Nome do Projeto
O lugar das “ideias fora de lugar” na crise da sociologia e no debate pós-colonial.
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/06/2023 - 01/10/2024
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
A proposta do projeto é trabalhar em torno do conjunto de ideias de dois dos principais pensadores brasileiros, vinculados a uma tradição crítica de São Paulo: Roberto Schwarz e Paulo Arantes. A obra destes autores será analisada através de dois eixos analíticos centrais: o primeiro se concentra na construção de um pensamento crítico a partir do horizonte de espaços com histórico colonial e "pós-colonial", ou como preferimos dizer, a partir da periferia do capitalismo global; o segundo vincula esta primeira perspectiva a um exercício de permanente diagnóstico crítico da totalidade e da atualidade do sistema capitalista e da modernidade.

Objetivo Geral

Os objetivos podem ser divididos em objetivo central e objetivos específicos. O objetivo central é apresentar, de forma sistematizada, as contribuições da obra de Roberto Schwarz e Paulo Arantes para o desenvolvimento de um diagnóstico crítico da modernidade a partir da periferia do capitalismo, ou de espaços sociais com histórico colonial e pós-colonial. Com isso, pretendemos explicitar a contribuição de uma determinada linhagem do pensamento brasileiro tanto para o debate pós-colonial quanto para as suas variações no debate decolonial.

Os objetivos específicos podem ser enumerados da seguinte forma:

1) Contribuição para os estudos das teorias pós-colonial e decoloniais a partir do pensamento brasileiro.

2) Sistematização do conjunto de ideias e conceitos em torno de um segmento específico da tradição de pensamento crítico feito no Brasil.

3) Contribuição para os estudos que têm como objetivo principal ampliar o repertório dos clássicos da teoria social e sociológica, relativizando criticamente as teorias de centro.

4) Sistematização de um conjunto de ideias e conceitos que tem como base de estudo espaços sociais com histórico colonial e pós-colonial, como o caso brasileiro.

5) Contribuição para estudos em torno de um duplo diagnóstico crítico, tanto da modernidade como totalidade sistêmica, quanto da atualidade do capitalismo e das sociedades contemporâneas.

Justificativa

Inicialmente cabe ressaltar que este projeto é parte de um projeto maior, que conta com apoio do CNPQ, “Metamorfoses da Sociologia”, formado por professores de instituições federais como UFRJ, UFPE, UFPB, UFJV, UFRGS E UFPEL. Tal projeto tem como objetivo principal sistematizar trabalhos voltados para o papel das teorias social e sociológica em torno do diagnóstico crítico do presente, incluindo, claro está, as visadas pós-coloniais e decoloniais.

Estas duas dimensões estão presentes de forma decisiva no nosso projeto. Tanto o diagnóstico crítico do presente; quanto o papel das teorias social e sociológica para se pensar as sociedades contemporâneas. No nosso caso, com uma visada a partir de espaços "pós-coloniais" ou da periferia do sistema capitalista e da divisão internacional do trabalho intelectual.

Faremos isso sem desconsiderar a narrativa da modernidade europeia de fins do século XIX e século XX, mas também sem tomá-la como único parâmetro, ao contrário colocando em primeiro plano experimentos teóricos desenvolvidos no âmbito da periferia do sistema capitalista, ou se quisermos, nos espaços "pós-coloniais".

Neste sentido, o que se propõe é levar em consideração as experiências brasileiras e latino-americanas como campo relevante para a produção teórica a respeito da teoria social e sociológica globais. E isso através de uma linhagem específica, associada aos trabalhos teóricos em especial de Roberto Schwarz e Paulo Arantes. O primeiro, com os estudos da relação entre formas artísticas e processos sociais; o segundo, com os estudos das formas conceituais e processos sociais. Ambos tendo como horizonte a periferia do sistema capitalista, no caso, mais precisamente o Brasil.

Nos dois casos há o que podemos chamar de um processo de desprovincianização do debate de ideias, do próprio campo intelectual brasileiro e, por extensão, da periferia do sistema capitalista e da divisão do trabalho intelectual.

Alguns textos aqui podem ser considerados exemplares quanto a isso. O primeiro, "As ideias fora do lugar", publicado originalmente em 1972, por Roberto Schwarz, é um texto inaugurador, sobre vários aspectos. Numa só tacada ele une a visada através do horizonte da periferia ou "pós-colonial" e, ao mesmo tempo, faz um diagnóstico crítico do presente, tendo como centro do debate um fato social de fundo generalizante na sociedade brasileira; a sensação de um descompasso entre as ideias importadas do centro e a sua relação com o lugar, mais precisamente com o espaço social da periferia.

O mesmo vale para um segundo texto do mesmo autor, "Nacional por subtração". Aqui o tema das "ideias fora do lugar" se mantém e inclui um estudo poderoso sobre a recepção das ondas de pós-estruturalismo e "desconstrução" no Brasil, num momento de consolidação de novas teorias francesas, como no caso dos filósofos Michel Foucault e Jacques Derrida. O tema passa assim mais propriamente para o campo das ideias, do debate de ideias, sem desconsiderar, é claro, a sua relação com a base material, histórica e social. Isso para citar apenas dois exemplos de uma obra profícua e bem extensa.

Em relação direta com os dois textos mencionados, Paulo Arantes publicou recentemente um livro seminal Formação e Desconstrução: Uma visita ao Museu da Ideologia Francesa. O livro reúne uma série de textos já publicados anteriormente. Os principais, para os nossos interesses, são os publicados originalmente na década de 90, entre eles "Tentativa de identificação da Ideologia Francesa: uma introdução"; Ideologia Francesa: um esquema"; "Filosofia francesa e tradição literária no Brasil e nos Estados Unidos".

Estes textos dão continuidade ao tema das "ideias fora do lugar", concentrados no processo de hegemonização de vertentes do pensamento francês no século XX, como o estruturalismo e o pós-estruturalismo, chegando ao pensamento franco-americano, com a recepção e apropriação do pós-estruturalismo pelos "estudos culturais" dos EUA.

A compreensão da recepção da "Ideologia Francesa" e seu reformismo fraseológico no Brasil, ou como temos dito, no âmbito da periferia, é fundamental para entender a própria lógica da sua inserção a partir do centro, em algum lugar impreciso entre o Ocidente Europeu e os EUA. A astúcia do pensamento de Paulo Arantes, que se associa a de Schwarz, se situa aí, na visada a partir do horizonte da periferia que nos permitiria ver a totalidade do sistema de um modo diferente se visto a partir do centro. E talvez mais completo, tendo em vista a inserção da periferia no todo.

Outros exemplos poderiam ser elencados aqui, casos de textos como “A fratura brasileira do mundo”, por exemplo, que faz uma engenhosa abordagem das teorias da sociedade contemporânea as contrapondo com a tradição do pensamento brasileiro para se fazer um diagnóstico crítico do presente a partir do horizonte local, ou se quisermos, dos espaços sociais com histórico colonial e pós-colonial. Assim como no caso de Schwarz, Arantes tem uma obra bem mais ampla do que estes pequenos exemplos mencionados.

Vale dizer ainda que em torno da obra dos autores tem se construído uma massa crítica de estudos em diversas áreas do campo intelectual e do debate de ideias, que envolvem sociologia, crítica literária, urbanismo, psicanálise, crítica da canção, ensaio cultural, entre muitas outras modalidades de estudo e áreas do conhecimento.

Podemos citar aqui no âmbito da crítica literária e, mais precisamente, da canção popular textos do ensaísta e crítico literário José Miguel Wisnik, como "Machado Maxixe" (a respeito de um conto do Machado de Assis); o epílogo "Bola ao alto" do seu livro Veneno Remédio em que o mesmo autor faz uma gênese de todo este debate, passando por todos os autores e pela temática das ideias fora do lugar e também da dialética da malandragem de Antonio Candido; na psicanálise cabe destacar um texto de Maria Rita Kehl: "O ressentimento no Brasil" que faz essas questões conversarem com o período da ditadura militar de 64; no urbanismo podemos mencionar o livro A metrópole na periferia do capitalismo de Ermínia Maricato cujo título já interessante por si só: a metrópole como contraponto à colônia? A metrópole como cidade do século XX?, ao mesmo tempo em que emula o clássico de Roberto Schwarz: Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis”; em certa medida o mesmo se verifica na boa crítica de Ismail Xavier em relação ao cinema brasileiro em um texto como Alegoria, modernismo, nacionalismo.

Aliás, é importante ressaltar que Roberto Schwarz escreveu sobre o Cinema Novo, especialmente a estética da fome do Glauber Rocha como um exemplo de resolução estética dos impasses entre ideias e lugar no país ao apresentar a nossa miséria real como parte da história mundial do capitalismo e da modernidade, parte atual, e não como exemplar de supostos atrasos e arcaísmos pré-modernos.
Ainda no âmbito do ensaio e da crítica cultural podemos incluir aqui também um texto como "Na banda de Moebius", do ensaísta e escritor Nuno Ramos, que mostra o vai-não-vai, o movimento que vai para dentro sempre que se quer ir para-fora de alguns das maiores criações da vida artística do país, entre João Gilberto, Mira Schendell e Graciliano Ramos. Como se houvesse no Brasil uma relação de impasse permanente entre o nacional e o cosmopolita, o local e o universal.

Um texto como "Crítica à razão dualista (1972), do sociólogo Francisco Oliveira, serve também como boa companhia aos estudos das obras de Roberto Schwarz e Paulo Arantes. Mais recentemente, um filósofo como Vladmir Safatle, num livro em que tenta atualizar a dialética negativa de Adorno, dedica dois capítulos ao tema, mais precisamente os textos “A energia negativa das classes subalternas: Paulo Arantes e a matriz transformadora da crítica dialética” e “A dialética do romance nacional: retorno ao debate Roberto Schwarz/Bento Prado Jr.”

Metodologia

O plano de trabalho, com a estruturação das atividades, foi organizado através de uma série de ações que seguem uma progressão lógica, embora a maior parte delas se realizará de forma simultânea. As atividades vão se basear na leitura, análise, estudo e sistematização do referencial teórico, conceitual e analítico de livros, artigos e ensaios selecionados criteriosamente a partir da obra dos autores mencionados, mas podendo se ampliar dependendo do andamento da pesquisa e da produtividade dos encontros e reuniões no grupo de pesquisa.

Elas são as seguintes:

1) Pesquisa exploratória em torno do material geral de livros, artigos, ensaios, entrevistas e vídeos em especial associados às obras de Roberto Schwarz e Paulo Arantes.

2) Análise, sistematização e ordenação do quadro conceitual e do referencial teórico em especial das obras de Roberto Schwarz e Paulo Arantes.

3) Ordenação tipológica, com estruturação das formas de categorização e catalogação do quadro conceitual e do referencial teórico da obra dos autores mencionados.

4) Análise do quadro conceitual e do referencial teórico extraídos da obra dos autores mencionados, através de diferentes modelos de estudos e formas de mediação crítica.

5) Encontros regulares com o grupo de investigação. Inicialmente os encontros serão quinzenais, passando para encontros semanais após o primeiro semestre.

6) Elaboração de relatórios semestrais para efeitos de controle e regulação do processo de investigação.

7) Ampliação do repertório inicial de livros, artigos, ensaios e entrevistas para autores e autoras que fazem parte da mesma região discursiva e do mesmo campo intelectual dos autores mencionados.

8) Após a ampliação do repertório, um trabalho de redefinição do quadro conceitual, referencial teórico, modelos de estudo e formas de mediação crítica em torno das obras de Roberto Schwarz e Paulo Arantes.

Indicadores, Metas e Resultados

Os resultados esperados passam por um conjunto de atividades acadêmicas em diferentes modalidades, tanto as que envolvem: formação de cursos para disciplinas na graduação e pós-graduação; preparação em Seminários, Conferências, Colóquios acadêmicos; participação em eventos acadêmicos regionais, nacionais e internacionais em torno do tema do projeto de pesquisa; preparação e publicação de artigos em revistas acadêmicas especializadas em torno do tema do projeto de pesquisa, mas que se ampliam para outras atividades possíveis, como segue descrito abaixo.

1) Preparação e implementação de cursos acadêmicos associados ao material de livros, artigos, ensaios e entrevistas e ao tema do projeto de pesquisa.

2) Preparação, realização e participação em Seminários, Conferências, Colóquios associados ao material de livros, artigos, ensaios e entrevistas e ao tema do projeto de pesquisa.

3) Estruturação e publicação de artigos acadêmicos em revistas especializadas em torno do tema do projeto de pesquisa.

4) Contribuição para a organização, sistematização, orientação e divulgação de uma das obras mais significativas e relevantes da teoria social e sociológica do século XX feita no Brasil em torno de problemas associados às teorias pós-coloniais e decoloniais, tendo como base a crítica da modernidade e a atenção para problemas das sociedades contemporâneas.

5) Contribuição para a construção colaborativa de uma sociologia cosmopolita, a partir de Brasil, tendo como base a construção de redes de colaborações de pesquisadores.

6) Desenvolvimento uma série de atividades acadêmicas voltadas para o estímulo aos estudos da sociedade contemporânea, colocando em primeiro plano os problemas de um diagnóstico crítico da modernidade que tem como horizonte central de análise espaços sociais com histórico colonial e pós-colonial, entre eles, o Brasil.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
CAROLINA COSTA DOS SANTOS
Gabriela Pecantet Siqueira
MARCOS AURÉLIO LACERDA DA SILVA6
MARCUS VINICIUS SPOLLE1
PEDRO SCHLEE SOLER
Regis Fernando Freitas da Silva
SANDRO ADAMS

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