Nome do Projeto
Mecanismos do efeito da pobreza no início da vida sobre a inteligência e a renda na fase adulta
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
10/10/2024 - 28/02/2027
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Abundantes evidências apontam que condições desfavoráveis no início da vida
resultam em importantes prejuízos para o desenvolvimento físico e cognitivo,
resultado em pior performance em testes de inteligência e menor renda na vida adulta.
Estas desigualdades reforçam a necessidade de políticas voltadas à erradicação da
pobreza. Porém, desigualdades sociais são um problema crônico em diversos países,
cuja solução depende de grandes mudanças estruturais que só produzirão resultados
em longo prazo.
Diversos estudos demonstraram que o efeito da pobreza se dá através de
diversos mediadores, como nutrição e estimulação cognitiva precoce, além da própria
mobilidade social e nível de escolaridade durante a adolescência e vida adulta. Atuar
nesses mediadores através de intervenções equitativas poderia ser uma maneira de
atenuar o problema crônico descrito acima em menor prazo.
Outros prováveis importantes mediadores do efeito da pobreza sobre a renda
na fase adulta seriam menores oportunidades de emprego, menor nível de
escolaridade e a própria inteligência. Isto configuraria uma dupla carga de
desvantagem relacionada à pobreza ao nascer, em que indivíduos nascidos pobres
não só terão piores condições de desenvolvimento cognitivo, como também menos
oportunidade de que suas habilidades de fato resultem em retornos financeiros. Esta
hipótese implicaria que a associação entre inteligência e renda na fase adulta é
modificada pela situação socioeconômica no início da vida, sendo a associação menor
entre os pobres e maior nos mais ricos.
Este projeto pretende utilizar dados das coortes de nascimentos de 1982 e de
1993 para quantificar o papel mediador de marcadores de desenvolvimento físico,
acesso e utilização de serviços de saúde e morbidades na infância na relação entre
pobreza ao nascer e QI na vida adulta, possibilitando estimar o impacto de
intervenções que eliminassem desigualdades na distribuição destes mediadores.
Também será avaliada a hipótese de dupla carga de desvantagem relacionada à
pobreza ao nascer. Os resultados desta pesquisa contribuirão para melhor
compreensão dos mecanismos que produzem desigualdades na inteligência e renda,
bem como identificar possíveis oportunidades de atenuá-las.
Objetivo Geral
Avaliar mecanismos de mediação e interação do efeito da pobreza na infância
sobre o QI e a renda na fase adulta.
sobre o QI e a renda na fase adulta.
Justificativa
A associação entre piores condições financeiras no início da vida e pior
desenvolvimento cognitivo e renda na fase adulta, bem como diversos desfechos em
saúde ao longo do ciclo vital, é bem estabelecida (POVEDA et al., 2021; VICTORA et
al., 2022). Portanto, existe a necessidade de políticas voltadas à erradicação da
pobreza, o que seria muito efetivo para melhorar a saúde, produtividade e qualidade
de vida da população, além de ser uma questão de justiça social. Porém,
desigualdades sociais são um problema crônico no Brasil e em vários países, cuja
solução depende de mudanças estruturais de difícil implementação e que só
produzirão resultados visíveis no longo prazo (SILVA et al., 2018).
Uma forma complementar de abordar este problema, na qual mudanças em
menor prazo poderiam ser atingidas, seria atuar sobre mediadores dos efeitos da
pobreza na infância através de intervenções equitativas. Estas intervenções, caso
eliminassem as desigualdades sociais na distribuição de um ou mais mediadores,
contribuiriam para atenuar os efeitos da pobreza e, consequentemente, para reduzir
desigualdades ao longo de gerações ao favorecer mobilidade social (por exemplo,
aumentando as chances de desenvolvimento cognitivo adequado entre os nascidos
pobres, contribuindo para que tenham boas condições de renda quando adultos).
Existem diversos plausíveis mediadores da relação entre posição socioeconômica ao
nascer e inteligência na fase adulta, como nutrição de qualidade, estímulo cognitivo
precoce e relacionamento enriquecedor com os pais no ambiente domiciliar (BECK et
al., 2018; PARKER; GREER; ZUCKERMAN, 1988; RONFANI et al., 2015; VON
STUMM; PLOMIN, 2015).
A partir da revisão de literatura, foi possível observar que esse problema é
relevante e crônico. Os estudos encontrados abordaram principalmente mediadores
na vida adulta, como escolaridade e renda, os quais tiveram papeis relevantes na
associação entre a posição socioeconômica ao nascer e o QI. Porém, faltam
informações sobre mediadores precoces, o que é importante principalmente levando
em conta a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento cerebral.
Também foram identificadas importantes limitações metodológicas nos estudos
selecionados, as quais podem comprometer a validade dos resultados encontrados.
Considerando a natureza causal de análises de mediação, é fundamental que as
variáveis de ajuste sejam escolhidas através de conhecimento prévio, de modo a
justificar a plausibilidade dos pressupostos de ausência de confundimento entre
exposição-mediador, exposição-desfecho e mediador-desfecho. Além disso, a maioria
dos estudos encontrados era sujeito a viés de sobrevivência e de recordatório, e
realizados em países de alta renda.
Além disso, deve-se considerar a possibilidade que a pobreza na infância
modifique o efeito de certos mediadores no seu efeito sobre a renda na fase adulta, o
que poderia reduzir o impacto sobre o ganho de mobilidade social de intervenções
que eliminem desigualdades precoces. Por exemplo, o QI é um plausível mediador do
efeito da pobreza na infância sobre a renda do indivíduo na fase adulta. No entanto,
conforme mencionado na seção 1, é possível que o efeito do QI sobre a renda seja
menor nos nascidos pobres (que enfrentam diversas barreiras, como preconceito e
falta de oportunidades) do que nos nascidos ricos (nos quais a ausência de outras
barreiras aumenta o papel relativo do QI como determinante de acesso a maior
remuneração). Neste caso, haveria uma dupla carga de desvantagem sobre os
nascidos pobres: pior desenvolvimento cognitivo e menor efeito deste sobre a renda.
Apesar da hipótese de dupla carga de desvantagem ser plausível e relevante, não
foram encontrados estudos avaliando esta hipótese formalmente através de uma
análise de modificação da associação entre inteligência e renda na fase adulta pela
posição socioeconômica precoce. As modificações de efeito avaliadas pelos estudos
encontrados foram em relação ao sexo e a cor da pele, porém o desfecho avaliado foi
o QI.
desenvolvimento cognitivo e renda na fase adulta, bem como diversos desfechos em
saúde ao longo do ciclo vital, é bem estabelecida (POVEDA et al., 2021; VICTORA et
al., 2022). Portanto, existe a necessidade de políticas voltadas à erradicação da
pobreza, o que seria muito efetivo para melhorar a saúde, produtividade e qualidade
de vida da população, além de ser uma questão de justiça social. Porém,
desigualdades sociais são um problema crônico no Brasil e em vários países, cuja
solução depende de mudanças estruturais de difícil implementação e que só
produzirão resultados visíveis no longo prazo (SILVA et al., 2018).
Uma forma complementar de abordar este problema, na qual mudanças em
menor prazo poderiam ser atingidas, seria atuar sobre mediadores dos efeitos da
pobreza na infância através de intervenções equitativas. Estas intervenções, caso
eliminassem as desigualdades sociais na distribuição de um ou mais mediadores,
contribuiriam para atenuar os efeitos da pobreza e, consequentemente, para reduzir
desigualdades ao longo de gerações ao favorecer mobilidade social (por exemplo,
aumentando as chances de desenvolvimento cognitivo adequado entre os nascidos
pobres, contribuindo para que tenham boas condições de renda quando adultos).
Existem diversos plausíveis mediadores da relação entre posição socioeconômica ao
nascer e inteligência na fase adulta, como nutrição de qualidade, estímulo cognitivo
precoce e relacionamento enriquecedor com os pais no ambiente domiciliar (BECK et
al., 2018; PARKER; GREER; ZUCKERMAN, 1988; RONFANI et al., 2015; VON
STUMM; PLOMIN, 2015).
A partir da revisão de literatura, foi possível observar que esse problema é
relevante e crônico. Os estudos encontrados abordaram principalmente mediadores
na vida adulta, como escolaridade e renda, os quais tiveram papeis relevantes na
associação entre a posição socioeconômica ao nascer e o QI. Porém, faltam
informações sobre mediadores precoces, o que é importante principalmente levando
em conta a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento cerebral.
Também foram identificadas importantes limitações metodológicas nos estudos
selecionados, as quais podem comprometer a validade dos resultados encontrados.
Considerando a natureza causal de análises de mediação, é fundamental que as
variáveis de ajuste sejam escolhidas através de conhecimento prévio, de modo a
justificar a plausibilidade dos pressupostos de ausência de confundimento entre
exposição-mediador, exposição-desfecho e mediador-desfecho. Além disso, a maioria
dos estudos encontrados era sujeito a viés de sobrevivência e de recordatório, e
realizados em países de alta renda.
Além disso, deve-se considerar a possibilidade que a pobreza na infância
modifique o efeito de certos mediadores no seu efeito sobre a renda na fase adulta, o
que poderia reduzir o impacto sobre o ganho de mobilidade social de intervenções
que eliminem desigualdades precoces. Por exemplo, o QI é um plausível mediador do
efeito da pobreza na infância sobre a renda do indivíduo na fase adulta. No entanto,
conforme mencionado na seção 1, é possível que o efeito do QI sobre a renda seja
menor nos nascidos pobres (que enfrentam diversas barreiras, como preconceito e
falta de oportunidades) do que nos nascidos ricos (nos quais a ausência de outras
barreiras aumenta o papel relativo do QI como determinante de acesso a maior
remuneração). Neste caso, haveria uma dupla carga de desvantagem sobre os
nascidos pobres: pior desenvolvimento cognitivo e menor efeito deste sobre a renda.
Apesar da hipótese de dupla carga de desvantagem ser plausível e relevante, não
foram encontrados estudos avaliando esta hipótese formalmente através de uma
análise de modificação da associação entre inteligência e renda na fase adulta pela
posição socioeconômica precoce. As modificações de efeito avaliadas pelos estudos
encontrados foram em relação ao sexo e a cor da pele, porém o desfecho avaliado foi
o QI.
Metodologia
Será realizada uma revisão sistemática da literatura (artigo 1) e dois artigos
originais com os títulos provisórios “Associação entre QI e renda na vida adulta de
acordo com a posição socioeconômica ao nascer” (artigo 2) e “Papel mediador dos
indicadores de estado nutricional, saúde preventiva e morbidades na infância na
associação entre pobreza no início da vida e QI na vida adulta” (artigo 3). Como a
metodologia da revisão sistemática foi descrita na seção 2 deste projeto, o restante
da presente seção descreverá a metodologia dos artigos originais. Devido a origem
dos dados e fatores de confusão serem comuns aos dois artigos, a metodologia será
descrita de maneira conjunta e posteriormente serão descritos os desfechos e planos
de análise de dados para cada artigo.
originais com os títulos provisórios “Associação entre QI e renda na vida adulta de
acordo com a posição socioeconômica ao nascer” (artigo 2) e “Papel mediador dos
indicadores de estado nutricional, saúde preventiva e morbidades na infância na
associação entre pobreza no início da vida e QI na vida adulta” (artigo 3). Como a
metodologia da revisão sistemática foi descrita na seção 2 deste projeto, o restante
da presente seção descreverá a metodologia dos artigos originais. Devido a origem
dos dados e fatores de confusão serem comuns aos dois artigos, a metodologia será
descrita de maneira conjunta e posteriormente serão descritos os desfechos e planos
de análise de dados para cada artigo.
Indicadores, Metas e Resultados
Artigos planejados
Artigo 1 – Fatores mediadores do efeito da pobreza no início da vida sobre o
QI na adolescência e vida adulta: revisão sistemática.
Artigo 2 – Associação entre QI e renda na vida adulta de acordo com a posição
socioeconômica ao nascer.
Artigo 3 – Papel mediador dos indicadores de estado nutricional, saúde
preventiva e morbidades na infância na associação entre pobreza no início da vida e
QI na vida adulta.
Artigo 1 – Fatores mediadores do efeito da pobreza no início da vida sobre o
QI na adolescência e vida adulta: revisão sistemática.
Artigo 2 – Associação entre QI e renda na vida adulta de acordo com a posição
socioeconômica ao nascer.
Artigo 3 – Papel mediador dos indicadores de estado nutricional, saúde
preventiva e morbidades na infância na associação entre pobreza no início da vida e
QI na vida adulta.
Equipe do Projeto
Nome | CH Semanal | Data inicial | Data final |
---|---|---|---|
FERNANDO PIRES HARTWIG | 3 | ||
Karisa Roxo Brina | |||
PEDRO SAN MARTIN SOARES |