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A avicultura se estabeleceu como uma das principais atividades produtoras de proteína animal no Brasil.
De acordo com um estudo conduzido pela Embrapa Aves e Suínos, a participação da variável material genético representou aproximadamente 14,7% do custo total de produção do frango vivo em 2023 (ABPA, 2024). O ganho proporcionado pelo melhoramento genético também se reflete na melhoria do desempenho em outros componentes desse custo, como nutrição, que corresponde a 70% do custo total de produção do frango vivo. Nesse contexto, características relacionadas à eficiência alimentar e adaptabilidade ao meio ambiente são indicadores que podem ser aprimorados por meio de melhoramento genético.
Os programas direcionados ao melhoramento genético de aves geralmente são conduzidos em duas fases que se desenvolvem de forma paralela e contínua. Na primeira fase, busca-se aprimorar a seleção dentro das linhas puras, concentrando-se nas características desejadas. Nesse estágio, a variação genética aditiva é empregada para melhorar características específicas que apresentam herdabilidades moderadas a altas, como aquelas relacionadas ao crescimento. As aves que demonstram o melhor potencial genético para essas características são selecionadas como progenitores da próxima geração. Por outro lado, a segunda fase envolve o cruzamento de diferentes linhas puras melhoradas, visando à obtenção de um híbrido com desempenho superior ao de cada uma das linhas puras utilizadas em sua produção. Dessa forma, são explorados os efeitos de heterose e da complementariedade. Nessa etapa, a variação genética não aditiva é utilizada para melhorar as características específicas de menor herdabilidade, como aquelas relacionadas à reprodução. Como resultado, as aves comerciais são obtidas pelo cruzamento de três ou quatro linhas puras, ou seja, uma linha pura de machos (Linha A) cruzada com um híbrido simples das linhas B e C como matriz fêmea (BC), ou um híbrido simples de machos das linhas A e B (AB) cruzado com fêmeas das linhas C e D (CD), respectivamente (EMMERSON, 2003; TIXIER-BOICHARD et al., 2012).
A seleção dentro de cada linha pura é realizada de forma contínua, com a frequente estimação de parâmetros genéticos para diversas características de interesse, principalmente as reprodutivas e produtivas. Parâmetros como herdabilidade e repetibilidade, bem como correlações genéticas, fenotípicas e ambientais entre as características são rotineiramente obtidos, permitindo a avaliação permanente dos resultados do programa e a revisão dos critérios e índices de seleção, quando necessário. Além disso, ao realizar estudos genético-quantitativos, é possível estimar o coeficiente de endogamia nas populações avaliadas, permitindo o desenvolvimento de estratégias para minimizar a depressão endogâmica nas linhas puras. Esses procedimentos e estudos são conduzidos na primeira fase do programa, onde várias características podem ser utilizadas como critérios de seleção nas linhagens (NARINÇ et al., 2016).
Em relação ao número significativo de critérios de seleção que podem ser utilizados no melhoramento genético de aves, é imprescindível conhecer as variâncias genéticas e as covariâncias entre essas características dentro do plantel avaliado. Além disso, é necessário compreender a direção e a magnitude das correlações genéticas existentes nesse amplo espectro de características que podem ser empregadas como critérios de seleção. Dessa forma, é possível determinar quais características devem ser aprimoradas em quais plantéis (KAYA BAŞAR e NARINÇ, 2023). Portanto, o conhecimento das estimativas dos parâmetros genéticos é essencial para o planejamento e a condução de programas de melhoramento genético animal (BARRO et al., 2023). Essas informações auxiliam na escolha do método de seleção e contribuem para a estimativa da resposta à seleção esperada em cada população estudada (PAIVA et al., 2020).
As técnicas de seleção aplicadas aos frangos de corte têm gerado transformações significativas no desenvolvimento das aves ao longo dos anos. A curva de crescimento tem sido modificada em seu ponto de inflexão, um dos parâmetros mais importantes avaliados no crescimento. Esse ponto indica o momento em que as aves alcançam seu máximo crescimento e, portanto, se aproximam da maturidade sexual (BRITO et al., 2007). Ainda em relação ao crescimento, o ganho em peso corporal é influenciado pela genética na medida em que esta afeta a eficiência na absorção dos nutrientes consumidos, bem como a quantidade de alimento ingerido e a capacidade de conversão desses nutrientes em tecido muscular. Nesse sentido, é relevante abordar a eficiência dos animais em relação à utilização dos alimentos.
Ao avaliarem características de desempenho em aves de corte, Moreira et al. (2003) reportaram que as aves que apresentaram um maior ganho de peso aos 35 dias de idade consumiram uma maior quantidade de alimento. Aos 42 dias de idade, os autores observaram que algumas das linhagens avaliadas consumiram mais alimento, mesmo alcançando ganho de peso equivalente. Essa diferença ficou ainda mais evidente aos 49 dias de idade, ressaltando a especificidade das diferentes linhagens. Com isso, a linhagem que teve o maior ganho de peso e o maior consumo de ração foi a que, por definição, mostrou a pior eficiência na conversão alimentar. Além disso, em todas as linhagens avaliadas no estudo, os machos apresentaram melhor conversão alimentar em comparação com as fêmeas. De acordo como os autores, a avaliação das características de interesse econômico em frangos de corte se torna significativa devido à variação encontrada entre as diferentes linhagens, resultado do processo diferenciado de seleção para melhorar o desempenho e a qualidade da carcaça.
De modo geral, a utilização do peso corporal aos 42 dias de idade como critério de seleção tem se mostrado importante devido ao impacto no rendimento das diferentes partes do corpo da ave, bem como na melhoria da conversão alimentar. As aves selecionadas com base nesse critério, após atingirem esse peso específico, têm demonstrado uma maior deposição de gordura na carcaça (ZEREHDARAN et al., 2004).
A pesquisa e o desenvolvimento da genética animal representam uma atividade complexa, abrangendo desde preocupações com biossegurança até segredos industriais. A utilização de uma genética apropriada é fundamental para impulsionar tanto a produção como o processamento das espécies mais importantes no fornecimento de proteínas. O desenvolvimento da genética é uma atividade altamente especializada e de alto risco, demandando constantemente grandes investimentos, tanto para aprimorar as linhagens quanto para manter o plantel de matrizes.
No contexto da dependência e vulnerabilidade da avicultura nacional, a Embrapa Suínos e Aves empreendeu um programa de melhoramento completo, visando criar pacotes comerciais que pudessem ser adotados por empresas brasileiras para sustentar a destacada posição do Brasil no cenário mundial. Além do desenvolvimento de material genético, o programa incluiu o treinamento de pessoal e a produção de tecnologias de melhoramento, oferecendo suporte aos programas conduzidos pelas empresas do setor.
Segundo LEDUR et al. (2011), os trabalhos de melhoramento genético começaram em 1982, com a formação de populações base de aves para corte, por meio de cruzamentos dialéticos entre linhagens comerciais. O principal objetivo era gerar um produto comercial capaz de atender às demandas da indústria avícola sob qualquer circunstância, garantindo a eficiência produtiva e promovendo as exportações de carne de frango. Esses esforços resultaram na criação das linhagens macho (LL) e fêmea (PP), responsáveis pela produção do frango de corte conhecido na época como "Embrapa". Em 1985, a Granja Guanabara, que detinha uma participação significativa no mercado avícola, teve seu patrimônio físico e genético transferido para a Embrapa pelo Ministério da Agricultura. A Embrapa Suínos e Aves assumiu a responsabilidade de dar continuidade ao programa de melhoramento da Granja Guanabara, incorporando ao programa linhagens como White Leghorn (CC e DD) para produção de ovos brancos e Rhode Island Red (MM e GG) para produção de ovos castanhos, entre outras. O desafio inicial foi à erradicação de Mycoplasma e Salmonella.
Após essa fase inicial, toda a infraestrutura e material genético foram transferidos para uma estação experimental em Concórdia, SC. Foram também formadas linhagens de controle (sem seleção) para avaliar os ganhos genéticos obtidos pelos diferentes processos de seleção. A partir de 1988, os objetivos do projeto foram revisados, mantendo-se o foco no desenvolvimento de linhagens para corte e postura. Houve ainda um aumento dos esforços na formação de recursos humanos e no desenvolvimento de tecnologias, considerando os indícios de que empresas nacionais estavam iniciando atividades de melhoramento genético. Ao longo dos anos, foram desenvolvidas diversas linhagens e pacotes genéticos destinados ao mercado brasileiro, incluindo poedeiras de ovos brancos e castanhos, frangos de corte convencionais e coloniais. O pacote comercial Embrapa 021, por exemplo, originou um frango de corte industrial híbrido, com excelente desempenho em termos de peso, conversão alimentar e rendimento de carcaça.
Tendo em vista a escassez de trabalhos atuais sobre melhoramento genético, especificamente com as linhas da Embrapa Suínos e Aves, o presente estudo torna-se relevante, pois poderá fornecer estimativas de parâmetros genéticos que podem auxiliar na elaboração de índices de seleção mais eficazes para o melhoramento das linhagens estudadas, atendendo à demanda do mercado avícola acerca dos indicadores de conversão alimentar, ganho de peso e suas interações.

As informações utilizadas nesta pesquisa são referentes às linhas puras de aves de corte, definidas como KK, PP e TT, pertencentes ao Programa de Melhoramento Genético de Aves, desenvolvido pela Embrapa Suínos e Aves, localizado no município de Concórdia, no estado de Santa Catarina. Dessa forma, serão utilizados registros fenotípicos de aproximadamente 53.091 animais (25.864 da linha KK, 11.113 da linha TT e 16.114 da linha PP) de 13 gerações e nascidos entre os anos de 2010 e 2022. As linhas puras foram selecionadas por 13 gerações com o objetivo de melhor a conversão alimentar, o ganho de massa muscular e a produção de ovos.
Produção de ovos da linha fêmea KK até as 66 semanas de vida:
Na seleção das linhas fêmeas, a produção de ovos é uma característica importante a ser avaliada, pois causa impacto no custo de produção do frango de corte. Essa avaliação deve ser relacionada com o ganho de peso da linha macho. Na linha materna KK, são avaliadas as aves com a maior quantidade de ovos produzidos durante o ciclo produtivo das 24 até as 66 semanas de vida. As aves avaliadas ficam alojadas individualmente e, dessa forma, é possível fazer o apontamento produtivo de cada indivíduo diariamente.
Peso corporal e tamanho do peito aos 42 dias:
Na seleção da linha macho, são valorizadas as características peso corporal, conversão alimentar, viabilidade geral e específica, rendimento de carcaça, rendimento de peito, gordura na carcaça, empenamento e ausência de defeitos. Em cada linha pura de frangos de corte, os pintos machos e fêmeas de cada geração são criados com alimentação apropriada visando o ganho de peso e o tamanho de peito aos 35 ou 42 dias de idade. Esses animais são submetidos a um índice empírico juvenil que combina o peso e o tamanho de peito para a escolha dos indivíduos que permanecem candidatos à seleção, sendo que os machos selecionados por esse índice são posteriormente submetidos ao teste de conversão alimentar dos 35 até os 42 dias de idade ou dos 43 aos 49 dias de idade e a um novo índice que combina o anterior com as informações de conversão alimentar. Após essa seleção, os machos e fêmeas são recriados em galpão com piso e sob restrição alimentar para se tornarem reprodutores, sendo transferidos para gaiolas individuais na idade de 20 semanas, isto é, duas semanas antes das fêmeas iniciarem a postura.
No final do ciclo de postura, são escolhidas as fêmeas com maior produção de ovos entre aquelas com melhor índice juvenil. Elas são inseminadas com o sêmen de machos selecionados com base no índice juvenil para o teste de fertilidade dos machos. São escolhidos os machos com melhor fertilidade entre aqueles com melhor índice juvenil para a formação de novas famílias, compostas por um macho e seis fêmeas, sem parentesco entre o macho e as fêmeas. Em seguida, procede-se ao acasalamento (inseminação) e à produção da próxima geração da linha pura.
Os componentes de (co)variâncias e parâmetros genéticos serão estimados em análises multi-características, utilizando modelo animal misto, com o uso de inferência bayesiana. Os efeitos sistemáticos e aleatórios a serem considerados para cada característica serão definidos em análises prévias.

Baseado nos resultados do presente estudo será possível esclarecer as potencialidades das três linhas puras de frango de corte que a Embrapa Suínos e Aves possui em seu plantel e definir quais características devem ser avaliadas e submetidas à seleção, fornecendo subsídios para a elaboração de índices de seleção mais eficazes e que auxiliem na formação de híbridos mais produtivos.
O projeto vai produzir uma dissertação de mestrado e artigos científicos para contribuir com os programas de melhoramento genético de frangos de corte em andamento.