Nome do Projeto
Grupo de enfrentamento do desgaste mental no trabalho bancário
Ênfase
Extensão
Data inicial - Data final
24/03/2024 - 24/03/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Eixo Temático (Principal - Afim)
Trabalho / Saúde
Linha de Extensão
Organizações da sociedade civil e movimentos sociais e populares
Resumo
O Grupo de enfrentamento do desgaste mental no trabalho bancário (GETRABAN) é um projeto de extensão que pretende desenvolver um conjunto de atividades focalizadas em atender as necessidades dos trabalhadores do Sindicato dos Bancários de Pelotas, no que diz respeito ao acolhimento do sofrimento psíquico decorrente das relações de trabalho e com intuito de contribuir com a construção de ações individuais e coletivas de enfrentamento. A proposta tem como base a exitosa experiência de Paparelli (2011) que, a partir de uma proposta do Curso de Psicologia da PUC-SP em parceria com o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, promoveu a ações com grupos de enfrentamento do desgaste mental no trabalho bancário, proporcionando aos trabalhadores um vivência em que foi possível compreender processos de adoecimento, identificação de fatores de desgaste mental na categoria bancária, intensificação da discussão sobre saúde mental no cotidiano e construção de ações individuais e coletivas de enfrentamento ao sofrimento psíquico. Atualmente, o trabalho é o principal meio de interação social e forma de se relacionar com o meio. E, no entanto, essa atividade é cada vez mais flexível, competitiva, com pouco envolvimento emocional e parca produção de sentido para além da busca pela sobrevivência. Nesse diapasão, o trabalho vem sofrendo transformações significativas na sua estrutura, concepção e desenvolvimento, ampliando seus sentidos para além do limite das organizações públicas e privadas e alcançando o mundo do trabalho como um todo. Considerando que o mercado está exigindo novas atitudes e comportamentos, competências e posturas, faz-se imprescindível resgatar e estabelecer o significado do trabalho para aquele(a) que trabalha. Assim, é preciso refletir: os valores atribuídos a si e aos outros partem de pontos de referência externos, agregados ao que se TEM, ao status social e outros artifícios s que servem como iscas para a manutenção do capitalismo? O sentido do trabalho atribuído pelo(a) trabalhador(a) (sentido da vida) tem sentido para ele(a)? É nesse contexto que se problematiza o trabalho bancário. Santanna et al. (2017) elucidam que o sofrimento psíquico, as mudanças estruturais no setor bancário, as políticas de vigilância à saúde do trabalhador, o capitalismo contemporâneo e a psicomanipulação do indivíduo são questões e problemas crescentes e preocupantes no que tange atenção à saúde desses trabalhadores. Isso corrobora os dados obtidos na 25ª Conferência Nacional dos Bancários (Sindicato dos Bancários, 2023), onde a cobrança excessiva pelo cumprimento de metas evidenciou impactos na saúde em relação à preocupação constante com trabalho,fadigas crônicas, desmotivação, ansiedade e pânico, hipersonia, cefaleia, gastrite nervosa, hipertensão e omissão de sofrimentos e adoecimentos pelo medo de que tais ocorrências prejudiquem a carreira e estabilidade no emprego. É necessário assumir que a fragilidade do trabalhador é constantemente negligenciada e que as experiências de parceria entre os sindicatos da categoria e as universidades regionais têm sido as principais fontes de apoio trabalhadores do segmento bancário no Brasil. Nesse sentido, a proposta de implementação de projeto de extensão se justifica, de forma que se propõe a enfrentar um problema social que tem impactos profundos para trabalhadores, organizações e sociedade.

Objetivo Geral

Desenvolver um conjunto de atividades de extensão focadas em atender as necessidades de saúde mental dos trabalhadores bancários ligados ao Sindicato dos Bancários de Pelotas, com ênfase no acolhimento psicológico e na psicoeducação para o sofrimento psíquico decorrente das relações de trabalho e para qualidade de vida
- Promover o debate acadêmico interdisciplinar sobre o tema do trabalho e das organizações, do sofrimento psíquico do trabalhador nas organizações e do equilíbrio entre aspirações profissionais e pessoais
- Promover o diálogo e a cooperação dos discentes com a sociedade e a comunidade não acadêmica, desenvolvendo atividades extensionistas marcadas pelo compromisso social
- Promover a qualificação das atividades de ensino, pesquisa e de formação profissional
- Criar, consolidar e aprimorar parcerias da UFPEL com outras instituições, a serviço da sociedade
- Viabilizar, propor, elaborar, desenvolver e executar projetos de ação e intervenção visando aprimorar o conhecimento sobre o mundo do trabalho e qualificar estudantes para atuar profissionalmente após a formatura
- Estimular a relação e o diálogo entre os saberes teórico-acadêmicos e a realidade do mundo do trabalho na formação profissional dos alunos
- Qualificar a formação acadêmica de alunos de graduação através de sua participação em projetos de pesquisa e extensão




Justificativa

Vivemos transformações sociais profundas nas últimas décadas. Os desafios de um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) se tornaram tão robustos que passamos para um modelo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) (Gonçalves e Avella, 2023). E, nesse sentido, indubitavelmente, o mundo do trabalho, as formas de gestão e a organização das grandes empresas e do Estado foram lugares onde mais fortemente testemunhamos e sentimos o impacto de todas essas mudanças.
A reforma trabalhista (Leis nº 13.467/2017 e 13.429/2017) criou dispositivos de flexibilização, descentralização e individualização de riscos que fomentam trajetórias profissionais movediças e a construção de carreiras onde cada indivíduo deve assumir por si as responsabilidades sobre o seu percurso profissional, fazendo escolhas e operando transformações num cenário econômico e político cheio de imprevistos e numa cultura do trabalho onde a competitividade é alta, as remunerações são variáveis e a jornada de trabalho é despadronizada (Miraglia et al., 2018; Krein e Colombi, 2019).
Pietrani e Feijoo (2020) elucidam que o excesso de positividade e racionalização no trabalho da era da técnica, o qual força o indivíduo a corresponder de forma excessivamente planejada e calculada às demandas que lhe chegam, culmina em estados patológicos que refletem a falta de espaço para o afloramento da singularidade do trabalhador e das contradições do trabalhado apareçam - levando a quadros de depressão, ansiedade, burnout e boreout, déficit de atenção, hiperatividade, hipervigilância, hiper e hiposonia etc. Assim, o trabalho vai perdendo o sentido para aquele que trabalha, tornando-se apenas uma atuação para garantia subsistência num cenário cultural paradoxal onde o trabalho adquire um sentido “moral” e não trabalhar é concebido como um estado de “anormalidade” (Araújo, 2020; Mapeli, 2020).
No contexto dos trabalhadores bancários, Marques e Gingo (2016) elucidam que as principais vivências de sofrimento desta categoria profissional no Brasil estão ligadas à precarização do trabalho, à solidão e individualismo, ao assédio moral, à perda da identidade e do sentido, à coerção de agir contra seus princípios éticos e morais, à discriminação de sexual e de gênero, à presença de sintomas depressivos e risco de suicídio, aos sentimentos constantes de angústia, insegurança, frustração, ansiedade e medo. Além disso, ressaltam que “os bancários consideram sua atividade profissional responsável pelos constantes conflitos familiares, de forma que ela chega a interferir em momentos de descanso e lazer pessoal”.
Nesse sentido, as pesquisadoras ressaltam que as experiências de parceria entre os sindicatos da categoria e as universidade regionais têm sido as principais fontes de apoio trabalhadores do segmento bancário no Brasil e que as ações das agencias bancárias, no que referem à saúde global desses indivíduos, têm sido precárias e voltadas à prevenção de lesões por esforço repetitivo e atividade física – o que, invariavelmente, demonstra uma negligencia com o sofrimento e adoecimento psíquico (Marques & Gingo, 2016). Não obstante, os problemas com saúde mental tem sido a maior causa de afastamento de bancários do trabalho nos últimos dez anos e, em 20222, apesar de categoria representar apenas 1% dos empregos formais no Brasil, 24% dos trabalhadores do setor foram afastados do trabalho por doenças mentais, de acordo com dados do Sindicato dos Bancários apresentados a Federação dos Bancos na 25ª Conferência Nacional dos Bancários (2023).
Nesse diapasão, o campo da saúde do trabalhador emerge como um debate contra hegemônico (Papapelli, 2011). No entanto a psicologia do trabalho e das organizações ainda corresponde em grande parte, em suas teorias e práticas, às exigências de produtividade por parte das organizações e ao nexo causal da eficiência e da produção ilimitada (Pietrani & Feijoo, 2020). É necessário, portanto, que psicólogas(os) resgatem a ética e construam o compromisso em ajudar os trabalhadores a terem consciência reflexiva sobre como existem no mundo do trabalho e o que fazem nele e dele, a fim de que haja coerência entre a teoria e a prática psicológica – afinal, saber e fazer são interdependentes (Freitas, 2009).
Assim, é preciso problematizar e compreender os fenômenos “trabalho e organização” (psicologia teórica) para poder resolver os problemas que aparecem numa organização (psicologia aplicada) (Spink, 1996) junto ao trabalhador, a partir de uma perspectiva da Psicologia do Trabalho e Organizacional que não se conceba enquanto segmentos separados entre gestão e saúde – mas, afirme a possibilidade de uma práxis voltada à compreensão ativa do mundo social como um produtor de subjetividades e, nesse diapasão, também de experiências de prazer e de sofrimento no universo do trabalho e das organizações.
Por último, no que diz respeito aos alunos da UFPEL, as experiências de formação no ensino superior são fundamentais para o desenvolvimento profissional, estimulando a curiosidade, adaptabilidade, autoconfiança, responsabilidade e autonomia ao proporcionar o contato com competências técnicas e tarefas próprias da profissão, bem como com atividades operacionais e reflexivas (Silva & Teixeira, 2013). Ainda, estudos indicam que experiências de estágio e são imprescindíveis ao desenvolvimento de carreira em universitários, facilitando inserção profissional no mercado de trabalho e o comprometimento com a profissão e a carreira (Silva, et al., 2013).

Metodologia

A atividade a se propor será constituída por alunos do curso de Psicologia que, preferencialmente em duplas, conduzirão os trabalhadores do Sindicato dos Bancários de Pelotas que, por demanda espontânea e sem qualquer incentivo financeiro ou ônus, buscarem acolhimento terapêutico no grupo. O trabalho será realizado preferencialmente em grupo(s) aberto(s) organizado(s) e na sede do Sindicato ou espaço adequado oferecido pela instituição.
Os alunos conducentes serão orientados pela professora e irão, além de promover a escuta e acolhimento, propor exercícios, dinâmicas e outras atividades reflexivas. O sigilo dos participantes será respeitado e o acesso e a análise de dados coletados por escrito sobre os participantes (como no uso de escalas e testes) se farão apenas equipe.
A metodologia de implementação deste projeto envolverá:
a) a construção, intervenção e avaliação de grupo de acolhimento terapêutico para os trabalhadores bancários do Sindicato dos Bancários de Pelotas, possibilitando a criação de um espaço seguro de reflexão e discussão, bem como de trocas de experiências, que vise o desenvolvimento pessoal, o autoconhecimento e o sentimento de pertença, com base no modelo teórico da Psicologia Fenomenológica (com foco na reflexão de si, nos processos relacionais, na tomada de consciência sobre os fenômenos e no sentido da vida);
b) orientações teóricas e práticas sobre qualidade de vida, saúde mental, sofrimento psíquico decorrente das relações de trabalho nas organizações;
c) utilização de instrumentos voltados para o desenvolvimento pessoal, o autoconhecimento e o psicodiagnóstico;
d) o encontro semanal de duas horas em grupos abertos;
e) o encaminhamento, quando necessário, para serviços da Rede de Atenção à Saúde Mental.
Caso o grupo desencadeie questões psicológicas mais graves ou não pertinentes ao projeto, temos como apoio e respaldo a clínica psicológica da Serviço Escola de Psicologia da UFPEL, que oferece, dentre outras possibilidades, psicoterapia individual e em grupo para pessoas em sofrimento psíquico.
O projeto de extensão também abrangerá estudos sistemáticos, através de rodas de conversa, seminários, encontros e mostras, para análise teórico-prática e trocas de experiências.

Indicadores, Metas e Resultados

Objetiva-se como resultado a promoção de saúde, o autoconhecimento, o desenvolvimento pessoal e o sentimento de pertença, verificando como e o quanto o indivíduo está posicionado frente as suas necessidade e desejos e auxiliando no processo reflexivo de desalienação do(a) trabalhador(a) frente às demandas culturais de produção desenfreada e o consumo inconsciente.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
DIEGO RODRIGUES GONÇALVES
DÉBORA AIRES DA COSTA
GERSON CARDOSO PINTO
SOLAINE GOTARDO
THAÍSE MENDES FARIAS8

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