Nome do Projeto
Desigualdades de sexo, nível econômico e cor da pele na prática de atividade física ao longo do ciclo vital
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
04/10/2023 - 28/02/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
A atividade física é considerada uma estratégia na prevenção de doenças, manutenção e promoção da saúde, tendo seu espaço demarcado na agenda cientifica e política de saúde pública mundialmente. A literatura tem mostrado que marcadores sociais como sexo, idade, raça/cor, renda, nível socioeconômico diferenciam a população em grupos distintos, e que o pertencimento a um ou outro desses grupos afeta drasticamente as oportunidades e experiências com a atividade física ao longo da vida. Esses marcadores têm um peso decisivo na distribuição de atividade física na população do Brasil, assim como condicionam outras dimensões da vida da população, afetando o envolvimento com as práticas. Nesse contexto, sexo, cor da pele e o nível socioeconômico se destacam e nesse projeto serão estudados como dimensões de desigualdades. Avaliar e monitorar a atividade física ao longo do tempo, em diferentes períodos de transição, com diferentes medidas, pode gerar um panorama importante das desigualdades e suas trajetórias, visto que estimativas globais, nacionais e regionais geralmente escondem diferenças substanciais entre grupos populacionais. Este projeto visa utilizar dados dos acompanhamentos das coortes de nascimentos de 1993, 2004 e 2015 de Pelotas. O primeiro artigo previsto será uma revisão sistemática sobre as desigualdades sociodemográficas e econômicas na prática de de atividade física ao longo do ciclo vital. O segundo produto será um artigo original analisando as desigualdades de atividade física na transição da primeira infância para a segunda infância e da segunda infância para adolescência, utilizando dados das coortes de nascimentos de 2015 e 2004 de Pelotas. Nesses acompanhamentos foram coletadas medidas de atividade física por meio de acelerometria aos 1, 2, 4 e 6-7 anos na Coorte de 2015, e aos 6-7, 11 e 18 anos na Coorte de 2004. O terceiro artigo irá verificar as variações de atividade física na Coorte de Nascimentos de Pelotas de 1993, durante a transição do final da adolescência (18 anos) para a idade adulta jovem (22 anos), avaliando as desigualdades de acordo com a mensuração de atividade física utilizada (autorrelato e acelerometria).

Objetivo Geral

Descrever as desigualdades de sexo, nível econômico e cor da pele nas
trajetórias de AF em diferentes períodos de transição do ciclo vital, a partir de dados
longitudinais das coortes de nascimentos de 1993, 2004 e 2015 de Pelotas, Rio
Grande do Sul, Brasil.

Justificativa

Apesar de décadas de estudo e avanços na identificação de fatores que
predizem e se associam à AF, a compreensão de como as trajetórias de AF mudam
ao longo do ciclo vital ainda é desafiadora. As dificuldades em mensurar AF,
especialmente na infância, bem como manter estudos com boas taxas de
acompanhamento ao longo dos anos são considerados desafios metodológicos
(HOWIE et al., 2020).
Cabe ressaltar que os estudos de base populacional que contemplaram
maiores rigores metodológicos foram conduzidos em coortes de países de renda alta
e que, portanto, não necessariamente condizem com a realidade brasileira no que diz
respeito às características e hábitos da população. No Brasil, muitas populações não
têm assegurado o acesso à AF, sendo nítidas as evidências entre a menor
possibilidade de prática de AF de acordo com o grupo social do indivíduo,
potencializando desigualdades de sexo, raça e nível econômico (PNUD, 2017). O
conceito de tríplice iniquidade ressalta a importância de considerar não apenas a
iniquidade social, mas também as dimensões de raça/etnia e gênero ao analisar as
desigualdades em saúde (BREILH, 2006).
Há poucos estudos até o presente momento que apresentaram como proposta
analisar as desigualdades e a AF ao longo do ciclo vital, considerando a tríplice
iniquidade como dimensões de desigualdades. Os estudos estratificam por essas
variáveis, entretanto, não procuram explicar a relação dessas estratificações como
desigualdades e nem como isso impacta no aumento ou diminuição de AF. Nesse
contexto, avaliar e monitorar a AF ao longo do tempo com diferentes medidas, pode
gerar um panorama importante das desigualdades no ciclo vital, visto que estimativas
globais, nacionais e regionais geralmente escondem diferenças substanciais entre os
grupos populacionais (CROCHEMORE-SILVA et al., 2018).
De acordo com a literatura, tem sido observado um declínio na AF desde a
infância, afetando ambos os sexos, sendo mais pronunciado entre as meninas. No
entanto, ainda não está claro quando e em que medida essa diminuição ocorre em
crianças e adolescentes (FAROOQ et al., 2020). Nesse contexto, estudos
longitudinais que acompanham indivíduos em diferentes momentos, desde os
primeiros anos de vida até a transição para a adolescência e também para a vida
adulta, são ferramentas importantes para melhorar a compreensão sobre a magnitude
dessas mudanças, considerando as desigualdades que podem influenciar cada fase
do ciclo de vida (TELAMA et al., 2014; LOUNASSALO et al., 2019). Essa abordagem
é especialmente relevante no Brasil, um país de dimensões continentais onde
persistem grandes desigualdades sociais (KOHL et al., 2012; MIELKE et al., 2021).
Assim, pode-se dizer que existem lacunas a serem preenchidas na literatura
em relação ao tema de pesquisa proposto. Os estudos de coorte de nascimentos de
1993, 2004 e 2015 de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, vem acompanhando
crianças, jovens e adultos, constituindo-se de informações importantes ao longo do
tempo e que podem elucidar desigualdades na prática de AF em amostras
representativas da população geral, podendo contribuir para o planejamento de
intervenções futuras. Até o momento, este será o primeiro estudo conduzido no Brasil
que avaliará desigualdades de sexo, nível socioeconômico e cor da pele na AF,
envolvendo três estudos de Coortes, com diferentes pontos de acompanhamento no
tempo, durante a transição da infância para a adolescência e do final da adolescência
para início da vida adulta, podendo também comparar diferentes instrumentos
(questionário e acelerômetro) de mensuração da AF.

Metodologia

A tese será composta por uma revisão sistemática da literatura e dois estudos
originais. Os estudos originais da tese serão baseados nas coortes de nascimentos
de Pelotas, especificamente as coortes de nascidos em 1993, 2004 e 2015.
O município de Pelotas está localizado na região sul do estado do Rio Grande
do Sul, Brasil, com uma população estimada em 325.689 habitantes, sendo a quarta
cidade mais populosa do estado (BRASIL, 2023). Desde 1982, com um intervalo
temporal de 11 anos, uma nova coorte de nascimentos foi iniciada em Pelotas. O
monitoramento ao longo do ciclo vital é um dos objetivos das coortes de nascimentos,
buscando avaliar desfechos, fatores de risco e proteção relacionados à saúde em
diversos âmbitos (comportamentais, psicológicos, sociais, entre outros).
Neste projeto serão utilizados dados dos acompanhamentos dos 1, 2, 4 e 6-7
anos da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2015; 6-7, 11, 15 e 18 anos da Coorte
de Nascimentos de Pelotas de 2004; 18 e 22 anos da Coorte de Nascimentos de
Pelotas de 1993. Os métodos de cada estudo serão abordados em subseções
separadas com suas especificidades dentro dessa seção. Mais informações sobre os
estudos estão disponíveis nos artigos de perfil das coortes (VICTORA et al., 2008;
SANTOS et al., 2011; HALLAL et al., 2017), assim como no site institucional da
Epidemiologia UFPel:
https://www.epidemioufpel.org.br/site/content/estudos/index.php.

Indicadores, Metas e Resultados

Artigos pretendidos

Artigo 1- Desigualdades sociodemográficas e econômicas na prática de atividade
física ao longo da vida: uma revisão sistemática.

Artigo 2- Desigualdades na prática de atividade física da infância à adolescência:
análises longitudinais nas coortes de nascimentos de 2015 e 2004 da cidade de Pelotas,
Rio Grande do Sul, Brasil.



Hipóteses

• Da primeira infância para a segunda infância, haverá um aumento de AF total
e da segunda infância para a adolescência, haverá um declínio de AF total
medida por acelerômetros nas Coortes 2015 e 2004.

• Da primeira infância para a segunda infância o aumento de AF total será maior
no sexo masculino, no grupo mais pobre e com cor da pele preta na Coorte
2015. Da segunda infância para a adolescência, a diminuição de AF total
acontecerá em ambos os sexos, sendo maior no sexo feminino, entre o grupo
mais rico e com cor da pele branca na Coorte de 2004.

• Longitudinalmente, haverá aumento das desigualdades de sexo, nível
econômico e cor da pele na transição da primeira para a segunda infância e da
segunda infância para a adolescência nas Coortes de 2015 e 2004.

• Do final da adolescência para a idade adulta na Coorte de 1993, haverá um
declínio de AF moderada e vigorosa, quando medida por acelerômetros. O
sexo masculino apresentará maior declínio comparado ao sexo feminino. O
sexo feminino apresentará estabilidade de AF moderada e vigorosa nesse
período. A AF moderada e vigorosa será maior no grupo mais pobre e de cor
da pele preta e menor no grupo mais rico e de cor da pele branca. Todos os
grupos de nível econômico apresentarão declínio de forma semelhante.

• Do final da adolescência para a idade adulta na Coorte de 1993, haverá um
declínio de AF moderada e vigorosa de lazer, quando medida por
questionários. Esse declínio será maior no sexo masculino, sendo que sendo
que o sexo feminino apresentará estabilidade na AF moderada e vigorosa de
lazer entre esses períodos. O grupo com nível econômico mais alto e de cor
da pele branca apresentará mais AF moderada e vigorosa de lazer nos dois
pontos de acompanhamentos em comparação ao grupo de menor nível
econômico e cor da pele preta.

• Ao usar acelerômetros como medida de AF moderada e vigorosa na Coorte de
1993, as desigualdades observadas serão pró-pobres, implicando em um
aumento das desigualdades de sexo, nível socioeconômico e cor da pele. Já
ao utilizar questionários de lazer como medida, as desigualdades observadas
serão pró-ricos, resultando em um aumento das desigualdades de sexo, nível
socioeconômico e cor da pele.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
Giulia Salaberry Leite
INÁCIO CROCHEMORE MOHNSAM DA SILVA1
OTÁVIO AMARAL DE ANDRADE LEÃO

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