Nome do Projeto
Ciência crítica do desenvolvimento: trajetórias de vida no estudo de coorte de 1982 de Pelotas, Brasil
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
02/09/2024 - 30/09/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Desde o advento da teoria da evolução, há mais de dois séculos, os cientistas euro-americanos têm investigado o desenvolvimento humano “normal” e “anormal”, estipulando parâmetros de desenvolvimento cognitivo, emocional e social “saudáveis” desde o período pré-natal até a velhice (Gould, 1996; Bowler, 2021). Humanistas e cientistas sociais cunharam o termo “desenvolvimentismo” para criticar as formas homogeneizadoras de como esta investigação enquadra a “capacidade” e o “progresso”, estipulando as qualidades necessárias para a plena adesão à sociedade (Lesko 2001, Burman 2016). As intervenções destinadas a melhorar os “resultados de desenvolvimento”, mostram historiadores e estudiosos de Ciência- Tecnologia-Sociedade (CTS), têm sido frequentemente implementadas de maneiras que presumem uma “incapacidade” de desenvolvimento intratável apenas para populações marginalizadas (Durham 2004, Morss 2013, Bergey, Filipe et al. 2018 ). Embora os críticos tenham percorrido um longo caminho no sentido de refutar o universalismo do conhecimento desenvolvimento cognitivo, emocional e social “saudáveis”, a lacuna entre as abordagens críticas e a sua aceitação mais ampla ainda é grande. Nas escolas e clínicas, uma série de experiências humanas – desde emoções e comportamentos específicos considerados “anormais”, até a questão de que formas de parentesco e trabalho, são sancionadas e para quem – tornaram-se objetos da ciência normativa (Lesko 2001). O uso diário desse conhecimento dentro e fora das instituições reforça modelos eurocêntricos que são tendenciosos e divergentes (Bucholtz 2002, Ruddick 2003, Béhague 2016, Katz 2021, Amit and Wulff 2022). Esta lacuna persiste mesmo quando a ciência do desenvolvimento procura abraçar a diversidade cultural e mudar de um foco estrito no desenvolvimento cognitivo-emocional para aspectos multidimensionais do “bem-estar” (Maree 2022). Este projeto reúne perspectivas CTS, antropológicas e de desenvolvimento para construir uma ciência crítica do desenvolvimento, definida como abordagens interdisciplinares, culturalmente sensíveis e socialmente responsáveis para o desenvolvimento humano.

Objetivo Geral

O projeto explorará como as normas e valores de desenvolvimento são reproduzidos, desafiados e rompidos nas comunidades científicas e ativistas (Fricker 2007) e por meio de um vernáculo de reflexividade praticado por pessoas comuns, cujas experiências vividas abrangem uma variedade de aspectos de vida, sociais, políticos, racializados, em relação a gênero e valores de capacitismo (Béhague 2022). O Brasil e o estudo de coorte de 1982 oferecem um contexto oportuno para esta pesquisa (Tenorio 2002, Conde 2020).

Quatro questões orientarão os objetivos a serem respondidos pela pesquisa: (Q1) Como a diversidade do desenvolvimento toma forma desde a infância e adolescência até a metade da idade adulta? (Q2) Como os cientistas, ativistas e pessoas comuns reproduzem e/ou perturbam as normas e valores do desenvolvimento? Que papel desempenha a crítica do desenvolvimentismo no desafio das normas/valores do desenvolvimento e na mudança das trajetórias do curso de vida do grupo em estudo? (Q3) Como a reprodução e a ruptura das normas e valores de desenvolvimento se relacionam com as diversas noções de personalidade, sucesso, pertencimento, amizade, família.

Justificativa

Este projeto reúne perspectivas CTS, antropológicas e de desenvolvimento para construir uma ciência crítica do desenvolvimento, definida como abordagens interdisciplinares, culturalmente sensíveis e socialmente responsáveis para o desenvolvimento humano.

Metodologia

Metodologia: estudo qualitativo, realizado com conselheiros comunitários, participantes da coorte de nascimentos de 1982, acadêmicos interdisciplinares e estudantes de doutorado/pós-doutorado para explorar como as normas de desenvolvimento são reproduzidas, desafiadas e interrompidas junto aos participantes do estudo de coorte de 1982.

Estudo etnográfico com 96 participantes, realizado há anos, inseridos na coorte de nascimentos de Pelotas de 1982, um estudo prospectivo de 5.914 indivíduos, dirigido pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas, no Sul do Brasil (UFPEL) (Horta 2015). O estudo é composto por uma população culturalmente diversificada e por uma comunidade de especialistas que há muito crítica a importação da ciência euro-americana.

O projeto será dividido em cinco pacotes de trabalho. Pacote de trabalho 1 (Q1): Conselho Consultivo Comunitário - será formado por 8 membros oito membros que serão consultados sobre todos os aspectos da pesquisa, incluindo ética, coleta de dados, análise, publicação e divulgação.

Pacote de trabalho 2 (Q2): Pesquisa de coorte em ação - abordará a coorte como um objeto de análise, ou seja, como um local de poder, conhecimento e valor. Os objetivos são documentar reflexivamente o diálogo e a ação interdisciplinar da equipe e avaliar a receptividade a novas formas de pensar sobre o desenvolvimento nas comunidades políticas e de pesquisa mais amplas em saúde.

Pacote de trabalho 3 (Q3): O acompanhamento etnográfico - a equipe entrevistará o maior número possível da amostra etnográfica original (n=96); idealmente, cada participante será visitado 2 vezes. As entrevistas serão realizadas informalmente, no local escolhido pelo entrevistado, com possibilidades naturais de observação participante em casas, bairros, cafés ou locais de trabalho. Caso não seja possível uma entrevista presencial, também poderá ser utilizado o WhatsApp, Teams, Zoom ou Google Meet. Com uma subamostra oportunista de cerca de 10 participantes, serão realizadas entrevistas repetidas mais intensivas. Esses participantes serão selecionados para garantir a variabilidade demográfica e da trajetória de vida.

Pacote de trabalho 4 (Q4): Análise e redação dos dados.

Pacote de trabalho 5: Disseminação e resultados: O público-alvo da divulgação inclui (a) cientistas de diversas formações acadêmicas, (b) atores políticos em entidades governamentais e privadas, (c) profissionais de educação, medicina, psicologia/psiquiatria, (d) ativistas e líderes em organizações comunitárias, e (e) pessoas comuns, incluindo participantes do estudo. Serão realizados workshops com profissionais e instituições.

Indicadores, Metas e Resultados

Modelos padrão de desenvolvimento psicossocial humano não captam suficientemente as diversas trajetórias são criadas à medida que as pessoas respondem cotidianamente aos desafios sociais. Documentar essa diversidade de desenvolvimento, e como ela se desdobra na vida adulta, pode trazer “insights” adicionais sobre como a mudança ao longo da vida pode levar a resultados positivos e autorrealização.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
Ana Paula Pimentel Jacob
BERNARDO LESSA HORTA2
Dominique Pareja Behague
HELEN DENISE GONCALVES DA SILVA6
NICOLE PEREIRA XAVIER

Fontes Financiadoras

Sigla / NomeValorAdministrador
VU / Vanderbilt UniversityR$ 61.049,00Fundação Delfim Mendes da Silveira

Plano de Aplicação de Despesas

DescriçãoValor
339039 - Outros Serviços de Terceiro - Pessoa JurídicaR$ 61.049,00

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