Portal InstitucionalUFPEL

No Brasil, a DTM e DOF é uma especialidade reconhecida pelo CFO, ou seja, cabe aos especialistas da área tratar e diagnosticar pacientes que possuem essa disfunção (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 2002; SIMM, GUIMARÃES, 2013). No entanto, instituições como a Associação Americana de Educação Odontológica cita que um graduando de Odontologia deve desenvolver, durante seu curso, competência para prevenir, diagnosticar e tratar um caso de DTM (ALONSO et al., 2014). Desse modo, o graduando de Odontologia deve concluir o curso sendo capaz de tratar, diagnosticar e saber encaminhar corretamente pacientes com DTM.
Estudos realizados em países europeus, como Suécia e Itália, assim como nos Estados Unidos, Canadá e Austrália com estudantes de Odontologia, têm demonstrado que os mesmos relatam pouca satisfação em relação ao ensino da DTM que receberam em seus cursos de graduação, Esses resultados vão ao encontro dos resultados da pesquisa que foi realizada na Faculdade de Odontologia (FO) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) no ano de 2019, antes da pandemia do COVID-19. Dessa forma os dados refletiram o resultado do ensino teórico e prático realizado de forma presencial (ACUNHA, 2020). Desse modo, fazer a aplicação do questionário em alunos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que possuem a disciplina de DTM no currículo do curso, possibilitará a verificação se estes estudantes possuem as mesmas percepções e fazem a mesma avaliação em relação ao ensino de DTM comparativamente aos acadêmicos da UFPel, que não possuem a disciplina de DTM na grade curricular.
Ademais, a comparação dos resultados de 2019 com os resultados obtidos em 2022 e 2023, poderá correlacionar o aproveitamento do ensino remoto ou presencial na confiança dos graduandos em relação a tratar, diagnosticar ou encaminhar pacientes com DTM.

3.1 Questões éticas
A execução deste estudo, que seguirá as diretrizes da Declaração de Helsinque, foi aprovada por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) Institucional (CAAE: 19587419.4.0000.5317) (Anexo A). Acadêmicos do último ano do curso graduação em Odontologia de duas Instituições Federais do sul do Brasil (UFPel e UFSM) serão convidados a responder um questionário, sendo que aqueles que aceitarem participar de forma voluntária deverão assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A). Este termo será assinado em duas vias, ficando uma com o participante e a outra com os pesquisadores. Ressalta-se que os questionários serão respondidos de forma anônima e que os voluntários poderão retirar seu consentimento em qualquer etapa antes da conclusão da pesquisa. Ainda, declare-se que os acadêmicos serão informados sobre a proposta do estudo no momento da aplicação do questionário.

3.2 Desenho do Estudo
Trata-se de um estudo observacional com corte transversal. Desta forma, seu relato seguirá as diretrizes do STROBE (Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology), publicadas no estudo de von Elm et al. (2008).

3.3 Amostra
Deverão fazer parte do estudo todos os acadêmicos de duas Faculdade de Odontologia do sul do Brasil, que estiverem cursando o último ano do curso entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023. Serão excluídos aqueles que: a) estiverem cursando disciplinas de semestres anteriores ao último ano; b) realizaram parte do curso de graduação em Odontologia em outra Instituição de Ensino; e c) não aceitarem participar voluntariamente do estudo.



3.4 Coleta dos dados
Os dados serão coletados por meio de um questionário, com perguntas fechadas, elaborado com base nos instrumentos utilizados por Alsafi et al. (2015), Espinosa et al. (2016) e Nordin et al. (2016). O questionário, assim como o TCLE, serão distribuídos pelos pesquisadores na forma física, porém os acadêmicos é que farão o preenchimento do instrumento, de forma individual.
O questionário cobrirá 4 domínios: 1) Conhecimento e compreensão; 2) Experiências clínicas; 3) Confiança; e 4) Atitudes em relação aos pacientes com DTM e dor associada à DTM (Apêndice B).

Domínio 1: Conhecimento e Compreensão
Esta parte do questionário será composta por perguntas relacionadas a etiologia e epidemiologia das DTMs, diagnóstico e classificação das DTMs, tratamento e prognóstico da disfunção e dor crônica e dor comportamental relacionada à DTM. As questões serão apresentadas como afirmações, sendo que cada afirmação será acompanhada por uma escala numérica de classificação com os pontos finais “0” representando “discordo totalmente” e “10” representando “concordo totalmente”. Para um item cuja resposta correta for "discordo totalmente", a escala 0-3 será agrupada e considerada como correta, enquanto que para um item cuja resposta correta for "concordo totalmente", a escala 7-10 será agrupada e considerada como correta. A correção das respostas seguirá a mesma correção realizada nos estudos de Alsafi et al. (2015) e Espinosa et al., (2016).
As afirmativas apresentadas no questionário serão as descritas abaixo:
1. O ajuste oclusal é um tratamento precoce útil para DTM.
2. O tratamento ortodôntico pode prevenir o desenvolvimento da DTM.
3. A DTM causada por trauma é mais difícil de tratar e tem pior prognóstico quando comparada aos demais tipos de DTM.
4. A presença de alterações degenerativas no côndilo vistas em imagens de tomografias, em conjunto com o som do tipo crepitação, indica a necessidade de tratamento para DTM.
5. O bruxismo noturno é causado por interferências oclusais.
6. Todos os indivíduos com “clicking” requerem tratamento para DTM.
7. Hábitos parafuncionais geralmente são significantes no desenvolvimento da DTM.
8. O controle do stress é indicado para muitos pacientes portadores de DTM.
9. O stress é um fator importante para o desenvolvimento de DTM.
10. Sintomas de depressão são raros em pacientes com DTM crônica.
11. Ansiedade é um sintoma mais comum em pacientes com DTM comparativamente à população em geral.
12. Depressão pode ser um fator etiológico importante para dor crônica.
13. Pacientes com DTM crônica devem ser instruídos a limitar suas atividades laborais e sociais quando eles estiverem passando por um episódio de dor.
14. Antidepressivos nunca são indicados no tratamento de DTM.
15. Um extenso histórico prévio de tratamentos falhos para DTM é geralmente uma indicação para tratamento cirúrgico.
16. Apesar de alguns pacientes com DTM possuírem comprometimento psicológico, geralmente estes comprometimentos não são relacionados à dor causada pela DTM.
17. Dificuldade em dormir é um achado comum em pacientes portadores de dor crônica relacionada à DTM.
18. Tratamentos comportamentais/psicológicos são apropriados para pacientes com dor crônica relacionada à DTM
Considerar-se-á que adquiram conhecimento os acadêmicos que responderem de forma correta à 50% do questionário, ou seja, 9 afirmativas.

Domínio 2: Experiência clínica
Nesta parte do questionário cinco perguntas serão feitas começando com a frase: "Em sua graduação, sozinho ou sob supervisão":
1. Você examinou e tratou pacientes com DTM / DOF?
2. Você tratou pacientes por meio de placas oclusais?
3. Você informou algum paciente sobre DTM / DOF?
4. Você realizou tratamento / manejo comportamental para pacientes com DTM?
5. Você encaminhou para tratamento um paciente com DTM / DOF?
Para cada questão, os participantes deverão responder positiva (sim) ou negativamente (não), sendo que a reposta positiva à uma das questões será associada à aquisição de experiência clínica.


Tópico 3: Percepção de confiança
Este tópico será formado pelo item: "Quão confiante você está em relação às suas competências sobre DTM", para os tópicos abaixo relacionados:
1. Realizar anamnese e exame clínico.
2. Executar diagnóstico
3. Realizar tomada de decisão clínica.
4. Realizar tratamento e avaliar o tratamento realizado.
5. Encaminhamento para um especialista.
6. Prescrever tratamento farmacológico.
7. Executar ajuste oclusal.
8. Confeccionar uma placa oclusal.
9. Instruir a execução de exercícios mandibulares.
10. Realizar orientação comportamental.
A percepção de confiança para cada questão será julgada em uma escala numérica de confiança com as definições finais “0” "sem confiança" ou “10” "confiança muito alta". À partir da madiana dos dados, a auto-percepção de confiança será dicotomizada nas categorias alta e baixa percepção de confiança.

Tópico 4: Atitudes em relação aos pacientes com DTM:
Os acadêmicos ainda deverão completar a frase "Tratar pacientes com dor relacionada à DTM é . . .” escolhendo 2 entre 10 possíveis adjetivos. Cinco dos adjetivos serão positivos (interessante, recompensador, educacional, válido, desafiador) e cinco negativos (estressante, difícil, frustrante, desagradável, exigente). A atitude dos estudantes será julgada como positiva se ambos os adjetivos forem positivos, neutra se um for positivo e um negativo e negativa se ambos forem negativos.

3.5 Análise Estatística
Os dados coletados serão avaliados por meio de estatística descritiva. A relação entre autopercepção de confiança dos acadêmicos e conhecimento adquirido, assim como entre autopercepção de confiança e experiência clínica, será avaliada por meio do teste de regressão logística, com intervalo de confiança de 95 (IC 95%), separadamente para cada uma das Instituições. Ainda serão comparados os resultados das Instituições entre si, assim, como os dados dos acadêmicos da UFPel obtidos em 2019 e 2022/2023, tembém pelo teste de Regressão Logística.Todas as análises serão executadas no software estatístico Stata/IC 13.0 for Mac (StataCorp LP, University of California, LA, USA).

Frente à resultados anteriormente obtidos (ACUNHA, 2020), espera-se encontrar diferença da autopercepção de confiança dos acadêmicos de acordo com o período de coleta (antes ou depois das mudanças de ensino implementadas com a pandemia), assim como de acordo com a Instituição (possuir ou não a disciplina de DTM como obrigatória no currículo).