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A fibromialgia (FM) é uma síndrome crônica caracterizada por dor musculoesquelética
generalizada, frequentemente acompanhada de alodinia e hiperalgesia (Wolfe et al.,
2016). Os sinais e sintomas da doença se manifestam por um período mínimo de 3
meses e incluem fadiga, distúrbios do sono e declínio funcional (Sarzi-Puttini et al.,
2020). No Brasil, essa condição impacta cerca de 2,5% da população, consolidando
se como a segunda manifestação mais comum entre as doenças reumatológicas,
ficando atrás apenas da osteoartrite (Conte et al., 2018). A prevalência mundial da FM
varia de 2% a 6% da população, com uma maior incidência em mulheres entre as
idades de 20 a 55 anos (Pontes-Silva et al., 2023). O diagnóstico da FM é desafiador,
devido à complexidade das manifestações clínicas e o impacto em diversos domínios
de saúde, neste sentido é necessário elucidar as repercussões funcionais da doença
especialmente no que diz respeito à saúde musculoesquelética (Qureshi et al., 2021).
O declínio musculoesquelético na FM coexiste com alterações metabólicas,
modificações no fluxo sanguíneo muscular e disfunção mitocondrial, e
especificamente fatores como inatividade física, obesidade, envelhecimento e dor
estão envolvidos na gênese da disfunção mitocondrial (Gerdle et al., 2020). Nesses
pacientes são observados menores concentrações de adenosina trifosfato e
fosfocreatina quando comparado a saudáveis, assim como a infiltração de tecido
adiposo intramuscular no quadríceps femoral (Gerdle et al., 2013). Em outras condições
musculoesqueléticas, incluindo a osteoartrite e a artrite reumatoide, a redução da
qualidade muscular do quadríceps femoral, destaca-se como um marcador da
degeneração muscular e um fator associado com a apresentação sintomática e ao
declínio funcional (Taniguchi et al., 2022; Yoshida et al., 2022). Pacientes com FM
apresentam alterações na composição corporal que incluem mudanças no volume
muscular do quadríceps femoral, mas não são limitadas a alterações quantitativas,
uma vez que há um declínio concomitante na qualidade muscular (Gerdle et al., 2022).
No entanto, as repercussões da redução da qualidade muscular na FM em
marcadores como intensidade da dor, fadiga e a condição funcional ainda não foram
elucidadas.
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As mudanças na morfologia muscular destacam a relevância de adotar
abordagens objetivas para monitorar a saúde musculoesquelética desses pacientes.
A ultrassonografia muscular, que consiste em uma técnica não invasiva e com uma
série de vantagens em relação a outras ferramentas de mensuração muscular,
possibilita a condução de medidas precisas da espessura e qualidade muscular em
pacientes com condições musculoesqueléticas, consolidando-se assim como uma
ferramenta valiosa para avaliação funcional (Nagae et al., 2023). Neste contexto, o
declínio muscular do quadríceps femoral na FM, monitorado pela ultrassonografia
cinesiológica, é observado tanto em pacientes recém-diagnosticados como naqueles
com diagnóstico tardio, uma vez que há redução da área de secção transversal
muscular em comparação a sujeitos saudáveis (Umay; Gundogdu; Ozturk, 2020).
Além disso, há correlação entre a área de secção transversal do quadríceps femoral
com diversos fatores incluindo fadiga, níveis de energia, isolamento social e qualidade
de vida. Embora estes achados sejam relevantes no cenário clínico, destaca-se a
lacuna existente na literatura a respeito da associação da espessura e qualidade
muscular do quadríceps femoral com a intensidade da dor, a catastrofização
relacionada a dor, o nível de fadiga e o desempenho funcional nos pacientes com FM.
Desse modo, destaca-se a necessidade de investigar a possível associação
das medidas de espessura e qualidade muscular com marcadores sintomáticos e com
a condição funcional de pacientes com FM. Especialmente ao considerar o crescente
interesse da comunidade científica em relação às implicações da morfologia muscular
em desfechos reportados pelos pacientes e marcadores funcionais (Blum et al., 2020;
Karapınar et al., 2022; Stock et al., 2018; Wu et al., 2022), o presente estudo tem a
finalidade de responder o seguinte questionamento: há associação entre os
parâmetros de arquitetura muscular (espessura, área de secção transversal e
qualidade muscular do quadríceps femoral) e o nível de dor, a catastrofização
relacionada à dor, a severidade da fadiga e o desempenho funcional de indivíduos
com FM? Compreender como a espessura e a qualidade muscular do quadríceps
podem impactar a experiência de dor, fadiga e a capacidade de realizar atividades
diárias será fundamental para aprimorar o diagnóstico funcional e o desenvolvimento
de estratégias de tratamento mais eficazes direcionadas a condição neuromuscular
de pacientes com FM.

DESENHO DO ESTUDO

No presente estudo, será empregado um delineamento metodológico
transversal com o propósito de investigar a possível associação entre a arquitetura
muscular do quadríceps femoral e aspectos clínicos como dor, fadiga e desempenho
físico em pacientes com fibromialgia.

O estudo seguirá as diretrizes da iniciativa Strengthening the Reporting of
Observational Studies in Epidemiology (STROBE). Os itens que compõem o STROBE
são relacionados as informações adequadas que devem estar contidas no título,
resumo, introdução, metodologia, resultados e discussão de estudos observacionais
longitudinais (von Elm et al., 2007).


POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população-alvo do estudo consistirá em pacientes assistidos pelo Sistema
Único de Saúde e diagnosticados com fibromialgia da cidade de Bagé-RS. A amostra
será selecionada via divulgação do estudo em redes sociais e a partir de uma lista de
espera do Núcleo de Práticas Assistenciais do Hospital Universitário Doutor Mário
Araújo (HU) do Centro Universitário da Região da Campanha (URCAMP), Campus
Bagé – RS. O termo de anuência será encaminhado para assinatura da responsável
pelo Núcleo de Práticas Assistenciais para futura condução do estudo nas
dependências da instituição (Apêndice A).
Inicialmente, as pacientes receberão uma ligação telefônica para marcar a
triagem presencial na Clínica Escola de Fisioterapia, a qual será destinada a
verificação da conformidade com os critérios de elegibilidade. Na consulta presencial,
as participantes receberão uma explicação detalhada a respeito dos objetivos do
estudo, sobre as medidas de desfecho, os riscos, benefícios e sobre a
confidencialidade das informações coletadas. A coleta de dados iniciará somente após
a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Critérios de inclusão

Os critérios de inclusão para participação no estudo são indivíduos de 30 a 65
anos, de ambos os sexos, com fibromialgia diagnosticada a mais de três meses, e
conforme os critérios de classificação do American College of Reumathology de 2010
(Wolfe et al., 2010). A identificação da fibromialgia baseia-se na presença de dor
generalizada e na gravidade dos sintomas (Widespread Pain Index (WPI) ≥7 and
Symptom Severity Score (SSS) ≥5; or WPI 3–6 and SSS ≥9). Além disso, os pacientes
não têm uma disfunção que de outra forma explique a dor.


Critérios de exclusão

Os pacientes serão excluídos da amostra nas seguintes situações. (1)
Pacientes em pós-operatório de cirurgia ortopédica; (2) histórico de fratura ou trauma
recente; (3) presença de distúrbios progressivos do sistema nervoso central ou
periférico que impactem a função motora ou mental e diagnóstico de osteoartrite
avançada (grau IV); (4) indivíduos com diagnóstico de doenças cardiovasculares
instáveis; (5) doenças autoimunes ou inflamatórias associadas como lúpus ou artrite
reumatoide; (6) sujeitos envolvidos em atividade física regular nos últimos 6 meses.


TAMANHO DA AMOSTRA

O tamanho da amostra foi calculado, no programa GPower versão 3.1.9,
utilizando dados de estudo prévio que investigou a possível relação entre a espessura
muscular e área de secção transversal dos músculos das extremidades superiores e
inferiores com a fadiga, a severidade da doença, bem como com a qualidade de vida
de pacientes com FM (Umay, Gundogdu e Ozturk, 2020). Deste modo, ao considerar
o coeficiente de correlação (r) de -0.409 entre a área de secção transversal do
quadríceps femoral e o nível de fadiga, um poder β de 80%, e um α de 0,05, serão
necessários 44 pacientes no estudo (Apêndice D).

LOCAL E PERÍODO DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa será realizada na clínica-escola de fisioterapia do HU da URCAMP,
localizada no município de Bagé, Rio Grande do Sul, Brasil. O período de realização
da pesquisa abrangerá os meses de fevereiro a agosto de 2024.

PLANO DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados será realizada em um único dia seguindo uma ordem
estruturada: (1) Anamnese; (2) Desfechos reportados pelos pacientes; (3) Medidas
ultrassonográficas; (4) Medidas funcionais. A anamnese terá como objetivo abordar
uma variedade de aspectos relacionados a doença e a condição funcional, além da
coleta de dados sociodemográficos (Apêndice C). Durante a avaliação, o pesquisador
responsável conduzirá uma anamnese aberta para conhecer a história da condição
atual. Em seguida, utilizará de perguntas padronizadas na anamnese fechada para
obtenção das informações relevantes para caracterização da amostra como idade,
Índice de Massa Corporal (IMC), consumo de medicamentos, renda familiar e grau de
instrução. Na sequência, a próxima etapa será a coleta dos desfechos, conforme
descritos abaixo.

Os defechos do estudo compreendem a arquitetura muscular do quadríceps femoral (espessura, área de secção
transversal e eco intensidade); o nível de dor pela escala numérica de dor (END); a catastrofização relacionada a dor pela Escala de Pensamentos Catastróficos; o nível de fadiga pela Fatigue Severity Scale (Escala de Gravidade da Fadiga); e a capacidade de realização de tarefas funcionais através de testes funcionais específicos (Sentar e Levantar, Timed Up and GO e Stair Climb).

Outros desfechos (Escore de gravidade de sintomas e Questionário de Impacto da Fibromialgia).

PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

A normalidade das variáveis será avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk. As variáveis contínuas serão apresentadas em média e desvio padrão (distribuição normal) ou mediana e intervalo interquartil (distribuição não normal) e as categóricas em frequências absolutas e porcentagens. A correlação entre a arquitetura muscular do quadríceps femoral (espessura, área de secção transversal e ecointensidade) com
as variáveis dor, catastrofização relacionada à dor, nível de fadiga e status funcional será calculada através do coeficiente de correlação de Pearson. As análises do estudo serão realizadas através do Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 20.0.

A hipótese do presente estudo sugere a existência de uma correlação negativa entre as medidas de espessura e área de secção transversal com o nível de dor, bem como com a intensidade da catastrofização associada a dor e a presença de fadiga. Paralelamente, prevê-se uma correlação positiva com o desempenho funcional. Deste modo, pacientes com menor espessura e área de secção transversal possivelmente apresentarão maiores níveis de dor, de catastrofização relacionada à dor, e escores elevados de fadiga e menor desempenho funcional. Além disso, hipotetiza-se que a medida de qualidade muscular (eco intensidade) esteja positivamente correlacionada com o nível de dor, à catastrofização relacionada a dor e à fadiga, assim como negativamente correlacionada com o desempenho funcional. Ou seja, quanto maior a eco intensidade (pior a qualidade muscular), maior será a intensidade da dor, a catastrofização relacionada a dor, assim como maior será o escore de fadiga e menor o desempenho funcional.