A Hanseniaspora uvarum PIT001 é um fungo ascomiceto encontrado em frutas, principalmente em uvas, e possui um importante papel na vinicultura, realizando a fermentação primaria das uvas em vinho (TRISTEZZA et al., 2016). Essa levedura também é de interesse agrícola, uma vez que pode ser usada como controle biológico contra uma diversidade de fungos, como a Colletotrichum capsici em chili e a Botrytis cinérea em uvas (LIU et al., 2010). Em estudos recentes em submissão a revista promovidos pelo grupo de pesquisa em microbiologia do departamento de biotecnologia da UFPEL, a H. uvarum PIT001 testou negativa para a atividade enzimática da gelatinase e proteolítica, duas enzimas importantes no mecanismo de patogenicidade de diversos microrganismos. Nesses estudos a H. uvarum PIT001 também inibiu o crescimento da Staphylococcus aureus, uma bactéria patogénica Gram-positiva que causa infecções simples até quadros de pneumonia e meningite (TONG et al., 2015), da Listeria monocytogenes, causadora da listeriose que pode provocar encefalites, meningites e abortos (MATLE et al., 2020) , da Pseudomonas aeruginosa, uma bactéria patogénica oportunista presente em muitas infecções hospitalares (MEDEIROS FILHO et al., 2019), da Escherichia coli, capaz de modificar a microbiota intestinal e causar casos de diarreias severas (GOMES et al., 2016), e da Klebsiella sp, que causa pneumonia, infeções no trato urinário e sepse (BENGOECHEA et al., 2019). Foi investigado se a levedura seria capaz de sobreviver no trato gastrointestinal com soluções que simulam este ambiente, sendo a H. uvarum PIT001 capaz de sobreviver o trato digestivo sem alterações, e da solução pancreática, passando de 108 CFU/mL to 107 CFU/mL. Também foi visto se haveria alterações na presença de ácidos láticos, pois bactérias ácidas lácticas que compreendem o trato gastrointestinal produzem ácidos orgânicos que podem afetar a viabilidade dos fungos (ZENG et al., 2019), e a presença de ácido lático não alterou a biomassa do fungo. Foi estudado também o mecanismo de auto-agregação da levedura. Esse mecanismo é necessário para adesão em células epiteliais, e dados acima de 80% são considerados como bons agregadores, e a H. uvarum PIT001 apresentou 99.99% a 37°C em cultivo. A European Food Safety Authority (eFsa) detém uma lista chamada presunção de segurança qualificada (QPS), a qual microrganismos pertencentes dessa lista não precisam passar por todas as etapas de segurança para ter o produto aprovado no mercado, e a H. uvarum PIT001 foi aprovada e atestada a segurança (EFSA BIOHAZ Panel, 2021). Não há casos de infecções alimentares com a H. uvarum PIT001, entretanto, em 2018 um estudo conduzido por JANKOWSKI et al. (2018) mostrou uma possível dermatite causada pela a H. uvarum. Isto será avaliado neste estudo no seu protocolo de segurança. A administração da H. uvarum PIT001 será pela via oral, e não entrará em contato com a pele externa. A depressão é um transtorno psiquiátrico mais debilitante do mundo de acordo com a organização mundial da saúde, com mais de 280 milhões de pessoas do mundo sendo afetadas (WHO, 2021). Por mais de 50 anos, os seus tratamentos constituem intervenções medicamentosas. Entretanto, esse modo de tratamento pode trazer diversos efeitos adversos como boca seca, dor de cabeça, e disfunção sexual (KHAWAM et al., 2006). Outro ponto, é que por ser um transtorno multifatorial, nem todos os pacientes respondem ao tratamento, e dos que respondem, cerca de 1/3 entra em ressubmissão em determinado momento (KOK et al., 2012). Desta maneira, encontrar novos modos de tratamento que possam tratar o transtorno da depressão e diminuir os sintomas depressivos são de extrema importância para esses pacientes. O eixo microbiota-intestino-cérebro é um eixo bidirecional entre o cérebro e o intestino e tem influência direta pela microbiota intestinal. A microbiota, formada por vírus, bactérias e fungos, vivem no intestino e ajudam a manter a homeostase corporal. Entre as funções, podemos citar: inibição de patógenos, competitividade espacial, atividade imunomoduladora, homeostase energética e produção de metabólitos (BARKO et al., 2018). Na produção de metabólitos, é possível modular o cérebro de duas formas principais. A primeira é através da inervação do nervo vago, o décimo nervo craniano do tipo parassimpático, que está conectado no sulco retro-olivar do cérebro e faz conexão com o intestino. Dessa maneira o nervo recebe diversas inervações do intestino e manda sinais e estímulos ao cérebro, capaz de controlar humor, resposta imune, resposta inflamatória e digestiva (BREIT et al., 2018). E a segunda é através da circulação sanguínea, onde compostos lipofílicos podem cruzar a barreira hematoencefálica, e compostos que não cruzam podem estimular células próximas da barreira que então enervam o cérebro (DANEMAN et al., 2015). Entre os estimuladores, existe um tratamento que possui efeito na via do nervo vago e estimulação periférica pela a circulação sanguínea: o uso de probióticos. Os probióticos são substâncias que quando ingeridas em quantidades adequadas, não causam danos ao organismo e trazem uma resposta benéfica (HILL et al., 2014). Para chegar ao trato gastrointestinal, é recomendando que seja administrado entre 107 -109 unidades formadoras de colônia por dia (MINELLI et al., 2008). Em 108 resultados significativos são encontrados (BIRMANN, PALOMA T. et al., 2021) , e por essa razão está será a dose utilizada nesse estudo. Nos últimos anos os tratamentos com probióticos tem se mostrado interessante por trazer uma abordagem mais natural utilizando microrganismos vivos para o tratamento de doenças e transtornos. Em especial, os psicobióticos são aqueles que modulam o comportamento e são estratégias para combater doenças e transtornos psiquiátricos, como a depressão (BIRMANN, P. T.; CASARIL, A. M.; et al., 2021) (DHALIWAL et al., 2018). Para ter esse efeito positivo, é de extrema importância que os probióticos não causem nenhum mal ao organismo, uma vez que certos microrganismos podem induzir respostas inflamatórias e causar uma neuroinflamação (COSSU et al., 2021). Em métodos de indução da depressão, a neuroinflamação é um modelo interessante. Em modelos de neuroinflamação, é possível estudar a resposta do sistema imune e estresse oxidativo gerado no processo, o qual acontece o aumento de espécies reativas e diminuição da defesa enzimática e não enzimática (LINDQVIST et al., 2017). Um dos meios de causar a inflamação é através de infeções bacterianas, e a administração intraperitoneal de lipopolissacarídeo (LPS) bacteriano, constituinte da membrana celular de bactérias Gram negativas, ativa o sistema imune fazendo-o entrar em um estado inflamatório (LI et al., 2021). Os probióticos possuem propriedades imunomodulatórias, diminuindo a inflamação do sistema imune e padrões inflamatórios e de estresse oxidativo (BIRMANN, P. T.; CASARIL, A. M.; PESARICO, A. P.; CABALLERO, P. S. et al., 2021; KAZEMI et al., 2019). Desta maneira, encontrar probióticos capazes de proteger o organismo contra a inflamação é uma estratégia interessante no combate da depressão.