A ordem psittaciforme é popular pelas aves serem inteligentes, possuírem uma vocalização da qual tem a capacidade de reproduzir sons e colorações bem variadas e exuberantes (GRESPAN; RASO, 2014). A caturrita (Myiopsitta monachus) é um psitacídeo de coloração esverdeada, tons de cinza na face e pescoço, faixas brancas transversais no peito e rêmiges azuladas. São animais que possuem preferência em fazer seus ninhos em galhos de eucalipto (SICK, 1997). Apresentam comportamento semelhante ao de outros psitacídeos, porém conforme um estudo comportamental realizado por Silva e Peres (2017), são animais que passam o maior tempo do dia nidificando e em repouso em seu ambiente natural. Em alguns países são consideradas praga por se alimentarem dos cultivos de milho, por exemplo. E por se tratar de um animal silvestre sua criação é ilegal (SICK, 1997).
Aves de vida livre tem um papel importante como transmissores de doenças zoonóticas (SYKES; GREENE, 2015). As enfermidades são das mais variadas, podendo ser de origem viral, fúngica, bacteriana ou parasitária, de baixa a alta virulência. Alguns exemplos são: influenza aviária: criptococose, histoplasmose e tuberculose (TORRES; D’APARECIDA; HAAS, 2015).
O gênero Chlamydophila spp. é um membro da ordem Chlamydiales. São parasitos intracelulares obrigatórios, gram negativos e apresentam ciclos de desenvolvimento de formas distintas, como o corpúsculo elementar que se dá pela forma extracelular, e o corpúsculo reticulado forma intracelular. O gênero Chlamydophila spp. tem grande importância na medicina humana e na medicina veterinária, por se tratar de um agente de caráter zoonótico. As principais espécies são: C. pneumoniea, C. abortus, C. suis, C. caviae, C. felis e C. psittaci da qual é responsável pela psitacose em aves e seres humanos (SYKES; GREENE, 2015).
Aves de vida livre tem um papel importante como reservatórios de C. psittaci, sendo que os psittaciformes e columbiformes são as ordens comumente diagnosticadas com clamídiose (RASO, 2014). Em aves e seres humanos os tecidos de maior ocorrência são mucosas oculares, respiratória, gastrointestinal e geniturinária (SYKES; GREENE, 2015). A transmissão ocorre principalmente por meio das excretas das fezes, secreções dos infectados, ingestão ou contato direto. Sendo as aves jovens as mais susceptíveis a contaminação. O agente tem sua eliminação de forma intermitente e os animais infectados que apresentam sinais inespecíficos podem eliminar conforme situações de estresse, aglomeração, deficiência nutricional, entre outras condições que não sejam de bem estar para o animal. Sendo um agente facilmente destruído por temperaturas elevadas (RASO, 2014).
A clamídiose nas aves tem uma morbidade elevada e a mortalidade é variável, sendo as aves jovens mais acometidas pela letalidade. Os sinais clínicos normalmente são inaparentes, ou podem ser de caráter super agudo, agudo ou crônico. Tudo vai depender de fatores estressantes para o animal desencadear sinais clínicos dos quais muitas vezes são inespecíficos. Ou seja, o diagnóstico só será possível através da detecção do agente por meio de exames, como por exemplo: isolamento do agente por meio de cultura, PCR (Reação de Cadeia Polimerase) e métodos sorológicos.
Para a detecção do agente pode se fazer as coletas em um período de tempo, ou coletar amostras de diferentes regiões para se ter maior chance na detecção já que a eliminação do agente é intermitente (RASO, 2014). Em um estudo realizado por Braz et al. 2014, que avaliou dez ordens de aves, foi possível observar baixa prevalência de casos positivos para Chlamydophila spp., o que pode estar relacionado ao fato das aves estarem assintomáticas no momento da coleta e também pelo número baixo de amostras analisadas. Os animais positivos do estudo, eram principalmente da ordem psittaciforme.
O PCR é um método rápido e sensível para detecção do gene do agente numa amostra pequena, não precisando o agente estar vivo para sua identificação (SYKES; GREENE, 2015). Falsos-negativos podem ocorrer nos casos em que o animal não está eliminando o patógeno no momento da coleta (RASO, 2014). Num estudo realizado em Arara Canindé (Ara ararauna) por Vasconcelos (2016), dos animais testado por meio de PCR, 50% foram positivos para C. psittaci por suabe cloacal em 34,78% dos casos, os animais positivos eram assintomáticos.
A psitacose é uma doença de origem aviária de caráter zoonótico, sendo sua transmissão através do contato indireto muitas vezes, seja por inalação por meio de contaminantes e contato direto com as aves. Por ser um agente sensível a temperaturas elevadas, não possui casos de contaminação por meio alimentício. As principais sintomatologias observadas em seres humanos, são: resfriados leves, com febre e dores de cabeça e na forma grave que pode evoluir para uma pneumonia, com dificuldade respiratória e tosse. A medida profilática para a doença, é ter cuidado na manipulação e manejo com as aves, quarentena e tratamento com antibióticos da família tetraciclina (VASCONCELLOS, 2001).