1- Avaliação da compatibilidade físico-química das misturas
Nestes ensaios, serão adotados os padrões técnicos especificados na norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR 13875:2014 (ABNT, 2014), denominada “Agrotóxicos e afins - Avaliação de compatibilidade físico-química”, seguindo a técnica dinâmica, isto é, com agitação. Com base nesta metodologia, seguiremos a adição dos produtos com base em sua formulação. Antes da mistura, os agrotóxicos serão testados individualmente quanto às suas características de dispersão (homogeneização) na calda. As caldas serão preparadas utilizando-se água-padrão com dureza total de 20 mg/kg em equivalente de CaCO3, como veículo, de acordo com NBR 13074:2004 (ABNT, 2004), e as doses máximas registradas na bula para cada agrotóxico. A escolha das misturas de agroquímicos a serem estudados ocorrerá em virtude da frequência de utilização nas lavouras de milho e soja, comprovada mediante relatórios de pulverização.
O aspecto da calda será avaliado visualmente segundo a presença (P) ou ausência (A) dos seguintes parâmetros: homogeneidade, floculação, sedimentação, separação de fases, formação de grumos por peneira com abertura nominal de 149 m, separação de óleo, formação de cristais, creme e espuma, conforme Rakes et al. (2017). O pH da calda será aferido por meio de pHmetro digital de bancada com precisão relativa de 0,05%. A condutividade elétrica será determinada com a utilização de um condutivímetro (modelo Orion Star – Thermo Scientific Corporation). Por fim, as interações receberão uma nota em escala variando de 1 a 5, em que 1 significa separação imediata dos compostos; 2 significa separação depois de 1 minuto de preparação; 3 significa separação depois de 5 minutos de preparação; 4 significa separação depois de 10 minutos de preparação; e 5 significava estabilidade perfeita das misturas (Petter et al., 2013).
2- Efeitos dos tratamentos sobre aspectos biológicos e comportamentais de D. maidis e a compatibilidade com B. bassiana
Para a avaliação da eficiência da integração do controle biológico e químico misturados no tanque de pulverização sobre a cigarrinha-do-milho, cada tratamento, será constituído por 20 plantas de milho. Os tratamentos serão pulverizados em estádio vegetativo V3-V4, utilizando um pulverizador manual Guarany® Ultrajet 500 mL, até o ponto de escorrimento nas folhas. No tratamento controle as plantas serão pulverizadas com água destilada.
Os efeitos dos tratamentos testados serão avaliados através do contato tarsal de D. maidis em folhas de milho tratadas, seguindo a metodologia descrita por Rakes et al. (2021), com adaptações para a espécie em estudo. Estes bioensaios serão conduzidos em laboratório sob condições controladas (Temperatura: 25±1º C; UR: 70±10%; Fotofase: 14: 10 [L:D] h). Para tanto, folhas de milho de cada grupo tratado serão removidas das plantas e, lâminas foliares de 7,0 x 1,5 cm serão cortadas com tesoura. Duas lâminas de folhas, dos respectivos tratamentos, serão inseridas em 1,5 mL de ágar a 1%, dispensado no fundo de um tubo de vidro de fundo chato (8.0 x 1,5 cm), para manter a turgidez da folha. Após a solidificação do ágar, 15 insetos adultos de D. maidis serão inseridos no tubo. Cada tubo de vidro será correspondente a uma repetição, serão utilizadas 15 repetições por tratamento. As taxas de mortalidade serão verificadas às 0,33, 0,66, 1, 1,33, 1,66, 2, 4, 6, 8, 24, 48, 72 e 96 horas após aplicação dos tratamentos (HAAT), para posterior verificação do tempo letal (TL) 50 e 90, ou seja, o tempo necessário para ocasionar a mortalidade em 50 (TL50) e 90% (TL90) da população de insetos.
Para o estudo da compatibilidade dos tratamentos sobre o fungo entomopatogênico B. bassiana será avaliado a germinação, crescimento vegetativo e a viabilidade dos conídios. Para isso, conídios serão produzidos no meio de cultura à base de batata, dextrose e ágar (BDA) na ausência de inseticidas e, serão desagregados das placas de Petri por meio da adição de 20 mL de solução espalhante adesivo Tween 80® (0,01%, v/v). As suspensões fúngicas serão quantificadas em câmara de Neubauer e as concentrações padronizadas para 106 conídios mL-1 em um volume total de 50 mL, nas quais serão adicionados os diferentes tratamentos (misturas de agrotóxicos) utilizadas para o manejo de D. maidis. As suspensões serão homogeneizadas em um agitador Vortex® e incubadas por 120 minutos a 25 °C. Após a exposição dos conídios aos inseticidas, uma alíquota de 150 µL será colocada no centro de placas de Petri contendo 5 mL do meio de cultura Difco® BDA acrescidas de 5 g L-1 do antibiótico Pentabiótico® [benzilpenicilina benzatina, benzilpenicilina procaína, benzilpenicilina potássica, sulfato de diidroestreptomicina, sulfato de estreptomicina (Fort Dodge Saúde Animal Ltda., Campinas, SP, Brasil)] (Ribeiro et al., 2014). Feito isso, as placas de Petri com os isolados fúngicos serão incubadas em câmara de crescimento por 24 horas. Após esse período, os conídios germinados e não germinados em cada placa serão contados em microscópio óptico (400x). Para cada nível de tratamento serão utilizadas 10 repetições, sendo cada repetição constituída por uma placa. Água esterilizada (solvente utilizado para dissolução dos inseticidas sintéticos e dos isolados fúngicos) será utilizada como controle negativo.
A compatibilidade dos diferentes tratamentos testados com B. bassiana será determinada por meio da fórmula IB = [(10 × GERM) + (47 × CV) + (43 × ESP)]/100 proposto por Rossi-Zalaf et al. (2008), onde: IB: índice biológico; GERM: porcentagem de germinação de conídios em relação ao controle; CV: porcentagem de crescimento vegetativo em relação ao controle; e ESP: porcentagem de esporulação em relação ao controle. A classificação do efeito dos inseticidas sintéticos sobre os isolados fúngicos serão realizadas com base nos seguintes limites: tóxico (IB entre 0 e 41); moderadamente tóxico (IB entre 42 e 66) e compatível (IB acima de 66).
3- Efeitos dos tratamentos sobre aspectos biológicos e comportamentais de E. heros e a compatibilidade com T. podisi
Estes estudos seguirão as recomendações e padrões técnicos da International Organisation for Biological Control (IOBC). Para a realização destes bioensaios, serão utilizadas as plantas de soja, cultivadas em vasos plásticos em casa-de-vegetação, conforme descrito acima. Aproximadamente 15 cm da parte superior da planta pulverizada será cortada e fixada com argila modeladora inodora em arenas de bioensaios, proposta por Biondi et al. (2012) e Ricupero et al. (2020). As arenas de bioensaio consistem na utilização de dois plásticos sobrepostos de 13 cm-1, totalizando 26 cm-1 de comprimento cada arena. Entre os dois plásticos será utilizado uma rede de malha fina do tipo voile com um orifício central, de modo que somente o caule da soja atinja a argila no fundo. Ressalta-se que este experimento será realizado nas diferentes datas de amostragem das folhas de soja, que ocorrerão no dia 0, 5, 10, 20 e 30 DAT.
Nos bioensaios com o parasitoide de ovos T. podisi, 10 casais de até 72 horas de idade serão liberados nas arenas de bioensaio, ao qual, ficarão em contato com os resíduos das caldas presentes nas folhas por 48 horas. Para o efeito letal, será avaliado a mortalidade as 24 e 48 horas após a liberação dos parasitoides na arena. Cada arena corresponde a uma repetição e será utilizado 8 repetições por tratamento. As fêmeas sobreviventes após as 48 horas serão individualizadas e transferidas para tubos de vidro em laboratório, para avaliação do efeito subletal. Para isso, será ofertado ovos do hospedeiro E. heros (cartelas com aproximadamente 25 ovos por fêmea) para o parasitismo, durante 24 horas. Decorrido esse tempo, os ovos serão armazenados em condições controladas (Temperatura: 25±1 ºC; UR: 70±10%; Fotofase: 14 h) para determinação da taxa de ovos parasitados pelas fêmeas (geração F0), taxa de emergência, razão sexual e sobrevivência de adultos dos parasitoides (Geração F1).
Vale ressaltar que, para cada tratamento em cada data experimental, para T. podisi será estimado um coeficiente de redução (Ex), para fornecer um único resultado, incluindo o efeito letal (mortalidade) e subletais (redução de parasitismo, emergência, razão sexual e sobrevivência), conforme proposto por Biondi et al. (2012). Ainda, seguindo as diretrizes de Biondi et al. (2013) será calculado dois índices demográficos para parasitoides, que são: (i) o tempo de duplicação que será necessário para a determinada população (do respectivo tratamento) crescer exponencialmente sem limite até dobrar de tamanho e; (ii)a taxa intrínseca de aumento que representará o número de vezes que a população do parasitoide se multiplicará por unidade de tempo.
Já para os bioensaios com E. heros, as arenas de bioensaio utilizadas serão as mesmas descritas acima, no entanto, serão utilizados 5 casais recém emergidos do percevejo-marrom da soja por arena (1 arena considerada 1 repetição), totalizando 10 repetições por tratamento. A mortalidade dos percevejos será avaliada em 24 e 48 horas após a exposição com os resíduos. Para a avaliação dos efeitos subletais causados pelos tratamentos sobre os percevejos, as vagens de soja presentes no talo recortado em cada gaiola será aberta para a retirada dos grãos. Com isso, os grãos coletados serão expostos em uma solução de fucsina ácida, com o intuito de tingir os rebordos salivares deixados nos grãos oriundos da alimentação dos percevejos. Será registrado o número de locais de alimentação/dia/indivíduo, calculado através do número de insetos vivos, pelo número de dias e número de pontos.