Nome do Projeto
Inter-relações longitudinais entre saúde mental e saúde oral na idade adulta
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
19/02/2025 - 28/02/2027
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
A interação entre saúde oral e saúde mental tem ganhado crescente atenção devido às suas implicações para a saúde pública. Ambos os domínios compartilham fatores de risco comuns e potenciais vias causais bidirecionais, mas as evidências atuais baseiam-se predominantemente em estudos transversais e com dados autorrelatados em saúde oral. Dado tal cenário, este projeto propõe a investigação longitudinal dessas associações utilizando dados clínicos e psicométricos dos participantes da Coorte de Pelotas de 1982 aos 22, 30 e 40 anos de idade. A estratégia analítica incluirá modelos bidirecionais independentes considerando a saúde mental e oral como exposições e desfechos, bem como a avaliação da estabilidade da saúde oral e mental ao longo do tempo através de parâmetros autorregressivos (cross-lagged panel analysis). O projeto busca assim preencher lacunas persistentes mesmo na literatura mais recente, fornecendo evidências longitudinais robustas sobre a interação entre saúde oral e depressão. Espera-se que os achados obtidos contribuam para o entendimento de vias causais, identificação de potenciais mediadores e modificadores de efeito, e para o desenvolvimento de políticas de saúde integradas e intervenções específicas, tanto nas práticas clínicas quanto no contexto de saúde pública.

Objetivo Geral

Investigar a progressão de transtornos mentais comuns e condições
patológicas de saúde oral na vida adulta e suas interações.

Justificativa

Como pôde ser observado até aqui, as interações entre saúde oral e
saúde mental (em particular a depressão) constituem objeto de crescente
interesse científico e relevância para a saúde pública. Embora compartilhem de
fatores predisponentes em comum, há plausibilidade biológica e empírica para
presumir que a associação entre estes domínios dá-se por mais do que apenas
confundidores compartilhados; hipótese que ganha força à medida que diversos
estudos observacionais agregam ao corpo de evidências, reportando
associações mesmo após controle para confundidores. No entanto, a ampla
maioria dos estudos sobre o tema é transversal, restringindo a capacidade de
inferir acerca da direcionalidade e natureza da inter-relação entre saúde oral e
mental. Além disso, a adoção de instrumentos psicométricos validados é menos
comum do que o desejável, e o emprego de instrumentos clínicos objetivos para
mensuração de desfechos orais é também raro em estudos de base
populacional, pelos custos operacionais e logística de campo.
Como resultado, enquanto a interação entre saúde oral e mental beira o
consenso na literatura, permanece um desafio mensurar o impacto prático que
um domínio representa sobre o outro ao longo do tempo, bem como o impacto
de intervenções em um domínio. Em outras palavras, a importância da
reabilitação oral como tratamento adjuvante para pacientes de depressão, por
exemplo, ou do acompanhamento psicológico adjuvante para tratamento de
casos complexos em saúde oral, pode estar sendo severamente negligenciada.
Postas estas lacunas, é a intenção deste projeto contribuir para o
preenchimento delas. A proposta sugerida permitirá utilizar dados clínicos
referentes à saúde oral dos participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas
de 1982 (maiores detalhes na subseção 7.1.1), comparáveis, coletados em 3
momentos distintos e, da mesma forma, dados psicométricos referentes à
transtornos mentais comuns (TMCs), também comparáveis, coletados em 3
períodos distintos, além de dados referentes a sintomas depressivos coletados
aos 30 e 40 anos. Os achados deste estudo permitirão o embasamento de
diretrizes que possam auxiliar no tratamento clínico interdisciplinar de pacientes
psiquiátricos e odontológicos que o careçam.

Metodologia

Este projeto propõe a produção de uma revisão sistemática e meta-
análise e de dois artigos originais que utilizarão dados longitudinais oriundos da
Coorte de Nascidos Vivos de Pelotas de 1982 a fim de atender aos objetivos
expostos acima. As subseções a seguir descreverão detalhes metodológicos em
comum aos dois artigos e, onde for necessário, discriminará diferenças entre os
artigos originais.

Indicadores, Metas e Resultados

Hipóteses

Artigo 1

Indivíduos com escores correspondentes à ausência de TMCs ou
condições orais em um período tenderão à manutenção do seu status no período
seguinte. Similarmente, indivíduos com sintomas de TMCs em um período
apresentarão sintomas de TMCs no período seguinte. Quanto à saúde oral,
haverá correlação entre índices de cárie não tratada e doença periodontal em
um determinado período e índices de cárie, DP e perda dental no período
seguinte.
Indivíduos que apresentarem sintomas de TMCs em um período (T1)
terão maior risco de aumento dos índices de cárie, DP e perda dental no período
subsequente (T2) em relação a indivíduos sem sintomas de TMCs.
Haverá uma associação entre maiores índices de cárie, DP e perda dental
em um período (T1) e maior risco de apresentar sintomas de depressão no
período subsequente (T2), mesmo ao ajustar para sintomas de depressão em
T1.
A influência de TMCs em T1 sobre os índices de saúde oral em T2 será
maior que a influência dos índices de saúde oral em T1 sobre a presença de
sintomas de TMCs em T2.


Artigo 2

Serão detectados ao menos quatro grupos principais de trajetórias, sendo
eles: um grupo de estabilidade negativa, com baixa ocorrência de sintomas d
TMCs em todas as idades avaliadas (1); um grupo de trajetória decrescente dos
sintomas, com maior ocorrência na juventude e declínio nas observações
seguintes (2); um grupo de trajetória ascendente, com baixa ocorrência na
juventude e aumento desta nas observações seguintes (3) e um grupo de
estabilidade positiva, com alta ocorrência de sintomas de TMCs em todos os
períodos observados (4).
Adotando a classificação acima, indivíduos dos grupos 3 e 4 apresentarão
maior risco de perda dental aos 40 anos em relação aos indivíduos dos grupos
1 e 2.
O acesso a serviços de saúde, a dieta cariogênica, o uso de tabaco, álcool
e medicamentos e variáveis relacionadas à rede de apoio/socialização serão
capazes de explicar parte da relação entre a presença de transtornos mentais
comuns ao longo da vida e a perda dentária aos 40 anos.


Artigo 3

A literatura e as medidas de efeito agregadas da meta-análise apontarão
para uma associação positiva entre condições de saúde oral (cárie, doença
periodontal e perda dental) e a presença de TMCs em ambas as
direcionalidades;
A associação será mais pronunciada quando a condição de saúde oral for
a perda dental;
A associação será mais pronunciada quando a presença de TMCs for o
tratado como desfecho.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
FLAVIO FERNANDO DEMARCO4
FRANCINE DOS SANTOS COSTA
LUIZ ALEXANDRE CHISINI
MIGUEL KONRADT MASCARENHAS

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