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A avaliação da qualidade do ar nos contextos local e regional e o estudo do seu impacto requer uma adequada rede de monitoramento com boa abrangência espacial e temporal, o que caracteriza um desafio em regiões metropolitanas brasileiras e é praticamente inexistente em áreas rurais ou centros urbanos de menor porte. Esse é um problema geral no Brasil, mas se agrava em algumas regiões, notadamente as com baixo Produto Interno Bruto ou com ausência de políticas públicas consistentes com esse problema em específico.
Dentro desse contexto, o Grupo de Estudos em Poluição Atmosférica e Biometeorologia Humana, juntamente com o “Atmospheric Pollution Research Group” da Universidad Nacional Tecnológica de Lima Sur, do Peru, Universidad Mayor de San Andrés da Bolívia , Laboratory for Urban Air Pollution and Climate (UTFPR/Londrina) , Universidade da Fronteira Sul, Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal de Alagoas pretendem criar uma rede de colaboração para estudar a influência das variáveis meteorológicas e poluição do ar na saúde e qualidade de vida da população residente em sete metrópoles sul-americanas. O projeto contemplará a integração das informações de meteorologia e poluentes nas cidades avaliadas, disponíveis de superfície, dados de sensoriamento remoto e a base de dados nacional DATASUS/SEIDIGI/MS vinculado ao Ministério da Saúde.

Para as metrópoles brasileiras, os dados das variáveis meteorológicas das redes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de desastres naturais serão utilizados para calcular os Índices de Conforto Térmico (ICT), como, por exemplo, a Temperatura Efetiva em função do Vento (TEV) (SUPING et al. 1992) e Windchill(W) (SCHWERDTFEGER 1984). Esses índices já foram aplicados em várias regiões brasileiras por outros pesquisadores e mostraram um bom desenho na representação das sensações térmicas sentidas (NICK et al, 2023, NEDEL et al., 2021, QUADRO et al., 2021). Para a metrópole de Lima/PE, serão utilizados os dados das variáveis meteorológicas das estações meteorológicas do SENAMHI-PERU (Servicio Nacional de Meteorología e Hidrologia del Peru). Para a metrópole de La Paz/BO, serão utilizados os dados das variáveis meteorológicas das estações meteorológicas do SENAMHI-BOLIVIA (Servicio Nacional de Meteorología e Hidrologia da Bolívia). Sugerem-se os últimos 10 anos como período para a análise.
As variáveis ambientais (meteorologia e poluentes) e os ICT’s serão comparados com os dados de internações/consultas ambulatoriais da base nacional DATASUS/SEIDIGI/MS considerando atraso de até 4 dias (lag4, lag3, lag2, lag1, lag0) para a análise de correlação e atraso de 3 dias para análises de componentes principais. Também serão aplicados modelos lineares generalizados (MLG)e modelos aditivos generalizados (MAG) para a avaliação diagnóstica e preditiva da relação entre as variáveis ambientais e de saúde (CONCEIÇÃO et al, 2001, BETTI et al, 2020). Essa análise considerará questões de equidade de gênero, étnico-racial e regional, visando identificar possíveis disparidades na saúde da população diante das diferentes condições sociais de cada cidade analisada no projeto. Para as cidades de Lima e La Paz dados de saúde disponíveis pelos governos locais e federais serão os substitutos aos dados do DATASUS utilizado nas cidades brasileiras.

O estudo sobre a influência das variáveis ambientais na saúde da população em sete metrópoles sul-americanas promete gerar resultados significativos e abrangentes. Os principais resultados esperados são:
1. *Modelos Diagnósticos e Preditivos Customizados:* O projeto resultará na criação de modelos diagnósticos e preditivos específicos para cada uma das sete cidades estudadas. Esses modelos, juntamente com a metodologia aplicada e as operações associadas, serão disponibilizados aos gestores municipais e estaduais no final do projeto. Os detalhes de cada modelo, metodologia, implementação e análise, serão acessíveis na Plataforma Pesquisa Saúde.
2. *Cartilha Informativa para Disseminação de Resultados:* Uma cartilha informativa será produzida para auxiliar os gestores na disseminação dos resultados para a população. Essa ferramenta facilitará a compreensão das implicações das variáveis ambientais na saúde e na qualidade de vida, promovendo uma comunicação mais eficaz entre os gestores e a comunidade.
3. *Disponibilização Online dos Modelos:* Cada colaborador responsável pelo estudo disponibilizará o modelo diagnóstico/preditivo online. Por exemplo, a FAMET/UFPel disponibilizará o modelo para Porto Alegre por meio do Centro de Previsões e Pesquisas Meteorológicas (CPPMET - [https://wp.ufpel.edu.br/cppmet/]). Caso a universidade parceira de um determinado colaborador não tenha recursos para disponibilidade das informações, os resultados do modelo da cidade correspondente serão disponibilizados em um portal dedicado ao projeto hospedado pelo CPPMET/UFPEL que agregará todas as áreas analisadas.
4. *Impacto na Saúde Pública:* Os resultados obtidos demonstrarão claramente as relações entre as variáveis ambientais, como as condições meteorológicas e a qualidade do ar, e as doenças respiratórias. Essas informações serão fundamentais para que os gestores públicos desenvolvam estratégias de mitigação da emissão de poluentes, com o objetivo de reduzir doenças relacionadas e, consequentemente, aumentar a expectativa de vida da população em cada região estudada.
5. *Equidade de Saúde e Diversidade:* A metodologia aplicada em diversas cidades e em diferentes contextos sociais garantirá que os resultados sejam representativos de diversos grupos sociais, étnicos e de gênero. Isso proporcionará aos gestores públicos subsídios valiosos para a implementação de políticas públicas que busquem a equidade de saúde entre as diferentes classes identificadas, promovendo uma sociedade mais justa e saudável. A representação é demonstrada também através da equipe proponente composta por grupos étnicos/raciais, de gênero e de regiões brasileiras distintas.
6. *Impacto Internacional:* A presença de pesquisadores internacionais, envolvendo países latino-americanos, garantirá a implementação dos resultados em suas regiões e países que possuam semelhanças linguísticas e contextuais. Isso expandirá ainda mais o alcance e os impactos do projeto, adaptando suas descobertas às realidades locais em termos de língua, dados e disponibilização de resultados para gestores públicos. Assim, o Brasil se consolidará como um líder em pesquisa na área de impactos ambientais na saúde pública, promovendo o conhecimento e a colaboração em toda a América Latina.