivas para um futuro com equidade de gênero em todas as áreas de atuação.
Neste sentido, marcando o Dia das Mulheres e Meninas na Ciência da ONU, a autoridade mundial da nomenclatura química e terminologia, a International Union of Pure an Applied Chemistry” IUPAC criou o evento “IUPAC Global Women’s Breakfast”.
O Café da Manhã Global é um evento que acontece em um único dia de fevereiro de cada ano com o objetivo de celebrar as conquistas das mulheres na ciência, inspirar as gerações mais jovens a seguir carreiras nesta área, além de estabelecer uma rede ativa de homens e mulheres para superar as barreiras à igualdade de gênero na ciência. O primeiro IUPAC Global Women’s Breakfast: Women Sharing a Chemical Moment in Time, foi organizado como parte do Ano Internacional de Química (IYC2011), em 2011, foram feitos mais de 100 “breakfasts” em 44 países, contando com a participação de aproximadamente 5 mil mulheres da área de química. Desde 2011, pesquisadores de diversos países discutem a diversidade na ciência por meio deste evento. Este ano, o evento também será organizado por pesquisadoras da Universidade Federal de Pelotas, em colaboração com a Universidade Federal de Santa Maria, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade Federal do Rio Grande, com o tema “Debatendo Diversidade na Química em Instituições de Ensino Superior Gaúchas”.