Nome do Projeto
Traços de insensibilidade afetiva na infância: associações com processos psicológicos e experiências de vitimização em uma Coorte de Nascimentos do sul do Brasil
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/11/2024 - 28/02/2027
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Traços de insensibilidade afetiva se referem a um grupo de manifestações
psicossociais, incluindo falta de empatia, culpa ou preocupação com os outros. Altos
níveis de traços de insensibilidade afetiva na infância são preditores de
comportamentos agressivos e antissociais crônicos na adolescência e colocam
indivíduos em maior risco de envolvimento com violência ao longo da vida. Tendo
etiologia multifatorial, as influências genéticas são combinadas com as influências
ambientais aumentando ou diminuindo o nível de traços de insensibilidade afetiva ao
longo do desenvolvimento humano. Estudos clínicos têm salientado que entre jovens
com problema de conduta, crianças com altos níveis de traços de insensibilidade
afetiva diferem de seus pares em dimensões sociais, cognitivas e emocionais. Essa
literatura enfatiza que os mecanismos de apoio a crianças com problemas de
conduta devem ser específicos para cada grupo. Este projeto de doutorado, por sua
vez, se propõe a descrever os perfis cognitivos e psicológicos das crianças que
apresentam traços de insensibilidade afetiva. Também objetiva identificar a
influência de experiências de vitimização nos traços de crianças pré-escolares, e a
possível modificação de efeito nesta associação pela parentalidade. Finalmente será
investigada a relação entre traços de insensibilidade afetiva e dimensões de
desenvolvimento moral infantil, medidas através de comportamentos agressivos e
pró-sociais e do julgamento moral. Para isso, serão feitas análises de dados
coletados nos acompanhamentos das crianças pertencentes à Coorte de
Nascimento de Pelotas de 2015 realizados até os 6/7 anos de idade. O
entendimento das relações entre traços de insensibilidade afetiva e outros aspectos
do desenvolvimento, assim como a investigação de fatores ambientais que possam
modular o nível de tal característica é de suma importância para o tema. A partir
disso, será possível propor práticas assertivas para estimular capacidades de
empatia e preocupação com os outros durante a primeira infância, diminuindo o nível
de traços de insensibilidade afetiva na época mais propícia para esta modificação.
Isso é particularmente importante em um contexto de desigualdade social como o
brasileiro, onde certos níveis de violência podem ser considerados ferramentas de
sobrevivência e a prevenção para a próxima geração deve considerar influências
ainda no início da vida.
Objetivo Geral
Investigar a associação entre os traços de insensibilidade afetiva infantil com outras
características individuais e experiências de vitimização em crianças pertencentes à
Coorte de Nascimentos de 2015 de Pelotas/RS.
características individuais e experiências de vitimização em crianças pertencentes à
Coorte de Nascimentos de 2015 de Pelotas/RS.
Justificativa
A manutenção de altos níveis de agressividade e outros problemas de conduta ao
longo da infância é um fator preditor de uma vida adulta envolvida em maior violência,
abuso de substâncias e menor ajustamento social (Pardini & Fite, 2010). O impacto
negativo desses comportamentos vai muito além da família do indivíduo, pelo potencial
de afetar a sociedade como um todo, de diversas maneiras (Squillaci & Benoit, 2021).
Nas últimas décadas, a literatura conseguiu diferenciar, dentre os jovens com
comportamentos problemáticos, pelo menos dois grupos: jovens com altos níveis de
traços de insensibilidade afetiva e jovens com níveis normativos de tais traços. Com
diversas trajetórias possíveis para o comportamento agressivo, os déficits emocionais
específicos como falta de empatia, culpa e pró-socialidade parecem ser particularmente
relevantes para o primeiro grupo. Como resultado, presume-se diferentes caminhos
causais para os comportamentos antissociais entre os grupos, sendo que os jovens com
altos níveis de traços de insensibilidade afetiva apresentam um padrão mais grave e
persistente dos comportamentos indesejados (Ritchie et al., 2022).
Apesar desta diferenciação já ter sido feita sob alguns aspectos, a literatura atual
ainda é bastante carente quanto aos mecanismos, fatores etiológicos de maior peso e
fatores moderadores que possam estar envolvidos no desenvolvimento dos traços de
insensibilidade afetiva. Além disso, a maior parte dos estudos apresenta análises
transversais em amostras pequenas e restritas a países de alta renda e menor
desigualdade social, sendo difícil a extrapolação para contextos de maior
vulnerabilidade, como o Brasil. Neste tema, o estudo de populações infantis é
relativamente recente em comparação com a pesquisa sobre adultos que apresentam
traços de insensibilidade afetiva ou psicopáticos. No entanto, é de grande importância
devido à potencial maleabilidade dos traços na infância, quando a personalidade ainda
está em formação. Estudar a infância e os traços apresentados nesta fase permite
intervenções mais eficazes, aproveitando a oportunidade de moldar o desenvolvimento e
reduzir o risco de desajustes futuros (Pisano et al., 2017).
Frente a isso, este trabalho se justifica por ser capaz de ampliar o entendimento
dos traços de insensibilidade afetiva infantil, aumentar o conhecimento sobre suas
associações e reflexos em outras habilidades individuais, e explorar potenciais fatores
modificadores dos traços, especialmente em um contexto social de maior desigualdade.
Entender as especificidades desse grupo de jovens pode ser a chave para diminuir a
violência em um contexto social mais amplo, visto que, na ausência de intervenção, este
grupo se envolve em mais numerosos e severos episódios de violência ao longo da vida.
A agressividade é um comportamento complexo e modulado por diferentes mecanismos
biopsicossociais, que devem ser explorados até o perfeito entendimento do fenômeno.
Só a partir disso será possível pensar em políticas públicas assertivas que minimizem os
riscos de que indivíduos jovens identificados com tal característica se tornem adultos
altamente violentos, prejudicando a sociedade e a si próprios.
longo da infância é um fator preditor de uma vida adulta envolvida em maior violência,
abuso de substâncias e menor ajustamento social (Pardini & Fite, 2010). O impacto
negativo desses comportamentos vai muito além da família do indivíduo, pelo potencial
de afetar a sociedade como um todo, de diversas maneiras (Squillaci & Benoit, 2021).
Nas últimas décadas, a literatura conseguiu diferenciar, dentre os jovens com
comportamentos problemáticos, pelo menos dois grupos: jovens com altos níveis de
traços de insensibilidade afetiva e jovens com níveis normativos de tais traços. Com
diversas trajetórias possíveis para o comportamento agressivo, os déficits emocionais
específicos como falta de empatia, culpa e pró-socialidade parecem ser particularmente
relevantes para o primeiro grupo. Como resultado, presume-se diferentes caminhos
causais para os comportamentos antissociais entre os grupos, sendo que os jovens com
altos níveis de traços de insensibilidade afetiva apresentam um padrão mais grave e
persistente dos comportamentos indesejados (Ritchie et al., 2022).
Apesar desta diferenciação já ter sido feita sob alguns aspectos, a literatura atual
ainda é bastante carente quanto aos mecanismos, fatores etiológicos de maior peso e
fatores moderadores que possam estar envolvidos no desenvolvimento dos traços de
insensibilidade afetiva. Além disso, a maior parte dos estudos apresenta análises
transversais em amostras pequenas e restritas a países de alta renda e menor
desigualdade social, sendo difícil a extrapolação para contextos de maior
vulnerabilidade, como o Brasil. Neste tema, o estudo de populações infantis é
relativamente recente em comparação com a pesquisa sobre adultos que apresentam
traços de insensibilidade afetiva ou psicopáticos. No entanto, é de grande importância
devido à potencial maleabilidade dos traços na infância, quando a personalidade ainda
está em formação. Estudar a infância e os traços apresentados nesta fase permite
intervenções mais eficazes, aproveitando a oportunidade de moldar o desenvolvimento e
reduzir o risco de desajustes futuros (Pisano et al., 2017).
Frente a isso, este trabalho se justifica por ser capaz de ampliar o entendimento
dos traços de insensibilidade afetiva infantil, aumentar o conhecimento sobre suas
associações e reflexos em outras habilidades individuais, e explorar potenciais fatores
modificadores dos traços, especialmente em um contexto social de maior desigualdade.
Entender as especificidades desse grupo de jovens pode ser a chave para diminuir a
violência em um contexto social mais amplo, visto que, na ausência de intervenção, este
grupo se envolve em mais numerosos e severos episódios de violência ao longo da vida.
A agressividade é um comportamento complexo e modulado por diferentes mecanismos
biopsicossociais, que devem ser explorados até o perfeito entendimento do fenômeno.
Só a partir disso será possível pensar em políticas públicas assertivas que minimizem os
riscos de que indivíduos jovens identificados com tal característica se tornem adultos
altamente violentos, prejudicando a sociedade e a si próprios.
Metodologia
Este estudo é de base populacional, tendo um delineamento longitudinal. Para os
objetivos da pesquisa, as informações sociodemográficas serão consideradas no
momento do nascimento; a parentalidade medida aos dois anos; o nível de traços de
insensibilidade afetiva, os problemas de conduta, as características individuais
(reconhecimento de emoções, comportamento altruísta, capacidade de postergar
gratificação e viés de atribuição hostil) e a vitimização aos quatro anos; e o julgamento
moral será mensurado aos seis anos.
O delineamento longitudinal é o mais adequado para se estudar a epidemiologia do
ciclo vital, a qual se baseia na hipótese de que é importante não apenas conhecer as
atuais características dos indivíduos, mas também investigar características prévias,
desde o nascimento até o momento atual. O estudo se caracteriza pelo
acompanhamento de indivíduos durante determinado tempo e permite avaliar a
temporalidade da possível associação entre fatores de risco, eliminando o viés de
causalidade reversa.
objetivos da pesquisa, as informações sociodemográficas serão consideradas no
momento do nascimento; a parentalidade medida aos dois anos; o nível de traços de
insensibilidade afetiva, os problemas de conduta, as características individuais
(reconhecimento de emoções, comportamento altruísta, capacidade de postergar
gratificação e viés de atribuição hostil) e a vitimização aos quatro anos; e o julgamento
moral será mensurado aos seis anos.
O delineamento longitudinal é o mais adequado para se estudar a epidemiologia do
ciclo vital, a qual se baseia na hipótese de que é importante não apenas conhecer as
atuais características dos indivíduos, mas também investigar características prévias,
desde o nascimento até o momento atual. O estudo se caracteriza pelo
acompanhamento de indivíduos durante determinado tempo e permite avaliar a
temporalidade da possível associação entre fatores de risco, eliminando o viés de
causalidade reversa.
Indicadores, Metas e Resultados
Artigos Planejados
Artigo 1: Emotional, social and cognitive differences between preschool
children high-low in aggression and callous-unemotional traits: results from a
Brazilian birth cohort. Diferenças emocionais, sociais e cognitivas entre crianças
pré-escolares com níveis altos e baixos de agressividade e traços de insensibilidade
afetiva: resultados de uma coorte de nascimentos brasileira.
Objetivo geral: descrever os traços de insensibilidade afetiva entre as crianças
pertencentes a Coorte de Nascimentos de 2015 de Pelotas aos 4 anos e avaliar a
diferença entre grupos de crianças com diferentes níveis de traços de insensibilidade
afetiva e problemas de conduta quanto a outras características individuais
(reconhecimento de emoções, comportamento altruísta, capacidade de postergar
gratificação, viés de atribuição hostil, autocontrole) mensuradas aos 4 anos.
Artigo 2: The influence of victimisation on callous-unemotional traits in
early childhood, and moderating effects of negative and positive parenting. A
influência da vitimização nos traços de insensibilidade afetiva na infância, e os
efeitos moderadores da parentalidade positiva e negativa.
Objetivo geral: avaliar a associação entre experiências de vitimização e nível
de traços de insensibilidade afetiva e a possível modificação de efeito nesta
associação frente a qualidade da relação entre mãe e filho e a parentalidade
coerciva.
Artigo 3: The longitudinal relationship between callous-unemotional traits
and child moral development in a Brazilian birth cohort. Associação longitudinal
entre traços de insensibilidade afetiva e desenvolvimento moral em uma Coorte de
Nascimentos brasileira.
Objetivo geral: Avaliar a associação longitudinal entre traços de insensibilidade
afetiva aos 4 anos e aspectos morais cognitivos (raciocínio moral e julgamento
moral) e comportamentais (comportamento agressivo e pró-social) aos 6/7 anos de
idade.
Artigo 1: Emotional, social and cognitive differences between preschool
children high-low in aggression and callous-unemotional traits: results from a
Brazilian birth cohort. Diferenças emocionais, sociais e cognitivas entre crianças
pré-escolares com níveis altos e baixos de agressividade e traços de insensibilidade
afetiva: resultados de uma coorte de nascimentos brasileira.
Objetivo geral: descrever os traços de insensibilidade afetiva entre as crianças
pertencentes a Coorte de Nascimentos de 2015 de Pelotas aos 4 anos e avaliar a
diferença entre grupos de crianças com diferentes níveis de traços de insensibilidade
afetiva e problemas de conduta quanto a outras características individuais
(reconhecimento de emoções, comportamento altruísta, capacidade de postergar
gratificação, viés de atribuição hostil, autocontrole) mensuradas aos 4 anos.
Artigo 2: The influence of victimisation on callous-unemotional traits in
early childhood, and moderating effects of negative and positive parenting. A
influência da vitimização nos traços de insensibilidade afetiva na infância, e os
efeitos moderadores da parentalidade positiva e negativa.
Objetivo geral: avaliar a associação entre experiências de vitimização e nível
de traços de insensibilidade afetiva e a possível modificação de efeito nesta
associação frente a qualidade da relação entre mãe e filho e a parentalidade
coerciva.
Artigo 3: The longitudinal relationship between callous-unemotional traits
and child moral development in a Brazilian birth cohort. Associação longitudinal
entre traços de insensibilidade afetiva e desenvolvimento moral em uma Coorte de
Nascimentos brasileira.
Objetivo geral: Avaliar a associação longitudinal entre traços de insensibilidade
afetiva aos 4 anos e aspectos morais cognitivos (raciocínio moral e julgamento
moral) e comportamentais (comportamento agressivo e pró-social) aos 6/7 anos de
idade.
Equipe do Projeto
Nome | CH Semanal | Data inicial | Data final |
---|---|---|---|
Andreas Bauer | |||
JOSEPH MURRAY | 2 | ||
LUCIANA RODRIGUES PERRONE |