Nome do Projeto
Baoba- inspirações para o enraizamento de políticas afirmativas em programas de pós-graduação
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
02/09/2024 - 14/04/2028
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
AÇÕES AFIRMATIVAS EM PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO O projeto BAOBÁ: INSPIRAÇÕES PARA O ENRAIZAMENTO DE POLÍTICAS AFIRMATIVAS EM PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO, pensado em rede e coordenado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS, submetido ao Edital n° 17/2023 - Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG)/Políticas Afirmativas e Diversidade, foi aprovado e sua execução será de 2024 a 2028. A proposta versa sobre a implementação das políticas de ações afirmativas em Programas de Pós-graduação stricto sensu, impulsionadas, no Brasil, a partir da Portaria Normativa do MEC nº 13, de 11 de maio de 2016. Considera-se, em especial, que a expansão da presença de pessoas negras, indígenas, quilombolas, surdas, com deficiência, e de pessoas transgênero, transexuais, travestis em cursos de mestrado e doutorado brasileiros é impulsionada pelas lutas e reivindicações de movimentos e de coletivos sociais diversos, em várias partes do país. O enraizamento das políticas afirmativas é pensado a partir da imagem inspiradora dos baobás, presentes nas cosmologias dos povos africanos e indígenas, signo que remete à vitalidade da memória, da ancestralidade e da conexão entre o mundo material e imaterial. A rede é constituída por pesquisadores de programas de pós-graduação das seguintes instituições: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Universidade Federal de Pelotas; Universidade Federal de Santa Maria; Universidade Luterana do Brasil; Universidade de Santa Cruz do Sul; Universidade Estadual de Londrina; Universidade Federal da Integração Latino-americana; Universidade Católica Dom Bosco; Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; Universidade Federal de Pernambuco; Universidade Federal de São Carlos; Universidade de São Paulo/Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto; Universidade Federal de Rondônia. Os propósitos principais do grupo de pesquisadores envolvem a análise da implementação das políticas afirmativas em Programas de Pós-graduação stricto sensu e seus impactos, considerando mecanismos, instâncias, processos e práticas voltadas a consolidar o acesso, a permanência, a titulação dos sujeitos de direito, bem como a promoção de ações voltadas à escuta dos sujeitos coletivos de direito (comunidades, associações, articulações, movimentos) e à ampliação das formas de participação em todo o processo, visando fertilizar as políticas de ações afirmativas nos diferentes programas de pós-graduação envolvidos na presente proposta. A proposta soma-se aos esforços empreendidos no país para fortalecer ações afirmativas voltadas a grupos sociais historicamente excluídos do acesso à educação.

Objetivo Geral

Geral: Analisar a implementação das políticas afirmativas em Programas de Pós-graduação stricto sensu, impulsionadas, no Brasil, a partir da Portaria Normativa do MEC no 13, de 11 de maio de 2016.
Específicos: (a) realizar um mapeamento das resoluções que instituem ações afirmativas na Pós-graduação stricto sensu de universidades públicas brasileiras a partir de 2016, examinando o delineamento de ações de ingresso e de permanência, as modalidades de vaga, os percentuais reservados e sujeitos de direito mencionados; (b) analisar como se dá o enraizamento das políticas afirmativas nas universidades participantes do projeto, considerando mecanismos, instâncias, processos e práticas voltadas a consolidar o acesso, a permanência, a titulação dos sujeitos de direitos, bem como a participação dos sujeitos coletivos de direito (comunidades, associações, articulações, etc) em diferentes etapas do processo; (c) investigar a presença e o perfil de docentes negros, indígenas, quilombolas, surdos, pessoas com deficiência, entre outros, nos programas de pós-graduação de instituições envolvidas na proposta; (d) identificar teses e dissertações defendidas por egressos beneficiários das ações afirmativas nos programas de pós-graduação envolvidos na presente proposta, rastreando nos textos, quando possível, as reflexões feitas pelo autor sobre seu ingresso, condições de permanência, dificuldades enfrentadas no percurso, entre outros aspectos que podem contribuir para uma avaliação da efetividade das ações afirmativas e de suas fragilidades em cada contexto; (e) promover ações de extensão voltadas à escuta dos sujeitos coletivos de direito (comunidades, associações, articulações, movimentos) sobre as ações afirmativas, bem como à ampliação das formas de participação em todo o processo, visando fertilizar as políticas de ações afirmativas nos diferentes programas de pós-graduação envolvidos na presente proposta.

Justificativa

Os baobás estão presentes nas cosmologias dos povos africanos e indígenas. Com seus grandes troncos são testemunhos dos tempos imemoriais, de uma profunda conexão entre o mundo material e imaterial. Os baobás representam, desse modo, a vitalidade da memória e da ancestralidade. Durante o período da diáspora africana, as pessoas negras escravizadas escondiam sementes de baobás para que, diante do território imposto, pudessem recuperar forças e memórias. Na presente investigação, a imagem do baobá é mobilizada para fazer referência às lutas por direitos com enraizamento profundo nas ancestralidades e nas comunidades. O projeto considera a expansão da presença de pessoas negras, indígenas, quilombolas, surdas, com deficiência, e de pessoas transgênero, transexuais, travestis em cursos de mestrado e doutorado brasileiros, impulsionada pelas lutas e reivindicações de movimentos e de coletivos sociais diversos, em várias partes do país. As universidades têm sido mobilizadas a dar respostas a estas demandas, notadamente após a edição da Portaria Normativa n°13/2016 do Ministério da Educação, que dispõe sobre a indução de Políticas de Ações Afirmativas neste nível da formação acadêmica. Em termos conceituais, ações afirmativas podem ser pensadas como conjuntos de medidas adotadas para redistribuição de bens e recursos para grupos específicos, que, por razões históricas, sociais, e/ou culturais têm sido desfavorecidos, discriminados, excluídos (MUNANGA, 2003; FERES JÚNIOR; ZONINSEIN, 2006). Já em termos legais, as ações afirmativas estão respaldadas por princípios fundamentais de cidadania e dignidade da pessoa humana, inscritos na atual Constituição brasileira (Art. 1o, II, III). Há que se considerar, também, o disposto no artigo 206o, Inciso I, que estabelece a “igualdade de condições para o acesso e permanência” como princípio que rege o ensino em todos os níveis. As ações afirmativas são um passo importante para a democratização da educação. Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 5384/2020, que reformula a Lei de Cotas e propõe estender a obrigatoriedade das políticas afirmativas também para Programas de Pós-graduação. A medida exigirá a realização de estudos de fôlego sobre as políticas já implementadas, mapeando-se os contextos, gargalos e demandas para o fortalecimento e a implementação de ações efetivas que dialoguem com as realidades geográficas, culturais e educativas brasileiras. Todas as instituições que integram a proposta implementam ações afirmativas em cursos de mestrado e doutorado. Das 10 universidades públicas, 9 dispõem de Resolução de seus conselhos universitários que instituem ações afirmativas em todos os seus programas de pós-graduação stricto sensu. As duas universidades comunitárias e uma privada possuem ações prevendo modalidades de ingresso e estratégias de permanência dos estudantes que ingressam via ações afirmativas.

Metodologia

A metodologia do projeto envolve, fundamentalmente, análise documental. Importante pensar os documentos não apenas como uma representação de uma realidade, mas também como meios de comunicação, ou seja, como dispositivos comunicativos desenvolvidos (FLICK, 2009). Utilizaremos, na pesquisa, fontes primárias, como documentos produzidos pelas IES e pelos sujeitos de direito, que fornecerão informações de como as Instituições compreendem as políticas afirmativas. Em relação ao desenho metodológico, são propostos três movimentos de análise principais, que ocorrerão de modo concomitante. Um primeiro movimento de análise prevê um olhar mais amplo e panorâmico, tomando como materialidade empírica documentos normativos como as resoluções que instituem ações afirmativas na pós-graduação das universidades públicas brasileiras. Buscamos entender, por meio deste procedimento, quantas e quais universidades regulamentaram, por meio de seus conselhos universitários ou instâncias correspondentes, ações afirmativas em todos os seus cursos de mestrado e doutorado. Interessa-nos identificar quais sujeitos de direito são referenciados explicitamente nos documentos normativos das universidades, quais percentuais de vagas são reservados para cada segmento, quais instâncias, mecanismos ou instrumentos de controle são concebidos para resguardar o direito à vaga aos sujeitos desse direito. A análise documental abarcará, ainda, o rastreio de dinâmicas previstas em resoluções das instituições para favorecer a permanência dos estudantes ingressantes pela via das ações afirmativas. Em um plano mais específico, e compreendendo um segundo movimento de análise, serão focalizados os contextos dos programas de pós-graduação participantes da presente proposta. Igualmente, neste plano, será realizada uma análise de documentos que instituem, desdobram e consolidam a política de ações afirmativas de cada instituição participante. Serão considerados também documentos administrativos que possibilitem rastrear o número de estudantes ingressantes via ação afirmativa e o número de concluintes, materiais comprobatórios da existência de ações voltadas à permanência dos estudantes, entre outros, conforme as possibilidades em cada contexto institucional. Podem ser incluídos, além disso, relatórios, dados estatísticos, informações sistematizadas em teses e dissertações da instituição, documentos de conselhos, comissões e outras instâncias representativas, cartas e reivindicações protocoladas pelos sujeitos coletivos de direito, notícias veiculadas em jornais e informativos institucionais ou de meios de comunicação confiáveis, arquivos contendo resultados de avaliações institucionais das quais participam docentes, discentes e demais setores da comunidade acadêmica.O propósito central é o de reunir informações variadas, advindas de diferentes fontes, para analisar como as políticas de ações afirmativas estão se enraizando e se consolidando em diferentes contextos regionais, locais e institucionais. Considera- se, ainda, a possibilidade de uma análise direcionada aos textos acadêmicos (dissertações e teses) de discentes ingressantes por meio de ações afirmativas, como estratégia para rastrear as condições específicas de realização do curso narradas nestes materiais, bem como as indicações que, por vezes, são inseridas na dissertação e na tese, acerca de melhorias requeridas, de condições necessárias para que as políticas de ação afirmativa cumpram sua função estratégica de assegurar ingresso, permanência e titulação dos discentes ingressantes. Retomando o traçado dos dois movimentos analíticos apresentados até aqui, afirma-se que foram pensados articuladamente, de modo a fornecer subsídios para que se possa acompanhar o enraizamento das políticas afirmativas na pós-graduação stricto sensu, e, ainda, para que seja possível vislumbrar a ampliação e efetividade das políticas públicas voltadas para a igualdade de direitos e oportunidades, considerando as especificidades de cada região.

Indicadores, Metas e Resultados

INDICADORES:
1. Impacto das Ações Afirmativas nos Programas de Pós-graduação stricto sensu;
2. Instâncias, processos e práticas institucionais voltadas a consolidar o acesso, a permanência, a titulação dos sujeitos de direito;
3. Escuta às ações voltadas a sujeitos coletivos de direito (comunidades, associações, articulações, movimentos);
4. Formas e nível de participação dos sujeitos de direito em todo o processo das ações afirmativas nos diferentes programas de pós-graduação envolvidos na presente proposta.

METAS: Em cada uma das ações implementadas, os sujeitos coletivos de direito serão convidados a produzir documentos escritos, orais ou audiovisuais com sugestões, apreciações ou recomendações para as universidades e programas de pós-graduação, para fazer vicejar e frutificar as ações afirmativas.
Nesse sentido, em nosso movimento analítico, os materiais produzidos por meio de ações e cursos de extensão podem ser organizados a partir de diferentes agrupamentos temáticos: (a) aqueles que versam sobre o ingresso nos cursos de pós-graduação e que podem colaborar para o aprimoramento das políticas de acesso; (b) aqueles produzidos por quem já está na pós-graduação e que podem contribuir para a melhoria e ampliação das políticas de permanência e aqueles produzidos pelos que concluíram (titulados/egressos) que oportunizam um olhar processual e uma avaliação acerca da efetividade das políticas de ações afirmativas.

RESULTADOS: Retomando o simbolismo do Baobá que, para muitos povos originários africanos, indica fartura e processo de cura, no desenvolvimento desta proposta pretende-se reunir materiais produzidos na escuta aos sujeitos coletivos de direito às ações afirmativas para promover processos de enfrentamento (e possibilidades de cura) do racismo institucional e epistêmico que emolduram o fazer acadêmico.

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