Nome do Projeto
O impacto da perda dentária materna pela doença cárie na saúde bucal na primeira infância: estudo nas clínicas de Odontopediatria da FO-UFPel
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
14/07/2025 - 24/07/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
A cárie dentária, a doença mais comum globalmente, ocorre quando micro-organismos no biofilme dental produzem ácidos que desgastam os dentes. Quando acomete crianças com menos de 6 anos de idade é chamada de cárie da primeira infância (CPI). A educação em saúde bucal durante a gravidez e o cuidado materno com a própria saúde bucal são cruciais para prevenir a CPI, pois condição bucal materna tem relação com a condição de saúde bucal de seu filho(a). Este estudo englobará díades mãe-filho(a) para avaliar se existe relação entre a perda dentária materna por cárie e outros fatores da história odontológica materna e a ocorrência de cárie nos filhos entre 24 e 71 meses de idade. A amostra será de crianças atendidas de 20 de julho a 20 de dezembro de 2025 nas disciplinas de odontopediatria da Faculdade de Odontologia, da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS. A mãe responderá um questionário em formato de entrevista dialogada englobando dados socioeconômicos e demográficos e alguns hábitos bucais e histórico odontológico das mães e de seu filhos(as). Posteriormente será conduzido o exame físico simplificado da cavidade bucal materna para verificar possíveis perdas dentárias. Para avaliar a presença de CPI ou da cárie severa da primeira infância(CPI-S) nos filhos (as), serão utilizados os últimos odontogramas constantes nos prontuários da clínica infantil. Uma análise bivariada será realizada para avaliar a relação entre os fatores maternos e a CPI e CPI-S e para avaliar as diferenças das proporções será utilizado o teste Exato de Fisher. O nível de significância mínimo adotado para os testes será de 5% (p=0,05).

Objetivo Geral

O presente trabalho objetiva avaliar a correlação entre a perda dentária materna por cárie, de pelo menos um elemento dentário, e a presença de cárie da primeira infância e cárie severa da primeira Infância (CPI-S) nos filhos com idades entre 24 e 71 meses de vida.

Justificativa

Os achados de Brum, Azevedo e Romano (2017) mostraram, em uma análise ajustada, que o número de dentes materno cariados, perdidos e obturados não aumentaram significativamente o risco do filho apresentar CPI no terceiro ano de vida, mas que o componente dente perdido ≥ 1, aumentou o risco em 6,32 vezes. Nesse momento, em que as ações devem focar no núcleo familiar e de todo o círculo de convivência da criança, trazendo a figura da mãe para um papel central no controle biológico e social de saúde (FADELA; WAGNERB; FURLANB, 2008), torna importante conhecer os fatores maternos associados ao risco de desenvolvimento do processo carioso em seus filhos.
O aumento da prevalência da doença cárie na primeira infância, especialmente em países de baixa e média renda, somado ao baixo acesso à tratamentos odontológicos, resultando em dor e impactando negativamente a saúde geral, crescimento, desenvolvimento e qualidade de vida de crianças, suas famílias e comunidades, além de gerar um fardo global para a saúde pública do ponto de vista médico, social e econômico (PHANTUMVANIT et al., 2018), confirmam a necessidade de estabelecer parâmetros simples que fundamentem ações preventivas de saúde bucal com foco nessas crianças.
Considerando as consequências do desenvolvimento de lesões de cárie na dentição decídua e relacionando a ocorrência de CPI com a prática de autocuidado bucal das mães e com o papel materno na saúde bucal dos filhos (CASTILHO et al., 2013), o presente projeto de estudo científico vem com o intuito de corroborar com a elucidação do impacto da perda dentária materna e demais fatores associados ao risco para o desenvolvimento de CPI.

Metodologia

1 Desenho e população do estudo
Será realizado um estudo transversal com díades mãe-filho(a) de crianças com 24 a 71 meses, assistidas nas clínicas de Odontopediatria na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (FO-UFPel) de 20 de julho a 20 de dezembro de 2025. As disciplinas da grade curricular da graduação: Unidade Clínica Infantil II (UCI II) e Estágio em Clínica Infantil (ECI) e no projeto de extensão Atendimento Odontológico Materno Infantil (AOMI) serão os locais de origem das díades, mãe-filho(a).
O cálculo amostral (Anexo A), considerando uma população de 432 crianças na faixa etária específica em possibilidade de atendimento, conforme lista de controle dos pacientes da Odontopediatria da UFPel, com um nível de confiança de 95%, um erro amostral de 5%, e o acréscimo de 6,3% como margem de erro, serão necessárias 167 díades mãe-filho(a).

2 Critérios de inclusão e exclusão
Serão incluídas nesse estudo crianças na primeira infância, que estão em atendimento clínico junto as disciplinas de clínica infantil e que a mãe aceite participar do estudo. Serão excluídas da amostra crianças menores de 24 meses, crianças portadoras de necessidades especiais (PNE) que apresentem alterações motoras e funcionais, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) com níveis de suporte 2 e 3, Paralisia Cerebral e Síndrome de Down. Também serão excluídas as crianças cujas mães não sejam a acompanhante da criança após três tentativas de avaliação e quando a mãe tiver ido a óbito.

3 Coleta dos dados
3.1 Questionário Materno
O instrumento de coleta consistirá em um questionário aplicado durante a consulta no formato de entrevista dialogada com as mães, no qual estarão presentes dados sociodemográficos - idade materna, cor da pele autoreferida, escolaridade materna, renda familiar, nucleação familiar, número de filhos e cuidador principal da criança – e fatores de autocuidado materno associado à cavidade bucal - frequência de escovação dental, dor de dente nos últimos tempos, acesso à consultas odontológicas e se “tirou” algum dente por cárie (Apêndice A). Além disso, serão realizadas perguntas acerca dos hábitos da criança, como frequência de higiene bucal, ingestão de alimentos cariogênicos e acesso a dentifrício fluoretado.
3.2 Exame materno:
O Exame físico bucal materno, será conduzido utilizando um odontoscópio, uma espátula de madeira e gaze estéril. Nos casos necessários, será utilizada um cureta de dentina estéril. A avaliação será conduzida com a mãe sentada em um mocho clínico junto a parte interna do laboratório de ortodontia. Será verificada a ausência de elementos dentários, identificando quais são em um odontograma específico (Apêndice B). Para a avaliação dos dentes maternos perdidos por cárie será considerado o componente perdido do índice de dentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D) da OMS (2013).
Para avaliar se havia presença de lesões ativas de cárie dentária será utilizado parte dos critérios de Ekstrand et al. (2007), sendo considerada a aparência visual, registrada a partir do escore 2 do ICDAS (International Caries Detection and Assessment System), ou seja, lesão não cavitada em esmalte, observada com a superfície úmida, pela impossibilidade de secar os dentes, combinada com a localização da lesão em área de estagnação natural de placa cariogênica.
3.3 Condição bucal das crianças:
Os dados da criança serão secundários, coletados dos prontuários para uma ficha específica (Apêndice B). A coleta englobará dados demográficos: sexo, idade em meses, cor da pele, que será confirmada pela mãe com a pergunta cor da pele autoreferida. Do odontograma atualizado dos prontuários das crianças atendidas, serão coletados o número de dentes presentes, a presença de cárie dentária e o número de consultas realizadas. Os exames nas disciplinas são realizados com os dentes limpos, secos com jato de ar, boa iluminação com uso de refletor de luz artificial, utilizando os critérios do exame ICDAS e sob a supervisão do professor orientador.
Para determinar a presença de cárie na primeira infância, será utilizado a classificação proposta por Drury et al. em 1999 e referendada pela Academia Americana de Odontopediatria (2023), o qual dividiu as lesões de cárie acometidas em crianças de 0 a 71 meses de idade, como “Cárie da Primeira Infância” e “Cárie Severa da Primeira Infância”, de acordo com o número de superfícies cavitadas, restauradas ou ausentes nos dentes decíduos.

4 Padronização dos exames
As entrevistas dialogadas com as mães e os exames bucais serão realizados por duas pesquisadoras, alunas da graduação de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas, sob supervisão de uma professora de Odontopediatria. Para coleta dos dados será realizado um treinamento e calibração intra e interexaminadores, sendo considerado aceitável um valor de Kappa >0,61. Para a coleta da condição bucal das crianças dos prontuários, será conduzida uma atividade teórica informativa e outra para discussão dos critérios de avaliação, seguido da coleta de dados de 30 prontuários da clínica infantil de crianças que não serão incluídas na amostra.
Para condição bucal materna, será conduzida uma calibração in lux, por uma das pesquisadoras, com experiência em atenção odontológica, constando de 40 imagens clínicas, englobando os agravos de interesse: lesões de cárie ativas e inativas e perda dental por cárie dentária. Caso necessário, outras formas de treinamento serão conduzidas.
5 Análise dos dados
Os dados serão transferidos, com dupla digitação, para o banco específico do programa Microsoft Office Excel, com condução de validade. A análise estatística será realizada no programa Stata versão 11.0 para Windows (Stata Corp LP, College Station, TX, USA 1.0). Uma análise bivariada será realizada para avaliar a relação entre os fatores maternos e a CPI e CPI-S, sendo utilizado o teste Exato de Fisher para avaliar as diferenças das proporções e, outras análises poderão ser conduzidas. O nível de significância mínimo adotado para os testes será de 5% (p=0,05).
6 Implicações éticas
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal, parecer número 7.672.468 (Anexo 1). Este estudo se enquadra na modalidade de pesquisa de risco mínimo, e, de acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e todas as participantes incluídas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Serão respeitados os princípios da Lei Geral de Proteção de Dados - Lei 13.709/2018 (LGPD) os, dados foram tratados pseudoanonimizados, o local de armazenamento dos dados será em um computador pessoal, que será armazenado pelo período da pesquisa e será acessado exclusivamente pela equipe de pesquisa.
As pesquisadoras realizarão os esclarecimentos sobre a pesquisa para as responsáveis legais e, estas deverão, se for o desejado, assinar o TCLE (Apêndice C), ou fazer impressão dactiloscópica, no caso de analfabeto, concordando com a sua participação na entrevista, seu exame bucal e uso dos dados do exame bucal de seu filho (a). Será garantido o anonimato do respondente, para não haver risco de constrangimento ao participar. No questionário, se a mãe se sentir constrangida pode não responder à pergunta em si ou ainda pôde, a qualquer momento, interromper sua participação na pesquisa. Além disso, em qualquer momento as mesmas tiveram a liberdade de desistência da participação na pesquisa, sem prejuízo aos benefícios propostos.
Crianças, que tenham capacidade intelectual e emocional de compreensão, serão convidadas a assinar o termo de Assentimento Livre e Esclarecido (Apêndice D). No termo de assentimento, a pesquisadora explicará para a criança de forma acessível para a faixa etária, seguindo o seguinte formato: “Você está aqui cuidando dos seus dentinhos e os dentistas anotaram se tem algum dentinho estragado/dodói. Você acha que tem algum? Nós podemos olhar o que as/os dentistas anotaram naquela folha? Você está DE ACORDO/CONCORDA com isso?” As crianças que compreenderem a explicação, marcarão um “X” no Termo de Assentimento, elaborado de forma lúdica para facilitar a compreensão.
As mães além de ajudarem a elucidar questões sobre o papel da condição materna na saúde bucal do filho(a), receberão como benefícios, por escrito, informações da sua condição bucal e orientações sobre o seu autocuidado e sobre como manter a saúde bucal de seu filho(a) (Apêndice E).

Indicadores, Metas e Resultados

A Hipótese é que as crianças cujas mães tiveram perda dentária por cárie terão pior condição bucal na primeira infância. Quanto maior o número de dentes maternos perdidos, pior tende ser a condição bucal dos filho(as).
Se as hipóteses forem confirmadas este serão um parâmetro a ser considerado na avaliação de risco a cárie para as crianças na primeira infância.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ANA REGINA ROMANO3
LARISSA FONSECA MÜLLER
LUIZA HIARA DE MORAES KOLTON
STELLA PARADA SANTOS GALLO CORRÊA

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