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As análises neste estudo consideram o sistema socioambiental (ou sócio-ecológico), compreendido como um sistema que inclui aspectos do subsistema social (humano) e ecológico (biofísico) em interação mútua (Galopin et al., 2006). A partir dessa perspectiva, os seres humanos e o ambiente natural não são sistemas independentes, homogêneos ou incapazes de se adaptar às ameaças, sejam elas antecipadas, realizadas ou percebidas (Polsky et al., 2007). De acordo com Polsky et al. (2007), os sistemas humanos e naturais são vistos como intimamente conectados e expostos, sensíveis e adaptáveis às ameaças e essa lógica significa que adotar uma perspectiva de vulnerabilidade exige uma investigação completa dos aspectos biofísicos e sociais das interações homem-ambiente.

A Colônia de Pescadores Z3 em especial, localizada no município de Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul (RS), têm sido significativamente afetada por esses eventos climáticos extremos. A escolha da Colônia Z3 como objeto de estudo reflete justamente o contexto no qual as comunidades locais dependem frequentemente dos seus sistemas de conhecimento para responder aos impactos das alterações climáticas .

A construção metodológica deste estudo tem como ponto de partida a identificação das interações que se estabelecem entre os ecossistemas e a sociedade humana como sistemas interligados, segundo proposição do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, 2022) sobre os Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, contida no Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Buscando alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa será aplicado o protocolo desenvolvido por Reyes-Garcia et al. (2023), com o objetivo de melhor compreender os impactos das alterações climáticas em elementos dos sistemas socioecológicos da comunidade de pescadores Z3, localizada no município de Pelotas-RS.
O protocolo é dividido em duas etapas. A Etapa 1 foca na coleta de informações secundárias e primárias de base, incluindo uma lista de observações de mudanças ambientais e seus fatores impulsionadores, e usa discussões em grupos focais para identificar consenso nas informações coletadas. Os instrumentos a serem utilizados na Etapa 1 (isto é, entrevistas semiestruturadas e discussões em grupos focais) foram pré-testados por Reyes-Garcia et al. (2023) com comunidades de pequenos agricultores Akha na China, com agricultores agroflorestais Betsimisaraka em Madagascar e com agricultores Sereer no Senegal. Esses testes resultaram em (i) um melhor foco nas mudanças ambientais (vs. mudanças globais); (ii) no refinamento do sistema de codificação das observações de mudanças ambientais em indicadores de mudanças climáticas; e (iii) consideração mais precisa dos fatores impulsionadores de mudanças ambientais, além das mudanças climáticas.
A Etapa 2 do protocolo prevê a realização de uma pesquisa com domicílios e indivíduos para coletar dados para teste de hipóteses. Os instrumentos a serem utilizados na Etapa 2 (isto é, pesquisas individuais e domiciliares) foram pré-testados por Reyes-Garcia et al. (2023) com os Povos Indígenas Tsimane’ na Amazônia boliviana e com agro-pastoralistas Daasanach no Quênia. O segundo teste também resultou em ajustes no instrumento, incluindo a remoção de perguntas sensíveis ou repetitivas, a adição de perguntas para capturar fatores não considerados e a reordenação ou reformulação de perguntas.

A escolha da Colônia Z3 como objeto de estudo reflete justamente o contexto no qual as comunidades locais dependem frequentemente dos seus sistemas de conhecimento para responder aos impactos das alterações climáticas (Reyes-García et al., 2024). Este estudo ressalta a importância do conhecimento tradicional e local na compreensão dos efeitos das mudanças climáticas em curso na região, utilizando, para tanto, métodos participativos de identificação dos efeitos e das estratégias de adaptação observados pelos próprios residentes da comunidade. Ao integrar diversas perspectivas de análise, o estudo busca enriquecer a compreensão a cerca dos impactos das mudanças climáticas, bem como contribuir para a formulação de estratégias de adaptação que sejam culturalmente sensíveis e eficazes. Os resultados desta pesquisa visam contribuir para a formulação de políticas públicas eficazes e culturalmente sensíveis aos desafios vivenciados pelos moradores da Colônia Z3. Os dados e insights coletados serão utilizados para informar e influenciar a criação de políticas que integrem o conhecimento científico e tradicional. Essa abordagem visa criar soluções mais abrangentes e sustentáveis para os desafios das mudanças climáticas, beneficiando não apenas as comunidades locais, mas também a sociedade como um todo.