O setor da pecuária no Brasil possui um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, 214,9 milhões de bovinos (IBGE, 2021). Em 2019 a pecuária de corte representou 8,5 % do PIB brasileiro, tendo um aumento de 2 % em relação ao ano de 2018 (ABIEC, 2020).
Devido aos avanços da pecuária e da demanda do mercado, os produtores estão investindo na padronização e qualidade do seu rebanho.
Neste setor produtivo, a exportação de animais vivos apresenta um significativo mercado ainda em expansão. Entre os anos de 2017 a 2019 o Brasil foi responsável pela exportação de aproximadamente 1,5 milhões de animais vivos, com média de peso de 306 kg, representando uma receita superior a um bilhão de dólares (MDIC, 2021). Neste mesmo período, o Rio Grande do Sul (RS) foi responsável por 22,9% deste volume, significando 358.366 animais exportados (MDIC, 2021). A modalidade já é consolidada no Rio Grande do Sul, que exporta para a Turquia e países árabes cerca de 120 mil animais por ano – média histórica de 1% do rebanho gaúcho de 12,7 milhões de cabeças (SEAPDR, 2019). Os países importadores, se destaca Egito, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Jordânia e Turquia, sendo esta última responsável 85,3 % do rebanho exportado nos anos de 2017 a 2019 no RS (MDIC, 2021). Porém, para que estes animais sejam aptos a serem comercializados, alguns protocolos sanitários são exigidos pelo país importador conforme o seu Certificado Zoosanitário Internacional (CZI), sendo assim, as exportadoras devem seguir rigorosamente esses procedimentos. Dentre os testes requeridos por cada país importador, estão os diagnósticos de enfermidades como: Paratuberculose (PTB), Diarreia Viral Bovina (BVD), Leucose Enzoótica Bovina (LEB), Tuberculose e Brucelose. A paratuberculose (PTB), também denominada doença de Johne é uma doença contagiosa crônica do trato intestinal causada pela bactéria Mycobacterium avium, um agente intracelular obrigatório, ácido forte e gram positivo (VALENCIA et. al., 2018) e acomete principalmente os ruminantes. O modo de transmissão é através da via fecal oral, onde os microorganismos se dissemina através das fezes de animais infectados, principalmente ocorre esta infecção em situações de superlotação e condições sanitárias inadequadas e apresentando longos períodos de incubação (GILARDONI et al., 2016; BENAVIDES et al., 2016). A doença pode apresentar quadros clínicos como: diarreia, queda na produção e perda progressiva de peso e animais subclínicos não apresentam
sintomatologia clínica (SOUZA, 2018). O controle da PTB é baseado em teste de diagnósticos, para identificação de animais infectados, deve ser empregado com cautela, pois a sensibilidade dos testes no estágio inicial da infecção pode não ser suficiente para detecção. Entretanto, medidas como a vacinação, práticas de manejo, detecção precoce e eliminação dos animais portadores são estratégias indicadas no controle desta enfermidade (GILARDONI et al. 2016).
O vírus da diarreia viral bovina (BVDV), pertence à família Flaviviridae, gênero Pestivirus e pode ser classificado em três diferentes espécies: vírus da diarreia viral bovina 1 (Pestivirus A), vírus da diarreia viral bovina 2 (Pestivirus B) e HoBi-like pestivírus (Pestivirus H) (ICTV, 2021). Os animais que podem desenvolver está enfermidade são os bovinos, ovinos, caprinos suínos, búfalos, coelhos, alces, ilhamas e alpacas. Sendo que os possíveis reservatórios os ovinos, caprinos e suínos. O BVDV está amplamente distribuído no mundo, principalmente em países onde há expressiva produção bovina (RIDPATH et al., 2017). Sua transmissão ocorre principalmente por contato direto e indireto de animais, por fontes iatrogênicas e de maneira vertical. A infecção causada por este vírus é predominantemente subclínica, porém pode ser reconhecida em rebanho que estão em condições nutricionais adequadas, mas apresentam desempenhos reprodutivos diminuído. Por outro lado, rebanhos que não são imunes e que são infectados pelo vírus podem demonstrar formas
agudas e severas, podendo levar a morte dos animais (ALMEIDA et al., 2013). Os sinais clínicos podem se inespecíficos como febre, diarreias e queda na produção de leite ou mais evidentes, como erosões nas mucosas do aparelho digestivo, malformações
congênitas e o principal sinal clínico aborto. Entre as principais características do vírus, destaca-se a sua capacidade e estabelecer infecção persistente, os animais persistentes infectados (PI) (ALMEIDA et al., 2013).
A circulação do BVDV pode gerar prejuízos relacionados a reprodução, imunossupressão, teratogenia e nascimentos de animais PI (BACCILI et al., 2019). Programas de controle e erradicação do BVDV estão relacionados a identificação e eliminação de animal PI, medidas de biossegurança e estratégias de vigilância (BAUERMANN et al., 2012). No Brasil, medidas de controle e erradicação do BVDV de forma organizada não são empregadas e vários aspectos da epidemiologia do vírus permanece indeterminado. Ambas as enfermidades já foram descritas no Brasil e no estado do Rio Grande do Sul, sendo descritas nas mesorregiões. Devido à importância sanitária e econômica,
é imprescindível conhecer como ocorre a distribuição dessa enfermidade nas diferentes mesorregiões do RS. Considerando tais importância, será realizado um levantamento de resultados a partir dos diagnósticos de PTB e BVDV, através de exames sorológicos e
RT-PCR para determinação de animais persistentemente infectados (PI) para BVDV. Assim, o presente estudo se propõe a levantar achados epidemiológicos do estado do Rio Grande do Sul para determinar a soroprevalência de PTB, assim como a soroprevalência de animais potencialmente persistentemente infectados (PI) para BVDV (revelados pela presença de antígenos de BVDV no soro) em animais em quarentena destinados á exportação, entre os anos de 2019 a 2023.