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A cárie da primeira infância (CPI) tem um impacto negativo nas crianças, afetando o seu desenvolvimento, desempenho e comportamento escolar, bem como nas famílias e na sociedade (CASAMASSIMO et al., 2009). Nas crianças que foram atendidas no projeto AOMI, a CPI esteve presente no terceiro ano de vida em 11,5% das crianças que realizaram a primeira consulta odontológica no primeiro ano de vida e em 46,4% das que realizaram no segundo ano de vida, particularmente nas em situações socioeconômicas desfavorecidas (ROMANO et al., 2020). Segundo Douglass et al. (2001), a cárie nos dentes anteriores superiores desenvolve-se entre 10-12 meses de idade. A cárie de fissura dos molares, isoladamente ou com cárie em dentes anteriores superiores, foi observada entre 13-15 meses de idade. A cárie proximal posterior foi observada aos 19-21 meses e só estava presente em conjunto com os outros padrões.
Nas crianças atendidas no projeto AOMI, o padrão de cárie não foi estabelecido. Ao estudar o padrão de cárie presente no segundo e terceiro anos de vida, este estudo busca contribuir para a compreensão de fatores de risco, favorecendo eleger estratégias de prevenção eficazes e ainda, preencher uma lacuna crítica na literatura científica.
Dessa forma, este projeto científico se propõe a criar diagramas da cárie na primeira infância com finalidade de identificar áreas específicas que possuem mais suscetibilidade ao desenvolvimento de lesões e poderão orientar profissionais de saúde, formuladores de políticas. Essa compreensão permitirá desenvolver a implementação de intervenções preventivas direcionadas e eficazes, garantindo melhor qualidade de vida ao indivíduo.

Delineamento: Será realizado um estudo retrospectivo, com avaliação transversal, a partir de um banco de dados de prontuários de crianças acompanhados no projeto de extensão Atenção Odontológica Materno-infantil (AOMI), da Faculdade de Odontologia, da Universidade Federal de Pelotas (FO-UFPel).
População alvo: A população estudada será de crianças atendidas no projeto de extensão AOMI, da Faculdade de Odontologia da UFPel. Esse projeto acompanha o semestre curricular, sendo executado por quatro horas semanais, durante 30 semanas do ano, e que está cadastrado na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, com o código COPLAN/PREC número 519. No projeto AOMI os bebês/crianças são atendidos com agendamento prévio, desde o período gestacional ou por livre demanda, ingressando antes do primeiro ano de vida e no máximo, até 23 meses de vida, sendo acompanhados, em ambos os casos, normalmente até completarem o terceiro ano de vida. O protocolo de atenção odontológica preconiza, idealmente, uma visita no primeiro ano, duas no segundo e duas no terceiro ano de vida.

Seleção da amostra: Serão incluídos neste estudo os dados de bebês/crianças assistidas no projeto AOMI que tinham, em seus prontuários o termo de consentimento livre e esclarecido assinado e a condição da cavidade bucal com relação à cárie dentária corretamente preenchida, conforme recomendado por Drury et al. (1999) e referendado pela Academia Americana de Odontopediatria (AAPD, 2023) e que apresentaram, pelo menos um dente, com lesão de cárie.
Implicações éticas: Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas pareceres 57/2013 e 2.737.585, com isenção da obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) específico, pois na primeira consulta os responsáveis receberam orientação de como se daria a atenção odontológica e, após, por livre decisão, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido que permitia o atendimento do bebê/criança e o uso dos dados. Somado a isso, o investigador principal e os demais colaboradores envolvidos no estudo se comprometeram, individual e coletivamente, a utilizar os dados provenientes desse apenas para os fins descritos e a cumprir todas as diretrizes e normas regulamentadoras descritas na Res. CNS Nº 466/12, e suas complementares, no que diz respeito ao sigilo e confidencialidade dos dados coletados.
Coleta de dados: Os dados serão coletados a partir do banco específico do AOMI, no qual estão contidas as informações de interesse das crianças. Os dados contidos no banco foram inicialmente registrados em prontuários clínicos e, a partir desses, foram coletados em uma ficha própria, contendo as variáveis de interesse para diferentes estudos. Para esse estudo será considerado, do banco do projeto AOMI, os dados socioeconômicos e demográficos (sexo, idade, cor da pele da criança, renda familiar, escolaridade materna e se a mãe trabalha). Esses dados foram coletados de forma padronizada, por uma única pesquisadora, seguindo critérios pré-definidos e foram transferidos, com dupla digitação, para o banco do AOMI, no programa Microsoft Office Excel, com condução de validade.
A experiência de cárie dentária foi registrada, de acordo com Drury et al. (1999) referendadas pela Associação Americana de Odontopediatria (AAPD, 2023) ou seja, considerada quando uma ou mais superfícies lisas estivessem cariadas, incluindo lesões não cavitadas em esmalte, superfícies perdidas devido à cárie e obturadas, em crianças com menos de 36 meses de idade. Para avaliação da lesão foi utilizado o Sistema Internacional de Detecção e Avaliação de Cárie (ICDAS) (ISMAIL et al., 2007). Os registros foram do segundo ano e terceiro anos de vida, considerando a consulta mais próxima dos 23 e 35 meses de idade. Na presença de lesão de cárie dentária os dados coletados e registrados em odontograma específico serão transferidos para o banco de dados do projeto AOMI no programa Microsoft Office Excel, com condução de validade, considerando: dentes presentes; tipo de arco dentário (1= Tipo I, com espaço generalizado e 2= Tipo II, sem espaço generalizado); dentes e faces acometidos (1/2= Opacidade visível após secagem de 5 segundos ou na presença de umidade, 3/5/6= Cavidade em esmalte/Cavidade em esmalte com exposição da dentina/Cavidade com exposição da dentina > metade da face, 4= sombreamento em dentina subjacente).
Padronização do exame clínico: Todos os exames realizados no projeto de extensão Atenção Odontológica Materno-infantil são realizados por estagiários voluntários, graduandos do curso de Odontologia, com acompanhamento direto do professor orientador. Para padronizar os exames e condutas, no início de uma nova turma de estagiários são apresentados os prontuários utilizados nos atendimentos e são ministrados seminários sobre as condutas do AOMI. Os exames clínicos dos bebês de até 12 meses de idade são realizados na macri, a partir dessa idade até os 24 meses as crianças são examinadas utilizando-se a técnica joelho a joelho e, conforme comportamento da criança, os exames passam a ser realizados na cadeira odontológica.
Avaliação dos dados: Os dados dos dentes e superfícies acometidas digitados no programa Microsoft Office Excel® serão avaliados pelo pacote estatístico SPSS no programa IBM SPSS Statistics®. Uma análise bivariada utilizando o Teste Qui-quadrado ou Exato de Fischer será conduzida para verificar a face e o dente mais acometido nas diferentes idades avaliadas. Nas análises, o nível de significância estatística adotado será de 5% (p< 0,05). Diagramas serão utilizados para ilustrar o padrão da lesão de cárie no segundo e no terceiro ano de vida e as diferenças por sexo.

O trabalho de pesquisa será o Trabalho de Conclusão de Curso e resultará em apresentações em semanas e jornadas acadêmicas e elaboração de artigo para publicação.
Ao estudar o padrão de cárie presente no segundo e terceiro anos de vida das crianças, esse estudo busca contribuir para a compreensão de fatores de risco, favorecendo eleger estratégias de prevenção eficazes e ainda, preencher uma lacuna crítica na literatura científica.