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“Escrever é arriscar-se” (Diniz, 2024, p. 147). Quando falamos da escrita acadêmica, especialmente na pós-graduação, os riscos inerentes à esta atividade – seja da rejeição, dos artigos ou das ideias; de investir nosso tempo e nossos recursos ou mesmo da exposição pública - somam-se a outras preocupações. Há requisitos mínimos a serem cumpridos para a permanência nos programas de pós-graduação, que aumentam e estendem-se aos órgãos de fomento, no caso de estudantes bolsistas. Além disso, distrações sociais que oferecem gratificações imediatas, como o engajamento em redes sociais ou até mesmo as tarefas do cotidiano da pós-graduação - leituras, participação e organização de eventos, contribuição em comissões diversas, reuniões - podem desviar o foco do processo de escrever. Cita-se não só as dissertações e teses, mas também artigos para as disciplinas e para periódicos (preferencialmente em revistas de alto impacto), projetos e textos para eventos científicos. Assim, dividir-se entre a vida pessoal e as responsabilidades inerentes à pós-graduação podem gerar uma sobrecarga mental significativa.
Everton Garcia da Costa e Letícia Nebel (2018) demonstraram que, em um universo de quase três mil estudantes de pós-graduação, 74% sofrem de ansiedade e 25% com depressão, percentuais muito acima da média geral da população brasileira (5,8% e 9,3% à época, respectivamente). Everton e Letícia elencam diversos fatores associados a esse sofrimento: a instabilidade financeira dos estudantes bolsistas, o encurtamento dos prazos para a titulação (que impacta na avaliação de cursos pela CAPES e pode implicar maior aporte de recursos, mas também maior cobrança) e o isolamento/falta de interlocução. Sobre este último aspecto, os autores argumentam que, após a conclusão das disciplinas, em que se mantém uma relação mais próxima com as/os colegas, o percurso pode tornar-se bastante solitário, e a falta de diálogo sobre problemas teórico-metodológicos, bem como outras dificuldades de ordem pessoal podem somar-se e agudizar o sofrimento.
É frente a esse cenário que surge o projeto Academia da Escrita: uma comunidade online de escrita acadêmica que se reúne semanalmente em uma sala virtual, com o objetivo de fortalecer o compromisso individual de cada participante com sua própria produção. O projeto tem como referência grupos de suporte e responsabilização de universidades estrangeiras, denominados Academic Writing Clubs/Groups ou Writing Accountability/Support Groups (WAG ou WSG), que são, em certa medida, bem difundidos nestas instituições. Basicamente, são sessões - presenciais ou virtuais - realizadas de maneira regular, com um tempo específico e autogerida, com o foco no compromisso individual com o processo de escrita (ao invés do conteúdo ou do produto final) (Skarupski; Foucher, 2018; Bourgault et al., 2022). Não se trata de um curso ou de uma oficina sobre escrita acadêmica, mas de um espaço respeitoso e tranquilo para que cada indivíduo consiga desenvolver sua escrita no período de tempo pré-determinado.
Neste sentido, além de auxiliar a mitigar os impactos da sobrecarga mental e do isolamento, o projeto Academia da Escrita contribui para o aprimoramento e qualificação dos processos de ensino e aprendizagem na academia, ao fomentar o comprometimento e a autonomia no processo de escrita acadêmica. Ao contribuir para o estabelecimento de rotinas de escrita, as/os participantes desenvolvem habilidades para organizar o tempo de maneira mais eficiente, definir metas alcançáveis e enfrentar a procrastinação, aprendizagens fundamentais para o êxito no mundo acadêmico. Além disso, ao proporcionar um ambiente de apoio mútuo, em que é possível compartilhar experiências e desafios, as/os participantes têm a possibilidade de refletir criticamente sobre a produção acadêmica e construir uma relação mais saudável com esse processo. Por fim, ao funcionar como um espaço de suporte e engajamento, o projeto pode contribuir, ainda que de forma indireta, para a qualidade dos trabalhos acadêmicos desenvolvidos, impactando de forma positiva na formação de pesquisadoras/es e demais profissionais.

Para atingir os objetivos propostos neste projeto, os seguintes instrumentos metodológicos serão adotados para produção de dados:
● Planejamento:
O projeto está estruturado para funcionar como uma comunidade online, reunindo-se em ciclos de dez encontros de duas horas, em uma sala virtual do Google Meet. O planejamento inclui a definição do cronograma das ações, a divulgação prévia às/aos participantes por meio de e-mails e via redes sociais, além da organização das inscrições via formulário online, acessível pelas redes sociais do projeto.
● Dinâmica das sessões:
Cada encontro é estruturado em 3 momentos:
1. Acolhimento e Definição de Metas (15 minutos): as/os participantes são acolhidas/os à medida que entram na sala e logo depois compartilham seus objetivos de escrita para aquela sessão, verbalmente ou através do chat;
2. Blocos de Escrita (100min): dois blocos de 45 minutos cada, com 10 minutos de intervalo entre eles. Cada participante permanece com o microfone fechado e dedica-se exclusivamente à escrita.
3. Encerramento e Reflexão (5 minutos): cada participante compartilha brevemente os resultados da sessão.
Há sempre uma facilitadora presente nos encontros, responsável pelo controle do tempo de cada etapa. O compartilhamento dos objetivos/resultados de escrita, oralmente ou pelo chat, é opcional às/aos participantes, bem como a abertura da câmera.
● Avaliação
O projeto prevê momentos periódicos de avaliação para indicar ajustes e melhorias. Para viabilizar esta etapa, o projeto utiliza uma tabela de acompanhamento da frequência das/dos participantes, um questionário semiestruturado no início e no final do ciclo e testemunhos durante os encontros. Esses instrumentos visam acompanhar suas experiências, identificar desafios comuns e aprimorar as ações futuras.

Indicadores, metas e resultados
Metas
● Promover a criação de uma comunidade de apoio mútuo à escrita acadêmica;
● Garantir o acesso à uma sala virtual para produção acadêmica, uma vez por semana;
● Organizar e executar três ciclos de dez encontros de escrita;
● Coletar/produzir dados de feedback da experiência das/dos participantes, bem como do impacto do projeto em suas produções.
Indicadores
● Número total de inscritas/inscritos;
● Engajamento das/dos participantes ao longo dos ciclos de escrita;
● Número de participantes nos encontros inaugurais e número de visualizações de publicações nas redes do projeto;
● Principais dificuldades e potencialidades relatadas nos feedbacks, bem como o grau de satisfação das/dos participantes.
Resultados esperados
● Aumento da autonomia e do comprometimento das/dos participantes com suas produções acadêmicas;
● Criação de um espaço importante de trocas e apoio mútuo;
● Aumento da fluidez das produções, pela criação e consolidação de uma rotina de escrita;
● Participantes mais preparados para enfrentar os desafios da escrita acadêmica.