Nome do Projeto
Avaliação da dinâmica populacional de Rhipicephalus microplus em Capão do Leão, Rio Grande do Sul
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
28/02/2024 - 28/02/2027
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Agrárias
Resumo
O carrapato do boi, Rhipicephalus microplus, está presente em todo território nacional, sendo responsável por grandes perdas econômicas na bovinocultura. O seu controle ainda é realizado predominantemente com acaricidas e apenas quando os animais apresentam visualmente a infestação. O uso contínuo, frequente e de forma inadequada de carrapaticidas levou ao surgimento de populações resistentes aos princípios disponíveis comercialmente. O entendimento de aspectos relacionados a biologia do carrapato, como a dinâmica populacional desse ectoparasito ao longo do ano, é de fundamental importância para a proposição e para o estabelecimento de novas alternativas de protocolos de aplicação dos acaricidas a campo. Diante disso, propõe-se metodologia de estudo para o conhecimento da dinâmica populacional de R. microplus em uma fazenda da região sul do Rio Grande do Sul, para entender o ciclo biológico e como este parasita se manifesta nesse ambiente.

Objetivo Geral

Avaliação do ciclo de vida e da dinâmica populacional do Rhipicephalus microplus em condições naturais, em uma fazenda no município de Capão do Leão, RS.

Justificativa

Rhipicephalus microplus é um ácaro hematófago, que está distribuído em todo território nacional, principalmente nas regiões subtropicais e tropicais (ANDREOTTI, 2013). É considerado um parasito com ciclo monóxeno, em que depende somente de um hospedeiro, principalmente bovinos, podendo também causar grandes infestações em animais domésticos e animais silvestres. Seu ciclo compreende duas fases, sendo elas: fase de vida livre e fase parasitária (NICARETTA, 2018).
Esse carrapato é de suma importância na economia brasileira, em que acarreta grandes prejuízos na pecuária, podendo ser diretamente ou indiretamente. Os prejuízos diretos estão relacionados com diversos motivos, dentre os principais estão: a ingestão de sangue durante sua alimentação, que dependente do grau de infestação e pode acarretar no comprometimento da produção de carne e leite; a inoculação de toxinas no hospedeiro promovendo diversas alterações e consequências fisiológicas, como inapetência; a transmissão de agentes patogênicos como espécies dos gêneros Anaplasma e Babesia, responsáveis pela TPB; e a redução da qualidade do couro do animal, devido às cicatrizes irreversíveis ocasionadas durante o repasto do artrópode, que são verificadas por ocasião de seu beneficiamento no curtume (GOMES, 2001). Já os prejuízos indiretos estão relacionados com o custo de mão-de-obra, despesas com construções e manutenções de instalações de banheiros, compra de equipamentos, aquisição de carrapaticidas e entre outros (GOMES, 2001). Um estudo realizado no Brasil estimou que o prejuízo causado por R. microplus à pecuária brasileira superava dois bilhões de dólares ao ano (GRISI et al., 2013). Posteriormente, as perdas foram estimadas em mais de US$ 3.90 bilhões (GRISI et. al., 2013). Estimou-se que o custo operacional efetivo (COE) do banho carrapaticida pode ter apresentado aumento real em mais de 100% em três décadas (de 1980 a 2000) (RODRIGUES et al., 2013).
O setor de bovinocultura atua de forma heterogênea no uso das tecnologias para o controle de carrapato. Tem-se desde sistemas tradicionais, em que o produtor define a compra de um produto acaricida no balcão da loja de produtos veterinários, até sistemas sofisticados, onde se utilizam práticas integradas de controle que visam o sistema produtivo, diminuindo os impactos causados pelo controle (ANDREOTTI, 2019). Embora a utilização de acaricidas seja a principal ferramenta de controle de carrapato R. microplus, ações baseadas no conhecimento da ecologia do parasita podem resultar em melhor controle, diminuindo custos, retardando o avanço da seleção para resistência e acarretando num menor impacto no ambiente, devido a redução da quantidade de princípios ativos utilizados no controle deste ectoparasita.
No Brasil, as condições climáticas são favoráveis para as doenças parasitárias, principalmente as que envolvem este ectoparasito, tornando-o endêmico em grande parte do território nacional, exigindo sempre um manejo sanitário com atenção, visto que a incidência do R. microplus varia de acordo com as condições climáticas das regiões (FONSECA, 2005). Diversos fatores são determinantes para sua distribuição e tempo de evolução. Dentre eles, sobressai o tipo de ecossistema, manejo, idade dos animais e variações regionais e sazonais de temperatura, umidade relativa do ar e precipitação pluvial, sendo que essas três estão em constante mudança ao longo do tempo.
Entre as alternativas para o controle de R. microplus, está a utilização de acaricidas no controle estratégico, os quais são aplicados nas épocas apropriadas e estão associados às medidas complementares como descanso de pastagens (sistema rotacional). Portanto, é de suma importância o conhecimento da ecologia do carrapato nas diferentes estações do ano, sua dinâmica populacional em determinada região e suas relações conforme as variações climáticas, especialmente, temperatura, pluviometria e umidade relativa do ar em cada local.
A falta de conhecimento da biologia e a ausência de um método de avaliação das regiões em que o R. microplus se encontra são problemas para elaboração e efetivação de programas de controle. Sendo assim, é de suma importância estudar e conhecer os aspectos biológicos, dinâmicos o melhor método (populacional e comportamentais) e ecológicos da população, buscando para o controle deste ectoparasito.
Diante disso, conhecer os aspectos biológicos de R. microplus é necessário para entender a variação populacional de carrapato de acordo com determinadas regiões, o processo de encontro do hospedeiro pelo carrapato, a estratégia regionalizada, a influência das técnicas de manejo dos animais e das pastagens, a influência da sazonalidade na biologia do carrapato e os pontos vulneráveis do parasita, buscando um método de melhor controle deste ectoparasito a partir de métodos estratégicos e corretamente aplicados conforme as peculiaridades de cada região e sistema de produção.

Metodologia

Área de estudo
Região de estudo é no município de Capão do Leão, estado do Rio Grande do Sul, na fazenda da Universidade Federal de Pelotas – PALMA. O projeto será conduzido com 3 bovinos fêmeas da raça Jersey alocados em um piquete com 5 ha de pasto nativo, com idade acima de 24 meses.
O município se estende por 785,4 km² e conta com 25.354 habitantes, tendo densidade demográfica de 32,3 habitantes por km². Vizinho dos municípios de Morro Redondo, Pelotas e Arroio do Padre, Capão do Leão situa-se a 9 km ao Norte-Oeste de Pelotas a maior cidade nos arredores. Situado a 15 metros de altitude, de Capão do Leão tem as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 31° 46' 3'' Sul, Longitude: 52° 26' 55'' Oeste.
O Bioma dessa região é pampa tendo como características o clima subtropical, em que as quatro estações do ano são bem demarcadas, sendo elas: primavera, verão, outono e inverno. O mesmo ocupa uma área de 176,5 mil km², sendo entorno de 2% do território nacional, este bioma é constituído principalmente por vegetação campestre como: gramíneas, herbáceas e algumas árvores.

Coleta de sangue e contagem de carrapatos nos bovinos
Para avaliação dos níveis de infestação e da dinâmica populacional dos carrapatos em bovinos, serão realizadas contagens e coletas de carrapatos a cada 14 dias em 3 animais da fazenda Palma, que estarão presentes no projeto.
Após coleta dos carrapatos, estes serão levados para laboratório, onde serão pesados e incubados em estufa a 28 °C e 85 % de umidade, para avaliação da biologia, por meio da pesagem da massa de ovos e da taxa de eclodibilidade. Sempre que a quantidade de teleóginas for suficiente, será realizado teste de biocarrapaticidograma.
Também será coletado sangue em tudo com EDTA para realização de microhematócrito, esfregaço sanguíneo e extração de DNA. O DNA extraído será utilizado para realização de PCR quantitativo, segundo metodologia descrita por Martins et al. (2020), para quantificação da parasitemia por Anaplasma spp., Babesia bigemina e Babesia bovis.

Avaliação do ciclo de vida e da dinâmica populacional do Rhipicephalus microplus em condições naturais
Para a avaliação a campo, fêmeas ingurgitadas de R. microplus serão coletadas de bovinos naturalmente infestados da fazenda em estudo. Após a coleta, essas teleóginas serão pesadas individualmente e posteriormente levadas ao campo para soltura. As teleóginas serão depositadas no campo, onde os animais estão, em situações diferentes:
• Dez teleóginas serão depositadas dentro de gaiolas pequenas e fixadas ao solo, abaixo da pastagem, para realizarem postura e posterior incubação dos ovos e eclosão das larvas de maneira natural. Na pastagem, 15 gaiolas grandes de tela metálica de 1 m × 1 m × 1 m serão utilizadas para a proteção das teleóginas e das futuras larvas e para impedir o acesso de animais que possam eventualmente passar pelo local onde estas foram depositadas. A partir de teleóginas liberadas no interior das gaiolas grandes, serão avaliadas apenas as larvas produzidas. As larvas, ao subirem naturalmente para a ponta do pasto, indicam que estão prontas para parasitar. A diferença, em dias, entre a eclosão das larvas das gaiolas pequenas e o aparecimento das primeiras larvas nas pontas do capim será considerada como Período de Maturação das Larvas. Ainda com as larvas nas pontas das folhas do capim, será avaliado o tempo de sobrevivência das mesmas (longevidade), considerando a morte das larvas quando não for mais possível vê-las nas pontas do pasto. A vistoria das gaiolas será realizada três vezes por semana. A soltura das teleóginas nas gaiolas maiores será realizada mensalmente e serão utilizadas duas gaiolas maiores por liberação dos carrapatos, sendo, para cada 10 teleóginas liberadas, outras 10 mantidas nas gaiolinhas.
Adicionalmente, cinco gaiolas serão utilizadas para verificação do sucesso de recuperação de larvas. Para tal, 10 teleóginas de peso conhecido serão soltas no interior dos cercados e as larvas, provenientes dessas teleóginas, que forem vistas nas folhas do capim, serão coletadas para contagem.
• Outras dez teleóginas serão mantidas individualmente em gaiolinhas metálicas e depositadas junto ao solo, no mesmo local onde as demais (item 1) forem liberadas;
• E um terceiro grupo (n=30 teleóginas) será mantido em estufa BOD a 85 % de umidade relativa e 27 °C de temperatura como controle de desenvolvimento em condições ideias.
As gaiolinhas metálicas permitem que as teleóginas estejam expostas às condições do ambientais, no entanto, estão protegidas de predadores, permitindo a observação dos parâmetros biológicos das fêmeas ingurgitadas quando caem ao solo. A manutenção dessas teleóginas nas gaiolinhas metálicas permitirá a avaliação dos seguintes parâmetros: Período de Pré-postura, Peso da Massa de Ovos, Taxa de Conversão Alimentar, Início de Eclosão dos Ovos e Emergência das Larvas, Taxa de Eclosão das Larvas bem como a longevidade das mesmas.

Avaliação dos dados do microclima
Os dados do microclima serão registrados usando registradores com auxílio de Termo-higrômetro. Os sensores serão colocados no nível do solo nos locais em que fêmeas ingurgitadas serão expostas. A temperatura (T) e a umidade relativa (UR) serão medidas diariamente uma vez a cada hora, esses dados serão utilizados para cálculo do Déficit de Saturação Hídrica, de acordo com fórmula proposta por Randolph e Storey (1999):





Biocarrapaticidograma
Para realização do biocarrapaticidograma e avaliação da resistência a acaricidas, serão realizadas coletas de carrapatos nos bovinos. Os carrapatos coletados serão submetidos a diferentes tipos de tratamento e bases químicas, conforme descrito a seguir.
Teste de Imersão de Adultos (TIA): Fêmeas ingurgitadas serão submetidas ao Teste de Imersão de Adultos, desafiados frente a diferentes bases e/ou produtos acaricidas comercialmente disponíveis. O teste empregado seguirá protocolo descrito por Drummond et al. (1973) utilizado para estudos com R. microplus. Resumidamente, cada grupo de teleóginas será lavada em água corrente, seca com papel toalha, pesadas e imersa por cinco minutos em solução carrapaticida. Um grupo controle com mesmo número de carrapatos será imerso apenas em água. Após imersão, cada grupo de teleóginas será seco com papel toalha, acondicionado em placas de Petri e mantido em estufa BOD, para avaliação dos parâmetros biológicos (peso da massa de ovos, período de incubação, taxa de eclosão das larvas e eficiência reprodutiva). A diluição do produto carrapaticida respeitará as orientações dos fabricantes. O cálculo da eficácia para cada produto avaliado será realizado de acordo com Drummond et al. (1973).
Teste de Imersão de Larvas (TIL): Uma parte das teleóginas coletadas será mantida em BOD, sob as condições supracitadas, até eclosão das larvas sendo as larvas provenientes delas submetidas ao teste de imersão de larvas (TIL). Para realização do teste imersão de larvas, aproximadamente 100 larvas, com cerca de 15 dias de vida, serão imersas em solução acaricida comercial por 10 minutos, depois transferidas para um papel filtro e incubadas por 24 horas a 27 °C em umidade relativa do ar de 85 %. Um grupo controle será imerso apenas em água. Após o período de 24 horas as larvas vivas e mortas de cada grupo testado serão individualmente contadas. O efeito do acaricida é avaliado pela porcentagem de mortalidade de larvas conforme proposto por Klafke et al. (2017)

Indicadores, Metas e Resultados

Coletar 50 teleóginas durante cada mês do experimento para reposição.
Coletar o máximo possível de teleóginas para realização do biocarrapaticidograma.
Monitorar a parasitemia dos animais que se encontram no piquete.
Avaliar a carga parasitaria contra os agentes da tristeza parasitária.
Obter dados sobre resistência a princípios ativos que estão no mercado.
Obter informações sobre a ecologia e a dinâmica populacional do R. microplus, a partir da avaliação do ciclo de vida parasitário e não parasitário.
Obter informações sobre a dinâmica populacional do R. microplus, in vitro e in vivo, e correlacionar com a parasitemia pelos agentes da tristeza parasitaria bovina (TPB).
Propor um controle estratégico para as propriedades da região conforme as informações da ecologia e da dinâmica populacional do R. microplus.
Os resultados desse projeto também comporão trabalhos de dissertação e iniciação científica.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
CAMILE LARISSA DA LUZ GASPERIM
DANIELA APARECIDA MOREIRA
LAURA CAROLINA CRISTOFOLI MULLER
MATHEUS SANTOS REIS
RODRIGO CASQUERO CUNHA1
Renato Andreotti
THAINA BARBOSA

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