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É notável que a agricultura convencional vem causando danos ao meio ambiente. Os moldes da agricultura convencional atuais se utilizam, na grande parte dos processos, de recursos externos como fertilizantes químicos, agrotóxicos e uso intensivo de maquinário agrícola. Estas ações geram consequências como a dependência da importação de insumos para garantir a produtividade, a diminuição da biodiversidade e caminha para a insustentabilidade do sistema.
Se por um lado a modernização agrícola trouxe o aumento da produtividade, por outro, causou fortes impactos ambientais, causados pelo manejo inadequado das lavouras de monoculturas. Impactos como destruição de florestas e biodiversidade, erosão do solo e contaminação de recursos naturais (BALSAN, 2006).
Contrapondo esta visão convencional e entendendo a necessidade de buscar modelos de agricultura mais sustentáveis, tanto social quanto ambientalmente, Guterres (2006) defende a transição dos moldes atuais da agricultura, para uma agricultura que seja compatível com a existência humana saudável e a preservação da natureza. Também aponta o avanço da agricultura, o corte de florestas para utilização da madeira e energia e a utilização de substâncias químicas em lavouras como fonte de degradação de muitos ecossistemas.
Dessa forma, é possível compreender que precisamos repensar a forma com que nos relacionamos com a natureza e produzimos alimentos, e priorizar a manutenção da biodiversidade do ambiente que vivemos. Além disso, é necessário buscar formas de restaurar as florestas e os ambientes antropizados pela ação do homem, e estudar a viabilidade de produzir alimentos saudáveis em áreas de restauração florestal. Neste contexto, a semeadura direta mecanizada, aliada à esta busca, pode trazer novas perspectivas de restauração em propriedades agrícolas familiares.

O presente estudo será conduzido com a metodologia experimental, em uma área experimental na Estação Embrapa Cascata (EEC), localizada no município de Pelotas/RS. O experimento será instalado no final do mês de agosto de 2022, e avaliado ao longo deste ano até o final de 2023, tendo um período de avaliação de um ano e quatro meses. O clima da região, conforme a classificação de Köppen e Geiger (1928), é do tipo Cfa (temperado úmido com verão quente).
O delineamento experimental será o delineamento de blocos ao acaso (DBC), com um total de quatro blocos dispostos em uma área de 0,3ha. Serão testados seis tratamentos, sendo três diferentes densidades de sementes de espécies arbóreas (15x, 30x e 45x) com semeadura de cultivos anuais de milho (Zea mays) e feijão (Phaseolus vulgaris), e três diferentes densidades de sementes de espécies arbóreas (15x, 30x e 45x) sem cultivos anuais.
Para o experimento foram selecionadas 18 espécies (Tabela 1), dentro de uma lista de espécies disponibilizada pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) - Centro de pesquisa em florestas de Santa Maria/RS. Os critérios de seleção das espécies levaram em conta a disponibilidade das mesmas dentro da lista fornecida pelo DDPA e o potencial da espécie para a agricultura familiar, com relação ao uso para madeira, lenha, apicultura e/ou colheita de frutos (Tabela 1).
O cálculo para definir a quantidade de sementes de espécies arbóreas foi realizado seguindo o estudo realizado por MELI, P. (2018), que utilizou as mesmas densidades propostas neste estudo. O cálculo segue o padrão tradicionalmente utilizado em restauração florestal, que busca o número de 1666 indivíduos/ha-1 (espaçamento de mudas 3x2) (CAMPOS-FILHO et. al., 2013).
Dividindo o total de indivíduos desejados pelo número de espécies do experimento (1666/18), obtivemos o total de 92,5 indivíduos/espécie/ha-1. Para cada espécie, esse valor foi corrigido pela porcentagem de germinação das sementes, que consta na lista de espécies do DDPA, e multiplicado pelas densidades testadas para chegar ao número total de sementes de cada espécie por tratamento.
Ex: Acácia (71% germinação). Corrigindo o número de sementes com a germinação da espécie: (92,5 indivíduos x 100%)/71% = 130,3 sementes/ha-1. Esse valor corrigido por espécie foi então multiplicado pelas densidades de cada tratamento. Como critério de correção, quando o resultado obtido foi um número seguido de vírgula, corrigiu-se o valor para o número inteiro subsequente.
Densidade 15x = 130,3 x 15 = 1955 sementes/ha-1.
Densidade 30x = 130,3 x 30 = 3909 sementes/ha-1.
Densidade 45x = 130,3 x 45 = 5864 sementes/ha-1.
Para a semeadura à campo será utilizada uma semeadora de cinco linhas, implemento agrícola da marca Fankhauser, modelo 1007 (Figura 3). Na semeadeira será colocada a mistura de sementes das espécies arbóreas na caixa da linha central, e nas caixas laterais as sementes de milho e feijão. O desenho final da semeadura terá na linha central a mistura de árvores, as duas mais próximas desta terão sementes de milho, e as caixas mais externas sementes de feijão.

No Brasil, ainda são poucos os estudos publicados sobre semeadura direta mecanizada para restauração florestal, o que mostra a necessidade de produzir conhecimento relacionado ao tema. Dessa forma, entende-se que o método de semeadura direta mecanizada requer maior atenção para o desenvolvimento de estudos e melhor compreensão do método.
Espera-se com essa pesquisa avaliar a possibilidade de empregar uma mesma semeadora para implantar, simultaneamente, duas espécies de grãos comerciais e 18 espécies arbóreas nativas. Também será estudado o efeito de 3 densidades de semeadura conjunta em função da germinação das diversas espécies arbóreas testadas. Por fim, espera-se estimar o custo dessa operação para que os agricultores possam decidir sobre a adoção do sistema.