Nome do Projeto
Assessoria técnica e projeto popular: construindo outras abordagens sobre o espaço habitado
Ênfase
Extensão
Data inicial - Data final
01/08/2023 - 01/08/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Sociais Aplicadas
Eixo Temático (Principal - Afim)
Direitos Humanos e Justiça / Meio ambiente
Linha de Extensão
Organizações da sociedade civil e movimentos sociais e populares
Resumo
Tomando como ponto de partida a perspectiva que aponta para o fato de que as demandas sociais pelo acesso à terra urbanizada, à moradia qualificada a serviços públicos e equipamentos comunitários adequados devem ser pautas prioritárias nas ações do arquiteto e urbanista no contexto social brasileiro, este projeto de extensão se propõe a desenvolver a articulação entre a produção de conhecimento, as atividades de ensino e aprendizagem e ações extensionistas no contexto da cidade de Pelotas, contribuindo para a formação de profissionais e cidadãos com preocupações e experiências no desenvolvimento de projetos de arquitetura e urbanismo destinados à população e mais baixa renda. Esta postura vai ao encontro da compreensão da responsabilidade da Universidade Pública diante de seu contexto social. Nesse sentido, as ações e atividades a serem desenvolvidas têm como premissas a incorporação de um processo participativo, entre técnicos, eventuais instituições de interesse, e comunidade, priorizando a atuação com benefícios coletivos e com enfoques multidisciplinares, bem como a capacidade de troca e geração de conhecimento entre universidade e comunidade.

Objetivo Geral

Democratizar o acesso à assessoria técnica em Arquitetura e Urbanismo a partir da difusão – dentro de fora da Universidade - de uma cultura de projeto popular e socialmente responsável, promovendo o exercício da arquitetura e urbanismo em ações coletivas e participativas, que envolvam a comunidade universitária, a comunidade externa e o poder público, desenvolvendo projetos para melhoria das condições do espaço habitado da população de mais baixa renda na cidade de Pelotas.

Justificativa

As atividades ligadas à arquitetura e urbanismo usualmente tem sido reconhecidas pela sociedade como prioritariamente àquelas relacionadas com um certo distanciamento das realidades e demandas relacionadas à população de mais baixa renda. Não é incomum, entre o público em geral, a percepção de que a arquitetura e o urbanismo relacionam-se principalmente com um mercado de consumo de luxo. Percepção, que por sua vez não está de todo equivocada, dado o histórico de distanciamento entre o pensamento e produção de arquitetura e as grandes demandas da maioria da sociedade brasileira. Por outro lado, nas últimas décadas, tem se observado um forte movimento de autocrítica desta categoria profissional e acadêmica, que passou a reconhecer e dar protagonismo às demandas sociais pela ampliação do direito à cidade, a luta pelo direito à moradia e qualificação do espaço habitado, aqui entendido em termos amplos, que passaram a ser incorporadas como pautas prioritárias nas ações do arquiteto e urbanista. Nesse contexto, esta mudança de perspectiva em relação à atuação do arquiteto e urbanista também deve ser incorporada pelas instâncias de formação dos novos profissionais, fortalecendo, deste modo, o compromisso das ações da Universidade Pública diante do contexto social das questões citadas. Desse modo, este projeto parte do princípio de que as demandas sociais por maior acesso à arquitetura e urbanismo, pelo direito à moradia e qualificação do espaço habitado devem ser pautas prioritárias nas ações e reflexões do arquiteto e urbanista, e assim transformando-se em referencias para seu processo de formação.
Importante recordar que em dezembro de 2008 foi aprovada a Lei Federal 11.888 que “assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social”. Reforçando o fato de que a moradia é um direito constitucional, esta lei determina que famílias com renda de até 3 salários mínimos tenham assistência técnica pública e gratuita para a construção, reforma, ampliação e regularização fundiária de suas moradias. O artigo 3º da Lei afirma que a assistência técnica pode ser oferecida às famílias, cooperativas, associações de moradores e demais organizações sociais. Seu artigo 4º destaca que os serviços de assistência técnica devem ser prestados por profissionais qualificados, dentre os quais “III - profissionais inscritos em programas de residência acadêmica em arquitetura, urbanismo ou engenharia ou em programas de extensão universitária, por meio de escritórios-modelos ou escritórios públicos com atuação na área”.
Neste contexto é preciso consolidar algumas posições a respeito das especificidades da extensão universitária nas áreas de urbanismo e planejamento urbano que serviram de base para a formulação e desenvovimento deste projeto. Rovati e D´Ottaviano (2017) estruturam essa discussão a partir do reconhecimento de certa dificuldade para se estabelecer o conceito definitivo de extensão, ao mesmo tempo em que se posicionam em defesa de alguns princípios fundamentais. Desse modo, por um lado, os autores se perguntam,

Mas o que realmente é a extensão? Assistência ou assessoria técnica? Prestação de serviço? Divulgação de conhecimento? Transferência de saberes? Espaço de experimentação para nossas atividades rotineiras de ensino e pesquisa? Uma forma particular de militância política? Ou simplesmente uma “extensão provisória da universidade” (e, muitas vezes, improvisada) para fora de seus muros? (ROVATI; D´OTTAVIANO, 2017, p. 16)

Por outro, reconhecem a importância de

[..] fortalecer a extensão como ação política e espaço público, locus privilegiado da interação entre universidade e sociedade pautado pela prática da democracia, pelo combate aos preconceitos e às desigualdades sociais, pelo diálogo e parceria fraterna entre “diferentes”, pela experimentação com vistas ao enfrentamento de problemas relevantes para a população mais vulnerável e pobre do país, pela procura e invenção de um conhecimento que transforma. (ROVATI; D´OTTAVIANO, 2017, p. 17)

Nesse sentido, os autores também defendem que as ações de extensão não devem simplesmente reproduzir práticas hegemônicas consagradas pelo mercado ou pelos serviços de consultoria. Desse modo, o processo torna-se tão importante quanto o produto final. Além disso, os territórios da extensão deveriam ser aqueles ainda não explorados; espaços nos quais as demandas dos setores mais fragilizados da sociedade ganham protagonismo e o conhecimento produzido na Universidade conquista, por sua vez, corpo e sentido diante de uma realidade a ser transformada. (ROVATI, D´OTTAVIANO, 2017).
Alinhado à esta perspectiva, este projeto de extensão pretende, além de trabalhar em conjunto com setores da sociedade historicamente negligenciados (territórios ainda não explorados), reforçar o protagonismo do processo, estabelecendo uma convergência entre o processo de projeto de arquitetura e urbanismo e um processo de formação que envolva comunidade, estudantes e professores envolvidos. A compreensão do processo de projeto como uma instância de formação mútua – envolvendo técnicos e comunidade – se desenvolve no sentido de se estabelecer uma alternativa superadora à certas noções simplistas de extensão universitária, muitas vezes focadas no produto final e permeadas por uma noção de caridade, consideradas limitadas e limitadoras por nossa perspectiva. É preciso buscar, nos termos de Freire (2010), que as comunidades envolvidas desenvolvam uma apropriação crítica crescente de sua posição no contexto, apropriando-se, para tanto, do processo de projeto como instrumento para um exercício de reconhecimento de conflitos, produção de questionamentos e tomada de consciência.
Desse modo, considerando a histórica desigualdade em relação ao acesso à assessoria técnica em arquitetura e urbanismo por parte das comunidades de mais baixa renda; a necessidade de se confrontar esta realidade a partir da Universidade pública; a importância de incorporar no processo de formação dos estudantes da Faurb o contato com um processo de projeto e produção de uma arquitetura popular; a importância da criação de uma instância na qual, dentro deste processo de formação, ocorra a produção compartilhada de conhecimento entre Universidade e Sociedade e, não menos importante, considerando a legislação vigente e a possibilidade de fortalecer as atividades de extensão e pesquisa dentro da Faurb e da UFPel, reafirmando os preceitos do Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo, justifica-se a apresentação deste projeto de extensão.

Referências Bibliográficas:

BRASIL. Presidência da República. Lei Federal 11.888 - Assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social e altera a Lei no 11.124, de 16 de junho de 2005. Brasília: Casa Civil, 2008.
FREIRE, P. Educação como prática de liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
ROVATI, João; D´OTTAVIANO, Camila. Os territórios da extensão universitária. In: ROVATI, João; D´OTTAVIANO, Camila. (org.). Para além da sala de aula. Extensão universitária e planejamento urbano e regional. São Paulo: FAUUSP, 2017. p. 15-24.

Metodologia

Os procedimentos metodológicos a serem adotados no presente projeto de extensão são aqueles típicos de atividades voltadas à construção de um processo de reflexão e intervenção sobre o espaço habitado que tenham como pressuposto o protagonismo e a autonomia das comunidades participantes, com os envolvidos operando como interlocutores qualificados em um processo que envolve a produção compartilhada de conhecimento e de alternativas diante das demandas apresentadas.
O modo de organização e articulação das atividades do projeto, está estruturado nas etapas descritas a seguir, que podem se desenvolver com alguma sobreposição temporal e privilegiam compartilhamento de conhecimento e informação:

1. Reuniões de coordenação.
Atividade na qual o docente coordenador do projeto e os estudantes participantes poderão refletir e tomar decisões conjuntas a respeito do processo de desenvolvimento das ações. Este momento poderá incorporar atividades de pesquisa e ensino.

2. Levantamentos preliminares
Pesquisas iniciais – documentais ou bibliográficas – voltadas a aprofundar o conhecimento e o contato do grupo extensionista e as comunidades envolvidas

3. Trabalho de campo
Visitas exploratórias às comunidades, visando o reconhecimento das principais características e condicionantes de seu contexto sócio-espacial


4. Reuniões de preparação das oficinas
Nestas reuniões serão decididas e/ou construídas as dinâmicas de interação entre docente, discentes e comunidade, nas quais serão abordados efetivamente as questões que envolvem as demandas apresentadas assim como os encaminhamentos – projetuais ou não – voltados a seu atendimento.

5. Oficinas temáticas – comunidade
Oficinas nas quais, a partir de dinâmicas próprias, as demandas das comunidades, assim como seu contexto e possibilidades, serão discutidas de modo a possibilitar a construção conjunta de soluções projetuais voltadas à qualificação de seu espaço habitado.

6. Consolidação dos resultados
Reuniões, que poderão ocorrer somente entre o grupo extensionista, mas também entre este e a comunidade, voltadas à consolidação dos resultados das oficinas temáticas.

7. Desenvolvimento dos projetos

8. Apresentação e compartilhamento dos resultados

9. Participação no Fórum Social da UFPel

Indicadores, Metas e Resultados

Os principais indicadores que possibilitarão o dimensionamento do sucesso deste projeto em alcançar seus objetivos são:

- Número de comunidades alcançadas pelas ações
- Número de participantes envolvidos/presentes nas oficinas
- Participação de estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo nas ações propostas pelo projeto
- Ampliação do alcance do projeto, a partir da ampliação do número de parceiros

Em relação às suas metas e resultados esperados, podemos destacar:

- Consolidar um debate qualificado a respeito de temas urbanos.
- Construir vínculos efetivos com as comunidades que vivem em núcleos urbanos precários na cidade de Pelotas, reconhecendo suas particularidades, modos de vida, demandas e características identitárias.
- Tornar cotidiana a assistência técnica em Arquitetura e Urbanismo nas comunidades envolvidas.
- Constituir processos participativos voltados ao diagnóstico e à intervenção nas comunidades envolvidas.
- Reconhecer os moradores como sujeitos no processo de projeto de Arquitetura e Urbanismo.
- Compartilhar informações e experiências com outras comunidades, outras instancias universitárias, com o poder público e a sociedade em geral.
- Transformar os tópicos anteriores em valores cotidianos no curso de Arquitetura e Urbanismo

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
AGNES RAMOS RODRIGUES
ALEXSANDRA DA ROSA DE LOS SANTOS
ALINE DA COSTA FERREIRA
AMANDA MARTINS NOGUEIRA
ANDRE DE OLIVEIRA TORRES CARRASCO3
MARIA FERNANDA PINTO NETO
PAULA GOTTEMS VENDRUSCULO

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