Nome do Projeto
Processos históricos de educabilidades: discursos, práticas, instituições e acervos de pesquisas
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
26/05/2022 - 25/07/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
O presente projeto integrado, considerando o foco na Pesquisa e seus possíveis desdobramentos em atividades de Extensão e Ensino, visa a análise intermediada pelo campo da História da Educação dos processos de práticas de educabilidades desenvolvidas em diferentes ambientes – escolarizados ou não-escolares, bem como arregimentados por um conjunto de legislações específicas –, em distintas temporalidades e contextos socioculturais. Nesses regimes de educabilidade, procurar-se-á emergir significativos discursos e práticas que contribuíram para a constituição dos sujeitos infantis, das manifestações de intelectuais mobilizadores de saberes educativos e dos escolares que partilharam, à sua época, de uma mesma cultura institucionalizada. Salienta-se que este projeto também pretende contribuir com as investigações que vêm sendo desenvolvidas pelos docentes e discentes da área de História da Educação – reunidos em torno do acervo do Centro de Documentação (Cedoc), notadamente, no Centro de Estudos e Investigações em História da Educação (Ceihe), criado no ano de 2000 –, os quais têm privilegiado em suas pesquisas individuais os processos históricos da constituição da escola, das políticas públicas educacionais, da profissionalização docente e das ideias pedagógicas

Objetivo Geral

Pesquisar, por meio do campo da História da Educação, os processos de práticas
de educabilidades desenvolvidas em diferentes ambientes – escolarizados ou nãoescolares, bem como arregimentados por um conjunto de legislações específicas –, em
distintas temporalidades e contextos socioculturais. Fazendo emergir, nestes regimes de
educabilidade, significativos discursos que contribuíram para a constituição dos sujeitos
infantis, dos intelectuais mobilizadores de saberes educativos e dos escolares que
partilharam, à sua época, de uma mesma cultura institucionalizada.

Justificativa

De imediato, é importante destacar que a produção desta proposta agrega uma
série de pesquisas que têm sido desenvolvidas desde o doutoramento do proponente desse
projeto – momento em que se constituiu um conjunto amplo de fontes e documentos
relativos aos discursos e às práticas de educabilidade dos séculos XVII, XVIII e XIX,
tanto no Reino português no território europeu, como seus domínios na principal colônia
ultramarina. Nessa nova configuração, concilia-se a pesquisa ora desenvolvida com novas
perspectivas de investigações estabelecidas a partir do ingresso do mesmo como docente
efetivo na Faculdade de Educação (FaE/UFPel). Essa ocasião permitiu a ampliação das
temáticas de interesse, envolvendo, notadamente, a atenção pelos acervos locais de
guarda da materialidade da cultura escolar. Destaca-se, especialmente, os arquivos do
Cedoc, os quais serão melhor abordados no Projeto Integrado de Pesquisa, Ensino e
Extensão intitulado “Perscrutando novas possibilidades de investigação historiográfica
no Centro de Documentação (CEDOC) do Centro de Estudos em História da Educação
(Ceihe-UFPel)”. Este também está cadastrado na instituição acolhedora (UFPel) e foi
contemplado pelo Edital FAPERGS 10/2021 Auxílio Recém-Doutor ou RecémContratado – ARD/ARC, com aplicação de recursos financeiros.
Diante desse quadro de constituição de fontes, é importante justificar a pertinência
do projeto, uma vez que, como ressaltou Antònio Nóvoa (1996), é objeto do estudo
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histórico analisar se os vestígios do passado – estabelecidos em um espaço-tempo –
permitem compreender como a educação atendeu a determinados objetivos que
correspondiam a visões de homem e de mundo. Dessa forma, constituem-se relações entre
fatos passados e presentes.
Nesse entendimento, o campo da História da Educação, se valendo do horizonte
teórico e metodológico advindo das Ciências Humanas e Sociais, irá auxiliar na percepção
de resquícios educativos que permaneceram no tempo e, ainda hoje, se propagam nas
experiências educativas. Estes resquícios, capturados por enunciados presentes em
discursos e práticas, conformam um tipo de pensar que
[...]alimentado pelo presente, trabalha com “os fragmentos do
pensamento” que consegue extorquir do passado e reunir sobre si.
Como um pescador de pérolas que desce ao fundo do mar, não para
escavá-lo e trazer à luz, mas para extrair o rico e estranho, às pérolas e
o coral das profundezas, e trazê-los à superfície, esse pensar sonda as
profundezas do passado – mas não para ressuscitá-lo tal como era e
contribuir para a renovação das coisas extintas. (ARENDT, 2008, p.
148).
Desse modo, a interpretação e a produção de narrativas historiográficas dos
acontecimentos passados se dão pelas leituras das pistas, dos vestígios, dos ditos, dos
escritos, das publicações etc.. Além disso, esses fenômenos ocorrem durante as
aproximações que se fazem com suas representações, sobretudo, ao perceber que a
História não ressuscitará o passado tal como ele era, mas possibilitará, por meio dos
apanhados do passado, um “[...] lançar-se ao estranhamento [...]” (STEPHANOU;
BASTOS, 2005, p. 417). Obviamente, se trata de uma perspectiva culturalista, na qual os
processos relativos à transformação da educabilidade, nos contextos de constantes
modificações sociais, abrangem as práticas educativas não somente de predomínio
escolares, mas em suas representações, seus pensamentos, suas propostas educacionais e
nas suas regulamentações acerca dessas práticas (legislação e políticas). Também abrange
suas dinâmicas no espaço e no tempo, incluindo, portanto, o que o historiador da
Educação Viñao Frago (1995) entende como:
[...] a história da cultura material e do mundo das emoções, dos
sentimentos e do imaginário, assim como o das representações e
imagens mentais, da cultura da elite ou dos grandes pensadores –
história intelectual no sentido estrito – e a da cultura popular, a da mente
humana como produto sócio-histórico e a dos sistemas de significados
compartilhados ou outros objetos culturais produzidos por essa mesma
mente – a linguagem e as formações discursivas criadoras de sujeitos e
realidades sociais. (VIÑAO FRAGO, 1995, p. 64-65).
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Justifica-se, também, pelo fato do campo da História da Educação, de acordo com
Dermeval Saviani (2001), estar diretamente relacionado com as políticas educacionais,
uma vez que o acesso a informações históricas pode possibilitar melhores adequações na
própria ação política. Ressalta-se que
[...] a história da educação, enquanto repositório sistemático e
intencional da memória educacional será uma referência indispensável
na formulação da política educacional que se queira propor de forma
consistente, em especial nos momentos marcados por intentos de
reformas educativas [...]. De outro lado, dos fundos adotados pela
política educacional depende o peso que a História da Educação irá ter
na formação das novas gerações, o que acarreta, no médio e longo
prazo, consequências relevantes para o desenvolvimento da área. Isto
porque é um sistema de ensino que se formam os quadros de
pesquisadores e professores de história da educação, residindo também
aí o lugar principal de atuação profissional dos historiadores da
educação (SAVIANI, 2001, p. 1)).
Levando em consideração que a atividade de pesquisa em História da Educação
se encontra diretamente relacionada às formas de trabalho das instituições que buscam
garantir a manutenção e a guarda de acervos documentais e arquivos relativos à cultura
educativa, empreende-se um esforço para garantir, nestes espaços, acesso à
documentação. Sendo assim, o Centro de Documentação (Cedoc-Ceihe/UFPel) enfatiza
o acolhimento, organização e salvaguarda de documentos/fontes da cultura material
escolar e educacional, em particular aqueles vinculados à História da Educação de
âmbitos locais e regionais. Neste sentido, o Centro de Estudos e Investigações em História
da Educação (Ceihe/UFPel) procura investigar a memória da História da Educação
regional, preservando todo o tipo de material e constituindo acervos documentais
temáticos; disponibilizando o acervo documental – fontes impressas, manuscritas e
iconográficas; constituindo um acervo de dissertações e teses produzidas no campo da
história da educação; reconstituindo a materialidade das rotinas e do cotidiano escolar:
carteiras escolares, mesas, lousas, lápis, canetas, palmatórias, cadernos escolares,
manuais escolares; recolhendo e catalogando materiais doados por instituições ou
pessoas; promovendo exposições e mostras sobre história da educação (ARRIADA;
TAMBARA; TEIXWEIRA, 2012, 2015).

Metodologia

Como espaço de discussões teóricas do projeto, apresenta-se uma incipiente
discussão, porém extremamente importante, sobre a conceituação que dá base ao título:
“Processos históricos de educabilidades: discursos, práticas, instituições e acervos de
pesquisas”. Se, anteriormente, nas Justificativas, discorreu-se sobre o campo da História
da Educação e sua pertinência como privilegiado âmbito para análise dos modos de se
constituir educabilidades nos sujeitos, agora se avança o estudo e se dedicamos à
compreensão de como as práticas e os discursos acerca dos processos de educabilidades
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podem se relacionar por meio de convergências, bem como por sua recorrência
enunciativa manifestadas em obras pedagógicas que têm registrado, desde o período
Moderno, formas de ver e dizer a Educação.
Pode-se afirmar que, dentre os domínios de análises do campo da História da
Educação, as práticas de educabilidades desenvolvidas e vivenciadas pelos distintos
sujeitos sociais, aos seus tempos, constituem-se como a principal preocupação e escopo
do campo. Destaca-se a possibilidade da relação destas com outras práticas sociais,
culturais, políticas, econômicas, arquitetônicas, científicas, entre outros. Assim, o esforço
aqui empreendido será o de compreender a representação de uma determinada cultura
educativa em seus contextos de produção e aplicação e, especialmente, os possíveis
significados culturais atribuídos para estas práticas.
Nesse sentido, recordo as obras do filósofo francês Michel Foucault, o qual se apropriou
da noção de práticas desde suas obras e cursos iniciais, quando analisou: a clausura e o
asilo, em História da Loucura (FOUCAULT, 2009a); as práticas médico-clínicas, na obra
O Nascimento da clínica (FOUCAULT, 2018); e as práticas punitivas, em Vigiar e Punir
(FOUCAULT, 1987). Com efeito, costuma-se afirmar que as práticas são um domínio de
análise foucaultiano. O autor compreende as práticas discursivas como sendo o “[...]
conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que
definiram para uma época dada e para uma área social, econômica, geográfica ou
linguística, dada as condições de exercício da função enunciativa.” (FOUCAULT, 2009b,
p. 133). No entanto, no que se refere às práticas de educabilidade, acredito, em
consonância com Foucault (2006), que estas – as práticas discursivas/educabilidade – só
coexistem e são partilhadas dentro de um conjunto de enunciados considerados como
verdadeiros. Portanto, é assim que são permitidos os pronunciamentos dentro de um
contexto específico: são objetos/discursos regrados por uma sociedade, a fim de
determinar formas de subjetividade, domínios de objetos, tipos específicos de saberpoder-ética.
Em um primeiro movimento analítico de aproximação conceitual e inerente ao
campo da História da Educação, podemos pensar as memórias escolares como sendo
discursos pertencentes aos processos de educabilidade. Principalmente, pelo fato de que
a reminiscência individual, neste caso, consiste em narrativas de autorrepresentação dos
sujeitos – docentes, discentes, funcionários, diretores, inspetores, gestores etc. – que, em
determinados contextos escolarizados, se fizeram testemunhas de um passado. Essas
rememorações podem ser orais, escritas ou imagéticas, como entrevistas, diários,
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autobiografias, fotografias, entre outros. Por meio delas é possível recriar histórias das
práticas de ensino, de aprendizagens e de vivências experienciadas por agentes sociais e
culturais que se apresentam como capazes de (re)determinar discursos e práticas que
pareciam ter escapado da escrita da História.
Por outro lado, a memória escolar coletiva está sujeita a significativas
transformações. Esta é constituída pelas pluralidades de representações que a indústria
cultural (literatura, cinema, música etc.) e o mundo da informação têm oferecido ao longo
do tempo sobre a escola, os professores e os próprios alunos. Essas representações do
passado pedagógico se estratificam de geração em geração, sobrepondo-se, em parte, às
recordações pessoais, adulterando a realidade dos fatos e se consolidando em narrativas
estereotipadas. Podem também alterar o conhecimento do passado, que se transforma
num verdadeiro espaço do imaginário no qual uma reconstrução histórica cientificamente
fundamentada não pode prescindir (ALFIERI, 2019).
Já a memória escolar pública, por último, consiste nas representações que foram
postas no âmbito dos discursos oficiais e das comemorações públicas promovidas pelas
instituições locais. É elaborada com base numa política da memória precisa, ou seja, uma
utilização pública do passado destinada a obter consenso e a reforçar o sentimento de
pertença a uma determinada comunidade (YANES-CABRERA; MEDA; VIÑAO
FRAGO, 2017). Ao contrário da memória escolar individual, tanto a memória coletiva
como a pública raramente têm sido objeto de pesquisa histórico-educacional O motivo
para isso é que estas modalidades não eram consideradas um assunto historiograficamente
relevante até pouco tempo.
Sendo assim, os processos de educabilidade, percebidos no âmbito do estudo da
memória, permitem definir a forma como o presente olha para o passado e o (re)interpreta.
Nesse sentido, os processos de educabilidade nos interessam não somente como uma
perspectiva de análise do acesso ao passado escolar, mas como uma chave de leitura para
compreender o que o presente sabe, ou acredita saber, sobre a escola do passado. Além
disso, avaliam se o que se sabe corresponde à realidade ou se é o resultado de preconceitos
e estereótipos difíceis de erradicar e enraizados no senso comum.
Como dito anteriormente, o objeto de investigação histórica, portanto, já não
consiste simplesmente nos espaços escolares como realmente foi, mas no complexo
processo de definição do sentimento que tem sido elaborado, ao longo do tempo, no nível
individual e coletivo sobre essa educabilidade. Tem-se como base a experiência escolar
e outros agentes sociais e culturais que contribuíram, em parte, para a sua
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(re)determinação. Essa nova perspectiva de investigação assume um aspecto cuja
dimensão histórica escapou, até agora, à atenção dos especialistas: a evolução da
percepção do estatuto social dos vários perfis profissionais envolvidos nos processos de
escolarização e do estatuto público da educação no seio de uma comunidade, bem como
da imagem pública da escola e do sistema escolar nacional.
Por fim, cabe ressaltar que não existe um passado escolar único e unívoco. Pelo
contrário, existem muitos, muitas vezes coexistentes, por vezes alternativos uns aos
outros. Podem estar mais ou menos de acordo com a realidade histórica; contudo, são
reais e afetam a forma como os indivíduos ou as comunidades encaram este passado. Esta
proposta também se encarrega de dar conta desses aspectos.
No que se refere aos processos metodológicos, a pesquisa prevê a sistematização
das informações relativas às peculiaridades encontradas em cada uma das fontes, bem
como análises qualitativas focadas nos discursos de aprendizagem, de ensino e de objetos
da cultura educativa. A exequibilidade e a originalidade da presente proposta residem na
abordagem das fontes que foram/serão selecionadas, do mesmo modo que a utilização da
proposição de educabilidade, regime de educabilidade e práticas matematizadas.

Indicadores, Metas e Resultados

A análise dos discursos de práticas de educabilidades, no campo da História da
Educação, presentes nos materiais selecionados pretende contribuir para a historiografia
que se dedica aos estudos de manuais pedagógicos escolares e naquelas que identificam
práticas de educabilidades na cultura escolar e não-escolar. Desse modo, o projeto
pretende dialogar com a historiografia voltada aos estudos das representações de leitura,
escrita e Educação do período da História moderna na Europa e na América Portuguesa,
da História Contemporânea no Brasil, produzindo análises qualitativas e originais da
documentação. A pesquisa pretende, assim que possível, agregar outros pesquisadores e
também alunos de graduação de Licenciaturas em Matemática e Pedagogia que possam
contribuir com o desenvolvimento do tema e da análise desse tipo de documento, gerando
futuros trabalhos acadêmicos e possíveis novas parcerias. A intenção, então, está em
consolidar a pesquisa histórica no âmbito práticas educativas, especialmente no tema da
educação dos sujeitos infantis e da historiografia da Educação Matemática. Como
resultados parciais e finais desta pesquisa, pretende-se publicar, no mínimo, um artigo
por semestre em periódicos científicos, além de culminar com a organização e publicação
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de e-books com a colaboração de autores nacionais e estrangeiros que abordam a temática
desenvolvida neste projeto

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ELIAS KRUGER ALBRECHT
FERNANDO CEZAR RIPE DA CRUZ4
Guilherme Felipe Pires
Laryssa Celestino Serralheiro
Marcelo Marin Alves
RAFAEL GUTERRES ORTIZ
SANDRO FACCIN BORTOLAZZO1

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