Nome do Projeto
NVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS (INRC): Lida campeira nos campos do Alto Camaquã
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/06/2020 - 31/01/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
Este projeto compreende a extensão do conhecimento documentado pelo Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC): Lida campeira na região de Bagé/RS (n° 7.03.00.013), acerca dos saberes e modos de fazer que envolvem a criação de gado no pampa brasileiro para a região do Alto Camaquã, localizado na Serra do Sudeste. O INRC – Lida campeira na região do Alto Camaquã se constitui por uma demanda da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã (ADAC) junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão responsável por ceder a metodologia para a extensão. A execução deste projeto é realizada pelo Bacharelado em Antropologia, do Instituto de Ciências Humanas, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O INRC é uma metodologia desenvolvida pelo IPHAN para conhecimento de bens culturais representativos para determinado grupo social. O Inventário e sua extensão tem como objetivos identificar, documentar, construir conhecimento sobre a “lida campeira” para fins de registro como Patrimônio Imaterial Brasileiro, categoria reconhecida a partir de 2006, após acordo ratificado com a UNESCO. No trabalho iniciado em 2010, a equipe vem acessando a área cultural do pampa (LEAL, 1997) por meio de entrevistas e acompanhamento das atividades realizadas pelos sujeitos detentores dos ofícios, que vivenciam ou vivenciaram a lida da pecuária, denominados como campeiros. São eles proprietários de terras – de grandes extensões, médias ou propriedades familiares – e/ou peões campeiros, trabalhadores rurais, que desempenham ou desempenharam as atividades de doma, pastoreio, esquila, ofício do guasqueiro, tropeada, lida caseira, entre outras. A lida campeira abarca diversas atividades com relação ao manejo dos rebanhos e ao cotidiano da propriedade se configurando como um modo de vida. Atenta-se para a noção de modo de vida para ressaltar o quanto a lida com os rebanhos de ovinos, bovinos e equinos está articulada com saberes cosmológicos sobre as relações entre humanos e outros animais e o meio ambiente, a um trabalho que acompanha os ciclos da criação, os horários do sol, com as tecnologias desenvolvidas no campo científico e com a racionalização do próprio trabalho. A experiência do trabalho de campo, do trabalho antropológico para o Inventário da lida, produziu a “invenção” da cultura campeira na relação entre humanos e outros animais, artefatos e o meio ambiente. Na noção de invenção da cultura de Roy Wagner é importante a ideia de relação, em que o antropólogo é o elo entre duas culturas que são experienciadas. (WAGNER, 2010). A cultura campeira é percebida na dinâmica da relação entre diferentes experiências, onde as transformações destes modos de vida se produzem na relação entre tradição e invenção desde a instauração da atividade da pecuária no pampa. Nestes termos, a lida é etnografada a partir das relações entre animais não humanos e animais humanos e o meio ambiente.

Objetivo Geral

Aprofundar os estudos realizados pelo INRCLida Campeira na Região de Bagé ampliando uma das discussões sobre as relações do modo de vida campeiro na área cultural do pampa;

- Etnografar a constituição da região do Alto Camaquã a partir da experiência de relação entre os humanos e não humanos dentro de um processo histórico e cultural;

- Entender a construção do modo de vida das pessoas a partir de suas interações com os animais não humanos;

- Elaborar a extensão do conhecimento e documentação da lida na região do Alto Camaquã, conforme a metodologia do IPHAN;

- finalizar o levantamento etnográficos sobre as relações sociais entre humanos, animais, utensílios e ambientes envolvidos na produção pecuária na região e sua consecutiva documentação e divulgação;

- Por conseguinte, se propõem a extensão das fichas dos saberes e modos de fazer vinculando ao contexto da região. A saber: ficha dos saberes e modos de fazer do pastoreio com bovinos; ficha dos saberes e modos de fazer do pastoreio com ovinos; ficha dos saberes e modos de fazer do pastoreio com caprinos; ficha dos saberes e modos de fazer artesanato em lã. Elaboração de Relatório Final;

-- Acompanhar, junto ao IPHAN, o processo de registro da Lida Campeira na Região de Bagé e Alto Camaquã /RS ( n. 01512000127/2019-30 ) como patrimônio imaterial brasileiro.

Justificativa

A particularidade deste contexto evidencia um conjunto de fatores que dialogam com o então conhecimento produzido para a elaboração do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC): Lida campeira na região de Bagé/RS. Esse pedido é resultado de um processo de trabalho que se constituiu por meio de encontros entre os pesquisadores do INRC, pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul e membros da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã (ADAC). Nesses encontros foi-se percebendo a particularidade do contexto do Alto Camaquã o que fez repensar a questão que envolve o modo de vida campeiro a partir da diversidade da paisagem, dos modos de vida e manejos pecuários.

Geograficamente, a região do Alto Camaquã constitui a parte superior da bacia hidrográfica do rio Camaquã e inclui áreas dos municípios de Bagé, Caçapava do Sul, Encruzilhada do Sul, Hulha Negra, Lavras do Sul, Piratini, Pinheiro Machado e Santana da Boa Vista. No pampa predominam os campos abertos que, em sua vastidão, ultrapassam as fronteiras políticas entre o Brasil, o Uruguai e a Argentina. A construção social dos campos como paisagem vocacionada para a pecuária se processa com a introdução dos rebanhos bovino, equino, ovino e caprino, constituindo a história de um modo de vida campeiro alicerçada na relação entre humanos com os outros animais, objetos e paisagem.

A diversidade do pampa é destacada pela particularidade dos campos de pedra, afloramentos rochosos na região do Alto Camaquã, também conhecido como Serra do Sudeste. Enquanto a paisagem campestre é descrita pela cobertura densa e variada de espécies de gramíneas nativas, por estreitas matas ciliares às margens de cursos d’água, pelas ondulações suaves das coxilhas; nos campos de pedra figuram os acidentes geográficos, perais íngremes e “guaritas” recobertas por uma vegetação herbácea associada a uma vegetação arbustiva e arbórea de pequeno e médio porte (mosaicos de campo-floresta) e gramíneas lenhosas. São caraguatás, sarandis, vimes, corticeiras que crescem nas várzeas, junto aos banhados e às sangas devido a riqueza hídrica da região que conforma a Bacia hidrográfica do Rio Camaquã.
A região do Alto Camaquã caracteriza-se pelo predomínio da produção pecuária em campos nativos e pelas pequenas e médias unidades produtivas voltadas para esta atividade, diferente das grandes propriedades que a pesquisa realizada anteriormente pelo INRC: Lida campeira na região de Bagé/RS havia encontrado na região dos campos naturais. Isso dialoga com a atual produção acadêmica sobre a região, que o apresenta como um lugar estratégico para a conservação do bioma pampa e dos modos de vida que o caracterizam em suas potencialidades econômicas, culturais e ambientais. Os povos tradicionais – indígenas, quilombolas – e os pecuaristas familiares que vivenciam o lugar estavam ocultados do processo histórico tanto academicamente, quanto política e economicamente.

Foi a partir da emergência dos pecuaristas familiares enquanto uma categoria social que compõem a estrutura fundiária do Rio Grande do Sul que a historiografia começou a questionar a concepção de um passado com uma estrutura agrária marcada pela grande estância cuja as relações sociais estavam baseadas nos pares estancieiro/peão livre assalariado apontando para a presença de pequenos produtores, lavradores e pastores, que se utilizavam a mão de obra familiar. Esses pequenos produtores eram também trabalhadores sazonais ou efetivos nas grandes estâncias como forma de complementarem suas rendas colocando em questão a noção tradicional do “peão solitário” vagando pelo pampa (OSÓRIO, 2016; FERNANDES & MIGUEL, 2016).A particularidade da região associada ao modo de vida dos pecuaristas familiares e quilombolas cujo saberes e modos de fazer estão associados ao manejo sustentável dos ecossistemas encontra-se ameaçada pela instalação de uma mineradora no município de Caçapava do Sul, às margens do Rio Camaquã.

Nesse sentido, entendemos o caráter de urgência do processo seguindo a premissa de que a promoção e proteção destes modos de criar, fazer e viver é um dever constitucional do estado, ou seja, a garantia do direito a viver a vida que as pessoas consideram referência para si e para o grupo.


Metodologia

- Elaborar a extensão do conhecimento e documentação da lida na região do Alto Camaquã, conforme a metodologia do IPHAN dos Inventários Participativos;

-- Etnografar a constituição da região do Alto Camaquã a partir da experiência de relação entre os humanos e não humanos dentro de um processo histórico e cultural;

- A partir dos dados apresentados nas fichas de contato e questionários, se propõem a extensão das fichas dos saberes e modos de fazer vinculando ao contexto da região. A saber: ficha dos saberes e modos de fazer do pastoreio com bovinos; ficha dos saberes e modos de fazer do pastoreio com ovinos; ficha dos saberes e modos de fazer do pastoreio com caprinos; ficha dos saberes e modos de fazer artesanato em lã e ficha dos saberes e modos de fazer da lida caseira que configuram o relatório final do Inventário da Lida Campeira na Região do Alto Camaquã.

Indicadores, Metas e Resultados

- Elaboração do Relatório Final para o registro da lida campeira como patrimônio imaterial brasileiro;

- Produção de conhecimento com base no Relatório Final e trabalhos de campo específicos, em razão da parceria da UFPEL com o IPHAN, a saber: dissertações, teses, artigos, material audiovisual;

- Realizar a devolução da pesquisa do Inventário à comunidade;

-- Acompanhar, junto ao IPHAN, o processo de registro da Lida Campeira na Região de Bagé e Alto Camaquã /RS ( n. 01512000127/2019-30 ) como patrimônio imaterial brasileiro.


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Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
DANIEL VAZ LIMA
DANIEL VAZ LIMA
FLAVIA MARIA SILVA RIETH63
HAMILTON OLIVEIRA BITTENCOURT JÚNIOR60
JULIANA DOS SANTOS NUNES
LEONARDO SAPUCAIA
LUCIENE MOURIGE BARBOSA
MATEUS FERNANDES DA SILVA
Miriel Bilhalva Herrmann
Miriel Bilhalva Herrmann
RONNEY BRUNO DA SILVA CORRÊA
VAGNER BARRETO RODRIGUES
VAGNER BARRETO RODRIGUES

Fontes Financiadoras

Sigla / NomeValorAdministrador
CAPES / Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível SuperiorR$ 1.104,00Coordenador
CAPES / Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível SuperiorR$ 3.560,00Coordenador

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