A partir da década de 60, a cultura popular urbana passa a ser tomada por uma indústria cultural, em que, no centro dessa nova dinâmica cultural, no papel de grande interlocutor, está a televisão, suplantando as temporalidades e os ritmos num discurso que procura tornar tudo contemporâneo (MARTÍN-BARBERO, 1997). Neste contexto, os meios, enquanto tecnologias (rádio, jornal, televisão, etc), são ferramentas da comunicação, seja para obtermos informação, seja ainda para outras dimensões, como regulação do cotidiano. Os meios nesta sociedade são, assim, considerados atores importantes, não pela sua autonomia em si, mas pelo fato de se colocarem ainda como um poder mediador e representacional. Os meios são instrumentos, ou seja, os meios estão a serviço de um fim (RODRIGUES, 2000).
Giddens (1991) vai um pouco mais além dessa visão instrumental, quando nos apresenta os meios de comunicação como “portas de acesso”, no sentido de instância que constrói vínculos com a sociedade, estabelecendo relações com os “sistemas abstratos”. Eles operam como dimensões de interpretação e de regulação dos sistemas sociais e não sendo apenas um objeto processador de mensagens. Martín-Barbero (1997) resitua o papel dos meios, tirando o foco deles em si e colocando para a sociedade, pois para o autor, os meios também podiam ser relacionados com a cultura cotidiana da maioria das pessoas.
Agregado a este quadro de teóricos, com a evolução da tecnologia e o surgimento de novos meios de comunicação em que acontece o derrubamento das fronteiras, vai se desenvolvendo uma nova institucionalidade, apresentando traços de novas relações sociais e de sujeitos coletivos. Neste caso, os papéis dos meios são transformados, uma vez que, na condição de suportes passam a ocupar uma centralidade na vida cotidiana, como fonte de informação e de entretenimento; regulação de interações; agendamentos; etc.
Para emergência desse momento devemos reconhecer que, mais que um instrumento destinado a cumprir uma função, a mídia é, a princípio, elemento estruturante da vida social, que vai interferindo de um modo complexo na própria organização da vida em sociedade. Nestas condições, os campos sociais (política, religião, educação, turismo, etc.) são insumos para a construção de suas estratégias, seus produtos, suas identidades. As agendas midiáticas também afetam o mundo dos indivíduos, os quais, muitas vezes, estruturam seus esquemas identitários, tendo como referências elementos propostos por esta comunicação.
Neste novo cenário, os processos midiáticos se revelam como um objeto complexo, que não podem ser vistos como um objeto em si, mas através de suas relações, conexões e interconexões, não podem mais ser fragmentados em suas partes (produtor, produção, conteúdo, veículo, público, receptor, recepção). Desta maneira, o funcionamento da comunicação estaria diretamente associado às estratégias e processos específicos que tratariam de se manifestar de modo complexo no interior das práticas sociais, como é o caso do turismo. Por isso, não podemos olhar mais para a matriz comunicacional do turismo numa perspectiva instrumental e puramente mercadológica, em virtude de se tratar de uma nova realidade em processo, segundo dinâmicas comunicacionais. Trata-se, portanto, de um campo em movimento, com circulação de signos, serviços, imagens e que envolve novos processos de informações, nos quais tecnologias da comunicação parecem refazer ou mesmo redesenhar as relações entre espaço e tempo. Todas as possibilidades de deslocamento no espaço e no tempo estão, assim, reunidas em uma espécie de museu de imagens onde, “se tudo é evidente, nada é mais necessário” (AUGÉ, 2010). Conforme explica Bauman (2006), estamos em uma sociedade moderna líquida, ou seja, aquela em que as condições de atuação dos atores sociais mudam antes que as formas de atuar se consolidem em hábitos e em rotinas determinadas.
Uma mostra visível desta nova dinâmica de comunicação é que, tanto a administração pública e as empresas, como as famílias e os indivíduos, passaram a depender do funcionamento de todo um conjunto de dispositivos comunicacionais que os põem em contato permanente e quase instantâneos com o mundo dos negócios e da cultura, que organizam as atividades de lazer, o comércio e as relações sociais. Desta forma, este projeto de pesquisa busca englobar ações correlacionados ao tema, visando uma contribuição para as áreas de conhecimento de Comunicação e Turismo por meio de estudos para diferentes espaços sob diversos olhares.
Neste sentido, pretende-se contribuir com uma ação maior do cruzamento entre sociedade, espaço e turismo, através da comunicação e formação da imagem turística de diferentes locais. Nosso intuito é integrar cada vez mais a sociedade, resgatando a (re)significação de um espaço muitas vezes abandonado e que possui grande potencial para desenvolvimento, atraindo turistas ou até mesmo a população local, que muitas vezes rejeita este ambiente. Estender os olhares dos alunos do nosso curso de Turismo para além dos muros da Universidade, e mais que isso, fazer com que eles vejam a localidade em que vivem com relação ao seu potencial, é nosso dever e obrigação, formando, assim, pessoas mais responsáveis com a sociedade, ajudando a preservar a história, a memória e a imagem da cidade.