Portal InstitucionalUFPEL

A literatura indica que as crianças que apresentam melhor desenvolvimento nas HMFS são mais ativas fisicamente, pois usam suas habilidades nas diferentes oportunidades práticas do dia (LOGAN et al., 2016; BARDID et al., 2017; BEDARD et al., 2018). As habilidades fundamentais são definidas como blocos básicos para a aquisição de habilidades mais avançadas e complexas (BARNETT et al., 2016; CLARK; METCALFE, 2002; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; LOGAN et al. 2016; SEEFELDT, 1982). São concebidas como base, para o desenvolvimento de habilidades especializadas. Esta ideia representa a existência de fatores que influenciam na transição entre habilidades: o que vem antes (HMFs) subsidia o que vem depois (habilidades especializadas.
A criança que têm as HMFS desenvolvidas no nível proficiente apresenta maior confiança durante a execução do movimento. Condição esta que estimula a participação autônoma da criança em atividades práticas em diferentes contextos, de sua residência ou bairro, em momentos de lazer, práticas esportivas e atividades na escola (VALENTINI, 2002; MORGAN et al., 2015).
A sequência de desenvolvimento, portanto, dá o delineamento do padrão típico do comportamento motor e do grau de habilidade e especificidade nas formas de correr, saltar, trepar, arremessar, receber, empurrar ou chutar, como um fator qualitativo do movimento (BARNETT et al., 2013). Nessa lógica, pode-se afirmar que as aulas de Educação Física (EF) pré-escolar e das séries iniciais do ensino fundamental são momentos ideais para o professor de EF ofertar atividades que irão desenvolver diferentes HMFS para as crianças (BARDID et al., 2017).
Portanto é essencial a elaboração de programas de EF escolar que estimulem os alunos a diferentes práticas e os ajudem a potencializar o DM (BRAGA et al., 2009; BEDARD et al., 2018). É preciso considerar que o pleno desenvolvimento das HMFS (correr, saltar, girar, lançar, equilibrar, rebater, etc.) no nível “proficiente” seja alcançado até os sete anos de idade, antes de se atingir a fase especializada, quando os movimentos são mais complexos (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Assim, o monitoramento e avaliação das HMFS identificariam os padrões de movimentos das crianças, ordenados de imperfeitos e ineficientes até os movimentos competentes e proficientes (BARNETT. et al., 2013; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013), possibilitando identificar alguma habilidade não desenvolvida plenamente. O estágio não proficiente em uma dada habilidade pode manter-se durante toda a vida adulta, classificando o nível de habilidade de uma pessoa como “descoordenada” ou “não habilidosa” nas tarefas cotidianas de desempenho motor, caracterizado como um atraso motor.
Desse modo, é preciso avaliar as habilidades das crianças e é coerente pensar que na escola, pode ser o melhor momento para isso. A literatura aponta que o desempenho físico de crianças pode ser comprometido devido ao baixo nível de HMF, em função dos atrasos motores dela decorrentes (BRAUNER; VALENTINI, 2009b; ERICSSON, 2011).
Portanto, crianças com maiores níveis de competência motora tenderiam ser mais ativas fisicamente, uma vez que dedicariam maior tempo de prática, adquirindo níveis avançados de habilidades (VALENTINI, 2002; WILLIANS et al., 2008; SPESSATO et al., 2013; MORGAN et al., 2015; ZENG et al., 2017).
Assim, quando a aprendizagem de HMFS acontece de forma proficiente, influencia a uma participação mais efetiva das crianças em AF complexas e, consequentemente, no aumento das AF da vida diária (AALIZADEH; MOHAMADZADEH; HOSSEINI, 2014; VERNADAKIS et al., 2015; LOGAN et al., 2016; NOBRE; VALENTINI; NOBRE, 2018). E para que este nível de proficiência seja alcançado, muita prática é requerida, daí a importância de incentivo permanente e oferta de ambientes ricos de oportunidades motoras para as crianças.
Desta forma, assegurar o alcance do estágio proficiente no movimento especializado até ao final da infância, quer seja para utilização permanente, recreativa, competitiva ou do uso cotidiano (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013) favorece a adoção de um estilo de vida saudável e mais ativo fisicamente para a vida toda (VERNADAKIS et al., 2015). Entretanto, para que isso ocorra, parâmetros de referência ou aprofundamento no assunto, compreensão dos níveis de HMFS e a suas relações com o ambiente, tarefa, e o nível de prática de atividade física, necessitam ser investigados.

A amostra total do estudo será composta por aproximadamente 350 crianças de ambos os sexos, com idades entre seis e dez anos, residentes em cidade do Rio Grande do Sul. A amostra será selecionada por conveniência, correspondente a cada etapa da pesquisa (objetivo específico). Para cada um dos objetivos específicos, serão coletadas 50 crianças que atendam à especificidade dos objetivos.
Todas as crianças serão convidadas a participar de forma voluntária e deverão entregar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelo responsável (TCLE), o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) e o Consentimento para fotografias, vídeos e gravações.
O presente estudo apresenta inicialmente um design descritivo-exploratório, realizando diagnósticos das variáveis investigadas em cada uma das condições apresentadas nos objetivos específicos (a-g). Em um segundo momento, cada um destes objetivos específicos será investigado. Inicialmente serão conduzidos os objetivos (a), após a sua condução, será investigado o objetivo (b), um a um até investigar o objetivo (g). Após a condução destes objetivos, serão conduzidos os demais objetivos específicos (h-l). Estes objetivos específicos (h-l) caracterizam estudos com delineamento quasi-experimental em que alguns dos resultados obtidos nos diagnósticos serão comparados. A seguir as explicações detalhadas para a investigação de cada um dos objetivos específicos:
Para investigar o objetivo a), “Investigar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora em crianças que estudam em escolas particulares”, 50 crianças matriculadas em escola particular serão avaliadas. Os resultados irão descrever o comportamento motor das crianças considerando a análise qualitativa (valores descritivos) organizada em categorias, conforme o instrumento utilizado (descrito no item seguinte – 3.3 Instrumentos e tarefas).
Para investigar o objetivo b), “Investigar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora em crianças que estudam em escolas públicas”, 50 crianças matriculadas em escola municipal serão avaliadas. Os resultados irão descrever o comportamento motor das crianças considerando a análise qualitativa (valores descritivos) organizada em categorias, conforme o instrumento utilizado (descrito no item seguinte – 3.3 Instrumentos e tarefas).
Para investigar o objetivo c), “Investigar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora em crianças praticantes de modalidades esportivas orientadas”, 50 crianças matriculadas em escola particular ou pública e praticantes de esporte sistematizado há pelo menos 1 ano serão avaliadas. Os resultados irão descrever o comportamento motor das crianças considerando a análise qualitativa (valores descritivos) organizada em categorias, conforme o instrumento utilizado (descrito no item seguinte – 3.3 Instrumentos e tarefas).
Para investigar o objetivo d), “Investigar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora em crianças praticantes de atividades motoras orientadas”, 50 crianças matriculadas em escola particular ou pública e praticantes de atividades motoras orientadas há pelo menos 1 ano serão avaliadas. Os resultados irão descrever o comportamento motor das crianças considerando a análise qualitativa (valores descritivos) organizada em categorias, conforme o instrumento utilizado (descrito no item seguinte – 3.3 Instrumentos e tarefas).
Para investigar o objetivo e), “Investigar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora em crianças com transtorno do espectro autista”, serão analisadas em quais escolas particulares e públicas há crianças matriculadas com transtorno do espectro autista. Após esta etapa, tais crianças serão avaliadas. Os resultados irão descrever o comportamento motor das crianças considerando a análise qualitativa (valores descritivos) organizada em categorias, conforme o instrumento utilizado (descrito no item seguinte – 3.3 Instrumentos e tarefas).
Para investigar o objetivo f), “Investigar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora em crianças com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade”, serão analisadas em quais escolas particulares e públicas há crianças matriculadas com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Após esta etapa, tais crianças serão avaliadas. Os resultados irão descrever o comportamento motor das crianças considerando a análise qualitativa (valores descritivos) organizada em categorias, conforme o instrumento utilizado (descrito no item seguinte – 3.3 Instrumentos e tarefas).
Para investigar o objetivo g), “Investigar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora em crianças com síndrome de Down”, serão analisadas em quais escolas particulares e públicas há crianças matriculadas com síndrome de Down. Após esta etapa, tais crianças serão avaliadas. Os resultados irão descrever o comportamento motor das crianças considerando a análise qualitativa (valores descritivos) organizada em categorias, conforme o instrumento utilizado (descrito no item seguinte – 3.3 Instrumentos e tarefas).
Para investigar o objetivo h), “Comparar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora de crianças que estudam em escola particular com crianças que estudam em escola pública”, os dados encontrados nos objetivos (a) e (b) serão comparados.
Para investigar o objetivo i), “Comparar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora de crianças praticantes de modalidades esportivas orientadas e crianças praticantes de atividade motora orientada”, os dados encontrados nos objetivos (c) e (d) serão comparados.
Para investigar o objetivo j), “Comparar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora de crianças com transtorno do espectro autista com crianças típicas”, os dados encontrados nos objetivos (e) serão comparados com os dados de (a) e (b).
Para investigar o objetivo k), “Comparar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora de crianças com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade com crianças típicas”, os dados encontrados nos objetivos (f) serão comparados com os dados de (a) e (b). Para investigar o objetivo l), “Comparar o desempenho motor de habilidades motoras fundamentais e as oportunidades de estimulação motora de crianças com síndrome de Down com crianças típicas”, os dados encontrados nos objetivos (g) serão comparados com os dados de (a) e (b).
Para avaliar o desempenho motor, será utilizado o Test of Gross Motor Development– 3 (TGMD-3). Este teste avalia o desempenho motor em habilidades motoras fundamentais de crianças de 3 a 10 anos e 11 meses de idade (ULRICH, 2019). O teste avalia habilidades de locomoção (correr, galopar, saltitar, skip, salto horizontal e corrida lateral) e de controle de objetos (rebater com bastão, quicar, receber, chutar, arremessar por cima do ombro, arremessar por baixo do ombro e rebater uma bola com a raquete). O teste motor possui validade para o Brasil (VALENTINI et al., 2017). A criança recebe um ponto para cada critério atendido e zero para cada critério não atendido. A soma dos pontos obtidos nos subtestes de locomoção e controle de objetos resulta no escore bruto do teste. Para os escores brutos, no subteste “locomoção” o resultado mais baixo possível é zero e o mais alto é 46, enquanto que no subteste “controle de objetos e/ou manipulação” o resultado mais baixo é zero e o mais alto é 54. Os valores de escore bruto locomotor e controle de objetos são transferidos para as tabelas normativas que consideram a faixa etária e sexo da criança. Posteriormente, o escore bruto de cada subteste é convertido em escores padrão (locomoção e controle de objetos). Assim, os escores padrão são somados e transformados em quociente motor, o qual expõe valores descritivos do nível de desenvolvimento motor através de tabela normativa que classifica o quociente motor em Atrasado (menor que 70), Limite para atrasado (70 a 79), Abaixo da Média (80 a 89), na Média (90 a 109), Acima da Média (110 a 119), Superior (120 a 129) e Muito Avançado (maior que 129).
Será utilizado o Critério Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP, 2020) para avaliar a classificação econômica das famílias participantes do estudo. Trata-se de um questionário com um sistema de pontuação padronizado que indica a capacidade de consumo das famílias, classificando-as em classes econômicas ao invés de classes sociais. Para a análise das oportunidades de estimulação para o comportamento motor de escolares com TEA foi utilizado o “Affordances for Motor Behavior of Schoolchildren (AMBS)” (FLÔRES; RODRIGUES; CORDOVIL, 2019). O instrumento tem por finalidade mapear os ambientes e materiais com potencial para promover o desenvolvimento, a aprendizagem e a competência motora das crianças em idade escolar. Os dados serão analisados considerando os escores e valores encontrados no teste, seguindo sua padronização e normatização. Os dados serão descritos e apresentados em gráficos e posteriormente comparados entre os grupos formados a cada objetivo específico via teste t de Student, caso os dados apresentem distribuição normal.

Como resultados da pesquisa espera-se encontrar, como estudos prévios têm apresentado, que o desempenho motor de crianças esteja abaixo do comportamento esperado para a idade, que crianças que estudam em escolas particulares e que praticam atividade motora adicional ao período escolar apresentem desempenho superior. Crianças com transtorno e síndrome de Down devem apresentar motor mais lento Como metas existe a expectativa da divulgação do conhecimento produzido com a participação da equipe de trabalho em Congressos Científicos bem como na produção e submissão de artigos para periódicos científicos.